Dear future husband escrita por LC_Pena


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Vejamos se eu consegui fazer um casal Grifinória X Sonserina direitinho.



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Dear future husband

Não podia acreditar no quanto era azarada, já haviam se passado quase 10 minutos do horário marcado com seu namorado e ainda estava aqui, sentada no escritório, terminando de corrigir um documento “urgente” para seu chefe.

A ironia residia principalmente no fato de que ele, seu chefe não seu namorado, era uma das vozes mais altas no coro de “Você precisa relaxar mais, ter uma vida social, querida”. Está certo. Ela iria ter uma vida social assim que conseguisse sair daquele escritório!

Take me on a date

I deserve a break

And don't forget the flowers every anniversary

'Cause if you'll treat me right

I'll be the perfect wife

– Finalmente! – Hermione Granger acabou aquele último trecho do pergaminho com uma letra que horrorizaria qualquer um, mas um breve aceno de varinha consertou tudo. Ela pegou seu cachecol vermelho, presente de sua melhor amiga Gina, e o enrolou de qualquer jeito no pescoço, sobre o cabelo cheio.

“Devo estar uma visão”, pensou com ironia, talvez se...

– Oh! – O som saiu mais como um sopro do que uma palavra, mas isso era porque ele estava ali, no seu trabalho. O QUE ELE ESTAVA FAZENDO NO SEU TRABALHO?

– Está atrasada. – Theodore Nott, em toda a sua glória sombria, desencostou da parede, onde parecia estar há alguns minutos, se o fato de seus colegas de trabalho estarem o observando de seus cubículos dizia alguma coisa e se aproximou de Hermione com um andar preguiçoso.

– Theo, mandei você me esperar na Florean Fortescue...

– Você também disse que estaria lá às 17 horas. Não pode esperar que eu siga apenas parte do que me pede. – Ele disse, mostrando o sorriso torto de sempre, combinado com a sobrancelha aristocrática levantada. Típico.

Hermione sorriu automaticamente para a petulância de seu namorado, coisa que já estava virando um mau hábito. Não podia ser conivente com esse tipo de comportamento dele, sabia, mas saber não era a mesma coisa que fazer...

– Isso é um absurdo, Senhor Nott! Não pode me tratar como se eu fosse sua escrava, eu não trabalho para o senhor. – Hermione estava chegando ao seu limite de paciência com aquele homem! Disse ao seu chefe que não fazia distinção de clientes baseado no seu histórico de guerra ou boatos, mas tinha que admitir, estava errada. Aquele homem era impossível!

– Se a senhorita trabalhasse para mim não falaria comigo desse jeito, eu te colocaria no seu devido lugar em dois tempos. – Ok, era isso. Esse filhote de trasgo achava que podia falar assim com ela? Ele não sabia com quem estava se metendo, se achava que podia.

– Ora seu, seu... Exijo um pedido de desculpa pelo seu comportamento atroz com meu secretário. – Hermione falou firmemente, apontando para o pobre Itilus, um simpático elfo-doméstico o qual tinha ajudado a ganhar liberdade há dois anos. O moreno a olhou com o cenho franzido por alguns segundos, depois sua expressão anuviou.

– Está no seu direito. – Theodore não disse mais nada, o que conseguiu tirar a jovem consultora em Segurança de Instalações Mágicas do sério completamente. Não iria pedir desculpas? Ela não precisava estar ali para início de conversa, estava fazendo um FAVOR a um amigo, Hermione Granger tinha ajudado a reerguer Hogwarts, por Merlin!

Pior do que suas palavras arrogantes era aquela maldita sobrancelha levantada junto com aquele sorriso ladino. Ela o odiava e só conhecia o homem há dois dias! O tempo dos dois na escola não contava, já que nem sequer tinham se cumprimentado, não poderia estar em mundos mais distantes.

Por ela ficariam em mundos mais distantes ainda.

You got that 9 to 5

But, baby, so do I

So don't be thinking

I'll be home and baking apple pies

I never learned to cook

– E esse sorriso é por quê? – O mesmo homem de suas lembranças se aproximava para tocar seu rosto gentilmente. Como as coisas podiam ter mudado tanto em tão pouco tempo?

– Estava planejando sua morte. – Isso arrancou um riso surpreso de Theodore. Hermione adorava surpreendê-lo, por alguns segundos ele deixava escorregar sua máscara de indiferença e se tornava o jovem bruxo que deveria ser. – Mas isso não importa, temos que ir se não quisermos chegar mais atrasados ainda na casa dos meus pais.

Ela seguiu para os elevadores, sem esperá-lo, ignorando seus colegas de trabalho abelhudos.

– Ao menos parece interessante. – Comentou ele, enquanto enlaçava o braço dela com o seu e chamava o muito lento elevador do Ministério.

–O quê? – Hermione perguntou, afastando os olhos da ponta desfiada de seu cachecol. Droga, teria que lembrar de consertar aquilo logo, antes que desfiasse completamente.

–Minha morte. - Respondeu ele com um sorriso enviesado e travesso. – Se for me matar, bem que poderia aproveitar o momento, porque Merlin sabe que eu não o farei.

Hermione teve que dar risada daquela sandice. Deus, Theo não tinha jeito mesmo.

Assim que saíram nas ruas abarrotadas do Beco Diagonal, Hermione perdeu o ar divertido automaticamente. Começariam os olhares, os cochichos... Ou talvez, por ser Natal, ninguém reparasse na brilhante bruxa do famoso trio de ouro saindo com o filho de um reconhecido Comensal da Morte.

Não, Hermione não tinha tanta sorte assim.

Theodore a arrastava e se desviava bruscamente dos transeuntes, seja por sua grande carranca mal-humorada ou pelo passo enérgico e apressado, as pessoas apenas se afastavam e deixavam o caminho livre para os dois.

Hermione achou que deveriam fazer um casal e tanto, ela toda eficiência e simplicidade e ele todo opulência e elegância. Passou olhando rapidamente por uma das vitrines só para ver no reflexo um belo e sofisticado bruxo acompanhado de uma garota desmantelada, com um ninho de passarinho na cabeça.

– Por Morgana! – A bruxa parou de maneira tão abrupta, que Theo se viu obrigado a procurar por alguma ameaça externa. – Por que você não me avisou que eu parecia um crupe?

Theodore parou sua busca por perigo na rua lotada para olhar nos olhos da sua namorada. Merlin, ela iria matá-lo de susto qualquer dia desses!

– Está falando sério? – Ela fez que sim, colocando as mãos na cintura e chamando a atenção de pelo menos meia rua com o gesto. O homem suspirou exasperado. – Estamos indo ver seus pais, que diferença faz como está seu cabelo?

– Que dife... Que diferença faz? – Ela falou sibilando de uma maneira assustadora. Theodore mudou automaticamente de postura, aquilo nunca era um bom sinal.

Céus, amava aquela mulher, mas às vezes ela tinha uns comportamentos tão esquisitos! Seus pais provavelmente já a viram de todos os jeitos, cara amassada de sono, depois do choro, doente, eles devem ter até trocado suas fraldas pessoalmente, porque com certeza os Granger não eram adeptos dos serviços élficos. Então, porque esse drama todo?

Hermione continuou andando, sem dizer mais nada. Não explicaria pela milésima vez a ele como era importante para ela estreitar os laços com seus pais. Havia restabelecido a memória dos dois, mas todos os medibruxos que consultou a aconselharam a continuar trabalhando nos sentimentos e lembranças não recuperados. Não queria que eles memorizassem a filha deles como uma quimera enlouquecida!

You got to know how to treat me like a lady

Even when I'm acting crazy

Tell me everything's alright

– Onde estamos indo, querida? – Ele perguntou tranquilamente, a alguns passos da namorada. Com Hermione nesse humor era sempre uma boa ideia manter-se à distância.

– Para casa. – Ela falou no seu melhor tom seco, encerrando o assunto. Theo revirou os olhos, “Esqueça a meia hora de atraso, ficaria satisfeito se chegassem ainda hoje na Londres trouxa”, pensou.

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Então haviam se passado quase quatro horas desde que Theodore tinha comido pela última vez, mas quem se importava? Certamente não a sua Hermione, que ajeitava o batom cor de boca no espelho do elevador trouxa.

Ela o olhou pelo reflexo enquanto dava uma piscada travessa, arrancando um sorriso do namorado. Ok, esse era o tipo de espera que valia à pena. Ela estava linda, de uma maneira que só uma bruxa que é tão bela por dentro quanto por fora poderia estar.

Dear future husband

If you wanna get that special loving

Tell me I'm beautiful each and every night

– Nervoso?

– Você disse que esse aparato trouxa não despencaria e eu resolvi acreditar em você. – Ela riu, virando para juntar seu corpo ao dele, enlaçou os braços ao redor do pescoço do rapaz e se colocou na ponta dos pés, mesmo com salto, para falar na altura de sua boca.

–Estou falando sobre meus pais... – Ela disse em um sussurro, completando com um leve roçar de lábios. O homem aumentou ainda mais o próprio sorriso.

– Espero que eles não despenquem também. – Hermione se afastou de Theodore com um leve empurrão e um manear de cabeça divertido. Tinha que amá-lo mesmo quando estava sendo tão estúpido.

– Você é tão idiota às vezes. – Ela falou, aproveitando para sair do elevador que havia acabado de chegar no décimo segundo andar, o andar de seus pais.

– Há alguma razão, - perguntou ele, olhando ao redor como se a pergunta fosse dirigida a outra pessoa - para que me deixe insultar por minha boba e atrasada namorada?

– Amor, a porta... – Hermione disse condescendente, sinalizando a porta automática que estava se fechando. Theodore a atravessou rápido, com uma cara de espanto digna de um filme de terror.

Obviamente não se podia confiar nessas tecnologias trouxas!

– Agora lembre-se do que eu falei: nada de comentários sobre como as coisas trouxas são inseguras, - parecia que ela estava lendo sua mente com aquele olhar de mãe repreendedora, enquanto arrumava sua roupa que obviamente não precisava de arrumação nenhuma. - ou qualquer coisa sobre venenos, elixires ou essa essência de paralisia instantânea que você adora.

– Mas e se eles perguntarem sobre o meu trabalho? Devo mentir? – Ele olhou verdadeiramente confuso dessa vez.

– Não. Só... só não seja sincero demais! – Ele a olhou magoado e ela respirou infeliz, por reflexo. Theo tinha uma mania de achar que ela tinha vergonha dele pelo seu passado, coisa que a entristecia. Nem tudo era sobre ele. – É muita coisa para eles absorverem de uma vez, Theo!

– Tá, que seja. – Hermione ainda ia contrargumentar, mas a porta abriu de maneira abrupta, como se seus pais estivessem esperando o casal atrás da porta.

– Céus, achamos que haviam se perdido! Seu pai ainda não se acostumou com as ruas daqui do centro também.

– Senhora Granger, é um prazer finalmente conhecê-la, mas devo dizer que não estávamos perdidos; não nas ruas de Londres, pelo menos. – Hermione lhe deu uma cotovelada e sua mãe simplesmente olhou de um para o outro, entre intrigada e divertida.

Theo estava quase escorregando para aquele lugar de “homem perdido nas Trevas” onde ela o havia encontrado a quase dois anos atrás, então a bruxa decidiu que deixaria ele se sair com a sua, por hora. Eles teriam muito tempo para resolver isso em casa.

– Bem, imagino... Err... Entrem, entrem! Seu pai está nos esperando na sala de estar. – Theo deixou que sua namorada passasse na frente, já que sua falecida mãe o havia ensinado a ser um cavalheiro, independente se a dama em questão merecia ou não o tratamento adequado.

O pequeno hall abriu espaço para uma sala de estar requintada e um pouco asséptica. Hermione suspirou saudosa, daria tudo para levar Theo em sua pequena casa de infância, no subúrbio, queria tanto que ele tivesse alguma referência de um lar aconchegante...

– Papai! – A jovem bruxa deixou o sentimentalismo de lado e correu para abraçar o senhor que já estava de pé, de braços abertos para recebê-la. – Deixe eu te apresentar meu namorado...

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Theodore estava se comportando bem, em sua opinião. Havia respondido todas as perguntas durante o jantar de uma forma que lhe pareceu muito madura e hermética. Algumas vezes Hermione lhe sorria e outras vezes ela apertava os talheres perigosamente, ele não sabia identificar os porquês de cada reação, por isso seguia agindo de acordo com seus instintos.

Tinha acabado de receber um olhar duro de sua namorada ao fazer uma brincadeira com a chance pequena de seus filhos nascerem trouxas, por Merlin, a possibilidade era remota, mas isso enfureceu Hermione de qualquer forma, quando sua sogra interrompeu a troca intensa de olhares entre os dois.

– Mas os amaria com ou sem magia, certo? – Hermione o olhou do outro lado da mesa com o seu melhor olhar de “Sai dessa agora, espertinho”. Theo respirou fundo para não acertar uma ervilha na cara de sabe-tudo dela. Isso teria sido imaturo...

Algumas vezes imaturos era tudo que eles conseguiam ser, e isso porque tinha passado por uma guerra devastadora, imagine se tivessem vivido a vida em paz!

– Amarei meus filhos tanto quanto um pai poderia amá-los e eles terão uma mãe e avós maravilhosos para ensiná-los tudo que eu não souber. – Ele desviou o olhar de sua sogra para ver o que Hermione havia achado de sua resposta. Se surpreendeu com o sorriso doce e os olhos marejados que encontrou.

Theo sempre fazia essas coisas. Em meio a demonstrações do seu gênio difícil, ele sempre deixava transparecer quão bom ele era. Hermione pensou que o mundo seria um lugar melhor apenas se mais pessoas conseguissem enxergar o que ela via tão claramente.

Theo pensou que depois de sua declaração sincera e inesperada as coisas tinham voltado a correr nos trilhos. Tudo estava indo relativamente bem, mas isso foi até a troca de presentes.

Hermione tirou de sua bolsa aumentada magicamente alguns embrulhos e se os presentes dela eram adequados e até previsíveis, Theodore tinha certeza que o seu seria considerado...

Peculiar.

Quando a bruxa passou o embrulho pequenininho que ele havia pedido para ela guardar, com um sorriso meigo, Theo quase, mas só quase mesmo, se arrependeu de não ter comprado a coleção especial dos Beatles que Hermione disse que seus pais tanto queriam.

Por sua vida ele não pôde entender o porquê de dar aos seus sogros uma coleção de besouros*, então achou que seria melhor ele mesmo escolher o presente. Sempre tinha sido bom em dar presente, Hermione bem sabia.

Pegou sua varinha do bolso e com um simples feitiço não verbal, transformou o pacotinho em um enorme pacote de pelo menos 50 polegadas.

– Oh, minha nossa! – A senhora Granger pulou em seu assento, mas o seu marido apenas olhou o feitiço maravilhado. Theodore havia gostado do homem e essa era só mais uma demonstração do porquê.

– É um presente meu e de Theo para vocês. – O casal mais velho se aproximou e começou a abrir o grande embrulho com sorrisos idênticos no rosto, sua menina sempre tinha sido tão atenciosa e...

– Ah, querida ,não preci... Er... Não estou certo de saber o que é, princesa... É um...

– Uma arcada dentária de um clabbert legítimo. – Todos na sala olharam Theodor com diferentes graus de surpresa e apenas um olhar com extrema irritação acrescida, aquele homem não aprendia mesmo! – Hermione disse que vocês cuidavam de dentes, imaginei que exemplares tão singulares pudessem agradá-los.

– Ah! Sim que o é! Singular, digo! – Senhor Granger deu uma risada calorosa e sua esposa não teve outro remédio a não ser sorrir complacente para o seu marido e seu estranho genro. Hermione se limitou a olhar o namorado com uma sobrancelha arqueada, coisa que nem sabia que podia fazer até o dado momento. – Difícil será explicar para os amigos de onde veio esse novo arranjo de mesa... ou quadro? Onde devemos colocá-lo?

Theodore aceitou ajudar seu sogro a encontrar um lugar adequado em seu novo escritório para colocar o souvenir exótico. O homem o tinha enredado em uma estranha conversa sobre dentes de crianças pequenas que chupavam o dedão e Theo realmente não sabia como haviam parado nesse assunto ou o que poderia acrescentar a essa conversa estapafúrdia.

Dear future husband

Make time for me

Don't leave me lonely

And know we'll never see your family more than mine

Hermione estava, metaforicamente, de dedos cruzados para que Theodore não aprontasse mais nada em sua ausência, ele já estava aprontando em sua presença, imagine! Mas sua mãe mudou de lugar, sentando-se junto a ela, naquela postura de aninho que só as mães tinham e isso lhe trouxe um calorzinho bom no peito.

– Então, querida, como você está? Está feliz? – Sua mãe tocou sua mão de um jeito maternal. Hermione sorriu para o gesto.

– Claro, mamãe, as coisas têm estado boas agora... – Ela corou ao receber um olhar conhecedor de uma mulher que parecia ver através de suas palavras, Hermione não se referia apenas ao distanciamento dos anos difíceis pós-guerra.

– Ele te faz bem. – A bruxa levantou o olhar, sua mãe não havia lhe feito uma pergunta e isso a intrigou. – Você também faz bem a ele. Só espero que meus netinhos não fiquem juntos de dentes afiados como navalhas...

– Netinhos? – O tom vermelho aumentou ainda mais em suas bochechas, se era possível. – Não estamos nem perto desse passo ainda, acredite em mim.

– Ah, não? Que cabeça a minha... – Ela falou, dando tapinhas confortadores na perna da filha, mas não parecia realmente que tinha acreditado no que Hermione havia dito. Mães sempre acham que sabem de tudo!

O olhar da bruxa recaiu no pequeno relógio que levava, já era quase onze horas da noite e seus pais sabiam que o jovem casal não passaria a festividade realmente ali. Hermione os tinha convidado a participar da grande festa dada pelos recém-casados Potter, mas os dois haviam recusado educadamente. A moça tinha certeza que seu namorado teria feito o mesmo se pudesse.

– Já sei, devem ir. – Sua mãe percebeu sua inquietação e levantou-se, disposta a liderar o resgate de seus respectivos parceiros. – Vamos trazer seu namorado de volta para se despedir da gente.

Hermione não poderia estar mais aliviada com a sensibilidade de sua progenitora.

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– Você está irritada. – A bruxa ajeitou melhor a luva da mão esquerda, enquanto desciam os doze andares do prédio de seus pais no elevador, por ela poderiam fazer o percurso em silêncio. – Não sei porque está irritada.

Hermione não estava mais TÃO irritada assim, mas gostava que Theo demonstrasse que estava atento à suas emoções.

– Por que não deu o presente que eu te falei? – Theo levantou as mãos em defesa, só pelo tom com que sua garota falou. Merlin, ela era uma coisinha mortífera quando queria, não tinha dúvidas.

– Me pareceu tolo... – Ela o olhou franzindo ainda mais o cenho. – Dar uma coleção de besouros, que coisa mais disparatada, antes os dentes de um clabbert!

Ela primeiro o encarou confusa, depois entendeu o que havia acontecido. Céus, a culpa era toda sua! Como Theo poderia imaginar que Beatles se tratava de uma banda trouxa? Mas é que quando ela tentou explicar ele pareceu ofendido com a insinuação de que poderia não saber o que era...

Por Morgana, Hermione, você poderia ser mais estúpida?

– Theo, eu...

– Sinto muito, ok? Devia ter te perguntado, são seus pais ao fim e ao cabo, não deveria ter sido tão arrogante e...

– Desculpas aceitas. – Ela o puxou para fora do elevador, sem querer mais falar do assunto. – Esqueça isso.

After every fight

Just apologize

And maybe then I'll let you try and rock my body right

Even if I was wrong

You know I'm never wrong

Why disagree?

Why, why disagree?

Mas Theo não estava disposto a esquecer assim tão rápido. Ele a puxou para um beijo inesperado, que roubou o fôlego e o juízo de Hermione por mais tempo do que a garota iria admitir, caso fosse questionada.

– O que foi isso? – Ela perguntou ainda atordoada.

– Nada, eu só... Nada. – Hermione o trouxe para perto e sussurrou em seus lábios.

– Foi um bom nada, então.

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Precisaram correr por causa da neve. Bem ruim que as ruas do centro estivessem lotadas de trouxas sorridentes, cheio de olhos e bocas que adorariam falar na primeira oportunidade sobre um casal que desapareceu como em um passe de mágica.

Não que Hermione realmente ligasse, ela estava se divertindo com a expressão séria, porém assustadiça de Theo toda vez que cruzava com um turista um pouco mais animado.

– Não sei porque estamos correndo, não é como se o nosso destino fosse muito melhor do que isso aqui...

– Quanto mal humor, amor! É Natal e ai... – Um rapaz, que já devia ter tomado mais chopes do que o recomendado para alguém de sua compleição, esbarrou em Hermione. – Não, nada de brigas por aqui, vem, eu sei de um atalho.

Theodore se deixou ser levado pela namorada, não tinha muita paciência para essas coisas trouxas e não seria nada bom para sua imagem de “vilão reformado” uma morte em seu currículo, mesmo que justificada.

Chegaram em uma rua estranhamente deserta. Bem, não era tão surpreendente o motivo de estar deserta, fedia como um lago de inferis. Hermione segurou as duas mãos do rapaz e o olhou divertida, Theo odiava aparatação compartilhada, quase tanto quanto ela odiava os quadros dos ancestrais dele na Mansão Nott.

– Você não vai gostar disso. – Ela disse com um sorriso que deveria ser consolador, mas apenas pareceu debochado.

– Simplesmente vá log... – A frase nunca se completou, porque em um minuto estavam no meio da comemoração de Natal da Londres trouxa e no minuto seguinte estava em um terreno coberto de neve, no meio do nada.

Theodore se curvou, tentando se recuperar da viagem desagradável. Merlin, ele odiava não ter o controle de seu próprio corpo, odiava quando era seu velho que fazia a aparatação compartilhada e com sua amada era apenas um pouco menos detestável.

– Tudo bem aí, campeão? – Ele a respondeu com um gesto que Hermione entendeu como “Tá, tá, tá...”, mas Theo nunca diria algo assim, seria indigno de vossa majestade, claro, talvez por isso mesmo não tenha podido deixar de rir. Ela estava pronta para debochar mais um pouquinho de sua debilidade, quando o homem fincou um dos joelhos na neve. – Amor, você está bem?

Ele levantou o olhar, mas continuou na mesma posição de antes, a olhando de baixo.

– Theo? – Ele soltou só uma das mãos, para buscar algo dentro do sobretudo. Quando ele tirou uma pequena caixinha de veludo do bolso, Hermione usou a mão livre para tapar a boca. – Theodore?

– Bem, não era como eu havia planejado, mas você estava irritada lá na casa dos seus pais, ent...

– Pelo amor de Morgana, homem, fala de uma vez! – Ele a olhou surpreso, ela também parecia bastante surpresa com seu rompante, mas não conseguiu se obrigar a pedir desculpas, estava muito nervosa para isso.

– Estamos no Natal e eu resolvi te dar o melhor presente de todos: eu. – Hermione mal podia acreditar, aquele era sem sombra de dúvidas o pedido de casamento mais torto da história, ela jogou a cabeça para trás numa risada gostosa, não pôde evitar. – Senhorita Granger, quer se casar comigo?

I'll be sleeping on the left side of the bed (hey)

Open doors for me and you might get some kisses

Don't have a dirty mind

Just be a classy guy

Buy me a ring

Buy-buy me a ring, babe

– SIM! Sim, sim, sim! – Ela deu pulinhos no lugar e depois se jogou em cima daquele louco que seu coração escolheu para amar. Seria sempre assim? Um misto de surpresa, exasperação e felicidade absoluta com ele? Estava disposta a correr o risco e descobrir.

– Bem, acho que o plano B foi bastante eficaz. - Hermione se ajeitou melhor sobre o corpo de seu futuro marido e ele se ajeitou melhor na neve, estava começando a se infiltrar nas suas roupas, mas nada que um bom feitiço aquecedor não resolvesse depois.

– Você é muito bobo mesmo. – Ela desceu os lábios até encostar nos dele. – Como eu fui me apaixonar por você?

Ele apenas sorriu, não qualquer sorriso, mas aquele torto, que vinha combinado com uma sobrancelha aristocrática levantada. Seu futuro marido era uma criatura de hábitos.

– É que você é uma garota de muita sorte, senhorita Granger. Muita sorte mesmo.

E ela sabia que era verdade pelo simples fato de que ela o amava, mas, acima de tudo, amava quem ela era com ele. E o futuro parecia bastante brilhante visto de cima do homem da sua vida, que estava começando a tremer de frio por causa do lugar em que estava deitado.

– Theo, onde está a aliança? Eu quero ver! - O homem levantou as duas mãos, ambas vazias, sua expressão dizia tudo.

– Theodore Josiah Nott, você perdeu minha aliança? – O bruxo deu de ombros como pôde, estando deitado na neve com sua noiva por cima. Não seria ele quem chamaria a atenção dela para o fato de que a culpa dele ter caído na neve, para início de conversa, era da senhorita “pulinhos felizes”.

Hermione pegou um punhado de neve e usou para apagar aquele sorrisinho convencido do rosto dele. Sim, a vida seria boa e nem um pouco chata.

Future husband, better love me right.


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Notas finais do capítulo

*Em inglês o nome da banda Beatles se assemelha a palavra besouro (beetle), por isso a confusão de Theo. E porque ele é muito arrogante para o seu próprio bem.

Música usada, Dear future husband, Meghan Trainor, sem tradução pq Lena, a dona do presente, disse q preferia assim.