Seguindo Caminhos escrita por Anne Ribeiro


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Esse foi curtinho, pessoal! =(
O tempo está corrido...=/



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– Bom dia, students! Hoje nós vamos falar sobre o gerúndio – diz a professora Clark, que atravessa a sala e deposita seus pertences sobre a mesa e retira uma caneta azul para o quadro branco, pendurado atrás de si. – O gerúndio é a forma verbal caracterizada pela terminação “ing”...

Bruno inclina-se sobre a minha carteira, chegando perto o suficiente para que consiga sentir o cheiro amadeirado do seu perfume. – Você vai? – ele sussurra e olha pra frente, enquanto a professora começa a fazer anotações na lousa, ficando de costas para todos nós.

– Usa-se o gerúndio de duas formas: como substantivo. Exemplos: “Dancing is her favorite hobby” – ela escreve na lousa e volta a falar – Que ficaria “Cantar é o hobby dela” – E, assim a Sra. Clark desanda a falar.

Logo de manhã cedo, dei de cara com ele que olhava para algum ponto no teto branco, segurando sua mochila sobre o ombro e deslizava distraidamente seu polegar pela tira de pano preta. Estranhei o fato de encontrá-lo ali, pois sempre que entrava na sala, meu amigo já estava sentado em sua carteira ao lado da minha, fazendo suas anotações. Porém, hoje tudo estava diferente e eu estava começando a ficar preocupada em querer saber o que se passava por sua mente, por isso logo me aproximei dele, com a testa vincada de preocupação e logo descobri que estava à minha espera.

Bruno estava hesitante e quase não olhava para meu rosto, o que só piorou as coisas e tentei descobrir o que era, porém não obtive sucesso. Enquanto eu buscava uma forma de resolver os problemas do meu aflito amigo, ele se concentrava na mochila e nas pessoas que passavam pelo corredor, diminuindo ainda mais o tom de voz, conforme os estudantes andavam por ali e nos cumprimentavam. Após longos minutos de insistência da minha parte, ele resolveu olhar fixamente para mim e começou a falar. No início, gaguejou e foi praticamente impossível saber do que se tratava o assunto que queria tratar e, no momento em que tomou coragem para fazer o convite de irmos até a sua casa ao final da aula, não pude dar minha resposta pra ele. Uma colega da nossa classe o chamou para dentro da sala, pois estava com dúvidas sobre o exercício proposto pela professora e queria resolver isso antes que ela aparecesse. Portanto, deixei para lhe responder depois. Eu já sabia o que iria falar, porém não tive tempo, porque Lisa estava muito ansiosa e preocupada com o que a Sra. Clark iria pensar sobre ela.

– Com certeza, Bruno! Conta comigo sim – sorrio e olho para o papel à minha frente, anotando o tudo o que está escrito na lousa. A Sra. Clark está animada hoje, porque não para de falar e escrever. Minhas mãos ficarão doloridas ao final da aula se ela continuar assim.

Ouço meu amigo arquejar o ar que estivera preso em seus pulmões e sinto seu hálito de menta entrar por minhas narinas, ao me aproximar da sua carteira e verificar suas anotações para ver se perdi alguma coisa. Terei que fazer a revisão de toda a matéria quando voltar de sua casa. Ou talvez até cheguemos a estudar juntos, porque não sei o que faremos em sua casa. Acho que ele mencionou alguma coisa sobre um filme, mas não consigo lembrar no momento. Até estou pensando em perguntar para verificar, no entanto não quero parecer que estivera distraída – o que não estava -, e deixa-lo triste. Já foi tão difícil conseguir convencê-lo a falar comigo sobre o dia de hoje. Até mesmo agora ele nem sequer olhou para mim ao refazer a pergunta sobre a minha visita.

– Você vai adorar! – sorri triunfante. O sorriso que ele exibe é tão fofo e genuíno, que me deixa tão feliz e orgulhosa por proporcionar essa felicidade ao meu amigo, que até paro de me importar em ter que revisar a matéria toda sozinha depois.

Encosto a cabeça em seu ombro para verificar mais uma vez suas anotações. – O que vamos fazer? Qual é o plano para hoje? – sussurro e ouço diversos “shhhh” para que fale ainda mais baixo.

– Oi? O que você disse? – diz ao colocar a caneta em sua boca e morder a tampa azul, no momento em que me olha de soslaio. Ela não demora muito em seus lábios e, em seguida está deslizando pela superfície branca novamente, enquanto ele escreve freneticamente cada palavra proferida pela nossa simpática teacher. – Ainda não sei, Lícia. Alguma sugestão? Estou aceitando, viu! – sorri.

– No momento, nem eu tenho – digo.

Decido não falar mais nada e ficar quieta até o final da aula. O primeiro aviso já foi dado no momento em que a turma me pediu silêncio e não quero ter que ouvir o segundo, vindo da mulher franzina à nossa frente, que caminha pra lá e pra cá, explicando minuciosamente a matéria. Ela parece ter uns trinta e poucos anos, está vestindo um vestido branco que marca sua cintura fina e se estende até os joelhos. Há pouco retirou o sobretudo de couro, por conta do calor que começara a sentir, deixando-o no pendurador de cabide ao lado da porta dupla de madeira, pintada em azul escuro e que emperra ao abrir.

Ao final da aula, recolho meus papéis espalhados sobre a carteira e organizo-os meticulosamente para que os buracos no meio das folhas se encaixem nas argolas do fichário. Levanto, pego minha bolsa da carteira e abro-a, para guardar minhas anotações. Passo sua alça de pano sobre meu ombro, sentindo o olhar curioso do meu amigo em meus movimentos.

– Que foi? – digo ao sorrir e me virar para ele, que desvia o olhar no mesmo instante, resolvendo cumprimentar Lisa com um meneio de cabeça. Ela caminha devagar na frente do quadro e, quando passa por nós dois, cochicha algo para sua amiga, que sorri junto com ela. Começo a desconfiar que havia muito mais do que uma simples ajuda à sua tarefa, ao ver o sorriso bobo que se instala no rosto de Bruno também. Fico feliz com o que vejo e tenho uma ideia.

– Já volto, fique aqui – digo para ele, que só acena.

Ando rápido até elas, que estão quase na saída do prédio. A amiga de Lisa está com a porta aberta e o vento frio entra pelo espaço, forçando-me a apertar o casaco contra meu corpo para afastar a sensação incômoda. Consigo alcança-las após quase correr e impedir que ambas saiam para as ruas gélidas e puxo de leve o braço de Lisa.

– Olá! – digo arfando um pouco. Acho que preciso voltar a me exercitar, pois esse pequeno trote me deixou sem ar. – Podemos conversar um pouco? – olho para a menina de cabelos encaracolados, que ainda segura a porta aberta e as pontas dos seus fios caem sobre seu rosto sardento graças ao vento e acrescento – Em particular.

– Claro! –diz e olha para a sua amiga. – Daniela, você pode me esperar no carro?

– Sem problemas – Daniela diz em sua voz fina e infantil, fechando a porta atrás de si. Nós duas a observamos se afastar, enquanto caminha pela calçada com neve acumulada nas beiradas. Ela olha para os dois lados, antes de atravessar a rua e colocar as mãos no agasalho. Logo, desaparece ao chegar à esquina, ao passar por dois homens que passeiam com seus cachorros.

– Então – falo ao parar de observar o que acontece lá fora, chamando a atenção dela de volta pra mim. – Quer assistir a um filme conosco? – sorrio.

– Você e mais quem? – diz ao desviar o olhar pra trás de mim e sorrir para o que acontece. Viro-me para ver do que ri e vejo Bruno caminhando até nós, ajeitando a mochila em suas costas daquela maneira nervosa e passando o dedo na alça preta.

– O que está acontecendo? – ele diz ao se aproximar de nós duas, fitando todos os pontos do hall de entrada.

Eu me adianto, tomando a dianteira. – Está acontecendo que vim convidar a Lisa para assistir a um filme com a gente – digo simplesmente, colocando a mão no ombro do meu amigo, que fica vermelho como um tomate ao perceber as minhas intenções.

Percebo o constrangimento que acabei de criar e falo por nós três, já que eles estão quietos demais. – E então...vamos, Lisa? – ela me observa sem saber o que fazer ou falar, portanto escolhe a maneira mais prática de responder: um aceno de cabeça.

– Certo! – sorrio.

Bruno anda até a porta envidraçada e a abre para que passemos, segurando-a até que estejamos do lado de fora. Lisa anda alguns passos à frente e fico notando a forma como ele a olha, no momento em que ela ajeita uma mecha de cabelo atrás da orelha e a forma como sorri de suas piadas, sempre arrumando alguma forma de tocá-lo; e meu amigo faz o mesmo. Começo a me sentir sobrando e penso fortemente em uma boa desculpa para não ficar de vela no meio dos dois, durante o filme. No entanto, não encontro formas para isso enquanto caminhamos pelas calçadas e, nesse instante, Lisa se aproxima do carro de Dani, para conversar com ela. Provavelmente, para lhe dizer que não precisará da carona.

– Obrigado! – diz ele, sem emitir som algum ao olhar pra trás e piscar para mim, aproveitando a distração das duas amigas que conversam.

– Disponha! – respondo rapidamente, da mesma forma.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem! ^^



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