Passei a tarde dormindo, mas fui acordada pela batida na porta e o barulho dela se abrindo.

—Seu pai me mandou te trazer algo pra comer. –disse Elijah.

Enquanto ele me olhava esfregar os olhos, eu agradeci.

—Acho que dormi demais. –disse

—Sim. –respondeu.

Ele estava em negação sobre o que estava acontecendo e sobre o que aconteceu.

—Onde está Klaus e porque ele pediu pra você trazer isso?

—Ele saiu. –respondeu

—Me pediu para trazer, porque disse que você se sente confortável perto de mim. –completou.

—Pelo jeito, confortável demais.

Ele me olhou como se não quisesse tocar no assunto.

—Precisamos falar sobre ontem e você sabe. –Disse a ele.

Bati na cama, mostrando um lugar para ele se sentar. E ele se sentou.

—Não podemos fingir que não aconteceu. Porque eu nunca vou conseguir esquecer aquilo. –disse a ele.

—Nem eu. Mas isso acabaria com seu pai.

—Eu sei. É por isso que esse segredo vai ser guardado por nós.

—Só não haja diferente comigo. Vamos manter isso. Essa “amizade”. Essa relação sublinha e tio...

—Ok. –respondeu.

—Não precisamos fingir que não aconteceu. Só precisamos aceitar que não vai poder mais acontecer.

—Sim. –respondeu.

—Obrigada pelo lanche, mas eu vou comer em outro lugar. Vou tomar um banho e ir resolver algumas coisas com a sua vizinha. –Disse a ele me levantando da cama.

—Hayley? –perguntou.

­—Sim! –respondi

—O que aconteceu entre vocês? –perguntei.

—Eu me aproximei dela quando ela estava esperando a Hope, quer dizer, você. Nós apaixonamos. Tivemos algo, como o seu pai disse. Mas logo ela teve que se casar com o Jackson para unir as matilhas e proteger você.

—Ela se casou para me proteger? Sem amor? Amando você? –perguntei.

—No começo sim, não tinha amor. Mas ele sempre a amou e teve paciência, ate que um dia ela começou a amar ele também. –Disse Elijah.

—Menos mal. E você? Ainda a ama?

      —Ela é da família. Mas esse “amor” que sentia por ela, acabou há um tempo. Nunca pensei que fosse sentir algo, até que...

Ele se calou, nesse momento corei, sabia que ele estava falando de mim, mas eu não podia. Não mesmo.

—Eu vou tomar um banho e vou lá a casa dela.

Ele fez que sim com a cabeça e saiu. Eu fui para o banheiro e tomei um banho rápido. 

Atravessei a rua em direção a casa de Hayley. Estava determinada a perdoar ela. Subi as escadas até o seu apartamento, respirei fundo e bati na porta.

Não demorou muito e ela abriu.

—Hey, você tem alguma coisa para comer?

—é... Sim, entra. –disse Hayley.

Entrei, era um apartamento pequeno, mas aconchegante.

—Você está sozinha? –perguntei.

—Sim, Jackson está no Bayo. Você não o conhece ainda?

—Tenho lembranças dele.

—Eu achei que você se lembrou só do Klaus.

—Não, eu me lembrei de tudo. Tenho até memórias de quando estava na sua barriga ainda.

—Sério? –Disse Hayley com o olhar aparentando lagrimas.

—Sim. –Sorri.

—É por isso que estou aqui. Precisamos conversar.  Eu me lembrei de tudo e de repente o ódio que eu sentia pelo que você fez no passado com nossos pais, esse ódio acabou.

Hayley sorriu. Continuei falando.

—Eu me lembro de uma conversa que você teve comigo quando era apenas um feto. De você dizia o como se arrependia daquele acidente. Eu me lembro de tudo. Lembro-me de como você era uma mãe carinhosa e cuidadosa e como você arriscou sua vida para me salvar várias e várias vezes. Então... Eu vim aqui para dizer que eu te perdôo.

Foi um alivio dizer isso. Ela chorou, olhei para os seus olhos que era igual aos meus. Toquei o seu rosto e nós abraçamos. 

—Você não sabe o quanto eu desejei essas duas. –Disse ela.

—Que coisas? –perguntei.

—Ter o perdão da minha irmã e a minha filha de volta. Você não é mais aquela menininha. Mas de qualquer forma eu vi você crescendo.

—A vida é bem confusa. –respondi.

—Nossa vida é. –disse Hayley.

—Mas então, quando eu disse que estava com fome era verdade. É verdade. –disse rindo.

—Eu tenho morangos, leite e uma torta de frango que o Jackson fez. –disse me apontando uma das cadeiras da mesa.

Sentei-me e fiquei esperando ela, enquanto a observava fazer um suco de morango com leite. Ela era uma péssima cozinheira, julguei isso pelo jeito desastrado que lidava com os morangos.

—O bayo é longe daqui? –perguntei para quebrar o silêncio que se formou na sala.

—Não, uns 30 minutos de carro e depois... é pra você seria uma caminhada de uma hora para chegar lá. –disse ela.

—Eu gostaria de ir lá. –disse

—Não sei se seria certo te levar lá.

­—Porque não, eu não sou a filha da rainha?

—Sim, mas não sei se é seguro saberem que você é a Hope.

—Não precisam saber. Diz que eu sou sua irmã.

—Até o fato de você ser minha irmã faz com que você corra perigo.

—Então eu vou correr perigo de qualquer forma! Mas os lobos são perigosos?-perguntei.

—Não os da minha matilha. Mas acredite, eu e seu pai colecionamos inimigos lobos, bruxos e vampiros.

—Você é uma hibrida. Você é mais forte?

—Sim. Você também deveria ser uma hibrida, mas é humana. Pelo menos vai poder levar uma vida normal, ter filhos, família...

—Vocês são minha família.

Ela sorriu enquanto colocava o suco no copo e me servia um pedaço da torta.
—Huuum, está ótima. Jackson é um ótimo cozinheiro.

—É por que você não provou os coelhos que ele me traz quando está em forma de lobo. –brincou Hayley.

Eu ri, tomara que seja brincadeira. Eu imaginei uma cena romântica em que o lobo traz um coelho sangrando para a sua lobinha.

Terminei de comer. Ela ligou para o Jackson para avisar que estávamos indo lá. Foi uma conversa curta, com um eu amo você, antes de desligar.

—Vamos? –disse Hayley. —Meu carro está lá embaixo. –completou.

Descemos as escadas e entramos no carro. Conversamos por todo o trajeto, ela estava bem curiosa em perguntar as coisas. Não era pra menos, eu era sua filha, sua Hope.