Saviors of Darkness escrita por Lala Clark, Pamy_B


Capítulo 31
Capítulo 24 ~ O Tigre e a Dragão


Notas iniciais do capítulo

Capa feita por Killer Angel arts/Danta-kun (https://www.facebook.com/killerangelarts/ e https://www.deviantart.com/danta-kun)
Eis que o passado de Lala é brevemente contado. Muitas cicatrizes mais a acompanham, mas o começo de tudo será revelado agora.



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Enquanto Pamy e Horohoro se acertavam e o restante do grupo tentava controlar a situação, Ren havia saído em busca de Lala. Ele havia se lembrado dela comentando sobre seu irmão, ao ouvir sobre a morte dos pais da Clark ele entendeu que nesse meio tempo não foi apenas os pais que ela perdeu, seu irmão também havia morrido e, aparentemente, agora ela estava sozinha no mundo.

Sozinha sim, mesmo com seus amigos ela havia perdido sua família e Ren podia notar que ela tentava se manter distante mesmo que fosse amigável daquela forma, afinal sempre respeitava os limites dele e dos outros. E ele respeitava aquele traço dela, era sinal de que além de educada ela também era controlada, sabendo como agir com cada um do grupo da melhor maneira.

Ren estava vagando sem um destino certo, apenas se concentrava na energia espiritual de Lala, que nos últimos dias estava mais fraca, como se a vontade dela viver também fosse pouca. Depois de uns bons minutos sentiu a energia característica da Clark na direção da montanha. Correu até a base da montanha com Basong e pôde sentir a energia dela um pouco mais forte em direção ao céu. 

O Tao incorporou Basong em sua Guandao e usou-a como veículo para subir a montanha. Segurando a grande lança com a ponta da lâmina voltada para o chão, fez com que saísse uma grande quantidade de energia da lâmina, o que o fez decolar, como um foguete.

Ren não sabia o que faria quando encontrasse Lala, muito menos o que falaria, mas algo o movia para não deixar a garota sozinha. Provavelmente as lembranças dele mesmo sozinho em sua casa alimentando seu ódio estivessem o movendo naquele instante. Ele não queria que ela sentisse o ódio que ele conhecia tão bem, seu objetivo como Shaman King era eliminar o ódio do mundo afinal.

Lala estava com lágrimas presas em seus olhos ainda, não havia conseguido chorar de jeito nenhum. O sentimento de tristeza, inutilidade e raiva de seu atual estado a preenchiam, mas mesmo assim as lágrimas não saíam devidamente. Aqueles sentimentos a sufocavam. Ela tentou gritar no topo da montanha, mas além do grito de raiva e tristeza sair, não teve nenhum sentimento de alívio, a deixando ainda mais frustrada.

A pequena garota estava sentada em uma das pedras mais altas da montanha, com o vento batendo em seus longos cabelos negros, sua roupa estava suja com a poeira que subia a cada vez que o vento soprava. Estava com as pernas dobrados em frente ao corpo, com seus braços abraçados a elas e a cabeça apoiada em seus joelhos, então não viu quando ele chegou.

Yuki, que estava em sua forma original com uma asa aberta tentando proteger Lala do vento que ficava cada vez mais forte, foi a primeira a vê-lo surgir. Tao Ren apareceu em seu campo de visão. O garoto agora flutuava e caia em direção a ela, pousando com estilo em sua frente. Ela piscou algumas vezes tentando entender o que ele fazia ali e nisso, as lágrimas presas em seus olhos rolaram.

Ele se levantou e viu o escorrer de curtas lágrimas dela e fechou a mão em punho, sentindo-se irritado por ser impotente naquela situação. Logo ela o chamou, mostrando sua confusão em seu olhar e sua voz fraca.

Lala: Ren-san? Mas o que…?

Ren: Você não devia estar sozinha.

Ele foi curto e certeiro, sem rodeios. Ela fechou os olhos e sorriu fracamente, sem forças para uma frase daquelas. Ele estava a provocando?

Lala: Ren-san, não sei o que te fez vir até aqui mas-

Ren: Eu vim te fazer companhia… Você não devia estar sozinha se sentindo assim... 

Ele a interrompeu, se esclarecendo assim que percebeu que sua primeira frase tinha saído estranha e corou de leve ao ouvir sua própria frase. Ela não percebeu o leve e rápido rubror que tomou conta das bochechas dele, pois ainda estava de olhos fechados e quando os abriu, ao assimilar as palavras dele, ele já estava em sua coloração normal e a fitava com seus sérios olhos dourados.

Lala: Hahahahaha...hahaha… Uuhh… Uwaaah~

Ao entender bem a fala dele, Lala não se aguentou e riu, para logo em seguida começar a chorar intensamente. Ren ficou sem saber como reagir, então apenas se abaixou em frente e próximo a ela, tocando seu pequeno ombro delicadamente. Ao sentir o toque Lala se jogou em sua direção e o abraçou. Um abraço triste, sem muita força, apenas desesperado. Ele novamente ficou sem reação, mas logo retribuiu meio sem jeito o abraço dela e com uma das mãos nos ombros dela e a outra nas costas da cabeça dela, fez um cafuné leve nas longas madeixas pretas dela.

Lala ainda chorava e agora estava de olhos fechados tentando aproveitar o carinho e se acalmar, sem muito sucesso. Uns minutos se passaram até seu choro diminuir um pouco e ela tentou ficar em silêncio, mas alguns soluços e fungadas a impediam de um real silêncio. Ficou pensativa por uns segundos e decidiu se abrir com o Tao, revelando o motivo de sua dor.

Lala: Pode me ouvir um pouco?...

Ela se afastou de leve e o perguntou olhando em seus olhos dourados. Ele apenas concordou com a cabeça, incentivando-a a continuar.

Lala: Foi no meu aniversário de cinco anos…

— Eu tinha acabado de chegar em casa após uma pequena festa para comemorar com a minha família. Meus tios e minha madrinha estavam lá na festa, tínhamos acabado de jantar então eu e Luke, meu irmão, fomos nos arrumar para dormir. Guardei meus presentes de aniversário em meu quarto e coloquei meu pijama, indo pegar o meu tão aguardado presente que meu irmão havia me prometido entregar antes de dormir. Ele era um ótimo irmão, queria que o último presente que eu me lembrasse fosse o dele. E de fato, os presentes dos meus pais e dele são os que eu mais prezo até hoje… Minha mãe me deu um diário gigante, mesmo eu ainda não sabendo escrever direito, ela sempre me incentivou a falar e escrever… Meu pai me deu uma caneta tinteiro, algo pra ser útil pra mim pela vida toda, pra ele sempre estar comigo… E por fim meu irmão, meu amado irmão mais velho… 

*flashback*

Eu o encontrei em seu quarto e ele me pediu para fechar os olhos…

— Lalinha, finalmente é com muito orgulho e amor que eu lhe dou seu presente… Espero que ela seja tão querida pra você como você sempre será para mim… Certo, pode aparecer… Ok, pode abrir os olhos irmãzinha…

A voz dele sempre foi gostosa pra mim de ouvir. Então quando ele falou comigo eu sorri e abri meus olhos ansiosa para ver meu presente, finalmente. E gritei em alegria ao ver um pequeno bebê dragão em minha frente.

— AAAAAAAAAAAHHHHHH QUE COISA MAIS FOFAAAA!!!

A pequena criatura ganhou uma gota na cabeça e logo arregalou os olhos em surpresa, ao se sentir ser abraçada. Luke sorria delicadamente, aparentemente feliz por ter me apresentado à minha guardiã espiritual.

— Ela te seguia há uns dias, sempre se escondendo atrás do Cookie… Então achei que hoje seria o dia perfeito pra apresentar vocês direito.

— Obrigada Luke-nii! Je T'aime mon cher frère aîné!

— Hahaha, Je t'aime aussi!

— Olá! Eu sou a Lala! Como se chama?

Eu sorri e o pequeno dragão falou em uma voz séria e feminina: 

— Sou Yūkitughril, A dragão. Sou menina! Não sou como Kukigrahantar ou meus irmãos, sou uma donzela!

Ela esclareceu com fervor que era fêmea e uma dama, meu sorriso apenas aumentou, nem cheguei a estranhar o nome comprido que ela usou para o Cookie, espírito protetor de meu irmão, que conheci no mesmo dia que conheci Hao-nii.

— Yūki-chan! É um prazer te conhecer! Você vai ser minha amiga pra sempre?!

Meus olhos brilharam em expectativa.

— Yū-? Aham, bem… Você teve a honra de ser escolhida como minha shaman, então… Seremos parceiras daqui em diante!

Ela era tão cheia de si que eu apenas sorri e comemorei feliz da vida, especialmente por agora ser um pouco mais parecida com meu irmão. Eu comecei um questionário sobre ela e de onde ela e Cookie vinham que nem percebemos quando o infortúnio bateu em nossas portas.

Meus pais estavam no andar de baixo, fechando a casa e preparando o lanche para mim e meu irmão no dia seguinte, já que teríamos aula e eles saíam cedo. Escutamos do quarto de Luke a porta dos fundos se abrir e logo em seguida o grito de minha mãe foi ouvido. Yūki desapareceu rapidamente e ela que me contou o que aconteceu a seguir, depois de anos de insistência.

Minha mãe foi rendida na cozinha por um homem mascarado, com uma touca de esquiar cobrindo a maior parte de seu rosto, e meu pai foi ao socorro dela quando a ouviu gritar. Ele pediu pelos bens deles e meu pai tentou convencê-lo a soltar minha mãe e esperar que ele o traria tudo o que tinham de valor, mas de nada adiantou e só deixou o maldito homem irritado. Inicialmente ele atirou no ombro de minha mãe, o que deixou meu pai irado e o fez apontar sua arma, que até então ele segurava escondida nas costas e tinha pego de seu escritório ao ouvir o grito de minha mãe, para o invasor que usava mamãe como escudo. Logo em seguida Luke e eu ouvimos novos disparos abafados e mais um grito de nossa mãe, dessa vez chamando por nosso pai.

O assaltante havia matado nosso pai primeiro. Para calar nossa mãe ele atirou na nuca dela, findando sua vida. Luke me abraçou e tampou minha boca quando fui gritar chamando nossos pais. Ouvimos passos vindos da escada e resmungos e xingamentos. Eu queria correr para os meus pais, quando Yūki reapareceu assustada.

— Se escondam!

Luke me empurrou para de baixo de sua cama e jogou o cobertor em cima de onde eu estava, tentando me esconder melhor. Quando ele foi se esconder no seu guarda-roupa, em frente à sua cama, o maldito chegou e o viu fechando a porta.

Agora eu via apenas os pés deles, mas notei quando o homem abriu a porta do guarda roupa de meu irmão e puxou-o para fora pelo braço.

— Olá pirralho! Diga onde está o cofre e talvez você viva para contar a história!

Ele foi bem… caricato na forma como falou, era quase como se estivesse forçando-se a falar do cofre e eu claramente percebi que mesmo Luke falando onde estava o que ele queria, ele não iria deixar meu irmão vivo. Me desesperei e quis sair do meu esconderijo, sendo impedida por Yūki e Cookie, que apareceram na minha frente me impedindo de me mexer.

— Se eu te levar até o cofre, você vai embora?

A voz de meu irmão mais velho saiu séria, ele não demonstrou medo e eu podia ver que suas pernas estavam firmes, muito diferente de mim que estava com o corpo todo trêmulo.

— Hahahahaha, vejo que tenho um espertinho aqui… É, certo… Estamos combinados.

Meu irmão se moveu na direção da porta, andando lentamente a passos pesados. Havia um quadro no quarto dos nossos pais onde ficava o cofre e provavelmente era para onde meu irmão o levaria até ser alvejado pelas costas. Meu irmão caiu com o impacto e olhou para baixo da cama, para mim, enquanto ouvíamos o homem falar, em meio a risos cruéis.

— Opa, esqueci que eu já sei onde é! Vamos, deixe-me ver seu olhar de desespero.

Ele tocou no rosto puro de meu irmão, o virando para si. Eu gritei, ignorando os pedidos de silêncio de Yūki e Cookie.

Lógico que meu grito denunciou onde eu estava e novamente meus olhos se cruzaram com os azuis de meu irmão. Ele estava com os olhos arregalados e tentava segurar o homem à sua frente, tentando impedi-lo de se abaixar, mas foi tarde. Eu agora era encarada pelos olhos castanhos daquele homem. 

— Ora, ora… O que temos aqui?! Um brinquedinho novo!

— Deixe...a… em paz!

Acho que aquelas foram as últimas palavras ditas claramente por meu irmão. Não, meu nome foi a última coisa que ele disse com clareza, quando aquele homem me puxou pelo cabelo para fora de meu esconderijo improvisado. Eu gritei ao ser puxada por ele e ao ser tirada do chão, ainda pelos meus cabelos. Naquele momento odiei meu cabelo, meu tamanho e minha falta de força, tudo o que eu queria era bater no homem que havia atirado em meu irmão, queria fazê-lo sofrer além da dor que meu irmão estava sentindo. Mas meus gritos e protestos infantis não fizeram efeito algum, na verdade o fizeram sorrir. E aquele sorriso me gelou. Ainda me lembro claramente daquele sorriso, dos olhos e da voz daquele homem.

— Finalmente uma reação boa!

Meu irmão estava perdendo as forças e quando o homem balançou com força o braço que Luke segurava, ele não aguentou e o soltou. Luke se foi tentando impedir o homem de me machucar. Eu vi claramente os olhos dele perderem sua vida lentamente em meio às minhas lágrimas enquanto ele apenas dizia meu nome.

— Há, que pena… Não vai ver sua irmãzinha sofrer… Pronta para me divertir garotinha?

Eu chorava e gritava "Nãos" para ele, querendo apenas que ele fosse embora e me deixasse abraçar o corpo ainda quente de meu amado irmão. Mas o que aconteceu apenas me deixou mais apavorada, se é que era possível. Ele rasgou minhas roupas e sorriu de forma ainda mais suja. Foi então que Cookie fez as luzes da casa se apagarem e Yūki me incorporou de forma forçada, tomando controle de meu corpo e usando seus poderes para dar um forte choque no maldito, o fazendo me soltar. Eu o ouvi gritar de dor. Caí no chão e corri cambaleante para o andar de baixo, quando vi meus pais caídos no chão. Gritei por eles, sem resposta, só quando me aproximei senti o sangue deles embaixo de meus pés. Aquele maldito tinha matado meus amados pais. 

Tentei correr para a porta, mas só quando ele me alcançou e me segurou pelo cabelo novamente é que a porta foi abaixo. Meu tio chegou com a sua pistola em punho e mirou no assassino de minha família. Antes que ele pudesse tentar me usar de escudo, meu tio atirou nele.

Mas meu tio não o matou. Ele não era um assassino. Ele era policial, precisava daquele homem vivo para saber o motivo da morte de seu irmão, esposa e filho. Eu vi os olhos azuis de meu tio brilharem de ódio e percebi que ele estava usando todo o seu auto-controle para não matar aquele homem ali mesmo.

Depois de meu tio prender o homem, ele me pegou no colo e eu chorei, sem saber o que seria de mim. Queria saber o porquê de minha família ter sido tirada de mim daquela maneira, queria respostas para perguntas que uma criança de cinco anos não deveria fazer. Foi ali que comecei a odiar… Odiar aquele homem, odiar meu aniversário, odiar meu cabelo e odiar ainda mais a minha falta de força… E por fim, me odiar ao todo, por sentir aquele sentimento feio, um sentimento que só me fazia mal… Mas que eu sentia com tanta força…

***

Lala: Eu ainda odeio aquele homem e ainda me odeio também… Não devia… É um sentimento muito ruim e feio… Eu devia ser pura como meu irmão… Mas não consigo… Não consigo ser uma pessoa pura como meus pais me ensinaram… Eu os decepcionei… Eu… Eu…

Lala voltou a chorar e Ren se sentou ao lado dela, puxando a cabeça dela na direção de seu ombro ao lembrar-se da expressão "ombro amigo".

A Clark chorou até se cansar e suas lágrimas secarem e Yūki estava ao seu lado, junto de Ren, que agora apenas olhava para frente com um semblante sério e pensativo, enquanto Lala se permitia finalmente adormecer, depois de dias em claro relembrando da morte de sua família. Basong observava a cena quieto, com lágrimas presas em seus olhos devido a história da pequena garota ao lado de seu chefe.

Ren não se mexeu, nem mesmo quando seu ombro e braço amorteceram. Iria deixar Lala ali, naquela posição ruim, mas confortável e segura o suficiente para ela descansar.


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Notas finais do capítulo

O final de um arco e início de outro. Dessa vez focaremos em outra personagem.
No próximo capítulo: Alice, companheira de treinos de Pamy, aparece. Um dia só de garotas acontece e a notícia de que seu mestre está próximo surpreende a Brown.



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