Lapso Paradoxal escrita por Kamihate


Capítulo 6
Capítulo 06 - Aleatoriedade




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/666775/chapter/6

– Você acredita em mim, meu amor? – Eu estava, como de costume, sentada do lado da cama de Vitor. Sua expressão, mais do que nunca, parecia tranquila e serena, ele estava sedado, horas atrás acabara de receber tratamento, a quimioterapia o deixava fraco, ele mal ficava acordado, dado a gravidade da doença, ele tinha a opção de poder deixar o hospital e aproveitar seus últimos meses de vida fazendo o que queria, o médico e seus pais já reforçaram essa ideia, no entanto, decidiu, por minha causa, lutar com suas últimas forças para um possível ‘milagre’. Ao olhar para seu rosto pálido, seu cabelo loiro dourado sobre sua face delicada, eu me lembrava rapidamente de todos os momentos em que ele sorriu, em que andamos de mãos dadas, eu já havia chorado demais, mas agora, não era hora pra isso, ele não poderia criar um milagre, Deus não poderia criar um milagre, somente EU poderia criar um milagre. Estava segurando aquela chave que me fora dada, aquilo era a salvação de Vitor, e a destruição do mundo. Eu escolhi ele ao invés do planeta terra, me desculpem, todos vocês, mas eu não posso deixar a pessoa que eu amo morrer dessa maneira, eu quero ouvi-lo cantar pra novamente, quero ver esse sorriso que tanto me contagiou, por favor, Vitor, abra seus olhos. Naquele instante, senti uma brisa gélida entrando pela pequena janela do quarto velho do hospital, a enfermeira disse que a hora da visita havia chegado ao fim, eu me levantei e olhei decidida para meu amado, hoje eu teria, certamente, minha primeira vitória.

Nos bancos da recepção do hospital estavam Marco e Heitor, eu havia chamado ambos para a preparação antes da ‘guerra’, meus pais só me deixaram sair porque eu jamais deixaria de ver o Vitor todos os dias, exceto ontem, por tudo que aconteceu, mas eles sabiam que nada me seguraria naquela casa, por mais que estivessem com medo do maníaco, e mal sabiam eles, que eu iria entrar em uma luta de vida ou morte com ele ainda hoje.

– Ele estava acordado? – Marco olhava para baixo enquanto perguntava, ele se mantinha sério, estava chateado com tudo que havia ocorrido anteriormente, mas eu sabia que agora ele acreditava no que eu havia dito, eu não sei como ele voltou a falar comigo, a atitude normal de uma pessoa nessa situação seria se afastar ou até mesmo me odiar e reprimir, mas ele estava lá, por mais que estivesse estranho e um pouco calado.

– Não... chegamos um pouco cedo demais, mas não há mais tempo. – Eu entreguei a chave nas mãos de Marco, Heitor estava comendo uns biscoitos apimentados enquanto via um programa aleatório na tv do hospital, parece que a recepcionista não estava gostando nada de vê-lo comer lá dentro.

– Você vai mesmo? Não está com medo? Sabe, você pode morrer. – O garoto menor dizia com uma tranquilidade que me assustava, eu sabia que ele era um pouco frio, mas poxa, sou sua amiga a anos, não tem como se importar um pouco mais?

– Eu decidi, é a única chance, esse cara é capaz de matar meus pais mesmo e espalhar aquele vídeo, aquelas mentiras... – Marco finalmente olhou para mim, eu não havia mostrado o vídeo de Lourenço para ele, inventei a desculpa que não tinha passado pro celular, ele, diferente de Heitor, não duvidaria do conteúdo dito pelo homem. Antes de ir par ao hospital, fui até a delegacia e mudei a descrição do ‘stalker’. Disse que estava confusa e que o homem que estava na ambulância parecia loiro e batia com a descrição do que havia me visitado na sacada do prédio, inventei que só pensei que fosse um com cabelos escuros apenas porque queria que fosse o que havia denunciado eu e Marco, e com isso, os policiais passaram a duvidar mais ainda de mim, eu não sabia dizer se eles acreditaram ou não, mas se eles pegassem Lourenço antes de mim, eu perderia.

– Você acha que isso vai dar mesmo certo? Digo, é insano! – A precaução de Marco ia contra minha impulsividade, mas de alguma forma, eu não tinha escolha, por mais que eu soubesse que o meu plano seria arriscado. Eram 10:32 da manhã, meio dia, eu irei até o endereço dado por Lourenço para mata-lo.

11:25 AM

“Ela irá vir, ela tem que vir! Se ela quiser mesmo ficar com essa chave, ela não pode apenas mandar a polícia atrás de mim, eu vou vazar a porra do vídeo e ela vai ser pega, nem a polícia poderá ajuda-la, eu já programei mesmo o vídeo pra ser publicado no youtube mesmo se ela vir, eu não sou alguém que cumpre palavra com meus inimigos, pedi para Alisson, filho da minha irmã, fazer isso. O garoto é bem obediente e por alguns doces fazia tudo que eu pedia sem questionar, ela não tinha escolha, eu iria ter aquela chave, eu tenho o poder de voltar no tempo, suponhamos que ela planeje algo, bastaria eu voltar e mudar tudo, não tem como ela me vencer, alguém que pode voltar no tempo sempre vai ter a vantagem, por mais que ela seja diferenciada e inteligente. Eu planejei tudo, quando ela chegar - aposto que aquele amigo dela estará junto - vou pegá-la de jeito. Eu invadi essa casa facilmente, ela está abandonada a um bom tempo, ninguém quis se mudar pra cá desde aquilo... aquilo? Me pergunto, o que aconteceu aqui? Ah, é, minha mulher apenas se mudou, ela foi embora e deixou esse que era nosso lar, nosso refúgio, meu filho deve estar com ela agora, os dois devem estar brincando no parque a essa hora, ele já deve estar no primário, me pergunto se ele está parecido comigo. Olhei para o teto daquele quarto onde costumava dormir, vi uma sombra, parecia a sombra de alguém. O que era aquela sombra? Por que aquele local me dava enjoo? Comecei a olhar fixamente para a parede mofada na minha frente, meus olhos estavam em outro lugar, aquele tempo em que eu voltava do bar preparado para xingá-la de vadia e lhe dar uma boa lição. Ah sim, então é isso, eu a matei, não foi isso? Giu... você também? Eu a matei, não foi? Ela não aguentou tudo isso, todo aquele inferno, essa casa era uma gaiola de satanás, todos os dias o sofrimento sorria para aquela mulher, tão delicada que mal podia se defender, e eu a libertei, eu não pude fazer nada a não ser vê-la balançando. Peguei rapidamente o relógio que ele havia me dado, eu posso voltar na porra do tempo, eu posso voltar a três anos, eu posso salvá-la, eu posso! Esse era meu desejo, eu teria aquela porra de chave, eu faria tudo diferente, voltaria desde o começo, iria parar com a bebida, iria cuidar mais do meu filho, dar todo amor do mundo pra ela, iria me mudar daqui e esquecer todas as lembranças do futuro, moraríamos em algum lugar bem verde e aberto, quem sabe um sítio, eu poderia cultivar alguma fruta, ser um fazendeiro não é algo tão ruim, Giulio iria crescer rodiado de amor e alegria, iria leva-lo para pescar aos fins de semana, jogaríamos bola em um campo com a grama macia e verdinha, eu iria comer o ensopado de abóbora dela que sempre foi tão delicioso, nossas noites seriam calorosas e eu jamais soltaria sua mão novamente, jamais a ofenderia e faria algum mal, eu poderia voltar, eu poderia! A vitória era certa, amor, espere por mim, eu estou indo, estou voltando, uma mera humana desgraçada que não liga pro mundo, o que ela poderia fazer? EU sou o DEUS do tempo, eu posso voltar e acabar com você sua desgraçada filha da puta. Naquele momento comecei a rir alto enquanto olhava para meu relógio de pulso. Faltavam poucos minutos, eu não pensava mais em apenas matá-la quando pegasse a chave, eu iria tortura-la, iria arrancar suas tripas e comê-las cozida, ela me fez ficar procurado, me humilhou, ela me colocou em problemas, mas foda-se! Quando eu voltasse três anos atrás eu estaria com minha mulher e meu filho, e eu saberia que no futuro ela seria escolhida, e como eu seria o único e primeiro a saber disso, eu iria matá-la antes e salvar o mundo, mataria ela quantas vezes fosse preciso, eu era o único capaz disso, esse meu desejo não é tão egoísta, oras! Voltaria atrás para salvar minha mulher e o mundo todo, eu não era mau, no final, só precisava matar ela e salvar todos, por que eu estava sendo procurado? Polícia é uma piada. Eu iria mostrar a eles o que é a justiça, quando ela chegar aqui vou apenas ataca-la com tudo, dar um tiro na sua cabeça, se ela não estiver com a chave, eu volto no tempo, na segunda volta, eu dou um tiro no joelho dela e a torturo até ela me dizer onde está, e se ela não confessar eu mato os pais dela na frente dela, ela me falará, ela me dará essa porra! Eu sou quase como um Deus, pode vir até mesmo outro com uma habilidade, eu só preciso voltar no tempo, que venha toda a polícia de merda dessa cidade, vou acabar com cada um deles!

Alguns minutos se passaram, faltavam apenas três minutos para o meio dia, eu estava naquela casa abandonada desde às 10:00, me relembrei de muitas coisas lá, daquela vadia, do moleque, de todo meu passado que não pode ser morto, mas será alterado. Segurava a arma enquanto tremia, eu já havia matado duas pessoas, no fundo eu não me sentia bem com nada daquilo, eu não suportava o fardo de viver sabendo que alguém morreu por minhas mãos, mas veja bem, se eu voltar no tempo, a três anos, ninguém vai morrer! Eu vou salvar o mundo, eu preciso parar de me culpar, mesmo se eu matasse cada pessoa dessa cidade, ao ter a chave, eu iria reviver todos eles automaticamente ao voltar no tempo e impedir que essa piranha faça o que quiser, se eu for escolhido novamente como portador, mesmo voltando, eu faria as mesmas coisas de novo e de novo, sim... será tudo diferente, eu vou vencer. Me encostei na parede ao lado da porta de entrada da casa, o cheiro de mofo e de poeira impregnava minhas narinas e eu segurava para não tossir a cada minuto, os vizinhos não haviam percebido minha presença ali, depois de ter arrombado a porta, parece que foi fácil se esconder, aposto que nem mesmo a imobiliária lembrava dessa casa, e foi essa merda de casa que deu origem ao meu sofrimento de três anos, tudo começou aqui, e tudo vai terminar aqui. Eu pretendia queimar esse lugar depois de matar Naiara, mesmo voltando no tempo, quero fazer essa casa pagar por tudo que me fez. Meu coração ficou acelerado, comecei a suar frio, eu estava prestes a matar novamente, teria que ser um tiro certeiro no joelho, de início pensei em usar uma faca, mas ela poderia gritar e reagir, mas isso iria depender, se ela entrasse do nada eu poderia apunhala-la com a faca de escoteiro e colocar minha mão sobre sua boca para que ela não gritasse, o tiro iria chamar atenção dos vizinhos, mesmo eu fazendo como Vito Corleone em O Poderoso Chefão envolvendo o revólver com vários panos para amortecer o impacto e suavizar o barulho, alguém acabaria ouvindo, eu teria que atirar no joelho dela, ou então apontar o revólver para a cabeça dela e pedir para ficar calada, se ela gritasse eu apenas a mataria, revistaria seus pertences e correria, o problema seria se ela não estivesse com a chave, mas duvido que ela faria isso, se ela vier mesmo, ela trará a chave, se ela não vier ela vai chamar a polícia, e eu preciso apenas voltar no tempo, se ela gritar basta eu voltar no tempo também, eu faria isso duas vezes, na terceira tentativa eu atiraria, sim, é isso, eu apenas iria pedir para ela ficar calada, talvez eu nem precisasse matar, eu poderia deixa-la amarrada e jogá-la no porão, porque com a chave, aposto que logo em seguida ele vai aparecer e conceber o desejo, eu voltarei no tempo e tudo estará bem. Cessei meus pensamentos ao ouvir alguém se aproximar da porta, segurei o revólver com as duas mãos, mas a cena que vi não era bem o que eu esperava. Naiara entrou na casa cambaleando e sangrando, sangue jorrava de sua barriga, sua cabeça tinha vários ferimentos, ela cuspiu sangue no chão e ficou debruçada sem dizer nada. Fechei a porta rapidamente e me abaixei enquanto a virava para mim.

– O que aconteceu porra? Cadê minha chave?

– Sua chave? – Naiara parecia bem abatida, seus olhos estavam cerrados em mim. – Você foi ingênuo, alguém chegou primeiro. – Quando ouvi aquelas palavras meu coração acelerou, coloquei o revólver na minha cintura e tentei parar o sangramento da barriga dela, então alguém, outro portador, havia pego? Eu devia imaginar isso, eu demorei demais! Eu devia ter pego a chave na ambulância, eu... perdi? Se eu voltasse no tempo, teria como eu reverter isso?

– Isso foi a quanto tempo? Quando aconteceu? – Quando coloquei minhas mãos na barriga dela para parar o sangramento, percebi algo gelado, foi então que, ao olhar mais atentamente, vi um pedaço de plástico, antes de poder voltar meu olhar para o rosto dela, Naiara tirou uma faca da sua cintura e cravou em meu pescoço, era uma faca fina e afiada, com sorte, ela não pegou na minha veia, me afastei da garota e bati minhas costas contra a porta, coloquei instintivamente a mão contra o ferimento causado pela faca, Naiara havia se levantado, ela... tinha me enganado. Tentei pegar o meu revólver na cintura preso entre a calça mas minha consciência estava se esvairando, por sorte, o relógio estava no meu pulso, não o meu normal, mas o pra voltar no tempo. Apertei o botão antes de cair de boca no chão. Ao abrir os olhos, eu estava encostado na parede ao lado da porta segurando o revólver. Coloquei minha mão no pescoço onde ela havia causado o ferimento, mas não tinha nada. Meu coração acelerou ainda mais, comecei a tremer e a suar frio, minhas pernas não conseguiam me manter em pé, ela havia me pegado, aquela vagabunda! Mas isso foi um erro, ela devia ter me matado naquele momento! Ela devia ter feito o trabalho completo, pelo que ELE me disse, quando volto no tempo, a linha do futuro em que voltei é apagada, ou seja, ela não vai ter um fim onde eu morro, porque o tempo que importa é o MEU, o tempo em que eu volto, o resto é totalmente descartado, é como se eu fosse mesmo Deus, a entidade que rege o tempo do universo, então, eu havia vencido de todo jeito, ela bem que foi longe, confesso, essa garota é um gênio, mas ela não pode lutar contra o tempo. Eu iria atirar pra matar agora, sem dó, eu não me lembro de ter visto a chave, mas foda-se, ela devia estar com ela, não tem como ela ter vindo sem a chave, só pra me matar, mas mesmo com isso, eu atiraria na barriga dela e depois iria pra cima da mesma ameaça-la pra ela me contar, eu não iria perder dessa vez, eu sabia onde ela guardava sua faca também, essa biscate não considerou isso hahahaha. Ouvi novamente alguém se aproximando da porta, ela devia estar aqui já, esperei que ela entrasse, mas dessa vez, alguém estava batendo na porta, ouvi a voz de um homem dizendo ‘entrega’. Como assim entrega? Eu voltei no passado, não foi? Eu voltei na merda do tempo, ela deveria entrar aqui, não? As coisas deveriam ter acontecido como antes! Será que o relógio quebrou? Ou melhor, será que ela tem algum poder? Isso é impossível, não tem como, a possibilidade é de outro portador tê-la pego mesmo, mas, mesmo assim, as coisas aconteceriam da mesma maneira que anteriormente, ela TEM que entrar aqui e tentar me matar, não tem como ela ter mudado o passado, nada muda, nada muda o tempo, só eu tinha essa habilidade, sem pensar, abri a porta e me deparei com um entregador de pizza segurando uma embalagem de pizza, ele não parecia ninguém suspeito, quando ele me viu com a arma na mão apenas começou a tremer, lágrimas se juntaram em seus olhos, foi quando eu o puxei para dentro segurando-o pelo colarinho e fechei a boca do mesmo com minha mão.

– Quem o mandou aqui? Quem fez isso? – Antes que ele pudesse responder, senti ferro gelado encostar em minha nuca e uma presença atrás de mim.

– Eu o mandei aqui filho da puta. – Eu não podia acreditar. O homem em minha frente começou a chorar, eu não podia acreditar naquilo. Que porra era aquela? Que merda era aquilo? Por que ela estava atrás de mim com um revólver apontado em minha cabeça? Por que isso aconteceu? As coisas deviam acontecer como antes! Eu fui enganado por ELE? Não, o padrão não pode ser mudado, não tem como! Merda, merda!

– Como...? – Antes que eu pudesse dizer algo, ela engatilhou o revólver que segurava e encostou mais contra minha nuca.

– SOLTA A PORRA DA ARMA, se eu quisesse você já estaria morto, mas lhe daria uma chance, e nem pense em colocar as mãos no relógio, quero suas mãos atrás de suas costas, agora! – Eu não poderia, eu não poderia fazer isso! Mas ela iria me matar mesmo, eu apenas precisava voltar no tempo, mas e se ela atirasse antes que eu voltasse? Eu não podia arriscar, iria esperar uma brecha e apertar o botão, eu seria rápido, se ela iria mesmo me deixar viver, eu podia fazer isso. Coloquei as duas mãos para trás enquanto soltei o revólver, felizmente, eu estava com a faca na cintura ainda, eu iria esperar ela baixar a guarda e meter na garganta daquela puta. – Você, pode ir embora, e nem pense em chamar a polícia, finja que isso não aconteceu e não será envolvido. – O homem, depois das palavras de Naiara, pareceu entender, ele havia mijado nas calças, ele soltou a caixa de pizza, abriu a porta e correu como nunca ainda chorando. – E você, se ajoelhe. – O que? Me ajoelhar? Ela disse que não me mataria! Eu devia pegar a faca agora? Devia voltar no tempo? Se eu pegasse o revólver que joguei no chão eu poderia me virar e atirar nela, eu tinha melhor pontaria... Mas antes disso, ela puxou o revólver para trás usando um de seus pés. – Se está pensando em alguma gracinha, eu sinto dizer. – Naquele instante, ela algemou minhas duas mãos contra minhas costas, eu não podia esperar isso, naquele momento, senti que estava fodido.

– Hahahahahahah! Hilário! Você não vai me matar, mas o que fará então? Vai pegar o meu relógio e voltar no tempo? Impossível isso, só eu posso voltar, ninguém além dos portadores pode usar as habilidades.

– Quem disse que não vou te matar? – O quê? O que diabos? Que porra ela estava dizendo? A garota ficou na minha frente e me passou uma rasteira, de joelhos no chão, algemado, ela segurou pelos meus cabelos e olhou em meus olhos enquanto eu não podia fazer nada. – Eu vou pensar no seu caso, se você me responder umas perguntas, pode viver. – Como assim? Ela estava me ameaçando? Não era pra ser o contrário? Eu que tinha perguntas!

– Não brinque comigo porra! Como você fez isso? Eu voltei no tempo, como as ações mudaram? Você havia entrado aqui, fingindo que havia sido machucada... Você me apunhalou e eu voltei no tempo, como as coisas agora são diferentes? Você tem algum poder?

– Poder? Nah, não tenho nenhum! Eu sabia que só podia vencer você de uma maneira, Lourenço.

– Oi?

– Você parece confuso, mas me deixe te explicar. Como eu venceria alguém que pode viajar no tempo? Você poderia voltar a qualquer momento, eu não tinha chance, você saberia todos os meus movimentos, então, como eu poderia vencer isso? Foi então que pensei em algo: A aleatoriedade. Acontecimentos ao acaso, por sorte. Eu só podia vencer algo predestinado, com algo que o acaso definiria. Eu não sei o que fiz no futuro que você voltou, na verdade, agora que você citou, eu sei. Eu escrevi 5 possibilidades em um caderno, eram cinco planos que eu tinha, dentre eles, eu iria fingir que fui esfaqueada, entrar, e te esfaquear, e em um outro, estava o que eu fiz agora, pedi pra entregarem uma pizza nesse endereço exatamente meio dia, enquanto você se distraía abrindo a porta, eu entraria pelas janelas do fundo e te pegaria, esse era meu melhor plano, mas não sabia que ele cairia na linha do tempo em que eu venceria, e aliás, pintei meu cabelo temporariamente pra não se reconhecida por ninguém. O que eu fiz foi simplesmente jogar ao acaso! Eu sorteei todas as cinco possibilidades com ajuda do Marco, antes de vir aqui, sorteei uma delas, a do futuro que você voltou, eu provavelmente teria vencido também, e pra você não vencer nessa ‘linha do tempo’, eu apenas tinha que mudar o meu plano! Você pensa que as coisas acontecem de maneira IGUAL em todas as linhas do tempo, mas quando se trata de sorte ou probabilidade, as opções são enormes. Por exemplo, você joga uma moeda pra cima, e ela cai em cara, mas em seguida, você volta no tempo, joga essa mesma moeda, na mesma posição em que você estava, no mesmo horário. O que garante que ela vai cair em cara? Só porque isso havia acontecido antes? Por exemplo, se você tivesse atirado em mim antes, você voltaria, você poderia atirar em mim, ou não, porque você poderia pensar em várias coisas que o poderiam fazer parar, você entendeu? VOCÊ! Você é o único que se lembra das coisas, então só você poderia mudar tudo, ou então, pense assim, se um gato fosse atropelado por um carro em uma linha do tempo, se você voltasse no tempo, o motorista poderia aleatoriamente ver você pela janela da casa em uma posição que não estava na outra linha do tempo, se distrair e virar o carro alguns graus e desviar do gato, ou seja, as coisas não acontecem da mesma maneira, já que são linhas do tempo diferentes, e já que há alguém que interfere nisso, você mesmo Lourenço, eu criei os cinco planos graças a você, o que muda é o pensamento das pessoas, por exemplo, pode estar chovendo em ambas as linhas do tempo, mas em uma eu posso ter pego um guarda chuvas, e em outra, não, mas eu não poderia pensar isso do nada! Por exemplo, se eu tivesse só um plano em mente, não teria como eu mudar esse plano do nada, pra você não prever meus movimentos, eu só poderia fazer isso se tivesse vários planos já em escrito, e eu tinha eles faz tempo já, então, foi questão de sorte, se no sorteio, tivesse dado para eu me fingir de machucada de novo, eu teria perdido, ou seja, a sorte definiu minha vitória dessa vez. Eu não sei nada de viagem no tempo, eu nem sabia se isso daria certo, mas um tal amigo aí me fez considerar essa hipótese, e aqui estou eu, viva, e você... eu não sei, você, Lourenço, quer viver?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lapso Paradoxal" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.