O vento sussurrava violentamente, fazendo as folhas das árvores tortas do enorme jardim sombrio balançarem, assim como seus cabelos azuis opacos que insistiam em bater em seu rosto pálido enquanto as janelas e portas da mansão imponente a sua frente mal se mexiam.

A mulher de olhos cor de sangue, que mais parecia um boneca, suspirou irritada, fazendo suas feições se compararem a de uma patricinha mimada;

Não acreditava que depois de tudo que havia passado, iria voltar para os braços dele como se nada tivesse acontecido.

Ele não a merecia, sabia disso, mas mesmo assim insistia no erro;

Por quê, perto dele, somente dele, Arisa deixava de ser a vampira manipuladora e sanguinária que era;

Não podia deixar de se arrepender por isso;

Devia ser algum defeito, alguma deficiência deixada por sua metade humana a tanto tempo morta em algum lugar dentro de si.

Afinal, havia abandonado sua família por ele,sua rotina pacata por ele, sem falar em seu tempo.

Ah! O século XVIII, onde o sistema machista predominava entre todas as coisas!

Não que hoje fosse diferente, lembrou-se de quando leu em uma de suas inseparáveis revistas de fofoca que dois filhos de grandes empresas de automóveis haviam se casado, ficou o que lhe pareceu horas encarando o sorriso falso da mulher loira em um lindo vestido branco cravejado de pedras preciosas na foto.

"Pobre infeliz." Lembra-se de ter pensado, já havia passado por isso afinal.

Quem visse aquela mulher esguia,com aparentemente dezessete anos de idade, de postura ereta e olhar trêmulo e ao mesmo tempo obstinado nunca diria que, na verdade, se tratava de uma pessoa de sangue real, uma jovem e inocente monarca que havia deixado tudo para trás para viver com um demônio sádico que nunca a amou de verdade.

"Daria um belo roteiro de filme, a burra apaixonada que fugiu um dia antes do casamento para viver sendo usada por um bastardo nojento que, ironicamente, nunca deixou de amar." Pensou amarga.

Um dia, talvez finalmente conseguisse matá-lo e acabar com seu sofrimento, sonhava com isso, mas sabia que nunca iria acontecer;

"Uma vez idiota, sempre idiota!" Sussurrou ferida, suspirando e agradecendo a todos os seres do submundo que sua situação não a permitisse desabar em lágrimas.

Afinal, vampiros não tinham sentimentos, ou pelo menos não eram para ter, era por isso que não conseguia entender o amor que ainda insistia em nutrir pelo desgraçado que a transformou naquilo.

Ao que indica,Cristina, a leiga, como foi apelidada por seu povo, nunca foi boa em lidar com sentimentos, muito menos com pessoas "reais", afinal, passava tanto tempo enfurnada em livros de romances que quase nunca era vista pelo enorme castelo que habitava.

Torceu a cara, odiava como era chamada e o nome que seus genitores lhe deram parecia demasiado exagerado, talvez por isso resolvera "mudar de nome", optando por algo mais simples.

Arisa era bonito. Gostava da sonoridade...lhe era...comum?

Percebeu que fazia papel de ridícula parada na frente do portão de metal bonito,pois sabia que ele já notara sua presença, e, provavelmente já estava esperando por ela em sua cama king size enquanto se masturbava.

Afinal, era só para isso que ainda servia para ele, ser usada, tanto como inteligência estratégica como brinquedo sexual.

Não que se importasse com isso, pelo menos ele não havia a expulsado ainda, como fez com as outras esposas.

Esposas, ou melhor, idiotas que ele iludia.

Tomou coragem e abriu o portão de uma só vez, não queria fazer isso, mas estava-ou simulava estar- nervosa e com vontade de vê-lo depois de tanto tempo.

Dois meses,para vampiros normais, eram como dois minutos , mas para ela pareciam uma eternidade, lembrava de ter saído furiosa mais uma vez depois de um dia inteiro de algo que adoravam fazer prometendo nunca mais voltar, como sempre fazia.

"Vaca, mil vezes vaca." Era só o que conseguia pensar, não devia estar surpresa , se humilhar para ele já virara rotina.

Correu por aquele espaço tão conhecido por ela, sem se preocupar de cumprimentar seus "servos", finalmente algo normal naquele, sua ignorância rotineira perante aos outros.

"Pensei que não voltaria mais, Arisa." Aquela rouca e apaixonante voz inundou seus ouvidos quando fechou as portas de carvalho, quase a fazendo suspirar de saudade. "Saiu tão furiosa que pensei que desta vez seria de verdade." Levantou-se da cama com uma velocidade sobre humana , se pondo de frente a ela, roubando seus lábios enquanto já tirava seu sobretudo.

"É, mas se enganou..." Falou, com as mãos em seu pescoço frio enquanto mordia seus lábios sensualmente enquanto se deixava ser levada para a cama.

Se para ficar perto dele seria somente para ser usada, abdicaria de seu femininismo hipócrita e o faria.

Pelo menos, ele não a havia chutado como fizera como as outras, era um bom sinal, certo?

Gemeu, sentindo aquelas mãos frias, que para ela eram tão quentes retirarem seu sutiã enquanto ansiava pelo que viria a seguir.

Ela era a maior idiota que já havia existido, e, infelizmente, gostava disso.