Pov. Tom

Como sempre, eu e Ian fomos andando juntos à escola. Ainda não sei como conseguimos caminhar várias quadras sem problemas, mas quase nos matamos na educação física. Tudo bem, sempre arrumamos uma desculpa para não ir para essa aula, mas mesmo assim era algo curioso.

O único problema é que hoje uma coisa bem inusitada aconteceu. Enquanto caminhávamos e conversávamos sobre o quanto estávamos ansiosos para assistir  Batman vs Superman: A Origem da Justiça, o carro de Brad Shummer parou bem ao nosso lado. Claro que de cara nós não percebemos isso, mas aí ele nos chamou.

— E aí, querem carona? – perguntou. Podíamos ouvir uma música aleatória saindo de seu carro.

Ian ficara tão boquiaberto quanto eu com a pergunta. Olho para ele e faço uma pergunta em silêncio. “Deveríamos ir?”  Só pela sua expressão já podia saber o que ele estava pensando. “Nem vem! Isso não é algo normal de acontecer, cara. Deve ser alguma armação.”

— Então, vão ficar aí parados?

— Estamos considerando a questão. – falei, depois retornando a falar com Ian. – Vamos Ian, eu sei que você odeia ir andando pra escola e sempre fala o quanto legal seria ter um carro.

— Você está brincando né? Provavelmente ele vai querer nos usar para alguma coisa… – Ian sussurrou, mas não tão baixo assim.

— Ei, eu consigo te ouvir daqui. E não, não vou querer usar vocês pra nada. Só estou sendo educado. – afirmou o garoto. Ele nos olhava tão casualmente que não pude acreditar que estava mentindo.

Eu só havia dado algumas aulas particulares para ele essa semana, e nem éramos tão próximos assim.

— Tudo bem. – concordou Ian, relutante. Seu rosto estava tão vermelho que era quase engraçado. – Mas só porque esse tênis é novo e eu não quero estragá-lo.

Consegui ver Brad rindo de relance. Fiquei ligeiramente com raiva. O que ele estava achando, que éramos uma piada? Um bando de nerds inúteis? Ainda assim não entendia o motivo de sua boa ação hoje.

Mal havia pensado no seguinte: O que pensariam se chegássemos na escola com Brad Shummer? Com certeza as reações seriam as piores. Passei uma vida tentando ao máximo ser invisível, e tudo seria estragado hoje. A última coisa que eu quero é atenção indesejada.

— Por que você está fazendo isso? – pergunto. Isso saíra antes que eu pudesse impedir.

— Já disse, estou sendo educado. Não ajam como se fosse tão surpreendente. – ele deu de ombros, enquanto retornava a dirigir. Eu e Ian estávamos sentados nos assentos de trás, ainda perplexos.

— Não é todo o dia que um popular nos ajuda assim. – comento.

— Eu sou diferente deles. Não descrimino as pessoas por serem inteligentes. Na verdade, sempre achei que vocês eram bem legais. – nesse momento, Ian olhara pra mim com os olhos arregalados.

— Sério, então você arriscaria toda a sua reputação na escola só porque decidiu nos dar carona? – falou, finalmente, Ian. Ele ainda parecia cético em relação à isso.

— Essa coisa de reputação na escola é uma merda. Sinceramente, não acho que deveriam dividir os alunos assim. Qual é o ponto de ser popular se estarei machucando outras pessoas? E mesmo assim, isso não vai ajudar em nada no meu futuro.

— Você ainda pode ganhar uma bolsa para uma faculdade como jogador de futebol ou coisa parecida. – disse.

— Se eu fosse concorrer a uma bolsa, avaliariam como eu jogo e não como eu me relaciono com os outros. Não acha?  

Ficamos em silêncio por um tempo, que logo fora quebrado por Brad.

—  Vamos fazer um acordo? A partir de agora, sempre levarei vocês para escola.

— Não precisamos do seu favor, obrigado. – irritou-se Ian. Eu dei um soco em sua barriga.

— Adoraríamos. – falei.

Depois olhei para Ian, dizendo que conversaríamos sobre isso depois.

Mesmo convencido de que Brad não queria nos fazer mal, não estava afim de apanhar dos seus amigos, então eu e Ian decidimos que iríamos descer um pouco antes da escola. Brad perguntou se tínhamos certeza e concordamos.

— Qual é o seu problema?! – gritou Ian, no momento em que Brad saiu.

— O que foi? Você vai mesmo recusar carona todos os dias? O cara realmente tá tentando ser legal. – argumentei. Fiquei surpreso pelo fato de que eu estava mesmo defendendo um popular.

— Não importa, nós juramos cara. Vamos juntos para escola todos os dias. Para que nenhum de nós apanhe sozinho de pessoas como Brad Shummer! Eu sinceramente não estou mais te reconhecendo. – e então ele saiu bruscamente.

Não tinha ideia do que havia acabado de acontecer, mas eu sei que Ian ia esfriar a cabeça daqui a pouco e pedir desculpas. Não brigamos assim desde o jardim infantil. E mesmo assim, nem sei se isso foi mesmo uma briga.

Pov. Brad

Hoje eu havia iniciado uma boa ação em minha vida, decidi dar carona todos os dias para Tom Lewis e seu amigo ruivo. O garoto claramente não estava de acordo com aquilo, mas Tom concordou, então preferi deixar eles se resolverem sozinhos. Eu já havia entrado na escola e Amber ainda não havia aparecido, as coisas estavam indo incrivelmente bem.

Consegui realizar o caminho da entrada da escola até a sala de inglês sem a presença de conhecidos e tive paz ao perceber que a única pessoa com a qual eu tinha algum contado na sala era Tom.

Durante a aula nada interessante do senhor Miller pude notar a inquietude de Lewis e como nunca fui bom aluno mesmo, decidi chamar a atenção daquele que se encontrava a minha frente com o gesto mais adulto em que pude pensar: uma bolinha de papel.

Educado que sempre fora, Tom olhou para mim como se estranhasse e abriu o papel, pouco depois a bolinha voltou a mim com a belíssima (mas não) mira de Lewis.

“O que foi?” a bela caligrafia de Tom informava.

─ O que te deu? Parece até que brigou com o mundo. ─ Ele me olhou como quem dizia “Não é da sua conta”, mas respondeu mesmo assim.

─ Eu briguei com o Ian... Eu acho.

─ Como assim “Eu acho”? E quem é Ian? O ruivo do carro?

─ Não brigamos há muito tempo, então nem sei se foi uma briga e sim, é o ruivo do carro. Inclusive foi por causa dessas caronas que brigamos. ─ explicou.

─ Era só ter dito não, eu não os forçaria ou algo assim. ─ tentei defender-me.

─ É eu sei, o problema é que o Ian não se convence que você não vai matá-lo.

─ Eu nunca nem cheguei perto de bater em alguém sabia?

─ Nossa, me sinto muito mais seguro ─ ironizou ─ Diga isso para o ruivo.

Continuamos conversando sobre bullying, ou algo assim, até que a aula de inglês acabasse... Quem diria, eu conseguindo desenvolver uma conversa com Tom Lewis.