Capítulo VI

O sol batia no meu rosto de uma forma intensa, forçando-me a acordar. Era sábado de manhã e eu estava super cansado. Conseguir arranjar tempo para estudar, treinar, praticar violão e ainda fazer as tarefas domésticas era bastante difícil para mim. Já que a minha mãe passava a maior parte do tempo fora, e eu era a única pessoa cá em casa que podia fazer as tarefas de casa, tipo cozinhar e até mesmo fazer limpezas. O ordenado da minha mãe não era mau, mas ainda assim não chegava para pagar a alguém que ajudasse com as lidas domésticas.

Eu cambaleava pela casa enquanto tentava acordar realmente. Jason já estava na sala a assistir desenhos animados, enquanto comia cereais. Assim era menos uma coisa para eu fazer.

Como estava com preguiça de preparar algo melhor, limitei-me a fazer o mesmo que Jason. Peguei numa taça, coloquei alguns cereais e reguei com leite.

Depois de algum tempo, eu estava finalmente acordado. Tinha tomado um duche e o meu cabelo ainda estava molhado, mas eu era realmente preguiçoso e não me apetecia ter de o secar. A minha mãe sempre resmungava comigo por causa disso. Dizia que assim eu corria mais risco de ficar doente. Mas a verdade é que eu nunca ficava. Raramente fico doente.

Através da porta da varanda, eu conseguia ver Catherine. Apesar de ter as cortinas fechadas, eu conseguia ver a sua silhueta. No dia anterior ela estava parada na porta, com as cortinas fechadas, olhando para mim enquanto tocava violão, apenas com uma toalha enrolada. Certamente ela não sabia que eu a conseguia ver. Como o meu cabelo é meio longo na franja eu consigo perfeitamente ver por detrás dela, sem que ninguém repare.

Catherine é uma pessoa surpreendente. Desde que eu a vi que percebi que ela não igual às outras garotas. Ela é firme e forte, mas ao mesmo tempo, ela continua a ser uma garota frágil. É muito fácil deixá-la corada, e desde que eu descobri isso, eu comecei a tirar proveito disso. Eu gostava de a ver assim. As suas sardas ficavam ainda mais bonitas com o seu rosto vermelho. Catherine foi a primeira garota que negou um convite meu para sair. Todas as outras aceitavam sem pensar duas vezes, mas ela negou. Realmente ela é incrível. Com toda aquela tempestade em forma de mulher eu já aprendi muita coisa. Eu nunca antes tinha tido vontade de proteger uma garota, e com ela eu senti isso. Quando ela teve a discussão com o seu pai, e eu a vi chorar daquela forma, eu senti que tinha de parar as suas lágrimas. Era quase como se cada lágrima que ela largava fosse uma farpa em mim. Custava-me muito vê-la assim, tão frágil.

– Podes parar de me espiar? - Catherine falou aproximando-se da sua varanda, fingindo estar irritada.

– Se quiseres também me podes espiar... Eu não me importo que tu me vejas a andar nu pela casa... - Falei sorrindo. Imediatamente ela soltou uma gargalhada. A sua gargalhada não era suave, era forte e barulhenta, muito diferente do que seria de esperar de uma garota.

– Que horror! Agora também me queres deixar traumatizada?! - Ela respondeu recuperando o fôlego.

– Sim, sim... Dizes isso porque ainda não viste... - Respondi fazendo várias poses para a garota.

– Não pretendo ver, obrigada na mesma... - Catherine falou com a mão esticada na minha direção - Olha, vou acabar o que estava a fazer... Vê lá se paras de me espiar! - Falou enquanto entrava em casa.

– Espera! - Falei um pouco mais alto do que eu queria - Tenho um convite para te fazer! - Perguntei.

– Não em vais dizer que é um encontro pois não? - Catherine respondeu erguendo uma sobrancelha.

– Só chamas encontro se quiseres... Eu diria uma ida ao cinema entre amigos. - Falei. Eu realmente queria que ela aceitasse, mas estava a ser mais difícil do que eu esperava - Anda lá!

– ... - Ela bufou - Tu és realmente chato!

– Não foi isso que eu perguntei... - Olhei-a sério. Eu pensava que ela não queria sair comigo por causa da minha fama de "playboy". Eu nunca fui algo assim. Nem tive tantas namoradas como dizem, é só que as garotas vivem dando em cima de mim, e isso acabava por manchar a minha reputação. Eu nunca me tinha importado com isso antes, mas com Catherine, tudo era diferente - Queres?

Catherine permaneceu durante imenso tempo encarando-me séria, talvez tentando saber se eu estaria mesmo a ser sério com ela. Provavelmente ela tinha medo que eu simplesmente estivesse a fazer aquilo para brincar com os sentimentos dela. Por isso é que eu a admirava tanto. Ao contrário da maioria das garotas, ela pensava. Se fosse uma qualquer, aceitaria de imediato só para ter a chance de dizer às amigas que saiu com alguém.

– Porquê? - Ela perguntou. Realmente ela tinha me surpreendido com aquela pergunta.

– Não entendi... - Falei confuso.

– Porque é que queres sair comigo? - Catherine falou com uma expressão séria. Ela aguardava resposta, olhando-me fixamente.

– Eu sei lá! - Respondi dando ombros. Imediatamente, ela deu meia volta e saiu em direção ao seu quarto. Como eu não queria que ela ficasse com uma ideia errada sobre mim, eu logo chamei a sua atenção - Se tu tens medo que eu esteja a fazer isto só para gozar contigo, podes estar descansada. Eu não sou esse tipo de pessoa. Eu estou a convidar-te porque eu realmente quero sair contigo... Agora não me perguntes porquê. Eu já não serei capaz de te responder a essa pergunta.

Catherine permaneceu imóvel, ouvindo as minhas palavras. Ela estava de costas para mim, por isso eu não consegui ver a sua reação. Eu analisava cada movimento seu, aguardando uma resposta.

– Sendo assim... Eu acho que não há problema em sair contigo... - Ela respondeu por fim olhando-me por cima do seu ombro. Ela sorria levemente, talvez aliviada por saber que eu estava a ser realmente sincero com ela.

– A sério?! - Falei surpreendido. Eu já estava prestes a acreditar que nunca iria conseguir sair com ela.

– Sim - Catherine falou virando-se na minha direção.

– Amanhã? - Perguntei ansioso.

– Amanhã?! - Ela perguntou surpreendida.

– Sim... Se não quiseres, podemos combinar para outra altura... - Falei dando ombros.

– Não, pode ser amanhã - Falou sorrindo. O seu sorriso arrasava tudo. Ainda que fosse um sorriso bastante leve e subtil, ele deixava-me completamente sem jeito.

– Muito bem! Às 15 eu vou aí buscar-te... - Falei sorrindo. Eu não conseguia esconder o contentamento que estava a sentir naquele momento.

– Sabes que não precisas de me vir buscar... Podemos nos encontrar lá fora... - Ela falou sorrindo novamente.

– Eu sei. Mas assim tem mais piada... - Respondi por fim.

Depois de muito esforço eu tinha finalmente conseguido. Nunca antes eu tinha ficado tão ansioso por um encontro antes. Sempre achei que ficar nervoso com um encontro era coisa de menina, mas de facto não era. Por mais que eu tentasse, eu não conseguia controlar a felicidade que estava a sentir. Realmente Catherine fazia-me ver o mundo de uma forma totalmente diferente. Eu gostava mesmo dela.