— Para de falar. - Vitor disse em tom baixo.

— Vitor… - Voltei a dizer, mas logo ele me interrompeu, me olhando como se estivesse profundamente decepcionado e aquilo acabou comigo.

— Quer saber? Isso tudo é horrível, a vida é péssima. E você tá certa, a dor é inevitável, mas não importa o quanto a gente tente fugir, sempre alguma coisa vai dar errado. A única alegria da minha vida recentemente é você e eu te odeio por isso, mas também não vou deixar que você estrague tudo. Presta atenção: Eu amo você e não vou deixar tudo que rolou entre a gente ontem cair no esquecimento. Eu não vou desistir da ideia de te fazer sorrir, não mesmo. Então eu só peço que me dê uma chance, e entenda que eu não quero machucar você.

— Você não entende – Berrei sem encará-lo – Não importa o quanto a gente tente. Não vai melhorar, sempre vai machucar no final. E eu não sou igual minha mãe, não quero morrer por amor!

Enquanto dizia tais palavras, me lembrei do passado… De quando não tinha ninguém, apenas minha própria solidão.

Apesar de sempre ter gostado de ficar comigo mesma, nunca fui tão chegado á realmente estar só. Me sentir só. Mas sempre estive assim. Na minha vida de antes, algumas pessoas me faziam sorrir, outras pessoas ás vezes até realmente conseguiam me fazer feliz por alguns instantes, mas no fim, nunca permaneciam ali. Todos sempre partiam. Esse sempre foi o ciclo comum da minha vida.

Acho que todo esse laço que acabei criando com todos aqui, acabou me assustando. Criei certa estabilidade, aquilo que ás pessoas costumam chamar de seu. Nunca tive isso. Nunca tive algum lugar que realmente pudesse chamar de lar. Nunca havia tido meu próprio momento. Muito menos alguém pra chamar de meu. Ninguém jamais ficou por tanto tempo assim na minha vida. Nunca foi o suficiente. E agora que minha mãe não está mais aqui de certo modo, perdi tudo isso…

Apesar das mudanças sempre terem sido constantes em minha vida, agora era diferente.

Eu não saberia continuar.

E tenho medo de esperar mais e perder mais do que já perdi…

Tenho a visão exata do momento em que finalmente cheguei em meu quarto após ser abusada por aquele que dizia me amar, chorei muito... Chorei como nunca havia chorado, maioria das minhas lembranças se preenchem por isso, mas também me lembro vagamente de fitar meu próprio reflexo no espelho, e me perguntar se algum dia, simplesmente existiria alguém que fosse capaz de olhar dentro de mim e fosse fazer tudo ficar bem.

Vitor havia se tornado esse alguém pra mim. Ele se tornou minha âncora e isso é outro motivo para eu odiá-lo ainda mais.

— Me deixa estragar tudo então – ele disse rindo de leve, e tirando-me dos meus devaneios. – Me deixe ser o babaca que vai estragar tudo sem querer, mas fica comigo. - Assim que ele terminou de falar balancei a cabeça e sorri também.

Esse garoto tem sérios problemas psicológicos, e eu o amo por isso.

— Qual é a sua De La Riva? – Falei, cruzando os braços e o encarando, meus olhos ainda sorriam ao encará-lo.

— Não quer assim? Ótimo, façamos o contrário. Me destrua você, então! Aprendi em um filme que é uma honra ser machucado pelas pessoas que amamos, e sabe? Eu concordo com isso agora. Será ótimo ter meu coração destruído por você, Collins.

— Idiota. - Disse quase em um sussurro, sorrindo de lado.

— O que me diz? - Vitor perguntou, me investigando com os olhos, retribui o olhar por alguns instantes, e então cheguei á conclusão: Se eu pudesse tê-lo me encarando daquela forma por mais cinco minutos, valeria mesmo á pena sofrer depois. - Não me deixa. - Ele sussurrou, colando sua testa na minha, sem deixar de me olhar.

— Não vou. - sussurrei de volta, fazendo-o sorrir.

No fundo me senti culpada por me render por aquele sentimento, mas nada importava mais. Já que a tristeza é inevitável, não faz mal desfrutar disso mais um pouco.

Uma semana depois…

As coisas ainda pareciam muito confusas. Tudo havia mudado.

Meredith finalmente havia decidido voltar para sua casa e não vou negar que estava sentindo sua falta e, com certeza ela também está sentindo a minha já que me passou o endereço e está me forçando a ir lá pelo menos uma vez por semana antes que eu fosse embora.

Inclusive, meu pai havia aceitado esperar um pouco mais antes de irmos embora, ele sabia que eu precisava me despedir de tudo que eu tinha ali, e nesse tempo eu estava com a expectativa de convencê-lo a morar ali, afinal, não queria abandonar todos, principalmente Vitor, tudo estava tão bem entre nós que não conseguia me imaginar longe dele…

Desde o enterro da minha mãe, Petterson havia sumido, e eu agradeci aos céus por isso, poderia matá-lo se o visse em minha frente. Afinal, era por culpa dele que minha mãe não estava ali agora.

Eu estava me arrumando para o jantar, afinal, aquele era um dia especial. Todos estavam ali, meu pai, Clarisse, Sophia, Vitor, Daniel e sua família – que inclusive haviam praticamente se mudado pra cá desde o acontecido.

Vi Clarisse entrar em meu quarto e supus que eu já devia estar atrasada.

— Já estou terminando. - Falei antes que ela falasse alguma coisa.

— Não é isso… O jantar nem está pronto ainda, pode demorar – ela disse rindo – Eu só queria conversar.

— O que aconteceu? - Indaguei fitando-a curiosa.

Desde a morte da mamãe, Clarisse havia se fechado, nunca queria conversar ou algo do tipo, por isso fiquei surpresa com tal atitude.

— América, eu vou viajar. - Ela explicou, sendo direta.

— Ah… Que bom! Depois de tudo que rolou vai ser bom mesmo… - Falei, sorrindo sem humor.

— Na verdade, não é uma simples viajem. Eu vou fazer intercâmbio nos Estados Unidos! - Fiquei pasma, sem saber o que dizer e fazer por um longo tempo. Eu não estava preparada para viver sem minha irmãzinha também. - Eu já havia recebido a proposta antes, mas não aceitei pois minha vida estava boa aqui, mas agora… Até da Meredith eu sinto falta! Descobri que meu pai é um idiota, nossa mãe morreu e… eu me perdi. – Seus olhos estavam cheios de água e os meus também.

— Vou sentir sua falta, Clari… Mas, você não poderia mesmo perder essa oportunidade, a mamãe ficaria furiosa – nós duas rimos. - Só não esquece de mim, viu? - sussurrei e nesse instante a garota me abraçou, e involuntariamente senti lágrimas caírem por meu rosto, aquilo já havia virado rotina.

Eu sabia que esse era o melhor pra ela. E eu estava feliz por Clarisse ter achado algum modo de seguir em frente, só esperava poder fazer o mesmo.

"As coisas ruins ficam com você, elas seguem você. Não dá pra escapar, por mais que se queira. Só podemos mesmo nos preparar para o bem, e quando ele chegar podemos aceitá-lo, porque precisamos dele. Eu preciso." — The Vampire Diaries