POV Clarice

Ver meus três netos felizes e meus três bisnetos brincando no meio da sala era o que precisava para me sentir bem.

- Mãe_ escutei Carlisle me chamando_ porque não recita um de seus poemas?_ ele me perguntou

- Faz tanto tempo que não escrevo meu filho_ respondi.

- Fale um que você lembre_ Edward incentivou.

- É vovó eu gosto dos seus poemas_ Rosalie ajudou.

Olhei para os lados em busca de alguma coisa que me lembrasse algum dos meus poemas. Parei os olhos nos meus bisnetos que estavam rodeados de brinquedos, pousei depois meus olhos sobre Rose e Allie.

- Tem um das duas que eu lembro_ disse sorrindo pra ambas.

- Nosso?_ Allie perguntou surpresa.

- Desse eu lembro e lembro da historia também..._ Esme disse rindo.

- A boneca*_ disse entoando o titulo.

Deixando a bola e a peteca

Com que inda há pouco brincavam,

Pó causa de uma boneca,

Duas meninas brigavam.

Dizia a primeira: “É minha!”

_ “É minha!” a outra gritava;

E nenhuma se continha,

Nem a boneca largava.

Quem mais sofria (coitada!)

Era a boneca. Já tinha

Toda a roupa estraçalhada,

E amarrotada a carinha.

Tanto puxaram por ela,

Que a pobre rasgou-se ao meio,

Perdendo a estopa amarela

Que lhe formava o recheio.

E, ao fim de tanta fadiga,

Voltando à bola e à peteca,

Ambas, por causa da briga,

Ficaram sem a boneca...

- E de castigo_ Rose se lembrou.

- Eu ainda acho que aquela boneca devia ser minha_ Allie comentou.

- Não_ Rose esbravejou_ ela era minha boneca, ela parecia comigo, era loira.

- Parecia mais comigo..._ Allie argumentou

- Só porque ela era pequena_ Edward falou rindo.

- Que história é essa?_ Bella perguntou.

- Uma longa historia_ Carlisle comentou.

- Temos tempo_ Emmett insistiu.

- Bom..._ comecei me lembrando do fato._ Quando as meninas tinham 4 e 7 anos o Carlisle viajou para Europa a serviço. Voltou carregado de presentes para todos. Em meio a tantos brinquedos Rose brincava com uma peteca e Allie brincava com Edward de bola. Ele trouxe umas 15 bonecas para cada uma. Mas havia uma boneca especial. De cabelos loiros, pele branca como a neve, boca vermelha como o sangue e pequena, era a mais bonita e elegante de todas as bonecas que as meninas haviam ganhado. Ao verem a pequena boneca elas largaram os brinquedos e começaram a disputá-la que de tanto puxar ela acabou rasgando. Resultado: elas choraram tanto que Carlisle teve que encomendar duas bonecas parecidas com a que elas rasgaram. A diferença era a cor do cabelo, uma era loira e a outra morena. Esme ficou brava com as meninas porque elas não souberam dividir e as colocou de castigo_ falei resumidamente.

A sala se transformou em risos. Esme pediu que tocassem uma musica pra ela e ao ver todos distraídos sai da sala. Caminhei lentamente por causa da idade e me sentei numa cadeira de balanço, há muito instalada ali, focando o horizonte. O sol se punha por trás do mar.

- Fez um ótimo trabalho_ escutei a voz que a muito não ouvia._ eles sabem se virar sem você agora_ eu ainda escutava como se fosse um sonho_ Clarice não sabe como senti sua falta, falta de tocá-la, falta de beijá-la._ olhei para o lado e em pé, ao meu lado ele estava.

Seus cabelos escuros assim como os de Alice, seus olhos claros e sempre com seu cabelo devidamente penteado e seu terno perfeitamente arrumado.

- Não é um sonho amor_ ele me disse se sentando ao meu lado.

- Não tem como ser real_ falei.

- Mas é_ ele me afirmou.

- Foi tudo tão rápido...

- Eu também acho, mas cumpri minha missão antes de você..._ ele disse com um pesar em sua voz.

- E qual era sua missão?_ perguntei fitando os seus olhos nada enrugados pelo tempo.

- Lhe dar uma família_ ele disse olhando a casa que começava a se acender.

- E você me deu a melhor_ disse escutando as vozes se misturarem.

- Eu sei, é a nossa família..._ ele disse segurando o meu rosto frente ao dele.

- John... Me responde uma coisa?_ o chamei.

- O que quiser Clair_ ele disse me lembrando um apelido que ele havia me dado carinhosamente quando nos casamos.

- Eu fiz direito...?_ perguntei temerosa.

- Você sempre faz minha pequena..._ ele disse me dando um beijo na testa.

- É a hora não é?_ perguntei.

Ele balançou a cabeça afirmando e me deu um beijo. Um beijo que me levou a morte, suas mãos passaram a segurar as minhas.

- Foi aqui meu amor_ ele disse me mostrando o horizonte_ foi aqui que nos conhecemos, nessa exata hora, no crepúsculo do dia.

Olhei para nossas mãos unidas, e não eram mais minhas mãos. Com a morte eu havia voltado no tempo. Minha Alma, em perfeito estado como no dia que o conheci. Eu estava ali. Meu corpo estava morto. E agora eu era minha alma, jovem, sem rugas ou marcas de expressões.

- Ainda é a mesma mulher por quem me apaixonei... Mesmo depois de tantos anos.

Ele disse colando os seus lábios aos meus em um romântico beijo. O primeiro de nossa eternidade.

- Eu tinha saudades de você_ eu disse arfante.

- E você acha o que? Que eu não tinha? A eternidade não é nada sem você._ ele me disse antes de mais um beijo apaixonado.

Alguns meses depois...

Todos estavam em volta de uma árvore, em um pick-nick em família.

Alice e Jasper vivam mimando Jullie e queriam mais uma filha ou filho. Allie decidiu seguir a vida de estilista, e ia ganhando o mercado. Jasper comprou uma casa maior, que agora era o ninho de amor do casal. Antes mesmo de conseguirem outro bebê Alice já planejava os quartos e as roupas. Jullie se mostrou uma desenhista maravilhosa. Seus rabiscos viraram obras de artes penduradas por todo um quarto da nova casa.

Bella e Edward estavam mais do que felizes. Nos braços de Bella, estava mais um herdeiro da nova família Swan Cullen, Thomas. Ela passou a se dedicar a vida de mãe e esposa, cuidando perfeitamente da casa, do marido e dos filhos. Nessie descobriu uma voz magnífica, quase tão boa quanto à de Rose, que agora a ensinava musicas de todos os tipos para ela cantar nas festas da família, isso porque ela tinha um pouco mais de 3 anos.

Rose e Emm viviam momentos que prefiro não falar. Rose estava grávida de uma menina, quatro meses e Emm já a mimava como se ela tivesse sete meses de gestação. Se chamaria Clarice, em minha homenagem. Emmett se mostrou o perfeito pai, o perfeito marido. Ele sempre é protetor, cuidadoso e amoroso. Christopher se transformou no melhor jogador da descendência Cullen e segundo melhor da Swan, só perdia pro próprio pai. Mesmo com apenas um ano ele ganhava facilmente em jogos que ele conseguia jogar.

Esme e Carlisle eram dois avôs corujas e amavam mimar os netos. Carlisle decidiu se aposentar e dividiu suas empresas entre seu filho e seus novos filhos. Esme bondosa como sempre, se transformou em uma mãe para todos. E hoje ela ocupa o meu lugar de patriarca da família perfeitamente. Carlisle entregou o anel que usei por anos a ela, assim como havia pedido diversas vezes em vida. Eles se amavam como mais do que antes, e eu podia sentir que esse amor só ia se fortalecer nos próximos anos, agora era esperar as Bodas de Ouro. Me sentia feliz por estar presente nas de Prata.

E eu? Eu estou do lado do homem que amo e vou amar por toda a minha eternidade.

E é assim... A vida continua mesmo após a morte. E eu sinto que todos viverão felizes para sempre, como nos contos de fadas.

* Poema de Olavo Bilac