O Verdadeiro Papai Noel escrita por Paula Freitas


Capítulo 1
O Verdadeiro Papai Noel


Notas iniciais do capítulo

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Nicolas sempre fora um menino muito curioso e mais inteligente que a maioria dos garotos da sua idade. Durante a infância tinha um dia em que sempre ficava mais feliz que nos outros dias: o natal.

Toda véspera de natal, Nicolas, desde seus quatro anos, tentava se manter acordado para ver a chegada do bom velhinho e descobrir como ele descia pela chaminé sendo tão gordo, assim como seus avós e seus pais contavam. Cada história parecia mais encantadora que a outra, e tudo que Nicolas sonhava era descobrir a tal magia do natal de que tanto falavam.

Contudo, o tempo foi passando, Nicolas ficando mais velho, e nada de ver o Papai Noel. Mesmo já com oito anos ele ainda era muito criança e o sono sempre era mais forte que a vontade de ver o Noel pessoalmente. Quando acordava, após uma ceia farta na noite anterior, o presente já estava embaixo da árvore, e Nicolas ficava num misto de alegria por ter ganhado mais uma vez o que queria e decepção por ter perdido de novo a visita do Papai Noel.

Assim mais alguns anos se passaram e Nicolas já estava com dois dígitos de idade. Aos dez anos ele já conseguia se manter acordado tempo suficiente, e sabia que nesse ano não perderia a visita mágica por nada.

Deitado em sua cama, fingiu que dormia para que seus pais também fossem dormir. Mas, ao ver que a casa ficara silenciosa e todas as luzes apagadas, exceto as luzes de natal, Nicolas levantou e foi devagarzinho para o sofá da sala de estar, bem de frente para a árvore de natal. Se cobriu e lá ficou esperando o bom velhinho.

Duas horas da manhã o sono já fazia suas pálpebras pesarem, mas ele não se dava por vencido de jeito nenhum. Dessa noite não passava. Foi então que ouviu um barulho vindo do corredor. Passos. Nicolas rapidamente se escondeu detrás do sofá e ficou à espreita. Seu coração batia mais forte. Finalmente veria o Papai Noel? Finalmente realizaria seu sonho? Mas... Por que o velhinho não havia descido pela chaminé? Ou, no mínimo, entrado pela janela? Enfim, não importava. Ele iria vê-lo afinal.

A silhueta de alguém chegou mais perto até se aproximar da árvore e deixar um presente lá debaixo. Mas... Não parecia em nada com a silhueta de quem Nicolas esperava. Surpreso, o menino acendeu a luz e viu quem lhe deixava um presente.

- Pai?

O pai tomou um grande susto quase caindo para trás.

- F-Filho? O... O que faz aqui?

A surpresa do garoto logo virou uma completa decepção.

- Então... É você quem deixa os presentes?

- Eu? Não, não filho... Acontece que... Ah! O Papai Noel me pediu para dar uma ajudinha...

Mas, Nicolas já havia ouvido demais de coleguinhas que Papai Noel não existia, e embora se recusasse a acreditar, agora, para ele, estava mais que óbvio.

- Não!

- Não o quê, filho?

- Não é verdade! Tudo que me contaram... É mentira, não é? Ele não existe. Papai Noel não existe. É você quem deixa os presentes todo ano. Sempre foi você.

- N-não! Não, filho... É sério, eu não...

- Para de mentir, pai! Já sei de tudo. Não precisam mais inventar coisas, eu já sei de tudo. ... Não sou mais criança pra acreditar nisso.

- Mas, filho!... Você ainda é criança...

- Não, não sou! E não quero ser mais... Porque vocês, adultos, só sabem enganar a gente. – E Nicolas olhou fundo nos olhos do pai e perguntou: - Por que me enganou, pai?

O pai, totalmente perdido, sem saber o que responder, apenas ficou calado enquanto o filho voltava para o quarto.

Decepcionado e com raiva, Nicolas foi para o quarto e se jogou na cama, jurando que não acreditaria mais em espírito de natal nenhum, que tudo não passava de uma mentira.

Já o pai, triste, voltou para o quarto e contou à esposa o que havia acontecido. Ambos, naquela noite, rezaram para que o filho não deixasse de ser criança e não deixasse o espírito do natal morrer em seu coração.

Porém, o tempo passou e Nicolas nunca mais foi o mesmo. As vésperas de natal, que antes eram uma festa, agora eram indiferentes para o garoto, que passou a ter outras prioridades. Na verdade, ao passar da adolescência para a fase adulta, qualquer coisa era mais importante para Nicolas do que o natal.

Nicolas virou um homem e constituiu família. Mas, os natais na casa dele eram comemorados, basicamente, pela mulher e pelo filho que veio depois. Nicolas não gostava da época festiva declaradamente, e seu filho, crescendo vendo o pai assim, não entendia o motivo de, justo na época em que todos ficavam mais unidos e felizes, o pai ficava mais carrancudo e afastado.

Toda ceia de natal Nicolas comia como se fosse qualquer outro jantar e depois se retirava com a desculpa de ter muito trabalho, ou simplesmente se trancava para ler, ou arranjava qualquer outra desculpa para não ficar com a família. Suas atitudes intrigavam o seu filhinho que não entendia porque o pai era assim.

Mas, o pequeno tinha suas desconfianças quanto a o quê o pai ficava fazendo nas noites de natal. Certo natal, ele pegou papel e lápis e escreveu o que pensava sobre o pai. Nicolas viu que seu filho escrevia algo muito entusiasmado, mas pensando se tratar de mais uma cartinha boba que só fazia seu filho ficar mais e mais iludido, não ligou.

Antes de Nicolas se retirar da festa como todos os anos, sua mulher lhe deu de presente um par de botas que ele queria há meses. Depois foi a vez dos pais lhe presentearem com um casaco de couro vermelho que fez sua mulher brincar e lhe colocar o chapéu de Papai Noel que ela usava na decoração, dizendo que agora estava um Papai Noel completo. Nicolas, não gostando nada da brincadeira, logo tirou o chapéu e se retirou da festa.

Ele se fechou no escritório, mas mesmo assim, seu filho resolveu tirar a dúvida. Entrando lá, perguntou:

- Papai... Por que você não gosta do natal?

Como ouvia historinhas de sua mãe e de seus avós, o pequeno disse inocentemente, que se o pai não gostasse do natal ele não ganharia presentes, pois o Papai Noel só dava presentes para as pessoas boas, e perguntou, com um sorrisinho doce, se o pai sabia disso.

Recordando-se de sua grande decepção, Nicolas foi frio com o filho, e respondeu seco e direto que Papai Noel era uma ilusão, uma farsa, que não existia. Sua resposta rendeu ao filho uma carinha de choro e olhinhos cheios d’água. Chorando, o garotinho saiu do escritório e foi para o quarto, desolado.

Isso tudo culminou numa discussão entre Nicolas e sua esposa, que brigou com ele com razão por destruir os sonhos do próprio filho. Mas, ele estava irredutível.

- Eu só não quero que ele fique se iludindo com essas bobagens! Ele tem que entender desde já que nada disso existe! Nem sei por que deixei que vocês enfiassem essas mentiras na cabeça dele! Agora tá aí...

Mas, a mulher não quis ouvi-lo mais. Nada do que ele dissesse ou fizesse lhe tiraria a raiva que estava sentindo. Mandou-o dormir em outro quarto, pois não aguentava mais. Há anos vinha aguentando seu afastamento na época das festas de fim de ano, mas dessa vez ele havia ido longe demais.

Nicolas também sentia uma ponta de arrependimento por ter sido tão duro com o filho, mas ainda se convencia que assim tinha sido melhor. Foi, então, para um quarto de hóspedes e ficou lá. Porém, sem conseguir pegar no sono, vestiu seu casaco vermelho que havia acabado de ganhar, o par de botas que sua mulher lhe deu, pegou um cachecol grosso branco de lã, e saiu para passear um pouco em plena madrugada de natal. Pegou o carro e saiu sem rumo, queria apenas que aquela noite acabasse logo. Fazia muito frio, e ele só não queria ficar em casa remoendo seus pensamentos.

Nicolas sempre fora de classe média alta. Morava num bairro rico, com vizinhos que decoravam suas casas e jardins enormes com luzes e mais luzes e todo tipo de enfeites caros. A dele também era assim, sempre decorada, claro, pela esposa.

Passando pelas casas, podia ver que em algumas a festa continuava madrugada adentro. A música tocava e a mesa da ceia continuava farta mesmo depois de todos estarem satisfeitos. Nicolas olhava para aquilo e algo lhe apertava o peito. Se viu cansado de toda aquela agitação “sem necessidade”. Para ele, natal havia passado a ser apenas uma época para o consumismo desenfreado de pessoas que enchiam as barrigas de comida e as cabeças de ilusões. Achava injusto principalmente para as crianças que, assim como seu filho, e ele próprio jaz um dia, passavam noites à espera de puras mentiras. O presente do seu filho era ele mesmo quem comprava, e quando recordava que seu pai fazia o mesmo, seus olhos se marejavam e sua alma doía, como se ele quisesse ainda, do fundo do coração, que existisse mesmo alguém capaz de trazer magia àquela noite vazia.

Foi então que, ao sentir o vento frio da noite lhe tocar a pele, suspirou e decidiu sair daquele lugar, ir mais longe, ver coisas além do que sua rotina permitia. Dirigiu até bairros mais afastados até a periferia. Viu uma lojinha de beira de estrada ainda aberta, estacionou e entrou. Era tudo muito simples, como ele não estava acostumado, mesmo assim comprou o que tinha de sobra na lojinha: panetone. A caixa toda enfeitada com motivos natalinos quase o fez desistir, mas ele queria comer alguma coisa para seguir seu passeio madrugada adentro. Pegou o panetone e jogou-o no banco do passageiro. Continuou dirigindo até se deparar com uma cena chocante.

Embaixo de uma marquise escura, aonde a única iluminação vinha do poste a alguns metros dali, um menino aparentemente da idade de seu filho, mas bem diferente dele, todo sujo e magrelo, esfregava as mãozinhas nos braços, tremendo de frio.

Parado no sinal, assim que abriu, Nicolas parou o carro ali perto para observar a cena sem saber por que motivo havia lhe chamado tanta atenção. Ele sabia que a miséria além dos limites de seu bairro chique era grande, mas nunca havia visto uma criança mendigando daquela maneira.

A cada carro que parava no sinal mais à frente, aquela pobre criança pedia uma esmolinha, algo para comer. Mas, sempre voltava para baixo da marquise com as mãos abanando e o rosto faminto.

Com um sentimento de aflição que tomara conta de si, Nicolas desceu do carro e foi até a criança levando consigo o panetone que havia comprado.

- Oi!

O menino olhou para ele com olhinhos desconfiados, mas respondeu com seu jeitinho infantil:

- Oi!

- Você... Está com fome?

O garoto confirmou com a cabeça.

- Gosta de panetone? – Mostrou-lhe a caixa.

Os olhinhos do menino brilharam e sem responder se gostava ou não, estendeu os bracinhos magros para receber o presente.

Nicolas lhe deu o panetone e passou a mão em sua cabeça. Voltou ao carro sem esperar uma palavra de agradecimento, mas ficou observando para ver quanto tempo ia demorar até o menino abrir a caixa e comer tudo com voracidade. Porém, isso não aconteceu. O garotinho ficou ali sentado segurando a caixa como se esperasse algo ou alguém, olhando deslumbrado para o presente que havia acabado de receber. Nicolas cansou de esperar, ligou o carro, deu meia volta e foi para casa reclamando-se que seu gesto havia sido uma perda de tempo e de dinheiro, que provavelmente aquele menino ia vender o panetone, coisas do tipo.

Ao entrar em casa, sentiu uma vontade imensa de ver seu filho, saber como ele estava. Se dirigiu ao quarto do pequeno e abriu a porta lentamente. Ele já dormia. Mas, em seu rostinho ainda dava para ver que ele havia chorado muito. Decepcionado consigo mesmo, Nicolas fez o único gesto que poderia depois de tudo: cobrir seu filho para que ele não ficasse com frio. Ao fazer isso viu na mãozinha do garoto um papel amassado. Pegou com cuidado e saiu do quarto após dar um beijo no filho. Foi para o quarto de hóspedes e leu o que tinha no papel, percebendo que era o mesmo que o filho estava escrevendo antes cheio de entusiasmo e ele nem quis saber. Era uma cartinha realmente como ele havia pensado e era mesmo para o Papai Noel, mas não para qualquer Papai Noel.

Papai Noel, todo ano eu escrevo uma cartinha para o senhor, e esse ano também. Só que esse ano eu vou entregar na sua mão, porque agora eu sei que o verdadeiro papai Noel é você, papai. Eu fiquei acordado no natal do ano passado e vi que você botou meu presente embaixo da árvore. Aí eu pensei, por que meu pai que colocou e não o papai Noel? Mas aí eu pensei mais e lembrei que você sempre se esconde depois da ceia. Você vai pra o escritório e fica lá trancado. Eu sei por quê! Mamãe diz que você vai trabalhar e eu pergunto por que você trabalha no natal, e ela diz que não sabe, mas agora eu sei. É porque você é o papai Noel! Por isso que dessa vez eu escrevo pra você, mas não vou pedir presente nenhum. Só quero agradecer por eu ter o melhor pai do mundo, porque meu pai é o papai Noel.”

Ao terminar de ler a cartinha de seu filho, Nicolas se viu banhado em lágrimas. A emoção havia tomado conta de si, e agora, aquilo que achava uma bobagem havia se tornado a coisa mais preciosa, o melhor presente de natal que ele podia ganhar.

Ele levantou para pegar um lenço para enxugar as lágrimas, e ao levantar se viu no espelho. Estava de vermelho, cachecol branco e botas, além da sua barba por fazer. Foi até a sala e pegou o chapéu decorativo com que sua mulher havia brincado com ele e colocou voltando a se olhar no espelho. Não era a imagem do papai Noel clássico, mas era a imagem que seu filho tinha do papai Noel. Sua imagem. Ainda refletido no espelho, Nicolas riu consigo e voltou a ler a cartinha de seu filho. Foi quando outra silhueta surgiu. A do seu pequeno. Que logo que o viu lendo sua cartinha, vestido daquele jeito, sorriu docemente e falou:

- Eu sabia que você estava mentindo.

- O quê? – Nicolas se surpreendeu enquanto o filho entrava no quarto.

- Por que mentiu pra mim, papai?

Um flashback passou em sua mente e ele lembrou quando fez essa mesma pergunta ao pai, mas num tom tão diferente. Na ocasião seu pai nada lhe disse, mas Nicolas precisava fazer diferente. Agachou para ficar da altura do filho e indagou:

- Em que eu menti?

O filho continuava com um sorrisinho feliz e seus olhinhos brilhavam como que emocionados. Chegou mais perto do pai, afirmando:

- Você é o Papai Noel.

Dizendo isso o pequeno pulou em seus braços e o abraçou com força, sorrindo com toda sua doçura infantil.

Nicolas, bastante emocionado, achou que era hora de se permitir voltar a acreditar em certo espírito natalino. Ainda abraçado ao filho, contou-lhe em tom de segredo:

- Olha... Só não conta pra ninguém... Mas, eu sou o seu Papai Noel. Só seu.

O garotinho riu, mas logo fez uma carinha de dúvida, perguntando:

- Por que você não é o papai Noel de outras crianças também?

- Por quê?... – Nicolas se pôs a pensar naquela criança a quem ele havia dado o panetone. Afinal, havia sido um papai Noel para aquela criança que nunca havia visto. E afinal, não é assim que o bom velhinho trabalha? Fazendo o bem sem olhar a quem? Com o olhar distante, Nicolas chegou à conclusão que havia sido sim um papai Noel àquela noite. Um verdadeiro Papai Noel.

Então, teve uma ideia...

- Filho, escuta... Há muitos papais Noéis. Mas, eles estão espalhados por aí, e... Às vezes, não conseguem atender todas as crianças. Você tem muita sorte... Mas, tem crianças por aí que não tem um papai Noel só para elas, então... Nós, os outros, temos que fazer alguma coisa por elas. Hoje eu fui o papai Noel para um menininho que eu vi na rua, com fome... Sabe o que eu dei de presente para ele?

- O quê?

- Um panetone grandão assim... – Demonstrou com as mãos.

- E ele gostou?

- É... Eu acho que sim. Eu não vi se ele comeu.

- Me mostra esse menino, papai.

- Era nisso mesmo que eu estava pensando. Vamos? Vamos vestir um casaco para sair.

Vestiu seu filho, colocou-o no carro e saíram.

Ao chegarem ao local, Nicolas procurou e avistou o menino logo mostrando para o filho.

- Olha ele lá, filho! Vamos perguntar se ele comeu o panetone?

Mas, antes que pudesse sair do carro, viu quando outra criança se juntou ao menino e mais outra chegou, e aquele menino pegou a caixa do panetone que estava atrás dele e abriu. Ainda estava intocado. Mas, rápido as três crianças dividiram e cada um pegou um pedaço enchendo as mãozinhas. Comeram parecendo muito contentes e o garotinho que o havia recebido guardou o resto. Todos levantaram e foram saindo.

Nicolas, curioso, quis saber de onde tinham surgido as outras crianças e para onde estavam indo sem acabar de comer. Correu até eles e chamou o garotinho.

- Ei! Você!... Oi... Lembra de mim? Eu que te dei o panetone...

Outro menino logo exclamou: - Bem que você disse!

- É! Foi mesmo... – Disse outro.

Sem entender, Nicolas perguntou ao que estava com o panetone:

- O que você disse? Falou para eles sobre mim?

Meio tímido, o garotinho respondeu:

- Eu disse pra eles que o Papai Noel tinha me dado comida de presente de natal.

- Ah... – Nicolas voltou a se emocionar com a comparação. – Então, eu sou seu papai Noel? Sabe... Eu também sou o Papai Noel do meu filho. Olha ele lá no carro. – Apontou. – Será que não é seu pai que é seu Papai Noel?

- Eu não tenho pai.

- Ah... Entendi.

E o garotinho continuou: - Minha mãe diz que eu sou o homem da casa. Sou o pai e o filho. Sou tudo pra ela.

- Ah é?

- É. Mas, hoje ela ficou chorando porque não tinha dinheiro pra me comprar um presente de natal. Nem pra mim nem pra os meus irmãos.

- Ah, esses dois são seus irmãos?

- São, mas eu sou o mais velho.

- E... Sua mãezinha fica muito triste por te ver assim?

- Fica. Eu não gosto quando ela chora, então eu disse que não precisava de presente porque o papai Noel vinha pra me dar um presente.

Nicolas estava cada vez mais emocionado.

- Aí eu passei e... E te dei isto.

- É.

- E por que você não comeu tudo se está com fome?

- Por que minha mãe também tá com fome e eu vou dividir com ela assim como dividi com meus irmãos.

Nicolas não aguentou mais segurar uma lágrima que escorreu em seu rosto vendo tamanha generosidade de alguém tão pequeno. Não podia ficar indiferente àquilo. Então, num gesto de bondade, tomado pelo verdadeiro espírito natalino, Nicolas teve uma ideia. Minutos depois estava com o carro cheio de panetones distribuindo naquela madrugada fria às pessoas que, assim como aquele garotinho e sua família, estavam passando o natal sem nada que sequer lhes lembrasse da beleza da data.

Ao acabar de distribuir os presentes naquela pequena comunidade de casinhas humildes, junto com o filho que acabou adormecendo após a aventura com seu pai papai Noel, Nicolas se preparava para ir embora e voltar para o conforto de sua casa mais agradecido e renovado, quando aquele pobre garotinho e sua mãe se aproximaram.

- Senhor...

- Sim?

- Eu só queria lhe agradecer pelo que fez por nós, principalmente pelo meu filho. Ele é um menino muito especial, sabe...

- Eu sei, senhora... É...

- Maria. Meu nome é Maria.

- Pois é, dona Maria. Assim que eu vi seu filho eu tive uma vontade incontrolável de dar aquele panetone para ele, ele parecia tão faminto. Nunca imaginei que ele fosse tão generoso, e mesmo morrendo de fome ainda esperou para repartir com a senhora e com os irmãos. Eu fui tocado por alguma coisa que não sei explicar, um sentimento bom talvez... E tenho tanto. Não podia deixar de dar um pouco do que tenho para quem não tem nada.

- O senhor foi tocado por algo realmente muito bom. Se chama amor pelo próximo. Disso é que é realmente feito o natal, senhor.

Tais palavras encheram Nicolas de felicidade. Ele não havia descoberto só sobre o tal espírito do natal, como o Papai Noel e seus presentes, mas também um espírito maior, mais poderoso, e que dava presentes de valores inestimáveis.

Chegou, então, a uma conclusão: não era ele o verdadeiro Papai Noel, tampouco qualquer outro homem que saísse vestido como o bom velhinho por aí. Papai Noel de verdade era alguém como aquele menino que em poucos gestos havia lhe ensinado muito. Alguém como seu filho que continuou acreditando nele. Papais Nóeis eram as crianças que nunca perdiam a esperança.

Sentindo-se um novo homem, entrou em seu carro e deu partida, com uma certeza em mente.

- Sim... Papai Noel de verdade é uma criança que nos dá exatamente aquilo que precisamos. Presente que dinheiro nenhum no mundo pode comprar.

Quando ia saindo, aquele pobre menininho bateu na janela do seu lado. Ele abriu para se despedir.

- Já vai, papai Noel?

Ele riu e disse:

- Papai Noel é você. Você que me deu uma coisa muito boa hoje. – Tocou em sua cabeça brincando com seus cabelos. – Mas, eu já preciso ir. Meu filho já dormiu, e eu preciso conversar com minha mulher.

- Feliz natal.

- Pra você também.

O menino se afastou do carro e Nicolas foi saindo dali, quando lembrou:

- Olha... Eu nem me lembrei de perguntar... Qual é mesmo seu nome?

E o menino, agora com o sorriso alegre e satisfeito e os olhinhos mais brilhantes que já viu, lhe respondeu.

- Meu nome?... É Jesus.


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Notas finais do capítulo

FIM


FELIZ NATAL!



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