Lapso Paradoxal escrita por Kamihate


Capítulo 24
Capítulo 23 - Caindo no Inferno




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Sentada naquela mesma praça que estávamos antes de ir pra Minas Gerais, junto de Heitor e Marco, suspirei um pouco aliviada, mas ainda preocupada no fundo, eram 23:32, já havíamos falado com a polícia e a mídia, na manhã seguinte eles iriam disparar a notícia dos maníacos que estavam me caçando, a polícia já designou três policiais para ficarem nos vigiando (visto que eu havia dito que nós três estamos sendo caçados, por mais que apenas eu esteja com a chave, os maníacos – portadores – nos entendem como um ‘bando’), era um pouco estranho ter a presença daquelas três figuras nos arredores enquanto conversávamos, felizmente eles ficavam longe o suficiente para não ouvirem nossas conversas, foi o que eu pedi, um pouco de sigilo e privacidade, mas não podia negar que me sentia mais confortável com alguns caras armados nos protegendo de bestas sedentas, como Marco disse, todos eles são insanos e talvez foram escolhidos por conta disso, agora que os jornais divulgarão isso nos ‘inocentando’, além da proteção que ganharemos, a polícia irá aumentar a perseguição atrás dos portadores, aquele site já está sendo totalmente hackeado, quem estiver no chat nesse momento vai se dar muito mal, mas eu sei que os portadores não serão derrotados facilmente, se eles seguissem o padrão desses três primeiros.

— Você pretende ver o Vitor? – Marco me perguntou enquanto olhava para lua cheia e brilhante naquele céu aberto, a praça estava silenciosa, depois da morte da garota no hospital a polícia decidiu agir sorrateiramente para pegar Lucia, e é claro que não revelamos o poder dela, eles não iriam acreditar, e no caso, nossa história toda da perseguição e da chave não teria mais credibilidade depois disso, mas cedo ou tarde, quando houver mortes, eles descobrirão o poder que ela tem.

— Sim, eu vou vê-lo, mesmo que a maldita vá atrás de mim. – Eu disse enquanto prestava atenção nas ruas por ali, estava tudo muito quieto, e aquilo me incomodava.

— Depois daquilo na delegacia, creio eu que ela deve estar bem puta. Pelo que percebi o poder dela só dura por um tempo determinado, ou então dura até a ordem ser cumprida, por exemplo, se ela me pedisse para ir andando até as muralhas da China, eu só iria parar quando chegasse lá, ou seja, quando morresse, pois isso é impossível. Ela pediu para a garota lá conferir se era o Vitor no quarto, e depois, pediu para que ela matasse quem entrasse lá depois de determinada hora, então por exemplo, ela pode dar mais de uma ordem, não sei quanto tempo isso dura, se tem algum limite, mas vimos que é até a ordem ser cumprida, porque quando chegamos a garota parecia bem, depois disso ela mudou completamente como se estivesse possuída. Pensando bem, Naiara, o Elias não chega aos pés dessa mulher. – Heitor estava sentado com uma das mãos em seu queixo, pensando friamente, o que era bem atípico de sua parte. Meus pais estavam em casa, também com a proteção de dois policiais, parecíamos uma família de illuminates ou magnatas, o que não era mentira, visto que com a chave eu poderia ser o que quisesse, mas no fundo, só tinha, agora, um desejo.

— Meus pais querem que eu vá lá ficar com eles, mas eu não posso fazer isso, iria envolve-los mais ainda, eu expliquei isso pra eles, mas parece que não entenderam. Eu não confio tanto em policiais contra ela, mas acho que eles foram bem instruídos, os dois estão com os ouvidos cobertos com algodões, nenhum ouve nada, eles não vão ser afetados, e com eles lá não tem como entrar na casa dos meus pais, ainda mais sendo um apartamento, acho que posso ficar sossegada com isso. – Eu dizia isso mas ainda estava com medo da última declaração de Lucia, ela realmente parecia capaz de fazer tudo que falava.

— Vocês estão bem? Cansados? Amanhã será um longo dia, mas eu garanto pra vocês que iremos pegar esses ‘portadores’. – Guilherme chegou tomando um energético, ele parecia bem disposto e animado, e eu invejava isso.

— Eu queria apenas saber porque diabos você não foi dormir ainda. – Heitor encarava seu tio.

— Ei, qual é, essa é uma reunião só de jovens? Deixe seu velho brega participar também. – Guilherme tossiu com a mão próxima a sua boca e olhou para mim em seguida. – Se quiser te levo pra ver seu namorado, tem mais três policiais protegendo aquele hospital, a maioria das pessoas ‘públicas’ daqui já sabem do caso, amanhã vai ser um grande bafafá, preparem-se para a fama, amanhã não só Americana mas o Brasil todo vai conhecer os jovens que estão sendo perseguidos pelos ‘maníacos da chave’. – Guilherme tinha um senso de humor que me fazia querer odiá-lo.

— Acha mesmo que podem vencer os portadores? – Marco ainda estava descrente do poder dos policiais contra os portadores, ele se levantou e se virou para Guilherme.

— Qual é filho, é claro que vai ser difícil lutar contra x-mens, mas nós temos armas, muitas armas. – Disse Guilherme enquanto eu pensava em toda aquela situação. Fui com Guilherme, Marco e Heitor até o hospital onde Vitor estava, Marco estava calado, não disse uma palavra no percurso todo, já eu, estava nervosa, não via Vitor a dias, eu estava com tanta saudade, queria vê-lo, tocá-lo, olhar em seus olhos, ouvir sua voz, aquilo iria me dar, certamente, mais forças para seguir em frente e vencer essa guerra. Chegando no hospital (uma clínica particular, que por sinal, não era nada barata) entrei rapidamente, Guilherme com o auxílio de uma enfermeira me guiou até o quarto de Vitor (seus pais já haviam deixado o hospital), e ao abrir a porta, meus olhos se encheram de lágrimas ao vê-lo acordado, olhando pra mim, seu sorriso aparente me fez perceber que valia sim, à pena, tudo aquilo que passei até agora, se fosse pra ter esse sorriso sempre, eu era capaz de tudo também.

— Já faz algum tempo, hein. Eu fiquei sabendo de tudo, um policial me contou, você está bem apesar de ser perseguida por vários maníacos? – Apesar de ter um tubo em seu nariz, seu rosto estar bem pálido e seus olhos murchos, Vitor lutava, ele era a pessoa mais forte que eu conhecia, o estágio dessa doença maldita estava chegando ao fim, mas ainda assim, ele vivia, respirava, sorria, muitos outros em seu lugar já teriam se entregado aos braços da morte, mas não Vitor.

— Eu sou forte, mais do que você pensa! Tá pensando que você é o único forte por aqui é? – Eu queria abraça-lo, mas sabia que não podia, aquilo era o que mais fazia meu coração doer, Heitor e Marco ficaram no canto do quarto apenas observando, eles cumprimentaram Vitor rapidamente e depois saíram do quarto, eu me ajoelhei na beirada da cama de Vitor e desabei.

— Forte? Pessoas fortes não choram igual uma criança, erga sua cabeça Naiara. – Vitor colocou sua mão direita sobre a minha que estava jogada na cama, eu segurei sem muita força e senti que ela estava gelada e magra, ele realmente estava aguentando muito mais do que qualquer um suportaria.

— Como ficar forte? Eu estava com saudade, eu queria te ver! Me desculpe por isso, Vitor, por ficar longe de você, por não estar aqui... – Vitor levou sua outra mão em minha cabeça e começou a acariciar meus cabelos.

— Pare de bobagens, você iria morrer se ficasse aqui, e eu jamais iria perdoá-la por isso, na verdade, quando eu sair dessa, se tiver ainda algum maníaco atrás de você, ah, espero que eles se preparem para o pior pesadelo de suas vidas. – Vitor dizia aquilo mas sabia que iria morrer, todos sabiam, eu já havia cansado de ter esperança nesses meses de dor, ele não duraria muito mais, não sei se até esse ‘jogo’ acabar, eu rezava para que sim, ele era forte, tinha que aguentar! Mas ficar ao lado dele, dessa maneira, mesmo em sua situação, me fazia pensar em desistir e aproveitar todo tempo possível com ele, afinal, eu não sabia se venceria, e se eu morresse? Ele mesmo disse que jamais iria me perdoar, então porque não ignorar esses portadores, dar a chave pra alguém e ficar assim, junto do meu amor? Foi então que fitei seus olhos, ele também estava chorando, aquele sorriso que ele esboçava nada mais era do que seus últimos esforços.

— Olha só, esse hospital é bem empoeirado, meus olhos estão cheios de poeira. – Vitor sabia que momentos assim não iriam existir pra sempre, ele também desejava por tudo como era antes, a dor de saber que você vai morrer deve ser pior do que ver alguém amado morrendo, ele estava com medo, sentia isso por suas mãos trêmulas, medo de nunca mais me ver, de nunca mais ver o mundo, eu não sabia o que ele estava sentindo, por mais que me deparei com a morte várias vezes durante essas semanas, não entendia como era perceber que a morte roçava sua foice na garganta.

— Vitor, eu vou te tirar dessa, tudo bem? Vamos ter aquele piquenique que você me prometeu, por mais que isso soe bem gay, eu prometo. – Eu disse aquelas palavras impulsivamente, ele não sabia de nada do que estava acontecendo, mas ao sentir o seu toque, ouvir sua voz, todas as minhas lembranças se afloreceram, eu não podia perder! Não, Vitor iria aguentar, eu não vou desistir jamais até vê-lo feliz novamente, andando de mãos dadas comigo e podendo fazer tudo que sempre quis.

— Sim amor, eu nunca fujo de uma promessa, era eu que deveria prometer isso, não é? – Eu teria que matar, matar todos eles, todos aqueles malditos maníacos, sabia que a polícia não daria conta, eles seriam massacrados, mas eu poderia vencer, já venci três deles, eu era capaz, sou inteligente e perspicaz, não vou tremer ou correr, primeiro vou pegar essa piranha, depois todo restante, não importa se eles souberem voar ou atirar fogo pela boca, eu vou destruir esse mundo e salvar Vitor.

— Naiara! Precisa vir aqui, é urgente. – Marco chegou no quarto e deu um quase grito, Vitor ficou com os olhos cerrados, ele parecia preocupado, eu não entendia o que estava acontecendo.

— Você precisa ir, Nai, esses maníacos estão atrás de você, por favor, se cuide, eu estarei te esperando, da próxima vez, traga alguns donuts ok? Não aguento mais sopa de cenoura. – Vitor sorriu, pela última vez, mas senti que aquele era um sorriso espontâneo e honesto, eu segurei suas duas mãos e suspirei, eu estava pronta, certa de que venceria.

— Eu vou trazer uns 20 até você passar mal de tanto comer. – Segui Marco até o corredor do hospital depois de deixar Vitor com sua enfermeira, Marco segurou minha mão, ele parecia mais pálido do que Vitor.

— Preciso que você fique calma... – Marco tinha seus olhos abertos sem piscar, Heitor e Guilherme se aproximaram também, ambos com expressões horríveis.

— Qual o problema? – Meu coração acelerou naquele mesmo instante.

— Sua mãe... ela morreu Naiara, ela foi encontrada no seu apartamento com uma facada no coração, aparentemente, foi seu pai quem a matou. – Minhas pernas se dobraram naquele mesmo instante, eu caí como merda no chão, mal conseguia respirar, olhei para o relógio em meu pulso, 00:00, ela havia feito mesmo, eu matei minha mãe, por não entregar a chave para Lucia, minha mãe foi morta pelo meu próprio pai! Comecei a chorar até soluçar, ainda caída no chão, foi quando olhei para Marco e percebi que ele estava estranho.

— Qual o problema Marco? Por que tá parado olhando pro nada? – Heitor se aproximou de Marco, o mesmo, levando sua mão direita até sua cintura, tirou seu revólver e atirou na barriga de Heitor, Guilherme, antes de pegar sua arma, tomou um tiro em sua cabeça, bem em sua testa, seus miolos se espalharam pelo corredor estreito do hospital, Heitor estava caído encostado na parede sangrando sem parar, sem poder me levantar, vi Marco batendo o cano de sua arma em minha cabeça enquanto a escuridão tomava conta de mim.


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