– Rodrigo, o que você veio fazer aqui. – Luciana continuou com o interrogatório lhe lançando um olhar de desconfiança.

– Então. – o garoto olhou em volta, tentando achar palavras que fossem convincentes para uma explicação. – Você não apareceu no colégio hoje.

– É não deu, tive que resolver umas coisas com meus pais. – afirmou Luciana ajeitando uma mecha do cabelo atrás da orelha. – Mais me diz o que aconteceu pra você vir aqui. – questionou ela direta.

– Tá tudo bem, porque você tá assim. – Rodrigo indagou percebendo a tensão contida da moça que tentava disfarçar tentando não encará-lo nos olhos.

– Tá tá sim. – confirmou ela, se movimentando até a janela, procurando não encará-lo. - O que você veio fazer aqui Rodrigo, fala logo ih... – a garota quis não prolongar o assunto, definitivamente não era o dia para falar com ninguém, ainda mais com Rodrigo, só queria estar quieta em seu canto.

– E sabe o que eu acho, você está mentindo, só não entendi por que. – o rapaz rebateu caminhando para dentro do quarto e saindo de onde estava desde que chegou.

– Ah claro. – Luciana virou o corpo para ele, o fitando com um sorriso irônico e ou mesmo tempo irritado. – Você vem na minha casa pra me chamar de mentirosa, eu mereço mesmo esse dia infernal não vai acabar. – a menina ficou extremamente enfurecida.

– Não, quer dizer... – Rodrigo enrolou-se com a falação da morena. - Ah para Lu, foi você que começou. – ele insistiu vendo que ela queria disfarçar o assunto. – Se tá tudo bem porque você tava chorando, quando eu cheguei. – Rodrigo voltou a pressioná-la.

– Eu não tenho que te dar satisfações da minha vida. – Luciana manteve a pose, mas recuou da briga.

– Então, eu vim aqui porque, por que... - ele gaguejou sem saber explicar.

– Rodrigo, fala logo. – Luciana pediu que ele esquecesse os rodeios, até porque só se estava prolongando o assunto. – Você sabe que eu detesto isso. – ela suspirou profundo revirando os olhos.

– Alina me disse que você, que viu você falando que havia tomado um coquetel de remédios, e aí ela ficou achando que você tava... - murmura ele, quase atropelando as palavras, por não saber como dizer aquilo a ela, sem que soasse invasivo ou até mesmo preconceituoso.

– A Alina, não acredito que essa garota vai de novo se meter na minha vida, quando eu digo que eu bati pouco nela ninguém acredita né. – Luciana se irrita com a pauta do assunto e fuzila Rodrigo com o olhar, o cortando imediatamente.

– Então ela tava certa. – Rodrigo indagou com um semblante sereno apesar da gravidade.

– Não, quer dizer, eu não sei. – Luciana voltou a sentar em sua cama com o rosto desanimado. – Não sei. - repetiu em sussurros medrosos.

– Lu, como assim. – pergunta ele se acomodando próximo a garota.

– É... – Você lembra quando eu caí ontem durante o jogo. – ela respirou sem saber o que estava fazendo, se calando ao passar as mãos nos cabelos.

– Claro, eu até fiquei preocupado, mais você falou que não tinha sido nada, então o que aconteceu. – Rodrigo respondeu, mais não conseguiu entender nada.

– Então, quando eu me cortei, e o Henrique também. – exclamou a morena, pondo a mão sob o curativo no braço esquerdo. – Rodrigo eu não sabia, nem desconfiava, só que aí o Henrique veio me falar que...

– Espera. – o garoto gesticulou perplexo. – Você está querendo me dizer que o Henrique ele. – ele questionou uma explicação, meio confuso.

– É, ele é soropositivo, parece que a mãe dele tinha essa doença e descobriu só no nascimento dele. – assentiu ela deixando toda tensão no ar. – Ele veio me contar porque quando nós nos esbarramos, eu posso ter sido exposta ao risco também. – falou, com a voz engasgada.

– Caramba, não sei nem o que te dizer. – Rodrigo respirou atordoado.

– Relaxa, acho que nem eu. – Luciana sorriu não o julgando. – Pra falar a verdade, eu não sei se assimilei isso ainda. – ela confessa. – Mais você não pode falar isso pra ninguém, eu não quero detonar o Henrique, Rodrigo ele não fez por mal, foi um acidente, coisa sei lá se dá pra explicar, mais você melhor do que ninguém sabe o que o pessoal do colégio iria fazer com ele, não é, por muito menos eles me detonaram. – suplica Luciana.

– Eu sei. – Rodrigo. – Mais e você, como é que você tá com isso, pode parecer que não, mais é uma coisa séria né. – perguntou o rapaz em um tom calmo, tocando de leve na mão dela.

– Meio estranha, confusa talvez. – Luciana não soube definir. – E olha que depois da história com meu pai, eu achei que nem teria um dilema maior pra administrar. – confidencia.

– É. – ele dá um sorriso. – Você contou pra eles. – questionou.

– Contei sim, não sei se eu iria conseguir administrar isso sozinha, só que eu me arrependi, meu pai tá completamente tonto com isso, e minha mãe finge que está tudo ótimo. –admite Luciana, que estava se sentindo mal também pelo nervoso dos pais.

– Hei Lu, também não é assim, eles gostam de você né, e eles não querem ter ver triste só isso. – disse ele, ajeitando uma mecha do cabelo dela, que encara o chão do quarto. – Ih eu também não curto te ver assim. – declara ele, o olhando minunciosamente se aproximando ainda mais.

– É... – Você veio, veio... – Aqui só pra isso. – Luciana com a voz perturbada, devido à proximidade totalmente perigosa dos dois, por mais que tentasse nunca conseguiria entender porque Rodrigo a descompensava tanto.

– E você acha pouco. - implicou Rodrigo contornando a tensão que continha na forma que os dois se entreolharam.

– Não, é só que... – Você, esquece. – os dois acabaram rindo sem graça. – Incrível né, de repente você pensa que tá tudo perfeito, aí no outro segundo tudo vira, muda desastrosamente. – ela confidencia.

– É, eu sei. – ele concordou. – Eu tava feliz escalando com o João, aí de repente eu acordo numa cama de hospital e descubro que meu irmão tava morto. – sem controlar, ele acabou abaixando o olhar com tristeza.

– Me desculpa, não queria te chatear. – Luciana afirmou ao vê-lo com a expressão um pouco triste, apesar dos dois nem falarem muito do assunto, Luciana percebia visivelmente que algo sobre a morte de João incomodava bastante Rodrigo, havia algo muito triste e de muita culpa que Rodrigo ainda guardava consigo a sete chaves, sem ter coragem para confidenciar nem mesmo a família.

– Tudo bem, olha eu queria que você soubesse que você pode contar comigo, mesmo de verdade. – garantiu Rodrigo, a olhando sorridente.

– Brigada tá, eu agradeço também de verdade. – Luciana agradeceu sincera, e acabou se rendendo ao abraço carinhoso que recebeu de Rodrigo, talvez fosse errado com Pedro, talvez aquilo atrapalhasse seus planos em continuar longe do irmão de Lívia, mas na verdade e sem saber explicar, ela havia sentido que uma onde de tranquilidade havia invadido seu coração, como não sentia desde que aquilo começou.

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Alguns dias antes...

– Ai mais um dia de aula. – Lívia dizia sonolenta chegando ao portão do colégio com Luciana.

– Relaxa Li, só deve ter mais uns cem dias letivos pra gente, hahahaha. – a morena caçoou da amiga, e de seu jeito preguiçoso.

– Hum ao menos você tá se formando e eu então, ai será que eu sobrevivo, deus. – a irmã de Rodrigo afirmou se apavorando com seus afazeres.

– É ok, mais até parece que faculdade é fácil, acho que eu preferia continuar no Ensino Médio pra sempre, sério. – Luciana revelou. – Vou lá na biblioteca tá. – a garota disse ao olhar para o nada e avistar Rodrigo vindo na direção da irmã.

– Ah sim. – Lívia maneou a cabeça debochando. – Lu me fala, até quando você e o Digo vão ficar nesse jogo de cão e gato, tá chato já, para que tá feio. – a menina afirma, não entendendo porque os dois não se resolviam logo, já que era evidente que havia sentimento.

– Jogo que jogo. – Luciana bufou irônica. – O Lívia eu não tenho nada com teu irmão não, eu sou não estou afim de aturar a marra e o jeito convencido dele desde já tá bom, eu já tenho que olhar pra cara dele na sala de aula, no pátio to dispensando. – Lu justificou toda atrapalhada e falando rápido para não dar tempo de Rodrigo chegar.

– Ahan, pra mim isso tem tudo a ver com o amasso que vocês deram no dia que rolou aquela confusão lá com os fortões. – contrariou Lívia querendo implicar.

– Beijo, beijo, aquilo nem foi um beijo tá bom. – Luciana respirou devagar para não perder a paciência, evitando que a lembrança ficasse em sua mente, que raios também que tudo era motivo pra se comentar daquilo, Lívia e Nanda estavam obcecadas julgou pensativa.

– Ah foi o que então Lu. – dessa vez Lívia gargalhava alto da cara da amiga.

– Foi um desatino, um desatino em um momento que você acha que vai passar dessa pra uma bem pior, e tchau que não vou discutir isso com você, nos vemos no intervalo fui. – a morena garantiu não sentir nada pelo irmão da gata e nem ter a ver com o ocorrido, saindo com pressa depois que viu Rodrigo caminhando novamente até a irmã depois de falar com um garoto do segundo ano.

– E aí. – Rodrigo cumprimentou a irmã com um beijo.

– Nem vi você sair hoje. – Lívia justificou.

– É eu saí bem cedo mesmo, pra resolver umas coisas da banda. – Rodrigo explicou o porquê de ter madrugado.

– Tudo bem, mas vem cá Digo, me fala, até quando você e a Lu vão ficar nessa. – Lívia pergunta direta.

– Nessa o que, a gente não fica, porque a Luciana não quer, aliás. – Rodrigo rebate com o sorriso meio debochado. – Diz que não vai mais desrespeitar o barba rala do Pedro, ele é que não se toca e percebe que quem sobra nisso é ele. – Rodrigo afirma meio enciumado com último discurso que ouviu de Luciana.

– Oi Rodrigo, bom dia. – Dani chega até os dois dando bom dia para o garoto toda animada.

– Bom dia Dani. – Lívia faz questão de deixar claro que não seria ignorada. – Mais finalizando aquele assunto Rodrigo, na boa vocês são dois loucos mesmo, até porque tem mais gente sobrando nessa história e que ataca de oferecida, só você não vê. – Lívia saí irritada e nem dá tchau para o irmão. Dani sorri tentando fingir que não percebeu e nem desconfiou que indireta podia ser para ela.

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– Olha aqui gente se vocês querem melhorar até o intercolegial, acho bom começarem a ralar. – Monique dava sua aula na quadra e repetia o discurso exigente.

– Ih isso é motivo pra ela matar a gente. – Roger cochicha para Rodrigo e Glauco.

– Pode crer daqui uns dias ela institui um regime de concentração, não deixa mais a gente nem sair do colégio. – Rodrigo ri concordando com o amigo que a mãe de Alina estava entrando em surto por causa das competições. Os três sessam a falação e continuam prestando atenção na mulher.

– E meninas do vôlei, tá muito ruim isso, Alina minha filha que saques foram aqueles da aula passada. - ela continuou olhando para o lado da quadra onde estava quase todas as meninas em bolinho e destinou as criticas.

– Já sei mãe. – Alina nem ligou e responde fazendo careta.

– Luciana. – Monique olhou para a novata com seriedade.

– Fala Monique. – Luciana tentou conter a arrogância, já se preparando psicologicamente para o bombardeio, se até Alina já tinha levado o seu, pra ela é que sobraria algo bem pior.

– Você com certeza é a melhor levantara do time, e também tua cortada é excelente, mais podia começar a pensar e sacar por cima né. – ela afirmou, e Luciana não evitou em arquear uma sobrancelha cheia de surpresa.

– Valeu Monique, mais eu já te expliquei que saque por cima não rola, a bola não vai, falta força sei lá. – justificou a garota.

– Ok, temos alguns dias pra tratar isso aí. – Monique não quis discutir. – Mais agora vamos escolher as equipes, misto hoje gente, Rodrigo e Roger escolhem, e rápido que o tempo corre. – a professora falou cheia de pressa, querendo despertar os alunos, que pareciam mais interessados no papo que tinham em um canto da quadra.

As equipes foram escolhidas um por um, até que Rodrigo se vê em um impasse, quando apenas duas das meninas sobram para completarem os times.

– Bora Rodrigo tua vez, anda logo, escolhe, Luciana ou Dani. – Monique tenta apressar o aluno que parece hipnotizado.

– Pô Monique, vai com calma, deixa o Digo pensar mais um pouco afinal é uma decisão complicada. – Glauco zoa o amigo da arquibancada acompanhado de Roger.

– E que decisão, a morena de olhos claros ou a ruiva. – Roger também caçoa da forma como Rodrigo coça a cabeça parecendo pensar na decisão.

– Rodrigo eu não tenho todo dia, vou descontar do intervalo hein. – Monique avisa, enquanto Rodrigo coça a cabeça pensando no que faria, Dani sorri toda convencida como se tivesse certeza da escolha do gato, e que seria realmente ela. Luciana não resiste à forma como Rodrigo a encara totalmente confuso e começa a rir do garoto, lançando uma careta risonha a ele que também acha graça da situação. Ela procura se conter principalmente quando se vê com ainda mais vontade de rir sem parar devido ao jeito que Dani parecia saltitar de alegria certa de que estava ganhando algo, o que soou ainda mais patético para ela, que sinceramente nem estava nem aí se Rodrigo optasse pela outra, não se rebaixaria a aquele ponto.

– Poxa Dani, me desculpa mais eu vou escolher a Lu. – Rodrigo foi obrigado a dizer sua decisão antes que todos os alunos encrencassem pelo atraso, apesar de ficar sem graça já sabia desde o primeiro instante que escolheria Luciana, só não soube muito como anunciar isso. – E também ela joga melhor que você né, é que eu quero muito ganhar do time do Roger, ele está me devendo à partida da semana passada. – ele esclareceu e foi sincero, pra não ficar tão mal com a outra garota acrescentou alguma desculpa.

– Tudo bem. – Dani não demonstrou estar abalada. – Ganha, que depois eu te dou tua recompensa. – ela disse toda exibida sorrindo para ele e indo se juntar aos outros de seu time. Luciana apenas fez cara de paisagem, pensando que se Dani continuasse com as provocações quem precisaria de prêmio seria ela mesma, alguém que lhe fizesse a caridade de carregá-la para fora da quadra, depois que ela fosse acidentalmente vitima de uma bolada sem endereço.

– E aí bora. – Rodrigo se aproximou dela alegre.

– Tá, já tou indo vou só ali. – ela parou com os devaneios de acertar a outra garota, e foi até Vera pedir um rabicó emprestado.

– É Dani, parece que tá difícil pra você a Luciana ganhou mais uma. – Krica afirmou quando viu a ruiva se aproximando.

– Até parece, não vou competir com essa ralé, ganho dela de olhos fechados. – Dani olhou irritada quando viu Luciana amarrando o cabelo sorrindo enquanto falava com Vera já no meio da quadra.

– Sei não hein, Rodrigo não larga da Luciana, nem do time de vôlei, ele deixa ela de fora. – Krica destilou veneno com tanta sinceridade.

– Gente acho que eu vou esperar, você sabe Rodrigo das meninas eu sou a pior aqui. – Vera ficou com receio de atrapalhar.

– Relaxa Vera, fica aí, vai pagar relatório pra Monique por nada, não né. – Luciana justificou, sabia que Monique não poupava ou se fazia aula ou se entregava um trabalho enorme. - É, e depois é só um jogo, nunca vai se matar por isso não. – ela disse suspirando, esperava estar certa mesmo.

– De modo algum, até porque eu quero viver muito ainda. – Rodrigo afirmou olhando cheio de audácia pra cima de Luciana, quando saiu de perto da rede e foi até as duas. – Não vai me agradecer. – ele perguntou com um sorriso brincalhão para Luciana, Vera riu da cara enojada que Luciana fez e saiu de perto, definitivamente não estava afim de ser a vela da história.

– Por que. – Lu olhou para ele séria. – Por você ter me escolhido, sinceramente Rodrigo, você acha mesmo que eu iria roer meu cotovelo por isso, me poupe né. – Luciana afirmou altiva esboçando uma risada irônica. – Sabe que é, sinto muito te informar, mas eu sou mais evoluída que certas pessoas, que se doem por nada, fazer o que né. – ela disse meio que aos sussurros chegando perto dele só para retribuir a provocação.

– É. – ele concordou risonho. – Mais evoluída, mais gata, mais decidida, e com certeza mais turrona também. – o rapaz provoca, segurando o braço dela no ar na altura do pulso. – Mais eu não estava falando disso não, pode acreditar. – Rodrigo contornou se explicando melhor.

– To falando do trabalho do Rubem, já viu as notas no mural lá na sala, se você tivesse teimado em fazer aquela última questão daquele jeito, nós teríamos ganhado cinco pontos a menos, nosso grupo, aliás. – ele afirmou todo debochado, Lu bufou impaciente com tantos rodeios para dizer uma simples coisa. – Pode se corrigir, e me agradecer eu deixo...

– Ai nojo, eu já te disse que essa tua marra toda, ainda vai ser motivo da tua morte. – Luciana fica estressada com a cara convencida que ele a olha. – Não se esquece que eu fiz também a outra metade ok, o empenho não foi só teu. – ela o lembrou não deixando ele sair por cima.

– Já sim, umas 500 mil vezes talvez, bom número pra você. – Rodrigo não discorda e ainda debocha, os dois acabam as risadas ignorando os demais em volta. – Mais só como ressalva, você também é muito teimosa, vai ver é por isso, a gente gosta um no outro exatamente aquilo que a gente não admite que é. – ele supõe fazendo a morena se calar, soltando seu braço que era segurado por ele devagar.

– Joga mais e fala menos, faz favor. – Luciana deu ordem querendo encerrar o assunto, apanhando a bola que estava no chão e lançando para ele com força, quando viu que o outro time já estava em posição.