O Que Está Além de um Olhar... escrita por Eubha


Capítulo 30
Capítulo 30




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— Ciça... – Vou perguntar de novo,  o que esse cara faz aqui. – Rodrigo ignorou totalmente os aspectos que diriam respeito a gentilezas ou cordialidade, apenas continuou exigindo das duas figuras à sua frente uma explicação que fosse um pouco plausível. O Silêncio, porém continuou a perseverar, Ciça gelou dos pés a cabeça, enquanto seus lábios tremiam em busca de uma justificativa, mas o olhar raivoso de Rodrigo, não estava ajudando a morena a pensar tão rapidamente.

— Anda Ciça. – Rodrigo vociferou repetindo o questionamento, o irmão de João não conseguia entender o que o estranho que havia conhecido no dia anterior estava fazendo parado na sala de sua casa, ainda mais naquele horário, onde a única pessoa que estaria presente na casa da família, seria exatamente Cecília. Ele estaria atrás de Ciça então, tal indagação pairando em sua mente, fez somente o descontrole de Rodrigo ser ainda maior. Luciana sentiu um fio de tensão percorrer por sua espinha, Rodrigo não parecia destinado a parar, e ela estava vendo uma sensação grotesca de pânico se instalar em si, devido à forma enigmática, mas intimidadora com que Samurai, encarava Rodrigo de volta.  A filha de Jorge sempre se auto classificou como alguém observadora além do normal, mas dessa vez preferiu mesmo estar enganada a respeito do que seus olhos viam, e seu cérebro decifrava.

— Eu sim visitar a Cecília, apenas isso Rodrigo, não precisa agir desse jeito cara. – Samurai finalmente abriu a boca, escondendo com total maestria o que realmente sentia, julgou Lu dentro de seus pensamentos agitados e confusos.

— E como você sabia onde ela morava. – Rodrigo agiu pouco rendido, apenas fechou as mãos em punhos, parecendo contornar toda adrenalina raivosa que percorria seu corpo, evitando explodir de vez.

— Ele tinha meu telefone, ligou e pediu pra vir, não achei que houvesse problema Rodrigo, já que eu não posso sair sozinha de casa por conta do meu estado. – dessa vez Ciça saltou como um lince, seguindo a linha de raciocínio proposta por Samurai com agilidade.

Luciana olhou para a garota nervosa em sua frente, e preferiu não esboçar que não havia se convencido nem um pouco, aflita a morena apenas deu um passe alcançando o lado de Rodrigo segurando seu braço com toda força que suas mãos pequenas e delicadas, podiam lhe proporcionar.

— E como eu te contei ontem Rodrigo, eu era muito amigo do teu irmão, quis prestar minhas condolências a Ciça, depois de tudo que houve, eu estava fora do país, e até agora não tinha tido a oportunidade de encontrar com ela pessoalmente. – Vitor emendou a justificativa astuto e friamente, olhando fixamente para Luciana e Rodrigo parados à sua frente.

— Vocês eram tão amigos assim, e eu nunca ouvi falar de você, eu sempre conheci todos os amigos do João. – Rodrigo fitou o outro em desafio, cansado, farto, estarrecido, tudo que envolvia o irmão mais velho lhe trazia esta sensação de dissabor. Eram dolorosas demais as lembranças, elas tiravam seu humor, tornavam sua vida mais escura, acabavam com sua alegria, e tudo voltava para o mesmo “se”... Porque ele havia caído naquela escalada, se não houvesse este fato maldito, João poderia estar perfeitamente naquela sala agora, questionando o que o estranho queria com a futura mãe de seu filho, e assim não teria sido dele tal papel. Sua dor de cabeça que já havia começado pela manhã, piorou consideravelmente, com o peso das lembranças, naquele momento.

— E eu acredito Rodrigo, só que o João conhecia bastante gente também. – Samurai quis soar bem humorado e altamente simpático, mas em seu íntimo desejava que Rodrigo se desfizesse em milhões de pedaços em sua frente, tamanho foi sua raiva e indignação, com o jeito voraz do garoto.

 – Bom eu já vou indo, foi bom saber que está tudo bem com você Ciça. – afirmou ele com naturalidade, as pernas de Lu deram uma leve cambaleada, ao notar um possível medo e raiva da parte de Ciça em relação ao homem misterioso, Luciana mal percebeu o que estava fazendo para conter uma reação, até olhar para o braço de Rodrigo, e observar pontos vermelhos se formando em sua pele, onde ela cravava suas unhas sem se quer perceber o gesto descompensado.

— Eu te levo até o elevador Vitor. – Ciça informou, só querendo afastar Samurai das vistas de Rodrigo, ou tudo para ela estava perdido, tudo viraria apenas ruínas e ela estaria na rua da amargura no outro segundo. Isso a fez temer um pouco seu futuro, mas a garota se concentrou em seu presente, e em rumar para fora do apartamento dos sogros, se tivesse sorte, Rodrigo não estaria mais ali quando ela voltasse, estaria em um  outro lugar se distraindo com Luciana e os sorrisos idiotas que sempre lançava para a menina toda vez que ela estava por perto, isso a afetava continuadamente, mas ao menos Rodrigo não lhe perguntaria mais nada, ao menos por hora... Por mais que isso fosse uma facada horripilante em si,  ver o quão afetado Rodrigo estava pelo fascínio que Lu exercia sob ele, devia ser ela no lugar da outra garota, isso não era para estar acontecendo, Ciça tinha raiva de Lu, por ela ainda mexer tanto com Rodrigo, mesmo depois de todas suas tentativas para afastá-la de uma vez do rapaz e para sempre.

— Eu não gosto desse cara. – Rodrigo fala enquanto respira pesado o ar pelos pulmões, quando a sala fica vazia novamente.

— Você não está de exagero Rodrigo. – Luciana tenta soar explicativa e imparcial, mais para acalmá-lo, do que para qualquer outra coisa. Apenas naquele segundo não quis concordar com o amado e nem dizer, que também não simpatizava muito com Samurai. Talvez fosse só loucura sua, quem sabe estava se deixando simplesmente se levar pelas incertezas do namorado, e isso estava a afetando também. Precisava tirar isso de sua cabeça e principalmente da cabeça de Rodrigo, ela repensou certeira.

— É vai ver é isso mesmo, só um dia ruim. – Rodrigo continuou com sua tentativa de esquecer, e acalmar seu estado de puro nervosismo. Dias ruins sempre acabam, pensou o rapaz dentre uma mente completamente confusa, ou você pode os tentar fazer um pouco melhores.

 - Então vamos almoçar.  – ele convidou, voltando seu olhar para a moça, tentando encontrar dentro de si um sorriso.

— Pensei que você não fosse me convidar nunca, porque se antes eu já tava reclamando de fome, depois dessa tensão toda aumentou e bastante. – Luciana riu em brincadeira, querendo o fazer esquecer todo resto.

— Ok, eu sei que eu sou muito culpado. – Rodrigo se permitiu rir descontraído da namorada, á empurrando com as mãos em suas contas direto para a cozinha de casa.

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— Bom parte um, quase pronto, o macarrão já está quase. – informou Lu, recolocando de volta a tampa na panela, que estava ao fogão.  Massa com molho de tomate, era o mais rápido e cogitado, depois que Rodrigo e ela constataram não ter nenhum almoço pronto. A barriga faminta dos dois, não iria aguentar esperar por mais tempo, até que algo mais elaborado ficasse pronto, a segunda opção seria uma boa pizza, mas até os lugares dos qual conheciam e ligaram atrás de uma, pareciam estarem conspirando contra os dois, então o jeito foi se render e cozinhar.

— Vou pegar o molho lá no armário. – Rodrigo afirmou saltando do banco onde estava sentando e indo até o local com destreza. – Onde eu boto. – Rodrigo questionou olhando para a moça, com uma sache de molho de tomate em mãos.

— Adivinha Rodrigo. – Lu fez uma careta espantada e dramática ao rapaz, numa forma intencional de provoca-lo. – Na panela, incrível né. – a garota gargalhou auto, e sem se importar, enquanto o rapaz revirava os olhos fingindo tédio, diante de toda piada dela.

— Como você é engraçada, né moça. – ele riu em ironia, parando ao lado dela, apertando seu rosto junto a um delicado e gentil selinho, antes de se aproximar do fogão, para onde Luciana havia apontado a panela sob ele. Luciana continua parada onde estava a rir, e isso só aumentou ainda mais quando ela percebia o namorado, mal conseguindo abrir o pacote de molho e o despejar junto ao fundo da panela. 

— O Rodrigo abre isso direito, e depois diz que se vira sozinho sem tua mãe não é. – Luciana não conseguia se conter, era mais que difícil, Rodrigo continuava enrolado com a tarefa, aquilo era sobre humano.

Rodrigo riu sem parar junto com moça, até esquecendo por hora, o quão estressado estava quando se deparou com a cena em sua casa, depois de voltar do colégio com Luciana. - Fome eu nunca passei tá, só nunca disse que eu não era um pouco enrolado pra cozinhar, e nem vem que isso aqui só parece fácil, mais não é. – ele tentava fazer o que pretendia enquanto falava, mas talvez o desafio da risada de Lu, ou seu estado de puro nervoso anterior, só o fez conseguir abrir o pacote em um rompante e fazer despejar mais molho de tomate em sua blusa, do que exatamente dentro da panela em sua frente.

— E isso não é cientificamente comprovado, não é. – Lu se desatou a rir, ao visualizar a blusa branca do uniforme do Leal Brasil do rapaz, completamente vermelha agora.

— A culpa é tua, sabia. – Rodrigo acusou soltando tudo em cima do fogão e virando o corpo para ela, fingindo uma fúria que não se sustentava, devido à forma como ele também ria.

— Minha Rodrigo. – Luciana ousou questionar em um tom inocente, em parte até com certa ofensa. – Cara de pau você, anda tira isso logo, antes que essa mancha nunca mais saia daí. – ordenou ela, querendo controlar um pouco do riso, passando para o lado do fogão a desligar o macarrão que estava no fogo, evitando que ele também ficasse inutilizado.

— To falando, tudo sempre pode ficar um pouco pior. – Rodrigo alega de forma descontraída, já desabotoando os botões da camisa, pensando ser melhor ele leva-la imediatamente, ou Luciana teria razão, ele perderia o uniforme para ir à escola para sempre, já que a mancha talvez nunca mais deixasse o tecido.

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— Eu acho que deu pra salvar, mas só por precaução pura, deixei de molho lá no tanque. – explicou Luciana, entrando sorridente no quarto de Rodrigo, que estava com a porta aberta remexendo dentro de seu guarda roupas.

— To achando que ninguém lava mais roupa nessa casa, porque já tem uns dias que eu noto minhas roupas sumindo do armário misteriosamente. -  Rodrigo falou divertido, não encarando o vulto de Luciana que passou atrás de si, enquanto ele tentava insistentemente achar uma camiseta para vestir.

— Quer dizer que você sempre acreditou em mágica, que a roupa saía do cesto de roupas sujas do banheiro, ia até a máquina, e voltavam pro teu armário, sozinhas, você não está um pouco grandinho pra isso não Rodrigo. – Luciana sentou na cama dele, com as pernas cruzadas a rir de toda situação.

— É talvez seja mais viável, pensar que minha mãe não está lavando-as, e que a Lívia não se preocupa em ajudar, meu pai não curtiu nem um pouco essa ideia da minha mãe  ir trabalhar fora, talvez agora eu entendo porque. – Rodrigo justificou, achando que Lu poderia estar totalmente certa, voltando o olhar para encará-la, jogando a camiseta de sua mão em cima da cama, ao lado dela. – Foi porque as roupas dele começaram a sumir primeiro. – implicou ele risonho, ao lembrar-se da carranca de Miguel, quando Ana havia lhe contado que retomaria sua carreira de publicitaria.

— O Miguel, podia começar a praticar um pouco de feminismo sabia. – Luciana diz erguendo o corpo de onde estava e parando em frente a Rodrigo, que sorriu junto com ela, em meio ao silêncio compenetrado que os dois trocaram por segundos, era como se um adivinhasse quais seriam os próximos movimentos do outro. Luciana se levantando para convidá-lo a terminar o almoço, ao menos foi o que a moça pensou quando projetou seu corpo para levantar, mas alguma coisa dentro do olhar de Rodrigo a fez desejar continuar exatamente ali, ou em outro ponto correr por quilômetros para longe dele, era uma sensação nervosa, ao mesmo tempo reconfortante, e também ao mesmo tempo enlouquecedora.

— É, e sabia que é por isso que eu acho, que eu te amo, te admiro, te venero, te quero mais que tudo nesse mundo. – o rapaz declarou no instante que se aproximava, a puros sorrisos de contentamento, envolvendo os braços em volta da cintura dela.

— Cuidado, eu posso ter sérios defeitos, exatamente devido a isso. – Lu jogou no ar, sustando em sua voz a ironia, querendo realmente ignorar a sensação de tensão que as pontas dos dedos dele causaram em si, quando encostaram-se em sua pele descoberta da cintura, devido a sua blusa um pouco curta sob a calça jeans.

— Eu amo você, e por isso, acho que posso aguentar. – Rodrigo brincou no outro instante, mais para continuar com o joguinho de farpas dos dois, do que para conter seus pensamentos românticos com a garota, que a essa altura pareciam lhe fazer perder um pouco do controle.

Lu sorriu de leve, enganchando os braços em volta do pescoço dele, não ligando muito para sua falta de autocontrole, perante a situação, toda sua confiança no que sentia por Rodrigo, a  fez querer continuar exatamente onde estava e mergulhar nas emoções que aquele momento poderiam trazer a seu corpo. E beijaram-se entre sorrisos satisfeitos, ignorando o mundo real e todo resto, eram só eles plenamente envolvidos, pelo fascínio de um beijo que transbordava amor, paixão e sentimentos intensos, que os faziam ter a certeza de que dava para flutuar, caminhar sob as nuvens ou algo do tipo, eram os dois e o imenso sentimento que os unia, quase os fazendo estarem a um passe de perderem o controle e serem somente guiados pelos impulsos das batidas de seus corações acelerados por trás de respirações ofegantes e sem nenhum folego.  

Dava para esquecer todo o resto, Lu e Rodrigo tinham absoluta certeza disso, estava completamente perceptível na forma como seus lábios se tocavam, em um beijo com sabor incrivelmente maravilhado, na forma como Luciana ignorava a sensação de nervoso que socava a boca de seu estômago, como que em um sinal de alerta, de que talvez não houvesse tanto controle na pouca distância, agora sustentada pelos dois, enquanto suas mãos frias e ainda indecisas, passeavam pelas costas de Rodrigo, ainda parecendo tentarem encontrar uma caminho para a sanidade, onde ela pudesse parar com aquilo... Onde a sensação de eletricidade, provocada nos corpos dos dois se embolando fosse ignorada, onde respirar fosse necessário, onde a racionalidade de Rodrigo, lhe alertas-se de que não podia continuar puxando Lu de tal maneira para si, numa tentativa quase frustrada de encurtar ainda mais a distância dos dois, onde sorrisos não ficassem em suas bocas, quando aquele beijo, completamente inundado de paixão foi sessado por segundos, em busca de um pouco de ar, Rodrigo encarou Lu por um instante, se concentrando nas respirações curtas dos dois, procurando uma resposta que pudesse vir de todo silêncio do restante do quarto, uma resposta que o fizesse ainda conseguir parar, que o livrasse daquela vontade insana, de a ter muito mais perto do que eles estavam naquele momento, mas nada atingiu seus pensamentos a não ser todo amor que sentia pela garota, que ia aos poucos sendo guiado por uma atração descomunal, ele não saberia dizer em que momento ambos retomaram o beijo, e voltaram a se perderem um no outro, ainda menos se recordaria em que segundo exato, arrastou Luciana para trás a jogando contra  o colchão macio de sua cama, ou quantos milésimos de segundos exatos os dois se perderam na atração elétrica que os unia, enquanto ainda se beijavam, era amor demais, e razão quase nenhuma...

— Rodrigo, é... – Eu acho que... – Lu abriu os olhos, fitando a claridade em sua frente que vinha da janela, parecendo enfim retornar o controle de suas decisões e se dar conta, de que caminhos os dois estavam percorrendo por tudo que sentiam naquele momento.

— Eu sei. – o rapaz sussurrou fraco, buscando respirar normalmente, com um sorriso nos lábios, já sabendo exatamente o que ela diria, no fundo já se sentia plenamente feliz por ela não ter corrido antes deles chegaram até ali. O silêncio persuadiu os dois a continuaram calados, e tão somente Rodrigo foi aproveitando a calmaria para continuar deixando beijos carinhosos e lentos no pescoço dela, como fazia há três segundos atrás.

— Eu só não quero ir tão rápido. – Luciana admitiu sôfrega, por mais que fosse somente sua razão lhe alertando, seu coração havia se perdido em emoções há muito tempo atrás.

Rodrigo a encarou entre sorrisos, antes de se pronunciar. – Tá, eu sei. – ele concordou com um breve sorriso, tirando o corpo de cima do dela. – Me desculpa, não foi intencional, eu juro, quer dizer até foi, mais... – ele riu descontraído, não achando que conseguiria uma explicação plausível e totalmente verdadeira.

Luciana acabou rindo junto com ele, levando as mãos a ajeitar o travesseiro. – Vamos lá terminar aquele almoço vai, que eu não vou perder pra um pacote de molho, assim tão facilmente. – convidou ele aos sorrisos, lançando as mãos a ela, na procura de levantá-la de sua cama.

— Eu não teria tanta certeza. – Lu disse de pé, soltando-se dele, entre um sorriso implicante.

— Ah mais vai ter. – Rodrigo garantiu sorrindo ainda mais, apanhando sua camiseta de onde estava, pretendendo vesti-la. – Eu te amo. – declarou ele, numa tentativa de garantir que estava tudo bem entre os dois.

Lu sorriu sem se pronunciar, apenas o beijando rápido em seguida.


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