"Ho ho ho! Feliz Natal!"

Um velinho gordinho e barbudo vestindo vermelho entrou no orfanato.

-Lemyyyy!!! -uma garota moreninha gritava por seu amigo.- Lemy, o Papai Noel chegou!!

-Mas já? -o lourinho parecia espantado.- J-Já estou indo!

O pequeno garotinho Lemy descia as escadas rapidamente ao encontro de sua melhor e única amiga, Rin, que o havia chamado. Sempre estiveram juntos no orfanato. Os dias eram quase sempre cansativos, e o único evento que o orfanato realmente comemorava era o Natal. As crianças esperavam o ano inteiro pela comemoração, e finalmente, mais um havia se passado...

O velinho andava ao encontro das crianças. Faziam perguntas bobas, como "É verdade que você veio com renas lá do norte?". Os mais empolgados até mesmo haviam decorado os nomes das renas e algumas músicas natalinas. Um deles era Rin. A garotinha de 4 anos havia se revelado uma cantora a poucos meses, e vinha treinando algumas músicas a semanas. A música "Noite Feliz" sempre foi sua favorita, e por isso, a cantou para o barbudo de roupas vermelhas.

-Ho ho ho!! Você canta realmente bem, ainda mais para uma pequenininha!

-O-Obrigada...!

A moreninha corou. Logo os aplausos começaram. Rin era o mais próximo de uma celebridade do lugar. Era ainda intrigante como Lemy era o exato oposto, mesmo sendo o melhor amigo da cantora. Talvez fosse aquela horrível, aquela maldita...

Inveja...

Se aproximava das dez horas da noite. As crianças já estavam sonolentas, então decidirão entregar os presentes logos. Eles eram sortidos, e apenas aqueles que se comportassem realmente bem recebiam o que queriam. Chegou a hora de Rin e Lemy. Pegaram seus presentes das mãos do Papai Noel, e com um só movimento abriram suas caixas.

-I-Isso é... Um microfone de brinquedo!! -Rin havia ganhado o que queria. A aspiradora a cantora sonhara com isso desde que começou a cantar. Mas a seu lado, o lourinho começo a murmurar.

-Não é justo...

-Lemy...?

-Isso não é justo!!

O garoto subiu correndo para seu quarto, aos choros e berros. Deixou para trás apenas uma coisa: seu presente, um bonequinho de pano. Ele estava bem velho e desgastado. O tecido branco já se assemelhava a amarelo. Rin o pegou e correu atrás de seu amigo.

*TOC* *TOC* *TOC*

Rin bateu na porta.

-Está aberta... -disse uma voz, desgastada por lágrimas. Cautelosamente, Rin a abriu. Lemy estava sentado a beira da janela, olhando o céu não mais estrelado.

-Lemy... você não ganhou o que pediu?

-Não... eu queria um carrinho...

-Eu vejo...

Rin sentou ao seu lado.

-Por que você falou que não era justo?

O garoto hesitou.

-Você... você só ganhou o microfone porque ficaram impressionados pelo seu dom. Não é como se você tivesse se comportado de verdade... E eu, que me esforcei tanto, não consegui meu presente ainda mais um ano...

Um silêncio se instalou no quarto. Rin estava preocupada com seu amigo. O que ela poderia fazer para o alegrar?

-N-Não se preocupe! -Rin gritou para Lemy, que se assustou.- É só tentar mais! Eu tenho certeza que você consegue!

-Mas e se o Papai Noel não gostar de mim...?

-Você gosta dele, certo? Então ele gosta de você também!

Lemy refletiu um pouco. A única figura paterna que os orfãos tinham era o bom velinho. O garoto não sabia exatamente o que era "amor", mas tinha uma leve e clássica ideia de que pais amavam seus filhos.

-Rin!

-Sim?

-Um dia eu quero ser adotado pelo Papai Noel!

Rin riu da bobagem. Era bem matura para sua idade. Mas ficou feliz em concordar. Mal sabia o garoto que, de fato, ele iria ser adotado por uma Papai Noel. Mas não é como se ele o amasse... Não, o Papai Noel o odiava. O Papai Noel que ele conheceu estava possuído pelo pecado.

O Papai Noel que ele conheceu era a própria Malícia.