Lapso Paradoxal escrita por Kamihate


Capítulo 1
Capítulo 1 - Sem Escolha




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Olhando para baixo, eu podia ver o inferno me esperando. Dizem que as almas que tiram sua própria vida nesse plano são jogadas no umbral e vagam eternamente por lá, há uma fuga, mas é o caminho para o inferno, então de qualquer forma, eu estava condenada, mas mesmo assim, seria melhor do que suportar os dias sem ele, prefiro mil vezes encarar as provações de um mundo cruel do que viver uma vida sem sentido, nesse mundo imundo. Se aquele médico ao menos não tivesse errado no diagnóstico a um ano atrás... Se ele não fosse uma pessoa movida somente por dinheiro, se as pessoas pensassem um pouco umas nas outras, as coisas poderiam ser diferentes, se eu continuar vivendo nesse mundo, só iria acabar com ele, lentamente, eu faria qualquer coisa para vê-lo pegando fogo, eu digo isso mas sei que no final as pessoas ruins sempre vão prevalecer por cima, porque elas tem o que é necessário pra sobreviver, os bons, são pisoteados, como ele foi, ele era tão bom, jamais fez mal a ninguém, e agora, nem mesmo pode realizar seu sonho de ver um jogo do Chicago Bulls, isso é realmente certo? Não há Deus nenhum, não é? Nem essas porcarias de céu, inferno ou umbral. Estava a um passo da morte, em cima da sacada do prédio onde morava, ninguém ainda havia me visto, escolhi um domingo bem calmo onde ninguém passava pela rua, essa cidade já é bem pequena, normalmente não passam muitas pessoas daqui, e hoje, principalmente, eu não queria chamar atenção, não queria ver meus pais antes de bater com o crânio no chão e espalhar meu cérebro pela calçada, queria apenas partir tranquila, em paz, e é claro que eu estava com medo, se não estivesse, não estaria aqui por 10 minutos pensando, pensando em todos os meus erros, em todas as alegrias que tive, os momentos que passei com o Vitor, tudo que eu queria ainda passar com ele... mas que não será possível. É, nada será mais possível, e foi pensando nisso que estufei meu peito, fechei meus olhos e pedi perdão aos meus pais pela minha covardia. Antes que eu inclinasse meu corpo para frente, senti uma refrescante brisa passar sobre meu rosto, e junto dela, ouvi uma vez familiar, atrás de mim.

- Você não quer pensar mais um pouco? – O susto que tomei por não ter percebido aquela pessoa anteriormente me fez jogar o corpo para trás e me dar conta da situação em que eu estava. Meu coração palpitava querendo sair da minha boca, eu caí sentada no chão áspero, inclinei meu pescoço para trás e vi uma figura alta em pé, olhando pra mim, ele tinha cabelos curtos e louros, tinha traços delicados pra um homem e um sorriso que, além da voz, também me era familiar.

- Quem é você? Como me achou aqui?

- Quem sou eu? Eu não tenho um nome, mas, pode me chamar de Lúcifer. – Quando ouvi aquilo, tudo que eu pude fazer, era rir. Ri intensamente enquanto balançava a cabeça negativamente várias vezes.

- E eu sou o anjo Gabriel. Você vai me impedir? – Eu disse ironicamente me levantando, minhas pernas estavam moles e bambas, mas minha vontade ainda permanecia inteira.

- De pular? Claro que não, eu não vim aqui pra isso. – Mas o que? Fiquei confusa naquele instante, se aquela pessoa não estava ali pra me impedir, por que estava? Aliás, ele estava sorrindo, mesmo que de maneira branda, sua expressão era calma, ele não queria mesmo me impedir.

- Então você veio por quê? Sente prazer em ver as pessoas se suicidando? É mais um louco psicótico solto por esse mundo? – Dei as costas para aquele ser miserável em minha frente e estava, novamente, na beira da morte.

- Não nego que sou um pouco psicótico e louco, mas não quero te ver morrer, pelo contrário, quero te ver viver.

- Então, você realmente está aqui pra me parar.

- Não, eu não estou. Quero te ver viver, mas você é quem decidirá isso.

- Olha meu filho, eu to aqui já, eu decidi, por que eu mudaria de ideia?

- Porque ainda não ouviu minha proposta.

- Proposta? – Apesar de estar curiosa, eu não me virei, continuei encarando o edifício que se encontrava na minha frente. Eu não sentia nada naquele momento, dor, ódio, raiva, tudo havia se apagado.

- Você pode pular agora e acabar com tudo, seu namorado vai morrer em menos de três meses, vocês podem nunca mais se encontrar, ou ele pode se curar, e você pode abandoná-lo se jogando, ou então você pode ficar aqui, com ele curado e serem felizes, você pode ir com ele ver o jogo do Chicago Bulls, pode ir pra Miami como você também sonhava, você tem essas escolhas. – Quando acabei de ouvir aquilo, virei para trás com meu coração batendo rápido novamente, mas não era por medo da morte, era por medo daquela pessoa, ela havia dito coisas que só eu sabia.

- Como? Como sabe isso? – Fitei-o com espanto enquanto ele ainda permanecia sorrindo, mas dessa vez, em um rápido segundo, sua expressão ficou séria, ele passou a me encarar com certa raiva.

- Como eu sei? Sei tudo sobre você, eu não quero enrolar porque meu tempo é curto. Tenho aqui em minhas mãos uma chave, e eu vou dá-la a você, você pode escolher não pegá-la. Essa chave abre uma caixa, e nessa caixa, há um vírus que, se espalhado pelo mundo, pode dizimar mais da metade da população. O seu papel é simples, você precisa sobreviver e manter a chave consigo durante 90 dias, se você conseguir fazer isso, você vai ter direito a qualquer desejo, o que você quiser, desde milhões de reais ou poder voar por aí, e se você duvida, eu não posso fazer nada, meu papel é te informar e fazer a proposta somente, não tenho como te provar isso no momento, mas eu quero uma resposta agora, ou vou procurar outra pessoa, a próxima da lista, então, pegue a chave, você aceita ficar com ela? – O rapaz em minha frente que parecia ter uma idade inferior a minha, estendeu sua mão, e dentro dela, havia uma chave dourada maior que sua própria mão, ela brilhava como se fosse de ouro, naquele momento surreal, eu não sabia o que pensar, mas... me indaguei. E se aquilo fosse verdade? Eu sentia, que de alguma forma, podia ser real, e ele estava falando pra responder rápido, então, impulsivamente, peguei a chave, só conseguia pensar em algo naquele momento...

- Você quer seu namorado curado, certo? Se for isso, eu te garanto que, se você sobreviver durante 90 dias e me entregar a chave em segurança, ele e você estarão imunes ao vírus, e ele estará completamente curado do câncer.

- Oi? Como assim? Eu queria perguntar mas, como assim sobreviver a 90 dias? E.. você disse sobreviver ao vírus? Quer dizer que se eu entregar a chave a você, depois de 90 dias, o vírus será espalhado pelo mundo.

- De fato, é isso mesmo. Quanto aos 90 dias, eu posso explicar depois.

- Não, explique agora isso! Você pretende dizimar metade da população mundial? Você sabe que se isso for verdade, posso levar essa chave pras autoridade e te denunciar, eu não sei quem diabos é você, mas... – Comecei a pensar, pensava sem parar, meu cérebro começou a ser processado rapidamente, eu me senti um lixo, parei de falar e olhei para baixo com os olhos abertos.

- Você entendeu? Ou é isso, ou seu namorado morre, e você pode se matar agora também. Escolha. – Eu não conseguia acreditar, mesmo segurando aquela chave pesada. Meu namorado podia ser curado? Havia realmente um vírus em uma caixa que dizimaria metade da população? Quanta besteira! Mesmo sendo besteira, eu... ainda queria acreditar, ainda queria ter uma última esperança em meu coração, a esperança de viver com Vitor, pelo menos, por mais um dia.

- Mesmo que isso seja besteira, mesmo que eu esteja ficando louca, eu vou aceitar isso. Se você puder curar o Vitor e nos salvar do vírus, eu guardarei essa chave por 90 dias.

- Muito bem, imaginei que seria sua resposta mesmo, agora, deixe-me explicar os 90 dias. Você se pergunta, por que ‘sobreviver 90 dias’, certo? Bem, porque você realmente não vai ter sossego em nenhum desses 90 dias. – O rapaz em minha frente se virou de costas e começou a caminhar rumo à porta da sacada. – Você será caçada por dez pessoas, dez pessoas que querem essa chave, e eu logo te digo, não será nada fácil.

- Como assim? Caçada? Eles sabem que estou com a chave? Isso é loucura! – Eu não estava entendendo nada, por que eu seria caçada? Quem iria atrás de mim?

- Oras, acha que a coisas são tão fáceis? Pedir pra guardar uma chave é algo, qualquer um poderia guardar um objeto por 90 dias, mas por que acha que eu te oferecerei qualquer desejo? É claro, como recompensa, porque as chances de você sobreviver são menos de 1%. Lei da troca equivalente, sabe? – O ‘ser’ em minha frente estava parado em frente a porta, eu, paralisada, ainda segurando a chave, não entendia aquela situação.

- Mas é só eu me esconder então! Eu pedir ajuda, ir pra outro país... E o que acontece, caso eu seja morta? – Me envergonhei naquele momento, eu estava caindo na brincadeira daquele idiota em minha frente, mas mesmo assim, mesmo assim....

- Oras, não é óbvio? O mundo vai ser salvo! O vírus será destruído, mas seu namorado vai morrer, e você estará livre pra fazer o que quiser. Então, se esforce pra viver, ok? Ah, mas antes, deixe-me dar uma pequena ajuda, porque afinal, não é justo dez contra um, não é? Sendo assim, vou te informar sobre as ‘habilidades’ dessas dez pessoas, eu não deveria fazer isso, se ele souber que fiz, estarei encrencado, mas eu sinto que você merece isso, se não a disputa seria injusta. – Habilidades? Do que ele estava falando? Eu comecei a chorar, e não sabia porque, as lágrimas apenas caíam do meu rosto enquanto eu segurava aquela chave com as mãos trêmulas.

- As dez habilidades de cada um são diferentes, são elas:

“De Volta ao Zero” - Habilidade de voltar no tempo por dez minutos

- Ela só pode ser usada três vezes ao dia, sem que ninguém veja o usuário.

“Gaiola do Vácuo” – Habilidade de criar um espaço sem saída

- Essa habilidade pode ser usada somente uma vez ao dia, e ela só poderá ser quebrada, caso o usuário seja descoberto e morto, ou seja, é uma habilidade de um único uso, onde o usuário é obrigado a estar presente nesse espaço.

“Fios do Céu” – Habilidade de criar ‘bonecos’ humanos que não pensam por si só e não tem alma.

- Essa habilidade permite ao usuário criar humanos vazios, ele pode controla-los como quiser, mas para cada humano artificial criado, ele precisa de uma vida humana em troca.

“Domínio Total” – Habilidade de controlar uma pessoa através da voz

- Essa habilidade é uma das mais fatais, o usuário só pode usá-la se falar determinada frase a menos de 1 metro do ouvido da pessoa que quer controlar, ele poderá controla-la por até 7 horas, e não há limite de pessoas que ele controlará no dia.

“Lembrança Vazia” – Habilidade de modificar memórias

- Outra habilidade bem apelativa, o usuário é capaz de mudar as memórias das pessoas que ele beijar, tais memórias falsas criadas só serão apagadas se o usuário morrer.

“Eternidade Nula” – Habilidade de trocar de corpo com uma outra pessoa

- Essa habilidade é algo que me chama atenção, o usuário pode trocar de corpo com no máximo três pessoas por dia, por 7 horas somente, e enquanto a troca é feita, a alma da pessoa que ele trocou ficará presa em algum lugar, enquanto o corpo original dele, ficará em modo ‘bot’.

“Roleta Russa de 6 balas” – Habilidade de criar um espaço fechado para ‘jogos’

- Essa habilidade permite ao usuário criar um espaço para jogos que ele mesmo decide, ele escolherá no mínimo 5 pessoas para jogarem, e apostará em uma. Se essa pessoa que ele apostar morrer durante o jogo, ele também morre, na verdade, ele só sobreviverá se ela vencer, e o resto dos jogadores morrerão.

“Criação” – Habilidade materializar pensamentos

- Diria que é a habilidade de um Deus, mas com um ‘custo’, a cada pensamento materializado, a pessoa perde 10% de sua visão, em cada olho, e ela só pode materializar coisas que acreditam ser possíveis na vida real, por exemplo, ela não pode materializar nada que não acreditar, como, um ataque alienígena.

“Avanço” – Habilidade de saltar no tempo em 10 minutos

- São as mesmas regras da habilidade de voltar no tempo, porém, indo para o futuro.

E tem mais uma habilidade, mas que não me foi informada! Sinto que é algo que ele não sabe também, então não posso fazer nada quanto a isso. Eu te desejo boa sorte, e daqui 90 dias, se estiver viva, pegarei essa chave. Bom, se cuide, Naiara. – O rapaz em minha frente passou pela porta depois de ter dito todas aquelas coisas que deram um choque em minha mente. Eu não me esforcei para correr atrás do mesmo, apenas ajoelhei no chão, no alto daquele prédio de 20 andares e olhei para o céu azul de verão. Hipoteticamente falando, só hipoteticamente, se isso tudo for verdade, como diabos sobreviverei a isso? Foi quando a imagem de Vitor veio a minha mente, e foi aí que abri os olhos deixando os raios solares me cegarem. Não, eu definitivamente sobreviverei, eu vou cumprir minha promessa com ele, eu vou sobreviver por 90 dias, mesmo se eu tiver que destruir esse mundo.


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