Como em tantas e tantas noites, novamente, eles se encontravam na surdina. Dispensando o romantismo comum, uma boa bebida e qualquer distração, ambos sabiam que não havia necessidade por tais caprichos. 

Ísis parecia deslizar pelo chão dos corredores. A roupa trajada, leve e ousada, movia-se com extrema sensualidade e delicadeza. Aquele que a visse, certamente, não acreditaria em tal visão. Tão provocante e surreal. Ela apenas queria chegar ao seu destino. Aos braços de um certo alguém. Seus passos, aos poucos, tornavam-se mais apressados e, em seus olhos dourados como o sol, a luxúria e o desejo se misturavam intensamente. Felizmente, esta não precisou esperar por muito mais. Afinal, levando seu olhar selvagem à porta aberta mais à frente, a provocante jovem encarou o mais belo rapaz do Egito.  

Com apenas o saiote tradicional o vestindo, as joias e os acessórios básicos de equipamento militar eram de um fascínio imenso. Os cabelos revoltosos e pontudos, o bronzeado da pele dourada... Tudo era de grande desejo.  

Mas o mais apaixonante eram seus belos olhos púrpuras, brilhando com a pouca presença da luz do luar. Neles eram mostrados os mesmos tipos de sentimentos que a jovem sentia e exibia. Ambos sorriam vitoriosos e a mulher fez menção de prolongar o tempo de espera, com um andar lento e ousado. Nenhuma palavra fora trocada, sendo que seus olhares já se entendiam por si só.  

Faltando apenas mais alguns passos antes de chegar ao rapaz, este tomou um dos braços da jovem, puxando-a com força para dentro do cômodo. Com a porta agora fechada, o rapaz desfrutou de sua privacidade com a mulher. Brincando com os seios de Ísis e saboreando o pescoço escondido por entre os longos fios negros e lisos que esta era dona, o homem sentia-se realizado. Ela deixou escapar alguns gemidos e ambos sabiam que aquela seria uma longa noite, amando-se sob a luz da alta lua.  

Entre caricias e apelos, o rapaz deitou a jovem em seu leito real e continuou a saciar ambos os desejos por cima desta. Agora, mais uma vez, eles tinham um compromisso com o acaso. Um compromisso com seus desejos e um futuro nebuloso. Mesmo que o amor entre eles fosse proibido, príncipe e serva trocavam seu afeto mútuo um para com o outro. Usavam os toques como palavras silenciosas, toques desejados por ambas as partes. 

E ao ritmo familiar, o casal tomava rumo a uma "dança" tão bem conhecida.  

Mergulhados no desejo e respirando a luxúria, o rapaz se mostrava extremamente urgente. Mais selvagem, contudo, não bruto. A jovem se sentia preenchida, confirmando mais uma vez que não viveria sem o seu príncipe. O amor ardia em seu peito, fazendo com que, não só ela como o amado, se esquecesse sobre suas obrigações e deveres. Aquela noite, eles seriam as novas estrelas a brilharem. Dois apaixonados acobertados pelo luar. Como de costume, o homem recitou novamente seus votos para com a garota e, novamente, esta perdia-se na visão de um futuro impossível. 

Desprovidos de suas roupas, o faraó trilhou um caminho aleatório de carícias e beijos pelo corpo tão pálido da amada, sentindo esta se arrepiar a cada toque. Em meio ao seu serviço, lembrou-se o quanto os outros a odiavam. Ele não compreendia. Ninguém de seu povo e, principalmente, seus familiares acreditavam que ela fosse uma boa companhia para si. Eles não acreditavam nos dois... e muito menos que um amor como tinham pudesse nascer em seus corações. "Tolos", afirmou o regente em seus pensamentos. Ele sentia aquele sentimento devastador toda vez que tocava e via sua amada. Sabia que foram destinados a permanecerem juntos.  

Envolvendo-a em seus braços, o jovem perdeu-se em meio ao perfume natural da mulher. Ísis estranhou aquele contato tão inesperado e pensou consigo se algo estava errado. Como um disparo de uma flecha, sua sensatez lhe atingiu dura, deixando claro o tabu que eles haviam quebrando noite após noite. Frustrou-se ao imaginar que o amado ressentia pelos atos irresponsáveis de ambos. Alimentar um amor tão malvisto era a maior desgraça que poderia recair sobre eles. A garota deitou o rapaz na cama, enquanto montava-se sobre este. Seus olhos receosos estavam cheios de medos. 

— Átem... – ela o chamou com tristeza, antes de uma lágrima escapar e deslizar por sua face amargurada. 

O dono do nome culpou-se por aquela situação e roubou-lhe o beijo mais intenso que dera em sua vida. Que os deuses o perdoassem, mas nunca ousaria em deixá–la... nunca deixaria de amá–la. 

— Ana Behibek¹. — sussurrou o rapaz de modo carinhoso e beijou-a novamente. 

A jovem abraçou o faraó e deixou que seus sentimentos a guiassem naquele momento.  

Unidos como um só corpo, os amantes rezaram aos deuses em pensamentos para que aquela noite nunca acabasse. Um desejo nunca concedido. Porém, a noite era toda deles, o momento único para se amarem como deviam. Pouco importava os problemas do mundo, do Egito e da magia negra. Eles se consumavam para a sua própria autodestruição... a eliminação de barreiras internas de seus sonhos.  

Aquela era a noite... uma noite de tantas passadas e muitas futuras.