Naquele momento, se sentia acabada.

Sentia-se como se suas pernas tivessem vida própria. O ar que entrava em seus pulmões nada significava. Sentia como se tudo ao seu redor apenas tivesse desmoronado. Toda a sua autoestima, toda a sua vontade de viver havia desmoronado, até nada mais sobrar que destroços.

No ônibus, sua vontade era deixar seu ponto passar – e o outro, e o outro, e depois dele. Queria encostar a cabeça no vidro, ligar seu fone de ouvido e deixar as ruas passarem por ela. Queria ir para outro lugar, qualquer lugar. Um lugar que ela não soubesse onde era, um lugar em que não pudessem encontrá-la. Um lugar para ela desaparecer lenta e silenciosamente, para que ninguém nunca pudesse achar ela.

Ela sabia que havia queimado a si mesma. Ateara fogo em seu interior – começara como diversão, como se queimasse barris dentro de si para ver a fumaça subir pela noite. Depois, o barriu virou, e o fogo foi consumindo tudo. As chamas estavam descontroladas. Ela não conseguia mais apagá-las. Tudo doía, o tempo todo. E depois, ficara só ela – uma pessoa vazia, sem nada. Sem sentir nada, sem pensar nada. E estava pisando nas cinzas que restaram de si.