“I got so much shit to say

But I can't help feeling like I'm camouflage

Fortress around my heart”

(Camouflage - Selena Gomez)

Percy POV

Alguns dias com Annabeth já me deixava louco. Primeiro, por ter que justificar para mil pessoas o que eu estava fazendo com ela em tal lugar. Segundo, por ter que fazer um esforço enorme para entendê-la, saber quando ela está grossa ou quando está de boas. Então, nossa experiência estava sendo 50% brigas e 50% tentativa de entendimentos. Mas haviam momentos, que eu conseguia ver uma Annabeth que nunca vi, e isso me agradava, querendo ou não.

— Ei, cadê o lápis de cor vermelho? - ela pediu e a passei, voltando a pintar o meu lado do trabalho. - Valeu.

Nós formávamos uma boa dupla, isso era impossível negar. Então, resolvemos dar vida a alguns projetos de Arquitetura dela, redesenhando e colorindo-os. E sinceramente? Eles eram incríveis, mas nada tão incrível quanto a calma de Annabeth enquanto os fazia.

— Por que você desenha? - perguntei e ela riu.

— Porque me dá vontade, ué.

— Não, tem um motivo, tipo, um de verdade.

— Ah… - ela parecia ter entendido, então deu de ombros.

— Você nunca fala sobre o que sente.. Já percebeu? - ela fez uma careta e assentiu. - Por quê?

— Me dá o Magenta por favor. - franzi o cenho e ela depois de um tempo me encarou, arregalando os olhos e então sorriu. - O nerdzinho não sabe o que é Magenta?!

Revirei os olhos, sorrindo sem querer, querendo.

— Não, não sei. - suspirei e ela gargalhou, me dando língua. -  Você vai ver o que vou fazer com essa língua aí, se ela aparecer de novo. - levantei e cerrei os olhos, sorrindo malicioso.

— Ui, que meda do nerd! - ela levantou e deu língua, colocando as mãos na cintura. Só então notei como Annabeth Chase era bonita. Seus cabelos loiros cacheavam nas pontas e caíam moldados em seu corpo. Seus olhos cinzas eram hipnotizantes como uma tempestade violenta. Seus lábios rosados me davam vontade de… - Ei!! Desistiu né, nerdzinho fraco.

Sorri e corri atrás dela, rodando meu quarto, até conseguir puxá-la para perto e segurar a língua dela, rindo muito da careta que ela fazia. Até meu dedo ser brutalmente mordido.

— Ai! Sua loucaaa! Que caninos são esses, meus Deuses?!

Ela riu e quando tirei os olhos dos meus dedos mordidos, recebi uma travesseirada na cara.

— HEAD SHOT! - ela gritou e eu fiz cara de surpreso, mas puto, muito puto. Era guerra que ela queria, guerra teríamos.

Annabeth POV

Eu realmente queria mudar de assunto. Falar de sentimentos com ele não era para um inicio de “amizade”, não mesmo. Eu era mais complicada do que mostrava ser, e bem, não queria que fosse Percy Jackson a me resolver. Aqueles olhos verdes me intimidavam. Então, resolvi brincar com ele. Guerra de Travesseiro.

— Ui, a popularzinha sabe inglês direitinho. Essa língua aí serve pra algo né. - ele provocou e fingi ter me ofendido, pegando mais um travesseiro, mas sendo atingida por ele no ato.

— Essa língua aqui, faz mágica meu amor! - gritei e bati com o travesseiro nele, que correu e pulou na cama, saindo quando eu finalmente consegui subir nela.

Do nada, caí deitada na cama dele e antes que pudesse processar o que estava acontecendo, levei um bombardeio de travesseiradas na cara. E quando fui tentar me defender, vi Perseu em cima de mim. As pernas uma de cada lado no meu quadril, mãos prendendo meus pulsos e o rosto absurdamente próximo ao meu.

— Cheque-mate. - pude sentir sua respiração juntando-se a minha e seus olhos praticamente arrancando os meus.

— Quantos jogos, Perseu? Tem certeza que sabe jogar esse em que entramos agora? - provoquei sem perceber e ele sorriu malicioso. Pude jurar ouvir coisas derretendo dentro de mim depois desse sorriso.

— Esse aqui… - ele sussurrou, chegando mais perto. Se é que tinha como. - É o que eu mais sei jogar… - Fechei os olhos instantaneamente, me xingando mentalmente por isso e então senti a boca dele roçando na minha. Me segurei para não morder aqueles lábios, então dei apenas um selinho, até que…

— COF COF. - Era Poseidon na porta. Eu quis esconder minha cara. ABRIR UM BURACO PARA OUTRA DIMENSÃO, mas não encará-lo e muito menos ver a cor que minha cara estava. Porque se a de Percy estava rosa choque, a minha devia estar muito, mas muito pior. - Desculpa, hm, atrapalhar, hm, mas Percy, sua amiga Rachel ta querendo falar com você.

— Ah… - ele coçou a cabeça e sorriu amarelo, murmurando um “Já volto!”. Poseidon sorriu sem graça pra mim e eu gelei quando a porta fechou. Com todos os garotos que já peguei, isso ocasionalmente aconteceu (apenas com uns), mas eu nunca tive vergonha, pelo contrário. Xingava a pessoa que tinha interrompido, mas sei lá. Bateu uma súbita vergonha de tudo, fiz uma careta e remexi o corpo, para relaxar.

— Calma Annie. - pensei e pronto, estava resolvido. Sairia pela porta dos fundos, de fininho, sem ninguém ver. Peguei minhas coisas, saí do quarto e desci as escadas de fininho, mas parei um segundinho na sala de estar pra ouvir a conversa de Percy com Rachel na entrada.

— Ai, Percyyyy… Eu to sentindo tanta falta sua. Você não sai mais com a galera. Não fala direito com a gente na escola, isso dói sabe? - a voz nojenta daquela ruiva escrotiane falou.

— Rachel,  eu já disse. Não é uma opção, ficar ou não ficar com Annabeth. É uma obrigação. Tenho trabalho de Ética, somos duplas, apenas isso. Nem amigos somos, avisa isso pra Thalia.

Confesso que foi como livros caindo na minha cabeça, ou como corujas bicando a minha cara.

— E a gente? Eu achei que íamos voltar esse ano. Você sabe que eu gosto de você, do seu beijo… - seu tom de voz baixou e eu senti náuseas me consumindo.

— Rachel, não preciso lembrar o que você fez comigo. Você ainda lembra muito bem. Agora tchau. Pode ficar traquilinha que não tenho nada com Anabeth Chase, nem nunca vou ter. Ela continua sendo uma patricinha mimada que não tem nada a ver comigo.

— Ainda bem que você continua você. - ela disse e pude ouvir a porta batendo. Então, eu saí da casa de Perseu e corri. Corri até o primeiro lugar que me veio a cabeça: Casa da Tia Dite.

Afrodite POV

Bem, as coisas corriam muito bem com meu primeiro plano: o meu OTP principal se juntando. É claro que eu já tinha feito umas remexidas aí na escola pra preparar os outros casais, é claro, ou eu não seria Afrodite: a-QUASE-Psicóloga-que-dá-mais-certo-do-que-psicólogos-de-verdade. Duvida? Eu duvidava há alguns anos, até brotarem adolescentes como a minha sobrinha na porta da minha casa, chorando ou implorando conselhos.

Lembro como se fosse ontem, eu pedindo a Hefesto que construísse uma área reservada da casa só pra eu cuidar das minhas crias desse Condomínio. E menina, não é que funcionou? Pelos Deuses, um lugarzinho quentinho, aconchegante, as criaturinhas chegam, sentam e saem falando sobre as tretas da vida. Até minha filha Silena, que eu sempre soube que tinha um crush no filho do meu marido. O menino é um gatinho, gente! E tem a Piper, uma sonsa, que eu sei que tá afim do Jason há éons, mas nada que uma festinha não resolva essa semana esses probleminhas.

— Annie? - fiquei “horrorizada” com a minha pobre sobrinha completamente vazia por dentro, chorando na minha porta (no caso a nova, porque eu pedi que Hefesto colocasse uma nova entrada né, imagina minha família presenciando as minhas consultas? FALTA DE ÉTICA TOTAL!).

— Tia… você está certa. Todos estão. Ninguém me suporta. - ela choramingou e se jogou em mim. Que menina pesada minha gente, osso pesa pra cacete, eu ein.

— Que isso, Annabeth. Não fala assim.

— Falo, porque eu não aguento mais. Todos me chamando de vadia, de altas coisas e eu não faço metade do que pensam que eu faço. Eu achava que era inveja, que era problema por eu ser popular, mas eu não entendo! - ela chorava e eu peguei uma água naquela salinha maravilhosa, entregando-a, enquanto pegava os lenços na mesinha de centro (sim gente, eu tinha tudo, a sala era do ba-ba-do!).

— Minha filha, mas eu não sabia que era tão tenso. Mas pera.. - pensei no que eu tinha armado para ela e Percy, na casa dele hoje. - Não era pra você estar na casa do Percy hoje? - parece que falar isso só a fez chorar mais.

— Ele-Ele… Estava tudo bem, estávamos nos dando bem, finalmente. Fazendo uns projetos meus, e aí tivemos uma guerra de travesseiro, eu definitivamente pensei que ele fosse me beijar… - ela falava mais consigo mesma do que comigo, e sinceramente? Eu adorava! Finalmente, Annabeth tinha se ligado que é uma mimada! Pelos Deuses, eu já merecia um prêmio por essa realização! - Mas Poseidon chegou e pela primeira vez na vida eu fiquei com vergonha de uma situação como essa. A Rachel tinha ido visitá-lo…

— AH NÃO! Essa Rachel! Meus Deuess, essa menina parece idiota! Uma sonsa do caramba! Faz merda pro menino e vai atrás?! Não suporto isso. - eu gritei irritada. Ela apenas sorriu, mas voltou a falar.

— Eu estava saindo escondida, por vergonha, não sei,... medo? Foi quando ouvi a Rachel conversando com ele, perguntando sobre mim e reclamando. Então ele simplesmente disse que nem amigos somos… - ela soluçou e eu fiquei com pena, de verdade. - Que sou uma vadia mimada, diferente dele, que nunca seríamos algo. E isso doeu, tia. Está doendo.

Fui até ela e a abracei forte. Estava na hora do Choque de Realidade, pior parte do meu “trabalho” de Tia cuidadosa.

— Annabeth, ele foi um idiota? Foi. Mas você mudou demais. Você era um doce de menina, não que sonhasse em se apaixonar, mas você acreditava no amor. Agora, quando eu olho pra você, do fundo do meu coração, eu não vejo amor pelos outros, só amor próprio. E um amor próprio vazio. - ela franziu o cenho e se afastou. - Eu não sei o que aconteceu com você, o que você presenciou, que te fez mudar tanto. Mas eu espero que vendo o que as pessoas pensam, você mude. Não por elas, pelo contrário, não mude por ninguém, nunca. Mas por você.

— Eu não entendo. Eu gosto de me arrumar, gosto de sair, de chamar atenção, de mostrar meu poder. - ela choramingou e neguei com a cabeça.

— Você faz tudo isso do jeito errado. Se arrume e chame atenção de uma forma bonita, saia sem escandalizar, chame atenção por coisas boas, mostre seu poder através de coisas boas Annie. Aí dentro, você é uma menina de ouro, que pode se apaixonar sem se machucar, porque você é forte.

— Qual o problema de eu nunca ter me apaixonado? Por que isso causa tanta polêmica entre você e minha mãe? - ela gritou irritada.

— Porque você não viu o mundo de outro jeito, de um jeito que a faria ser quem você é. Se apaixonar é bom? Sim e não, é uma grande merda mas é uma grande maravilha. Mas ter medo disso, ou não conseguir, é algo alarmante Annie!

— Vamos combinar uma coisa? Deixem eu viver em paz. Decidir se quero me apaixonar, se vou. Agora, muito obrigada pelo conselho de mudar. Vou tentar. - ela admitiu e sorri, grata.

— Agora vá vê-lo. Conheço os homens, Percy Jackson quer negar que está criando um vínculo com você, mas não vai conseguir. Porque, olha pra você né, você é Annabeth Chase. - eu sorri e ela sorriu de volta. Fomos até a porta e antes de fechá-la, ela segurou e fechou a cara.

— Não estamos criando um vínculo. É tudo pelo trabalho de Ética. - assenti e fechei a porta, rindo.

Corri até o meu celular e li o e-mail que chegara a pouco. Hera estava fazendo um ótimo trabalho, me enviando todos os resumos de Ética de Percabeth. É gente, shipp maravilhoso esse.

“Bem, o dia com Annabeth hoje foi divertido, confesso que ela está se revelando uma pessoa muito legal. Mas também descobri a resposta de uma pergunta que rodava na minha cabeça. Eu sei porque odeio Annabeth. Porque ela me confunde dos pés a cabeça. Ela não é como as matérias escolares, ou outras meninas com as quais convivo. Ela é complicada. Pra arrancar um sorriso dela, tem que não ter a intenção. Como dizem, ela é de luas haha. Mas isso também a faz ela. E desculpe o palavreado, mas ela definitivamente não é uma vadia. Pelo contrário, acho que Annabeth é mais frágil do que penso. E falando nisso, ela simplesmente sumiu da minha casa, o que me decepcionou um pouco, porque nossa Guerra de Travesseiros estava bem interessante. Espera… Largar o parceiro do nada tira pontos? POR FAVOR, NÃO TIRA PONTO DELA, HERA! Ass. Percy J.”

Sorri e liguei pra ele. Alguém receberia uma bronca.