Delta Dog Days escrita por Bry Inside the Box


Capítulo 1
Capítulo Único: Um delta em um mundo de alfas.


Notas iniciais do capítulo

OIN GENTE! Bom, enquanto eu não posto "Fogo", que eu recomendo que, você, caro leitor que está lendo essa one, leia, estou postando esse pequeno conto que um querido amigo/marido pediu que eu escrevesse (Ele me obrigou, na verdade).
COMO SEMPRE, ROMANCE SHAUSHAUHSUHAS S2
Já sabem que eu adoro, né? Então, pois é :v
Espero realmente que gostem ;u; Um bejo pra todos e até outro capítulo de Fogo s2



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Kevin colocou o tradicional boné da sorte e fechou o zíper da calça. Eram mais ou menos seis e meia da manhã, mas a cama da desconhecida era tão desconfortável que as curvas dela não fizeram mais nenhum efeito sobre si. Calçou as botas de couro marrom estilo militar, abriu a porta e saiu da República feminina, a qual era estritamente proibida a entrada de homens. Não que ele ligasse, obviamente.

O campus estava quase vazio. Só havia algumas almas cambaleando, bêbadas, para chegar aos dormitórios e fingir que não estavam festejando há poucos minutos atrás, além de tentar disfarçar a ressaca nas aulas que começariam em cerca de um quarto de hora.

O universitário acenou para seu amigo, Isaac, um rapaz louro de moicano, extremamente alto e magro. Eram companheiros de quarto, por isso sempre conversavam sobre as mesmas coisas como, claro, garotas em potencial.

Mirou o chão. Havia um líquido grudento em sua sola que a fazia grudar na grama de um jeito irritante. Ele cheirava a perfume feminino e tinha spray de cabelo na sua mão. A noite rendera, mas as consequências não estavam sendo o mesmo.

Alguém o empurrou.

- Olha por onde anda, babaca!

Franziu as sobrancelhas e respondeu sem nem olhar quem poderia ser, somente supôs ser uma garota pela voz.

- Olha você, retardada da porra.

Virou-se e pôde ver a pessoa com quem trombou. Uma garota baixa – mais que ele, por incrível que pareça – correndo em trote. Usava um short alaranjado apertado e uma blusa preta curta e solta. Os cabelos escuros, mesmo num rabo de cavalo alto, eram compridos e demasiado lisos. Pele parda e um corpo que fazia a menina da noite passada parecer um boneco de palitos.

Ela virou a cabeça para Kevin; levantou os dois braços e, surpreendentemente, mostrou os dedos do meio para o rapaz. Um sorriso desafiador surgiu em seus lábios e, quando ele parou para olhar o rosto da desconhecida, o coração saiu do ritmo. Os olhos verdes possuíam formato de amêndoas, a boca era de um rosa extremamente claro, com lábios carnudos, o nariz era levemente arrebitado. Aquela pessoa, para Kevin, era como uma imagem da beleza do Céu e a tentação do Inferno.

Para ele, o mundo masculino se dividia em três categorias: Alfa, Beta e Delta. Kevin se considerava um Beta, pois ainda era novo e não possuía muita experiência. A classificação Alfa era somente merecida quando se aprendia tudo sobre as garotas, como manipulá-las, fazê-las querer ficar com você. Aquela garota, com certeza, era merecida de um Alfa. E ele se tornaria um somente para tê-la.

A moça seguiu seu caminho enquanto Kev ficou parado, hipnotizado. No momento em que decidiu correr atrás dela, o alarme do início das aulas soou. Xingou o maldito som e seguiu seu caminho para a primeira aula de Matemática Aplicada.

***

- Bom dia, pessoal. – A sala estava lotada, como sempre. O professor falava por um microfone. – Nós tivemos um comunicado de última hora de que o dono da universidade daria uma palestra a vocês, veteranos, sobre meios de descolar uma grana sem ter que viver o resto da vida num banco, infelizes e irritados com clientes chatos.

O bom de estudar um curso de exatas era a sinceridade com que os professores falavam sobre a vida. Eram tão frios e lógicos quanto uma equação. Os alunos se levantaram, o som dos pés descendo a escada era a única coisa que se ouvia, mesmo depois de Kevin ter saído de sua sala. Atravessou o longo corredor e, assim como as dez pessoas, esperou pelo elevador.

A porta abriu, Kev entrou e encostou-se na parede de frente para o espelho.

Havia olheiras profundas embaixo dos olhos castanhos. O cabelo estava todo bagunçado, ele estava péssimo, e não parava de pensar naquela garota com quem trombou de manhã. Em plenos vinte e quatro anos, só havia se apaixonado verdadeiramente duas vezes. Em uma, ele traiu a garota por ter sido drogado pelo ex dela, e na outra, ficou noivo, mas a noiva desistiu dele, pois, segunda ela, Kevin era “tão insensível quanto um tijolo”.

Não que ele estivesse apaixonado pela desconhecida. Ele não estava. Só achou-a gostosa. E encantadora. Mas era só isso. Não havia nada sentimental rolando. O fato de o coração ter saído do ritmo ao vê-la foi causado pelo estresse com... Com...

A porta abriu. Kev chacoalhou a cabeça e saiu. Ele, definitivamente, não estava apaixonado.

Pessoas entravam e saíam da sala de vídeo. Kevin subiu a escada até o topo e sentou-se na última fileira, na cadeira do canto esquerdo, onde a luz estava queimada e ninguém o via. Puxou o boné para cobrir os olhos, deslizou um pouco para baixo, fechou os olhos e preparou-se para dormir.

- Com licença, esse lugar tá ocupado?

Kevin bufou. Levantou o boné e olhou com desprezo para a voz. Péssima hora para ser mal humorado. Arregalou os olhos ao perceber que, a voz que fez a pergunta, era a garota pela qual ele estava... A garota da manhã, quer dizer.

Dessa vez, ela usava um vestido verde que era tão escuro quanto seus olhos. Os cabelos agora estavam soltos e desciam numa cascata até os cotovelos. Não havia mais volta, desculpa ou enganação: Ele estava apaixonado.

Ela abriu um sorriso e apontou para o rosto de Kev.

- Você é o cara que me chamou de “retardada da porra”!

O rapaz bateu a mão na testa tão forte que a sentiu queimar. O retardado era ele, afinal.

- Sim, sou eu. Desculpa por aquilo mais cedo, eu tava na fase da ressaca ainda.

A garota se sentou ao lado de Kevin.

- Eu que peço. Minha mãe costuma me dizer que meu pavio é curto demais e eu acabo saindo do controle em horas de estresse. – Estendeu a mão. – Prazer, Sophie Branwell.

Kevin estendeu a mão.

- Kevin Armstrong.

Sophie franziu as sobrancelhas.

- Tipo o...?

- Neil Armstrong? É, tipo ele.

- Parentes?

- Não, meu pai trabalhou na NASA. Quis dar o nome do melhor amigo dele para o filho.

- Ha, Legal.

Um silêncio deu lugar à conversa. O palestrante começou a conversar.

Kevin estava incomodado. A presença de Sophie deixava-o inquieto, atiçado, remexendo-se mesmo estando confortável. A mente estava uma bagunça, ele estava com calor, mas tremia, e, óbvio, o coração batia tão rápido que ele sentia os batimentos na veia da mão. Lutou contra a repentina vergonha e sussurrou:

- Você é do curso de matemática? Nunca te vi lá.

Sophie negou.

- Eu sou novata: primeiro ano. Faço Artes Plásticas.

Naquele momento, Kevin a imaginou posando (Nua, claro), sendo modelo para uma escultura. O calor aumentou.

- Gosta de qual tipo de arte?

- Impressionista. Renoir é meu pintor preferido. Adoro os quadros dele, são tão...

- Alegres e coloridos a ponto de fazer você pensar de que pode ser feliz na vida como as pessoas retratadas?

Sophie o olhou. Estava com os olhos brilhando e um semblante assustado. Kevin notou um broche do Green Day numa bolsa pequena que ela carregava. Era destino, talvez, eles terem o mesmo broche nas bolsas?

- Exatamente. – Olhou para baixo por alguns segundos, depois fitou Kevin com intensidade e... Atração? Ele tinha certeza que não era aquilo. Mas sua mente o convencia de que sim. – Você quer... Sair daqui e ir a um lugar proibido?

***

Atravessaram metade da cidade. A sujeira no sapato de Kevin fez com que a terra grudasse, e agora suas botas pretas estavam marrons. A palestra acabara faz tempo, segundo seu celular, e eles ainda não haviam chegado ao tal “lugar proibido”.

Caminhavam em silêncio. Não era desconfortável; muito pelo contrário, chegava a ser um silêncio tão bom de não se ouvir. Estava anoitecendo, Kevin já enxergava algumas estrelas e a lua em fase minguante. Há alguns anos, vera um curta-metragem na Disney sobre um pai, filho e neto, no qual eles eram responsáveis em moldar as estrelas para que iluminassem a Lua e trocassem suas fases; Kevin imaginava se era assim mesmo que as coisas aconteciam lá em cima.

A voz de Soph tirou-o dos devaneios.

- Chegamos.

A garota subiu a saia do vestido e, enquanto Kevin olhava a calcinha roxa de renda de Soph, a mesma retirou uma chave de uma espécie de bolsa presa na cintura. Abaixou o tecido e, então, percebeu para onde o rapaz olhava.

- Vou começar a cobrar se ficar olhando desse jeito.

Kev pigarreou, tentando disfarçar o momento constrangedor, e apontou para o objeto nas mãos de Sophie.

- Pra que essa chave?

Seguiu com os olhos enquanto ela procurava uma fechadura numa espécie de porta que se camuflava com uma parede inteiramente preta. Achou-a e, com um movimento, abriu a porta. Olhou e percebeu que estava escrito “Somente Funcionários” na mesma. Começou a se sentir ameaçado. Ele sabia para onde estavam indo: O Aquário da cidade, uma espécie de lugar esquecido pelo mundo.

- Por que estamos aqui?

Soph colocou o indicador na boca de Kevin e o fitou com um olhar firme. Claramente, deveriam fazer silêncio de novo. Sentiu sua mão ser pega pela moça e, enquanto andavam no escuro, Kevin pensava no quanto pequena era a mão dela. E confortável, como se a única coisa certa naquele mundo fosse segurar sua mão.

- Sente-se. – Pediu ela, e sumiu no escuro enquanto Kevin ajeitava as pernas.

Segundos depois, uma forte luz atingiu seus olhos. Esperou um pouco para que os olhos se acostumassem e, quando percebeu, Sophie estava sentada a seu lado, fixando-se na tela com um olhar profundo.

Geleiras apareceram. Kev não entendia nada. Vários pinguins fazendo sons que, pensava ele, eram irritantes. Fêmeas com ovos sendo segurados pelas pernas e machos emitiam os sons estridentes.

- O que tá acontecendo? – Sussurrou o rapaz.

- Shh.

A cena mudou. O pinguim que pelo jeito era o macho – Kevin não sabia diferenciar – andava pela praia e parava durante alguns momentos para pegar pedras com o bico. A mesma cena continuou por cinco minutos. Sophie começou a falar:

- Quando os pinguins machos querem conquistar uma fêmea, eles procuram a pedra mais bonita da praia inteira para dar a elas, como um sinal de seu amor.

O pinguim da cena segura uma pedra oval transparente com algumas manchas alaranjadas e douradas. Em seguida, começa a caminhar até sua fêmea novamente, Kevin notava.

- O problema disso, de querer homenagear o amor – Continuou ela em sussurros. -, é que às vezes os machos se empenham tanto nisso que, quando voltam...

A cena finalmente muda. O pinguim, ainda com a pedra, encontra sua fêmea, que “gritava” de modo ensurdecedor para suas pernas. O macho anda o mais rápido possível para perto e larga a pedra perto dela. Quando a mesma abre as pernas, vê-se o ovo aberto e um filhote de pinguim claramente morto, congelado. Kevin entendeu o motivo de Sophie ter parado a frase.

- Quando voltam, já é tarde demais. – Olhou para a cena. Uma das mais tristes de sua vida. A sinceridade com a qual o desespero dos pinguins era retratado deixou Kevin envergonhado: Enquanto ele estava ali, “insensível como um tijolo”, Sophie derramava lágrimas.

- Já vi essa cena tantas vezes que perdi a conta. – Contou. A fala se misturava com o choro, gerando uma confusão de palavras. – E todas as vezes que vejo, o aperto no peito aumenta gradativamente. O quão bonito e puro é isso? Esse amor incondicional por algo que nem é raciocinado direito? E depois ainda dizem que animais como esses são irracionais. Irracionais somos nós, que desperdiçamos sentimentos como esse em troca de egoísmo, orgulho, rancor, preconceito e ceticismo.

Kevin não sabia o que falar. Não se encontrou pronto para algo tão pesado e sentimental vindo de surpresa. Como uma resposta silenciosa, abraçou-a. Soph chorava em silêncio, baixinho, como se o escuro pudesse esconder sua tristeza. Crispou os lábios em nervosismo.

- Tenho certeza de que, se você fosse um pinguim, Sophie, não haveria pedras dignas para te dar ou demonstrar o amor com o qual você deveria ser amada.

O filme se apagou. Sophie suspirou em soluços e Kevin sentiu os braços da garota mexendo-se. Notou que os mesmos seguravam os braços dele. O que não notou foram os lábios dela tocando os seus; tão suaves que mal eram sentidos, como seda sobre a pele.

Não durou mais de três segundos.

- Meu Deus... – Ela sussurrou visivelmente chocada. – Não era pra isso ter acontecido.

A jovem se levantou e saiu correndo, deixando-o no escuro. Não falou mais nada. Kevin ainda estava com os braços abertos.

- Sophie... Não! – Gritou. – Eu não sei sair daqui!

***

Abriu a porta da cafeteria. O rosto carrancudo, como sempre. A mente girava em torno dos lábios de Sophie, que simplesmente desapareceu depois daquela noite. Não houve explicações depois. Kevin esperou durante uma semana o lugar pelo qual a encontrou correndo no outro dia, mas ela simplesmente não passava mais por ali. E ele não sabia se era porque não queria encontrá-lo ou se, assim como ele, “não sabia como sair”.

- Boa tarde! – A atendente cumprimentou alegremente.

- Um mocha gelado com baunilha e café extra forte de setecentos mililitros. Sim, eu vou pagar um e cinquenta a mais pelo dobro de cobertura.

Havia deixado a moça baixinha a sua frente sem fala.

- Tu-tudo bem. Mais alguma coisa?

- Não. E é pra viagem.

- Ok.

Em passos arrastados e claramente preguiçosos, escorou-se no balcão enquanto assistia à moça fazer o pedido. Terminado o café, deu-o a Kevin. O mesmo saiu pela porta sem agradecimentos ou esperar um.

Sentou-se no mesmo banco que vinha sentando há seis dias. Eram seis e quatro da manhã. Tomou um gole do líquido gelado e notou um número de telefone com o nome Mendy escrito e um coração ao lado. Cogitou ligar para a atendente, mas os olhos de Sophie vieram à sua mente e, como um feitiço, esqueceu-se de Mendy completamente.

Olhou a tela do celular: Sete e meia. Novamente, Soph não apareceu. Pelo jeito, ela havia saído do escuro enquanto ele ainda estava lá, com os braços abertos e olhos arregalados.

Levantou-se e caminhou até o prédio principal. Mataria aula e tomaria seu mocha em paz no telhado da universidade. Cruzou o corredor para o elevador, apertou o botão e esperou a porta abrir.

Ela se abriu enquanto Kevin tomava o café. Quando olhou para a cabine, engasgou.

- Oi.

Lá estava Sophie. Calça vinho cós alto e um cropped preto com estampa de renda dourada. O cabelo preso desleixadamente e óculos armação estilo gatinho, os olhos opacos. Nos lábios, um batom cor vinho.

- Oi.

Kevin entrou no elevador. A porta se fechou e ele abaixou o boné, como que se não a visse, ela não existia. Mas ela estava ali, e estava linda como ele se lembrava. Sentia o elevador subir, mas ainda faltava muito para chegar ao telhado. Ainda faltava muito para aquele sufoco acabar.

- Vai me ignorar? – Perguntou ela irritada e, imperceptivelmente, magoada.

- Não fui eu quem fugiu.

Ouviu-a suspirar. Aquilo havia a atingido bem no centro.

- Eu não queria ter fugido.

Estressado, o rapaz levantou o boné. Olhou-a rigidamente. Entretanto, assim que viu os olhos dela marejados, enfraqueceu.

- Por que fugiu, então?

Sophie olhou para o chão. Não moveu um músculo.

- Eu estou noiva.

Repentinamente, o chão pareceu desaparecer para Kevin, como nos filmes de ação. A diferença é que, ali, não havia nenhuma perseguição, só um coração sendo partido. Não falou nada, muito menos ela. Sua cabeça ainda estava processando a informação. Então seria assim seu primeiro amor o qual realmente ele pensou ter valido a pena? Curto, enganoso, destruidor?

Sentiu-se como o pinguim. Realmente, nenhuma pedra estava à altura de Sophie e seu sonho impossível com ela.

Abriu a boca. Fingiria que não estava sentindo nada, se desculparia pelo beijo e diria que não havia sido nada demais. Mentir era a atadura mais rápida para um coração quebrado. E era a mais fraca também, a que sairia mais rápido e deixaria o sangue escorrer novamente, o rancor ser construído, o egoísmo aumentado, o orgulho ferido, o preconceito aguçado e o ceticismo usado como barreira para mais decepções.

As luzes se apagaram e Kevin sabia que o elevador havia parado. Os anjos comemoravam sua desgraça. Estavam no escuro novamente.

- Eu sinto muito, Kevin.

Ele sabia que a voz vinha de seu lado, mas não havia nenhum movimento ali, nenhuma expressão visível.

- Eu sinto mais.

Escorregou, sentando no chão. Sentiu Sophie sentar a seu lado e colocar a mão sobre a sua. O toque agora, entretanto, não parecia certo.

- Eu te levei para o aquário por justamente esse motivo. Eu queria provar a mim mesma de que você era só mais um interesse que eu sentia graças ao meu relacionamento monótono. – A voz começou a falhar. E Kevin sabia que aquilo era sinal de lágrimas. – Mas não foi isso que eu senti. E eu sei que não foi isso que você sentiu também. Foi especial, muito mais do que quando eu fui lá com meu noivo. Você soube entender o que eu estava sentindo, o que eu queria que todos vissem com o vídeo. Você soube me decifrar, coisa que ninguém soube. E é por isso que eu fugi: porque eu não posso ser decifrada por alguém que não pertence a mim. Alguém a quem eu não pertença.

Kevin sentiu o coração murchar, como se fosse um balão e Sophie possuísse a única agulha no mundo inteiro capaz de estourá-lo. E ela o fez sem dó ou piedade. Tomou o café em suas mãos e o estendeu para Sophie, que o tomou. Sorriu com o pensamento de aquilo ter sido um beijo indireto. Depois percebeu o quão estúpido era. Ele e o pensamento.

- Olha, Sophie, eu tenho vinte e quatro anos. Eu vivi cerca de um quarto de uma vida. Eu nunca havia sentido esse... Esse furacão interno que estou sentindo agora, destruindo tudo que eu me apoio e me baseio. – Ela estava chorando. Ele continuou contra vontade. – Eu não acredito em alma gêmea, mas se há uma nesse mundo pra mim, ela é...

As luzes voltaram. A porta do elevador abriu e, como uma miragem, um rapaz alto apareceu. Muito alto, aliás, o tipo que humilhava Kevin. Usava uma blusa do Green Day – a banda deles. Ao julgar pelo olhar com que o desconhecido fitava Sophie, ele deveria ser o noivo. O Alfa que humilhou os sentimentos de Kevin. Ele percebeu que não estava nem perto de ser um Alfa e muito menos um Beta. Ele era um Delta, um vergonhoso e minúsculo Delta. O noivo de Sophie correu até ela e abraçou-a, sussurrando carinhos.

- Meu docinho...

Quando Kevin finalmente percebeu que não havia mais lugar para ele ali, levantou-se, saiu do elevador e cruzou o corredor novamente. Não havia chegado ao teto e tomar o mocha não importava mais. Colocou os fones de ouvido e selecionou “Stray Heart”.

Saiu do prédio com a música no volume máximo, os ouvidos doendo com o som. Mas não se importava naquele momento: seu coração doía mais. Sophie Branwell, sua paixão relâmpago, pisou e chutou o coração de Kevin Armstrong. Ele conseguia ver o membro rolando pela grama e indo à rua, depois sendo esmagado por uma mini-van, a qual Sophie dirigia. Sentou-se no banco do ponto de ônibus e fechou os olhos com força, tentando esquecer todos aqueles dias, tentando esquecê-la. Mesmo assim, ele possuía a certeza de que não a esqueceria; afinal, ele era somente um Delta num mundo de Alfas.

“Ela é você”, ele completou a frase que deveria ter dito à Sophie. “Minha alma gêmea é você”.

***

Kevin ajeitou a grava borboleta vermelha listrada que combinava muito bem com o semblante de idoso que ele possuía. Passou o pente pelos cabelos, agora brancos, e colocou o boné antigo, que ainda possuía aquele cheiro. O cheiro dela.

Era seu septuagésimo quarto aniversário. E, em todas as vezes que ele colocava aquele boné, lembrava-se dela. O jeito como o insultou sem temer a consequência e como ela o tratou especialmente durante aqueles curtos e incansáveis dias. Dias que ele daria tudo para voltar e refazer do jeito certo.

Colocou a mão no bolso do paletó e retirou a foto que roubou da ficha da jovem. Os cabelos negros escorrendo pelos ombros e os olhos de uma floresta na escuridão sem fim. Depois de cinquenta anos, ainda não havia saído daquela escuridão, e não pretendia sair até quando não tivesse mais escolha.

Molly, a neta mais velha de seu filho, entrou no quarto e tirou a foto de suas mãos. Ela não era segredo, mas também não era algo para se exibir. Quando se importa de verdade com algo ou alguém, faz-se o máximo para deixar que ninguém veja, que ninguém roube. Não mais do que já havia sido.

- Quem é ela? É a vovó?

A voz de Molly era doce e inocente, lembrava-o da noite no aquário.

- É uma antiga amiga. – Respondeu, a jovem o olhou desconfiada. Não lembrava por causa da idade, mas Molly deveria ter mais ou menos a mesma idade que ela. – Alguém muito importante.

- Você deve amá-la muito por ter guardado a foto por tantos anos.

Kevin pegou a foto das mãos da neta e guardou-a no local onde sempre esteve: O bolso esquerdo. Afinal, era mais que merecido que estivesse ali, em cima do primeiro local que Sophie conquistou. E que ainda conquista.

- Sim, eu a amo. Só queria que ela soubesse isso.

“Tudo que eu quero, eu quero de você. Mas eu apenas não consigo te ter”.


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Notas finais do capítulo

Vocês provavelmente não devem ter gostado do final :v
FOI CULPA DO MEU AMIGO, ELE QUEM PEDIU PARA QUE SOPH E KEV NÃO FICASSEM JUNTOS, XINGUEM-O NOS COMENTÁRIOS S2
Enfim, eu vou começar a escrever o capítulo IV de Fogo amanhã, onde eu vou explicar o mínimo DO MÍNIMO do contexto da fanfiction :3
Enfim... Não se esqueçam de comentar, acompanhar... AH, VOCÊS SABEM QUE TEM QUE FAZER ISSO, NÃO SABEM? ENTÃO FAÇAM PORQUE EU SEI QUE QUEREM IR PRO CÉU. TÁ CALOR E NINGUÉM QUER SATANÁS SOPRANDO FOGO NO POPÔ (A não ser que sejam a Anastasia, aí eu perdoo)
ADEOS S2 BEJOS BEJOS BEJOS S2