Safe-Zone escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 10
Grimes


Notas iniciais do capítulo

Nota da Agatha: Nossa! Já faz muito tempo desde a última postagem! Mas, dessa vez, eu não vou gastar linhas justificando mais uma longa ausência. O que me trouxe aqui hoje com esse capítulo foi uma data muito especial. Porque hoje (19/02) fazem exatamente 17 anos que um ser humano chegou a esse mundo, no caso, a minha amada irmã. Honestamente, eu não sei como teria sido a minha vida sem a Amélia, e eu posso citar várias coisas que só aconteceram comigo por causa dela. Nesse momento, eu estaria um ano atrás na escola, porque foi ela (e a minha outra irmã) que me ensinou a escrever com letra cursiva, o que acabou me adiantando um ano no colégio. A maioria dos meus amigos (ótimos amigos, entre eles) eu fiz por intermédio dela, e os que eu fiz sozinha na maioria das vezes resultaram em coisas ruins. Eu jamais teria começado a escrever sem ela, porque, apesar de me interessar muito, eu nunca teria sido capaz de ter uma ideia decente o bastante. Isso sem contar com os livros, séries e filmes que mudaram totalmente a minha cabeça e que foram apresentados a mim por ela. Eu não consigo pensar em outra pessoa com quem eu gostaria de passar o meu tempo tanto quanto eu faço com a Amélia. Às vezes essa garota me irrita de um jeito que eu nem sei definir, mas, se essa é a condição para todas as conversas e risadas que nós compartilhamos, eu não apagaria isso por nada. Mellie, eu quero que você saiba que, quando as coisas não acontecem do jeito que você queria, essa é uma grande experiência e, quando você passar por isso, vai sair mais forte. Sis, feliz aniversário, e que todos os seus sonhos se realizem!

Boa leitura!



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− E aí? Como esse ficou? Melhor que o último? 

− Esplêndido, Vossa Majestade! – Gary exclamou após bater algumas palmas. – Seu discurso foi belíssimo. Eu poderia ouvir a sua voz por horas inteiras sem me cansar! – por mais que ela não conseguisse acreditar em seu mordomo, Grace tinha que admitir que a última frase era verdadeira, afinal, ele estava lá havia horas ouvindo sua Rainha falar sobre os mais diversos assuntos. – Eu não sei defini-la ao certo... Ela tem presença e, ao mesmo tempo, é tão sutil que pode convencer qualquer um. 

O homem magro e pálido confortavelmente sentado no chão estava incrivelmente animado, parece ser o único aqui. Para Gary, elogiar seu comandante era como respirar. Ele possuíra uma devoção enorme por Ezekiel, e, desde que o Rei renunciara, o mordomo havia transferido completamente tal sentimento para a nova governante do Reino. Embora fosse bom ter alguém que a apoiasse sempre, Grace ficava se perguntando como ele podia ser tão devotado a uma pessoa que mal conhecia. 

O elogio de Gary já era esperado. O que a Rainha queria saber mesmo era a opinião de Jesus, sentado de pernas cruzadas ao lado do mordomo. Ele tomava seu chá tranquilamente, sem demonstrar se aprovava ou não o longo discurso que acabara de ouvir. Grimes acreditava que havia se saído muito mal no último, assim como fora em todos os anteriores a ele, contudo esperava que Monroe tomasse uma posição e fizesse a sua crítica. Estavam desde o final da tarde praticando a habilidade de discursar em público: Paul lhe apresentava um tema aleatório, Grace fazia um longo e cansativo discurso espontâneo e, em troca, não escutava nada além dos elogios de Gary. Na verdade, o líder do Alto do Morro se pronunciara apenas três vezes durante as últimas horas: uma para fazer um pequeno elogio e duas para dar sugestões. Ela já estava exausta. 

− Estamos treinando para o meu discurso do julgamento, não estamos? 

− Estamos treinando para seus possíveis pronunciamentos futuros, não importa qual deles seja – Jesus respondeu calmamente enquanto se preparava para tomar outro gole da xícara. Fez uma careta. – Vazia de novo... Mas, de certa maneira, sim, estamos nos preparando para o julgamento. 

− Então poderíamos falar sobre algo mais concreto, ao menos. Sabe, eu não falaria aos meus súditos que “definir é limitar”. 

− Mas nós não estamos falando. Quero dizer, você não está falando; está discursando, ou pelo menos deveria estar fazendo isso... 

− Sim, mas... 

Paul Monroe deveria ter tido dezenas de aprendizes, e provavelmente muitos discordaram da visão de seu mestre. Grace não queria ser mais um deles. Na maioria do tempo, ela era uma ouvinte paciente e que estava sempre disposta a aprender o que o velho homem tinha a dizer, contudo, em momentos como aquele, a irritação falava mais alto. Parecia que tudo o que ela fizera naquele dia fora andar em círculos. Sempre discursando e nunca dizendo algo de fato. Por mais que se esforçasse, Grace não conseguia gostar das palavras que pronunciava. 

− Quando você discursa, está tentando convencer alguém, está tentando justificar seu ponto de vista. Para isso, você também precisa acreditar no que está dizendo. Se não for verdadeiro, ninguém vai escutar. 

− Então me dê um ponto de vista para que eu possa convencê-lo – a jovem pediu, sentindo o ânimo retornar. Tinha que ser a última tentativa, tinha que dar certo. 

− Certo – o homem sorriu e pareceu refletir por alguns instantes. – Convença-me de que eu sou viciado em chá. 

− O quê? Eu não consigo... Eu não sei o que dizer. 

− Você mesma diz isso, o tempo todo. Se não consegue justificar, talvez não seja verdade. 

− Eu não preciso provar nada. Isso é uma evidência, e evidências não precisam ser provadas. 

− Andou lendo o dicionário? – Monroe havia trazido muitos livros para ela, e o dicionário era um deles. O líder do Alto do Morro dizia que era importante conhecer quatro coisas para se fazer um discurso: o assunto, as palavras, o público e o contexto. Antes de começar a discursar de fato, Grace havia dedicado uma hora à leitura do dicionário. 

− Sim, e eu também li que vício é um hábito. 

− É verdade, mas tomar chá não é um hábito supérfluo ou prejudicial, como o vício em si. Chás fazem bem para a saúde física e mental. 

− Não parece nada saudável quando seu chá acaba. Você fica agitado e com as mãos trêmulas. Isso sem contar que você para o que está fazendo para pegar mais sempre que esvazia uma xícara. 

− Você tem bons argumentos e eu estou quase convencido, mas... Como você explica o fato do meu chá ter acabado há alguns minutos e eu não ter feito nada a respeito? – Jesus sorriu vitorioso. – Vamos encerrar por aqui. Você se saiu bem dessa vez. Era uma batalha que não poderia ter vencido, pois, afinal, eu não sou viciado em chá. Pode descansar agora, amanhã será um grande dia. 

Grace se jogou na sua cadeira estofada, sentindo-se cansada só de pensar no percurso que faria até o quarto. Gary recolheu a louça, colocou tudo em uma bandeja e cumprimentou a Rainha com um movimento rebuscado antes de se dirigir até a saída. 

− Boa noite, Gary! Mande um abraço para Taylor! − Monroe falou após recolher seus poucos pertences. 

− Obrigado, meu senhor! − seu mordomo respondeu com um grande sorriso nos lábios. – Vejo o senhor amanhã? 

− Espero que sim. 

− Quem é Taylor? – Grace perguntou no momento em que seu servo deixou a sala, não conseguindo segurar a curiosidade. 

− Taylor é o marido dele. Bem, acho que ele mencionou que os dois se casaram em um dos festivais, só não consigo lembrar qual... 

− Meu mordomo é casado e eu não sabia disso! – ela exclamou surpresa. Estava com sono e sentia suas pálpebras lentamente cederem na luta contra o cansaço, mas mesmo assim não deixou de estar desapontada consigo mesma. Tinha sobrevivido relativamente bem aos primeiros dias de seu reinado, muito devido à confiança que Jesus havia depositado nela, porém ela tinha medo de que estivesse se escorando demais no líder do Alto do Morro. Grace começara a acreditar, estar disposta a arriscar mais, sair da defensiva... Até que chegavam momentos como esse que destruíam o muro de confiança que ela construíra. Parecia algo bobo, todavia, como a Rainha, ela deveria ao menos conhecer seu servo mais fiel. – Diga-me mais sobre ele! 

− Eu o conheci casualmente, encontrei os dois na cozinha esses dias e Gary tratou logo de apresentá-lo. Taylor é um rapaz muito prestativo e me ajudou a arrumar aquele fogão portátil velho. 

− Nada mais a acrescentar? 

− Eles parecem um casal apaixonado e feliz. Se quer saber mais, terá que perguntar a um deles. 

− Ele nunca mencionou nada... Eu deveria ter perguntado antes. Não quero parecer desinteressada. Eu vou falar com ele. 

− Deixe isso para depois, agora é melhor dormir. Vou descansar, amanhã será um grande dia! – antes de desaparecer pela grande porta do salão, Monroe se voltou para ela e acrescentou: − Ninguém espera que você saiba fazer tudo em duas semanas. 

Paul a deixou só com seus pensamentos. Embora não acreditasse muito nas palavras do homem, a jovem torcia para que ele estivesse certo. Ela cobrava muito de si mesma, mas não era a única, pois certamente os membros do conselho estavam de olho em tudo o que ela fazia, assim como sua intendente. 

Só quando chegou ao quarto a Rainha percebeu que Jesus repetira a mesma fala duas vezes. Amanhã será um grande dia... Preferiu não pensar muito a respeito e dormir o quanto antes. De manhã, quando Ivy e Jean chegassem, ela perguntaria sobre suas famílias e como era a vida de cada uma delas. Passariam o resto de suas vidas juntas, então era melhor que todos os seus empregados fossem servos leais e confidentes. Grimes não gostava de pensar que eles estavam lá apenas por ela ser a sucessora de Ezekiel. Deveriam segui-la porque a viam como sua líder. 

Quando acordou, na manhã seguinte, a morena ainda se lembrava das palavras do seu mentor. Hoje será um grande dia. As damas de companhia sempre invadiam seu quarto em um horário fixo, e Grace já tinha se acostumado a se levantar um pouco antes disso para evitar eventuais surpresas. Quando as duas chegaram, ela já havia feito a higiene matinal e começado a arrumar suas coisas para a viagem. As jovens a cumprimentaram como o de costume e assumiram os preparativos das malas. Minutos mais tarde, quando Jean deixou o quarto para buscar o café da manhã e Ivy se prontificou para trançar os cabelos da Rainha, ela pensou que seria o momento perfeito para conversar. 

− Como vai a sua família? 

− Bem, obrigada − aquela não era a intenção, mas ao menos Grimes já sabia que a ruiva tinha uma família. Havia tentado puxar assunto casualmente, mas estava óbvio que não ia funcionar com Ivy. 

− Quero dizer, como é a sua família? Você nunca fala nada sobre eles... 

− Eu não quero aborrecê-la com assuntos pessoais, Vossa Majestade. Empregados não devem gastar o seu tempo com esse tipo de coisa. 

− De maneira alguma isso me aborreceria. 

− Se você diz... Nós somos quatro lá em casa. Meu pai é o chefe dos construtores, a Rainha deve tê-lo encontrado em algumas reuniões. Minha mãe é professora, ela trabalha à tarde e passa o restante do dia cuidando do meu filho. 

− Você tem um filho? − a morena não conseguiu esconder a surpresa na voz, mas logo percebeu que talvez a outra pudesse interpretar isso como preconceito. A Rainha e as damas de companhia possuíam praticamente a mesma idade, de forma que Grace não conseguia imaginar nenhuma delas com um filho nos braços, pois não conseguia imaginar a si mesma com uma criança. Por outro lado, isso explicava muita coisa. Ivy sempre fora a mais responsável da dupla, levava seu trabalho muito a sério e por vezes até repreendia sua parceira. O fato dela ser mãe justificava essa sensatez e o fato de Jean respeitá-la tanto. 

− Sim, eu tenho − Grace conseguiu escutar uma quase imperceptível risada, e ficou feliz por constatar que a mulher não se ofendera com a sua reação. − Austin tem apenas três anos de idade, mas é a criança mais inteligente que eu conheço. Ele diz que quer ser Rei quando crescer. 

− Eu fico feliz por ouvir isso. Parece que já não preciso me preocupar com a sucessão. Você poderia trazê-lo aqui um dia, e seus pais também. Eu adoraria conhecer a sua família pessoalmente, não em uma reunião de trabalho. 

− Eu agradeço o convite, Vossa Majestade. 

− Ivy, você não deveria aborrecer a Rainha com assuntos pessoais − Jean entrou no quarto subitamente sorrindo com um ar superior. Grace guardou sua risada para si. Por mais que gostasse da espontaneidade da morena, ela respeitava a forma séria com que Ivy via o trabalho. 

− Eu estava justamente esperando o seu retorno. Queria que você me falasse sobre a sua família. 

− Eu tenho uma família bem grande, Vossa Majestade. Sou a quarta de sete irmãos. Fomos todos criados pelo meu irmão mais velho, Kanai, em um trailer. Tive uma infância boa graças a ele, apesar do pouco espaço. Nós, os mais velhos, nos esforçamos muito para melhorar a vida de nossos irmãozinhos. 

Depois de escutar a história, Grace fez a Jean o mesmo convite que fizera a Ivy, sentindo-se satisfeita por ter sido capaz de interagir com elas. A Rainha terminou seu café da manhã enquanto as damas de companhia finalizavam a sua mala e, em alguns minutos, estava tudo pronto. Gary apareceu pouco tempo depois anunciando que Jesus a aguardava na porta da escola para que eles iniciassem a viagem. 

Somente após deixar os portões do Reino, Grimes se permitiu pensar no trabalho que tinha a fazer e traçar as suas estratégias. Esse seria o primeiro passo rumo às intensas negociações que pretendia fazer com os postos avançados nos próximos meses para melhorar a situação econômica da comunidade. Seu destino era o Posto 4, um importante produtor de uvas e vinhos. Até o momento, o Reino obtinha vinho com o Posto 3, porém a troca parecia pouco favorável para Grace, principalmente considerando a situação dos estoques da comunidade e que a bebida não era um produto de primeira necessidade. A ideia era negociar uma troca menos custosa com o Posto 4. 

A morena havia escolhido aquele posto sozinha depois de analisar o caderno das trocas comerciais. Começar por esse produto parecia uma boa, pois, se tudo desse errado, o comércio com o Posto 3 podia ser cancelado e seus súditos podiam ficar sem vinho. Não que eles fossem gostar disso, mas as pessoas acabariam entendendo. Em tempos difíceis, ficar sóbrio não era algo tão ruim assim. 

 Monroe gostara bastante da ideia, afirmando que seria uma boa oportunidade para praticar suas habilidades de liderança. Stella também aprovara o plano de redução ou corte de gastos, e esse apoio tinha sido muito importante na hora de persuadir o conselho a autorizar essa viagem diplomática. No final, os conselheiros haviam cedido à pressão e a intendente fora deixada no lugar da Rainha durante a sua ausência. 

− Me fale mais sobre o Posto 4. Tudo o que você achar importante − ela pediu depois de quase uma hora de silêncio. Jesus já lhe falara um pouco sobre a liderança do lugar e a rixa com o posto vizinho, contudo de maneira muito superficial. 

− Você quer saber da briga com o 3, não é? − para Grace, essa disputa entre os dois postos era o ponto principal da negociação. Ela precisava saber explorar isso se quisesse obter êxito. O único problema era que esse assunto era muito obscuro e a morena não sabia se ele realmente conhecia a história. − É complicado, mas acredito que seja melhor você saber de tudo. O Posto 4 é localizado numa zona produtora de vinhos, então sempre foi um lugar propício para isso. Nos primeiros anos de Zona-Segura, esse posto prosperou muito. Há nove anos, um representante do Posto 3 foi até lá para uma visita diplomática, e, poucos anos depois, Padre Jason estava comercializando uvas e vinhos com os outros postos e comunidades. Não demorou muito até que o 4 perdesse muitas trocas comerciais. A verdade é que fica mais fácil negociar com o 3, já que eles plantam muito mais do que uvas e não dependem só delas. 

− E eles são inimigos só por causa disso? 

− Parece simples, eu sei, mas você precisa entender que uma briga não depende só dos motivos. Depende das pessoas envolvidas. Viola Chastain é uma mulher rancorosa, e Jason é arrogante demais para assumir qualquer coisa que tenha feito. E... Veja, também existem questões pessoais envolvidas, mas isso não é importante agora. 

− Compreendo. 

− Grace, lembre-se disso: não mencione o Posto 3, o Padre Jason ou qualquer coisa relacionada a essa rixa. Se Viola decidir que não gosta de você, ela não vai fazer acordo nenhum, por mais vantajoso que seja. 

− Como eu vou deixar de mencionar o 3 se eu estou indo até ela para obter um acordo mais vantajoso que o atual? 

− Então eu temo que isso seja inevitável... Eu gostaria de poder te dizer que enaltecer a beleza e produtividade do Posto 4 seria útil, mas Viola não é esse tipo de pessoa. Ela não gosta de rodeios, prefere ir direto ao ponto, e é inteligente o suficiente para saber quando as pessoas elogiam em busca de algo. Apenas diga o que você precisa dizer, mas pense bastante nas suas palavras para evitar problemas. Eu pretendo atuar como mediador e apresentar as duas, mas não posso interferir muito na negociação. 

− Certo. Eu posso perguntar mais uma coisa? 

− É claro. 

− Como você conhece essa história? A maioria das pessoas apenas sabe que o 3 e o 4 brigam, mas não sabe o motivo. 

− Viola e eu éramos velhos amigos, até ela começar a se fechar demais no Posto 4. Agora somos apenas conhecidos. Quanto ao Padre Jason, eu o vi duas ou três vezes. Estive lá uma vez, mas o ambiente não me agradou. Kaya diz que os habitantes do Posto 3 não recebem muito bem um visitante com a alcunha de Jesus. Acho que ela tem razão. Ela sempre tem. 

− Você não se preocupa com as coisas que deixou no Alto do Morro? A liderança, seus apóstolos, as pessoas... – havia muito tempo aquela pergunta surgira em sua mente, e só naquele momento Grimes se lembrara de perguntar. 

− Quanto ao Alto do Morro, eu deixei a liderança nas mãos de seu pai. Não que Rick esteja fazendo exatamente o que deveria fazer, mas eu confio nele. Quando voltar, creio que eu vá começar a procurar um sucessor. Em relação aos apóstolos, eles estão muito bem. Eu não gosto de ter deixado o treinamento tão abruptamente, mas sei que Kaya vai fazer um trabalho excelente com aqueles garotos. Eu já a preparava para esse momento, só não esperava que fosse ser agora... Também não esperava que fosse ter um gosto tão amargo. Os apóstolos sempre foram muito importantes para mim, e, eu confesso, nunca poderia admitir que Kaya estava pronta. É estranho pensar em passar tanto tempo longe dela... 

− Ela parece... – Grace se interrompeu. A quem estava tentando enganar? Não conhecia Kaya, assim como dez em cada dez habitantes do Alto do Morro. A maior interação que tivera com a protegida de Jesus fora no dia em que esta lhe lançara um olhar intimidador, muitos anos atrás. A morena pouco sabia sobre a mulher de traços asiáticos, apenas que Paul Monroe a encontrara sozinha do lado de fora da Zona-Segura quando a outra ainda era uma criança. −... Adequada. E também muito fechada. 

− Ela tenta – o homem riu. – Ela gostaria de saber que as suas tentativas de afastar pessoas dão certo. Mas acho que fechada é uma boa palavra para descrevê-la... Kaya não gosta de mostrar o seu interior para qualquer um, você precisa conquistá-la para poder conhecê-la. E, se você me permite, eu diria que é algo realmente gratificante – Jesus falava com muito orgulho na voz. Parecia que os dezesseis anos de convívio que os dois tiveram os tornaram muito próximos. 

− O meu pai. O que você quis dizer quando falou que ele não está fazendo exatamente o que deveria fazer? 

− Ele é um bom homem, cansado como todos nós. Rick pensa muito na Zona-Segura, nas pessoas, em tudo. Não que eu não pense, mas ele faz diferente. Seu pai pensa que pode controlar tudo, cuidar de tudo, que qualquer coisa ruim que acontece em qualquer lugar é culpa dele. Agora, por exemplo, Rick deveria estar no Alto do Morro, cuidando das coisas enquanto eu estou aqui. Mas ele sentiu que precisava estar em Alexandria, vendo tudo de perto. Não estou julgando o seu pai, apenas dizendo o que eu penso. E eu quero que você tome isso como exemplo. Você não pode se ocupar tanto com as questões da Zona-Segura a ponto de se esquecer das pessoas como indivíduos, Grace. Isso é importante. Se não, um dia você pode olhar ao seu redor e ver que estão seguros e bem, mas infelizes, e você sequer vai reconhecê-los. Você tem que deixar que eles te vejam, falar com eles, demonstrar preocupação, escutar as suas reclamações. Tem que estar lá quando precisarem. 

Grace assentiu em concordância, sentindo que não tinha mais o que dizer. As palavras de Monroe a fizeram lembrar o ocorrido da noite anterior. Seu mentor tinha o dom da socialização, sabia ganhar a intimidade das pessoas e fazer com que todos o adorassem. E ela precisava admitir que, embora seu pai fosse imensamente respeitado em toda a Zona-Segura, não tinha tanto carisma quanto o seu parceiro. O Rick Grimes líder sempre fora mais intimidador, alguém que fazia o que precisava ser feito, uma lenda. 

A jovem puxou as rédeas de Chocolate quando chegaram ao alto do morro que antecedia o Posto 4. À sua frente estava uma enorme plantação de uvas, composta por longas e finas fileiras de parreiras que se estendiam por metros e mais metros. Elas se distanciavam pouco umas das outras, exceto no centro, onde uma longa estrada de terra levava até o casarão da vinícola. Muitas pessoas de todos os lugares da Zona-Segura saíam de suas comunidades e postos apenas para visitar o prédio, uma construção antiga de três andares, larga e imponente. Atrás da habitação, mais videiras se espalhavam até onde a vista alcançava e além. 

Aquela região era habitada havia mais de três séculos, e o tempo fora mais justo com ela do que com os elevados prédios de Washington: fora pela cor mais escurecida, a casa grande parecia intocada. Ao lado dela havia algumas construções posteriores à praga que, diferente do formato do Alto do Morro, eram perfeitamente alinhadas, como se tudo fosse cuidadosamente planejado e não obra do acaso e da necessidade. Grace dirigiu sua égua até o estábulo indicado por Jesus, com paredes de madeira que indicavam que o local era mais um dos levantamentos posteriores. 

Os olhares estranhos e curiosos os perseguiram por todo o caminho, porém Grimes não se sentiu desconfortável. Estava começando a se costumar com isso, mas o fator principal era que os olhares não se dirigiam a ela, e sim ao seu companheiro de viagem. Após descer do cavalo com muita destreza, a Rainha tentou, de maneira desastrosa, retirar seus pertences da bolsa presa na lateral da sela. Por sorte, apenas alguns livros e as maçãs da sua fiel montaria caíram pelo chão, e ela os recolheu totalmente sem jeito. 

− Isso é um dicionário? – uma voz estridente perguntou e quase fez com que o coração da morena saísse pela boca. Cautelosamente, ela se virou em direção à voz e se deparou com um menino de no máximo dez anos de idade empoleirado no alto de uma das divisórias de madeira do estábulo. 

− Sim, é um dicionário. 

− Você pode me responder uma pergunta? Quero saber o significado de uma palavra – o garoto pediu. Ele tinha uma aparência diferente, com um tom de pele escuro que Grimes nunca vira na vida. Seus cabelos eram negros e quase chegavam aos ombros, os lábios largos pareciam propícios a um sorriso e os olhos eram de um castanho tão escuro que as pupilas desapareciam. 

− Se eu souber, é claro que sim. 

− Você sabe o que é um bastardo? − o menino perguntou inocentemente e pareceu não notar a mudança na expressão da mulher. − A minha avó me chama disso às vezes, mas a mamãe não quis me dizer o que era. Na verdade, ninguém quer me responder. Já perguntei pro Gustav e pra Jacquelyn, e até o Bill não quis me responder! 

− Bem...  − Grace se calou. Não sabia ao certo como se sentia em relação àquilo, mas o fato da criança ser chamada de bastardo pela própria avó era certamente muito estranho. E, se a mãe do garoto não queria explicar o significado da palavra para ele, possivelmente para não magoá-lo, não parecia certo ir contra. Teria sido muito fácil se ele simplesmente não conversasse com estranhos, algo que as mães costumavam ensinar para seus filhos. − Eu acho que você ainda não tem idade para esse tipo de coisa... Sua mãe está certa em não querer te dizer. Me desculpe. 

− Eu já tenho oito anos! Faço muitas coisas que só pessoas mais velhas fazem. Minha avó já tem sessenta e oito anos e não consegue alcançar a prateleira de cima, mas eu consigo. Sempre pego as coisas de lá quando ela pede. 

− Há palavras que é melhor não conhecer. Eu não gostaria de saber o que é um bastardo... 

− Então é uma palavra feia? − o menino pareceu surpreso. Droga

− Mais ou menos... 

− Então eu não quero saber. Mamãe diz que as pessoas falam coisas que não querem quando estão com raiva. A vovó tem raiva de mim o tempo todo, então eu sei que ela não quer me chamar de coisas feias de verdade. 

− Será que você pode nos levar até o salão principal? − ela mudou de assunto para tentar não pensar naquilo. − É a primeira vez que eu venho aqui e eu preciso falar com Viola Chastain. 

− Claro. Venham − o menino os conduziu pelas construções até entrar no casarão, e depois por algumas portas até alcançaram um salão espaçoso e bem cuidado. − É aqui. 

− Obrigado, Louis − Jesus agradeceu passando a mão pelos cabelos negros do menino. 

− Não há de quê, senhor Monroe. 

− Você conhece ele? 

− Louis é filho da sobrinha de Viola − Paul explicou. 

− O senhor Monroe costumava vir aqui de vez em quando − parecia que Louis ia dizer mais alguma coisa, porém o som de uma porta se abrindo a alguns metros chamou a sua atenção. − Mamãe! 

A mãe não se parecia em nada com o filho. Ao contrário do garoto, a mulher tinha a pele alva, traços bem mais finos e olhos claros. A única semelhança entre eles eram os cabelos extremamente negros. Grace pensou que, caso o pai de Louis não se parecesse com ele, o menino era adotado. A adoção não era algo incomum, principalmente nos postos avançados, que raramente tinham orfanatos. A Rainha já ouvira falar de um posto cujo líder adotara quatro crianças, além de seus oito filhos biológicos. 

− Por onde você andou dessa vez? 

− Eu estava sendo prestativo, mamãe! 

− E foi por isso que você se cortou todo? − só naquele momento a jovem percebeu que a parte de trás da camisa de Louis tinha alguns cortes e manchas escuras de sangue. 

− Não foi nada, mamãe. Eu nem tinha sentido. 

− Não se preocupe, Alice − no fundo do salão, Grace observou a mulher de meia-idade arrastar sua cadeira e ficar de pé atrás da mesa. Os objetos dispostos sobre o móvel de madeira estava organizados de forma tão perfeita que era impossível não reparar. No centro havia algo que parecia ser um livro ou um caderno. À direita dele havia uma caneta e algo semelhante a um carimbo, enquanto à esquerda se localizavam um mata-borrão e um tinteiro. Tudo parecia ter sido milimetricamente alinhado e com espaçamentos igualmente medidos. − Se ele diz que não se machucou, está tudo bem. Você bem sabe que o menino se mete naqueles matos e faz só Deus sabe o quê. Crianças são assim nessa idade. Se bem que você não deu tanto trabalho assim. Não sei de onde ele puxou isso... Por que vocês não me apresentaram os convidados? 

− Mas a senhora já conhece o senhor Monroe. E essa moça disse que quer falar com a senhora. 

− Faz muito tempo − Jesus falou num tom amigável. 

− Desde que você tentou me servir chá indiano, há dois anos − Viola Chastain fez uma careta de desgosto e a sua postura completamente alinhada se desfez. A líder do Posto 4, a mulher que chamava seu sobrinho-neto de bastardo... Ela tinha um rosto mais largo, parecido com o de Louis, mas era branca e tinha os mesmos olhos claros da sobrinha. Possuía os cabelos brancos curtos e usava grandes óculos redondos. − E não tente se fazer de inocente porque você sabe muito bem que eu não gosto de nada que veio de lá. 

− Eu só queria te mostrar que nem tudo que vem da Índia é ruim. Mas como não adianta te dizer que águas passadas não movem moinhos, eu vim pedir desculpas... e também fazer algo muito importante. Eu vim lhe apresentar a nova soberana do Reino, a Rainha Grace − a morena se adiantou para cumprimentá-la, porém Viola não deu oportunidade. 

− Eu vivi tempo demais para ver Ezekiel largar o osso? Foi a pressão do conselho, não foi? Sabia que aquelas pessoas iam deixá-lo louco − Chastain parou e finalmente pareceu notar a presença de uma confusa e intimidada Grace. −Essa não é a menina de Rick Grimes? 

− Sim, eu sou a filha de Rick e Sarah. 

− E o que faz você no Reino? − Grace pensou em dizer que apenas estivera no lugar errado na hora errada, mas parecia uma resposta grosseira demais. 

− Ezekiel viu potencial em mim e decidiu apostar nisso. Estou tentando honrá-lo, assim como o meu povo. 

− Pelo menos ela aprende rápido. O que faz aqui? Por acaso eu estou sendo a última a saber da novidade? Geralmente as notícias chegam no Posto 14 antes que eu tome conhecimento... 

− Na verdade, creio que você seja a primeira a saber, além de meu pai e Jesus − a expressão da mulher se suavizou, e Grimes podia jurar que vira a sombra de um sorriso no canto dos lábios dela. − Ainda não é oficial, estamos esperando o julgamento para tornar público. Todos estão muito focados no assassinato. 

− Suponho que eu deveria me sentir lisonjeada, mas isso não explica o motivo da sua ilustre visita. 

− Eu vim tratar de negócios. 

− E você, Paul? 

− Vim apenas apresentar duas amigas. E talvez ferver um pouco de chá; qualquer conversa se torna melhor com chá. 

Enquanto Jesus ia atrás de seu fogão portátil e suas folhas, Viola conduziu a Rainha até a sua mesa e fez sinal para que ela se sentasse em uma cadeira que ficava de frente para a dela, com a mesa de escritório entre as duas. Grace notou que Alice e Louis os deixaram havia muito tempo, o que significava que ela estava sozinha com a líder do Posto 4. Provavelmente já estavam acostumados com esse tipo de situação. 

− Eu quero que o Reino faça trocas com o Posto 4 − Grimes falou de uma vez, lembrando que não deveria enrolar muito. A expressão de Chastain não mudou em nada. − Você estaria disposta a negociar um preço pelas suas uvas e vinhos? 

− Vocês já negociaram com o meu posto uma vez. Mas você era pequena demais na época, eu nem esperava que soubesse disso. Naquela época, Ezekiel  disse que era mais conveniente negociar com o Posto 3. Então me diga, menina, o que tornou o meu posto mais conveniente agora? 

− Eu não posso te dizer o que fez Ezekiel querer isso, mas eu tenho ideias diferentes das dele. Andei comparando as importações e exportações que fazemos no Reino. Estamos passando por um período difícil e, se me permite dizer, acho que o preço do Padre Jason é um pouco absurdo. Por isso eu decidi conversar com você antes de ir até o Posto 3. Queria ter certeza de que você não poderia oferecer um acordo melhor antes de ir refazer os meus termos com o Padre. 

− Vamos ver se eu entendi: o motivo que levou Ezekiel a acabar com as nossas transações comerciais é o mesmo que está trazendo a sucessora dele até aqui para negociar comigo? 

− Sim − Grace arriscou sem saber se aquilo agradava ou desagradava a mulher. Ela ao menos parecia ser do tipo que preferia a verdade a um mentira bem contada. Torcia para que ela não percebesse e tomasse como ofensa o fato dela estar tentando obter os produtos do Posto 4 por um preço mais barato. − O fato do Posto 3 possuir outros produtos além de vinhos facilitava as negociações, pelo menos do ponto de vista de Ezekiel, mas agora eu acredito que o fato de você ter unicamente plantações de uva possa trazer uma vantagem para os dois lados. 

− Isso quer dizer que, se futuramente um acordo com Jason se tornar mais vantajoso, você vai fazer o mesmo que Ezekiel fez? 

− O que vai determinar se esse acordo é mais vantajoso ou não depende do que vamos discutir hoje. 

− Estamos falando de algum tipo de garantia? 

− Você vai ter que se contentar com a minha palavra − Grimes só percebeu como estava tensa quando Jesus entrou na sala novamente trazendo uma bandeja com três xícaras de chá e um bule. Enquanto as servia, o homem aproveitou para lançar-lhe um sorriso de incentivo. Logo em seguida ele se afastou, deixando-a sozinha com Viola Chastian novamente. 

− Em uma situação hipotética em que eu me contente com a sua palavra − Viola colocou as mãos entrelaçadas sobre a mesa. Grace se lembrou do que o líder do Alto do Morro dissera sobre situações hipotéticas, alguns dias atrás. Quando as pessoas trabalham com situações hipotéticas, significa que estão considerando razoavelmente bem a possibilidade de que se torne real −, o que você estaria disposta a oferecer em troca dos meus produtos? 

− Eu estava pensando que você fosse me dizer isso − pela primeira vez durante toda a conversa, a mulher mais velha se permitiu dar um sorriso, o que fez Grace acreditar que estava se saindo bem. 

− Isso parece bom. Mas estamos falando de que quantidade? − a jovem não sabia exatamente qual era o preço de uma carroça cheia de uvas, muito menos quanto valia uma garrafa de vinho. 

− Eu tenho em mente duas carroças de uvas e quarenta barris de vinho por mês. 

− É o mesmo que você recebe do Posto 3 atualmente? 

− Na verdade, eu estou acrescentando as uvas e reduzindo um pouco a quantidade de vinho. 

− Eu tenho duas ideias. Há muito tempo eu queria cancelar totalmente os meus negócios com aquele padre, mas não tinha onde obter milho. Eu acredito que o Reino possa fornecer a mesma quantidade de milho que eu já recebo do Posto 3. 

− Eu não... − a Rainha se forçou a parar no meio da frase. Não podia simplesmente dizer a Chastain que essa troca não seria viável. Milho era um alimento muito importante, enquanto a uva e seus derivados entravam na lista de produtos supérfluos. Grace se ajeitou na cadeira e limpou as mãos suadas na calça. Até então a conversa tinha seguido um rumo em que Grace possuía um repertório de respostas, só que ele havia chegado no fim e ela tinha de ser muito cuidadosa com o que diria em diante. − Veja bem, o Reino teve problemas com as plantações nessa última colheita. O milho que temos quase não dá para nos abastecer, então eu creio que não possa negociá-lo aqui. Mas você disse que tem duas ideias. 

− Certo. Acredito que você nunca tenha tido o desprazer de morar em uma residência do século XVIII − a morena assentiu, pensando que viver em uma casa que era o passado do passado nunca seria um desprazer para ela. − Mas não é só essa casa; a comunidade inteira parou no tempo. Pode ser uma dádiva para alguns, mas, em termos de qualidade de vida, não. Estamos tendo problemas com a rede de esgotos e precisamos urgentemente de obras. Contudo, o posto não dispõe de mão de obra especializada para isso. 

− Isso pode ser facilmente arranjado. 

− Por isso mesmo essa parte não é tudo. Quando a obra terminar, os trabalhadores vão embora e eu não vou oferecer as minhas uvas de graça. Eu preciso diversificar a mão de obra aqui; não temos muito além de agricultores e fabricantes de vinho. Cuidadores de cavalos, cozinheiros... Nada disso. Além disso, Alice clama desesperadamente por um médico. 

− Um médico? 

Uma risada nervosa quase escapou de sua boca. Os outros trabalhadores poderiam ser arranjados sem problemas, mas um médico... A Rainha pensou imediatamente em voltar com a situação hipotética do milho. Conseguir um médico para um posto avançado era praticamente impossível. A maioria deles se concentrava nas comunidades, onde havia pacientes de fato. Por outro lado, era um preço bom a se pagar em comparação com a quantidade de alimentos que o Reino perdia mensalmente para o Posto 3 pelos seus vinhos. Grace poderia pedir a ajuda de sua mãe, que conhecia todos os médicos da Zona-Segura. Ou poderia enviar um dos médicos do Reino e, mais tarde, quando Brianna voltasse da Fortaleza, ela convidaria a ruiva para trabalhar na sua comunidade e substituir o outro médico. Quase sorriu com esse pensamento; trazer Hesh era questão de tempo e ,com esse acordo, as chances de ter sua família por perto eram maiores. 

− Tudo o que você precisa é de um médico? − voltou ao seu tom normal, esperando que a mulher mais velha não tivesse reparado na sua instabilidade, o que era quase impossível. Viola Chastain havia demonstrado emoção em alguns raros momentos da negociação, o que era algo realmente notável, e a Rainha daria seu Reino para ver uma discussão entre o Executor e a líder do Posto 4. − Eu estou disposta a arranjar isso. Acordo fechado? 

− Sim − as duas apertaram as mãos, e foi a primeira vez em seu reinado que Grimes sentiu alívio de verdade. 

− A equipe de construção virá assim que terminarmos a colheita no Reino, e um médico e os outros serão enviados quando a obra for finalizada aqui. 

− Minha família costuma selar seus acordos com um aperto de mão e um bom vinho. Acho apropriado buscar uma garrafa para tirar o gosto do chá. 

Viola deixou o salão e não demorou muito até que Jesus  entrasse na sala e se sentasse ao seu lado como se nada tivesse acontecido. Seu rosto parecia sereno e de certa forma até orgulhoso. Grace então sorriu aliviada; estivera muito apreensiva quanto ao rumo que aquela negociação poderia tomar. Havia pensado em tantas formas diferentes de fracasso para aquilo, passara horas se preparando psicologicamente para a derrota... Mal podia acreditar que tinha acabado de fechar um acordo com Viola Chastain. E o melhor de tudo era que Grimes tinha sido responsável pela ideia, pela iniciativa e pela execução do plano. Negociar com os postos não fora sugestão do conselho, e Jesus nem sequer participara da discussão com a líder do 4. Só então a jovem pode se sentir uma Rainha de fato. 

− Estava ruim? − o homem perguntou, e a morena levou alguns segundos para perceber que ele se referia ao chá. Grace notou que não havia sequer tocado na xícara, ao passo que a mulher grisalha bebera todo o conteúdo da sua. Ela fez menção de pegá-la, mas seu mentor a parou. − Existem três estados para um chá: quente, frio e gelado. Jamais beba o do meio. 

− Vamos falar sobre chá e não sobre o acordo? 

− Grace, um dia você vai aprender que tudo é chá − ele disse fingindo estar desapontado. − Relaxe, sua negociação está praticamente fechada. Tudo o que você tem que fazer é falar com o Padre Jason e alterar seu acordo. Mas isso ainda vai levar um tempo. Agora vamos apenas aproveitar a hospitalidade de Viola e descansar antes de voltar nossas atenções para o julgamento. Parabéns!


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo estava sendo escrito há meses e rodou entre os computadores várias vezes até finalmente conseguirmos finalizá-lo. Nós tínhamos uma ideia em mente e foi bastante difícil transmitir isso aqui.
Agora, se alguém está interessado em entender os nossos sumiços, temos muitas coisas a culpar. A escola, as visitas morando na nossa casa e, principalmente, nós mesmas. Estamos passando por um bloqueio criativo terrível e ainda estamos trabalhando em um jeito de contornar isso. Na verdade, queríamos avisar que ninguém deve esperar pelo próximo capítulo tão cedo. Resolvemos deixar SZ parada até decidirmos de vez o final da fic. É muito complicado escrever uma história quando não se sabe aonde se quer chegar, por isso vamos nos concentrar agora em resolver esse problema para termos uma fanfiction mais organizada. Pedimos, por favor, que vocês, leitores, tenham paciência e não nos abandonem.
Além disso, estamos trabalhando em outra história que está nos animando bastante. Ela se passará no mesmo universo de Safe-Zone, porém deixaremos as coisas de uma forma que pessoas que nunca leram essa fic ou BTD possam compreender a trama. Não podemos dizer mais que isso.
Por fim, esse capítulo nos apresentou o Posto 4. Temos muitas informações sobre ele guardadas, algumas pistas jogadas no meio do capítulo e outras coisas. Por enquanto, vocês ficam com o lindo aesthetic feito pela Amélia:
https://68.media.tumblr.com/e8ac5948183681f3c40cede71e15faa8/tumblr_oll31h5xJs1txro7no1_500.jpg



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