The curse among us escrita por Serena


Capítulo 4
Runaway


Notas iniciais do capítulo

{revisado — 19/05/2017}



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— Lily! — Sou despertada com o berreiro intensivo de Blaine. Sua voz enérgica ecoa por todo o cartório, o que apenas ascende a minha confusão. Ele me ajuda a levantar e me sinto grata por ter a capacidade de correr em meio a toda esta desordem. Assim que tomo coragem de olhar para trás, posso detectar vários homens armados com escopetas e espingardas. Eles não são infectados, não são militares, muito menos Vaga-Lumes. Quem são eles?

— O que está acontecendo? — Me permito dizer. Blaine para de correr por um instante para atirar em um dos homens e ele somente dá de ombros, tão confuso quanto eu. — Onde estão Will e Cassandra?

— No andar superior — berra Blaine. Um tiro passa de raspão em meu braço e sinto uma ardência inexplicável logo após. Já levei alguns tiros antes, mas faz muito tempo, acho que me desacostumei com eles. Nós subimos as escadas o mais rápido que podemos, ziguezagueando nossos movimentos para que os tiros sejam nulos. Eles são péssimos atiradores, mas ainda assim me assustam.

Blaine me puxa de repente pelo braço ferido, o que me faz berrar de dor. Nós entramos em uma sala em que estão Will e Cassandra, fechamos as portas duplas e, enquanto isso, Cassandra empurra uma estante enorme para bloquear a passagem. Ela respira por um momento para retomar fôlego.

— Eles são Caçadores — explica Cassandra, olhando em volta para procurar uma saída. — É a última moda do país. Sequestram e fazem armadilhas para pessoas como nós, eliminando sem dó nem piedade, apenas para se apossarem de nossos suprimentos. São perigosos, mas um pouco de esperteza pode confundi-los com facilidade.

— Esperteza? — penso alto. Todos me contemplam e eu concluo com um sorriso ardiloso no canto direito do lábio. — Acho que sou boa nisso.

— Está bem, Srta. Esperteza — diz Blaine. — Qual é o plano?

Tiros na porta.

Olho em volta. Tudo parece estar girando quando o habitual olhar  de desdém de Blaine se mescla ao som trovejante dos tiros de espingarda. Bastaram outros três tiros de escopeta para que as portas duplas fossem estraçalhadas por completo. Blaine e Cassandra atiram o máximo que podem contra os Caçadores enquanto eu penso em uma tentativa de escaparmos.

— A janela! — berro em meio a todo o tiroteio. Minha voz soa fraquinha comparada aos tiros, mas todos os três escutaram.

— Você está maluca? — grita Blaine de volta.

— Não, idiota! — respondo, sentindo a vermelhidão ardente da raiva se alastrar pelo meu rosto. Ele também está vermelho, mas não sei se é raiva ou constrangimento. — Há um prédio conectado ao lado deste, se passarmos pelo parapeito com cuidado nós conseguimos chegar até a construção.

— Tudo bem, ela está certa — interrompe Cassandra, atirando em uma cabeça. O meu braço está sangrando muito. Quando estivermos em um lugar seguro é bom que eu faça um torniquete. — É a nossa única chance!

Levo Will até a janela e o ajeito no parapeito. Ele vai se esgueirando até o outro prédio enquanto Blaine e Cassandra nos dão cobertura. Arrumo o arco em minhas costas e afirmo a cinta de minha aljava, subindo no parapeito logo após. Depois vem Blaine gritando, já que levou um tiro de espingarda no ombro. Ele vai se esgueirando às minhas costas, um pouco desengonçado pela dor. Tudo gira, tudo gira.

Quando Cassandra está para subir, o parapeito começa a rachar. Ela não se importa e sobe mesmo assim. Will consegue entrar pela janela do outro prédio e eu já estou muito próxima, pronta para entrar. Em seguida, um mau pressentimento eclode em meu peito e logo o parapeito que segura Cassandra desaba.

Mas ela não cai.

Blaine a segura pelo braço e grita, talvez pela dor em seu ombro ferido. Os Caçadores — tanto do lado de dentro quanto do lado de fora — atiram em nós. Eles não acertam, mas estou em pânico o suficiente para cair daqui. Os Caçadores do lado de fora não estão bem armados, os únicos que estão armados manejam uma pistola ou um revólver e a maioria carrega consigo uma arma branca.

Assim que alcanço a janela, o pequeno Will me puxa para dentro do prédio. Blaine consegue, enfim, levantar Cassandra até o parapeito, mas sua perna leva outro tiro. Eles estão morrendo, eu preciso fazer alguma coisa. Eles simplesmente não conseguirão vir até aqui nessas condições. Pense, Lily, pense!

— Blaine! — grito. — Por que você não os dá um coquetel? Seria educado de nossa parte!

Ele entende o trocadilho. Blaine arranca uma garrafa preparada da mochila e acende o pavio com um isqueiro; está prestes a cair do parapeito quando atira o coquetel Molotov contra os Caçadores de dentro. Eles gritam em chamas e tiro o arco das minhas costas, fisgando uma flecha com os dedos.

Miro em um do lado de fora e atiro. A flecha vai certeira na direção de seu olho.

— Venham, venham, eu dou cobertura — grito. Blaine vem engatinhando pelo parapeito e Cassandra faz o mesmo.. — Tentem ser mais rápidos, a mira deles não será ruim para sempre!

Acertam um tiro em Blaine na altura do joelho. Um na coxa de Cassandra. Eles vão morrer!

— Lily, sai da frente! — berra Will. Ele toma a dianteira e lança quatro latas contra os Caçadores lá de fora. Em seguida, as latas explodem e são muitos retaliados. Atiro um olhar assustado para Will, que se explica no mesmo momento. — Bombas de pregos, as encontrei sobre uma mesa.

Quando Blaine chega na janela, o auxilio para entrar. Ele se joga no chão e já preparo os esparadrapos e um pouco de álcool para seus ferimentos, além de, é claro, uma coisa que se parece com uma pinça para tirar as balas do seu corpo. Peço para Will que ajude Cassandra a entrar enquanto vou medicando Blaine como meu pai me ensinou. Ele grita assim que vou extraindo as balas de seus ferimentos e me sinto grata pela porta estar altamente bloqueada. É claro que pode não demorar para os Caçadores arranjarem um jeito de entrar, mas até lá estaremos preparados, escondidos estrategicamente em um canto para assim exterminá-los.

— O seu joelho — digo, assustada. — Como é que vou cuidar de uma bala no joelho?

— Precisamos ficar escondidos até que eu tenha condições de andar. Ou pelo menos para ser carregado — ri ele pela primeira vez. Eu sorrio de leve, mas decididamente não é franco. Não porque ele constantemente me irrita com os seus comentários negativos e muito menos porque eu não vou muito com a sua cara, mas é porque estou nervosa. Totalmente desamparada. Tão desamparada que nem do meu próprio ferimento lembrei de cuidar. Aliás, medicina nunca foi comigo, mas acho que estou me virando bem. O pequeno Will enrola cuidadosamente umas bandagens em meu braço e eu sorrio agradecida.

Blaine tosse umas gotas de sangue e, depois de eu praticamente finalizar o trabalho nele e ir até Cassandra, ele volta a falar.

— Obrigado, Lily — diz. Fico surpresa, mas tento não demonstrar.

— Quem é você e o que fez com Blaine? — murmuro, sarcástica. Ele dá uma risada rouca e me olha com os intensos olhos verdes. Não gosto muito de ser admirada, mas é melhor do que não ser, afinal.

Espero que ele esteja mesmo agradecido. Sou uma garota carente de favores.


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