A Última Carta - A Seleção escrita por AndreZa P S


Capítulo 12
2.9




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Me perdendo sem perceber

Por volta das onze e pouco da noite os convidados começaram a se despedir e eu, como uma boa menina, ajudei Madame Amberly a agradecer pela a visita e a entregar uns bibelôs de cristal como lembrancinhas. Em todo o momento evitei olhar diretamente para os olhos de Maxon mas, pelo o canto do olho, vi várias vezes seu rosto voltado para mim. Kriss usou a minha desculpa de estar se sentindo mal logo após o meu beijo com Maxon e sumiu escada acima. Quando estávamos apenas eu e os Schreave, o Lorde Clarkson se aproximou de mim com um sorriso largo no rosto, o que é raro.

–Bom trabalho, America. - Me cumprimenta antes de puxar Amberly pelas mãos até o segundo andar. Ela murmura algo como um "boa noite", mas eu já não prestava mais atenção neles. Eu estava focada era em Maxon caminhando em minha direção, com a expressão curiosa e divertida ao mesmo tempo. Olho para os saltos que eu segurava nas mãos e finjo estar inspecionando se estava tudo certo com eles.

Maxon pigarreia para chamar a minha atenção, quando volto o meu rosto para cima para poder fitá-lo, suas bochechas estão com um leve rubor. Mordi o lábio para não abrir o sorriso que estava a espreita, esperando qualquer descuido para aparecer.

–Então...ahn, queria pedir desculpas por hoje a noite, eu não imaginava que Kriss pudesse fazer uma coisa tão infantil quanto essa. - Diz ele rapidamente, sem em nenhum momento desgrudar os olhos dos meus.

Dou de ombros e ergo a barra do vestido.

–Não tem problema. - Respondo eu, sentindo o calor avermelhar a minha pele. - Nós dois sabemos de nossas responsabilidades. - Minha voz soa formal.

Maxon arqueia uma de suas sobrancelhas e abre um sorriso divertido.

–Claramente, senhorita.

Sorrio para ele de volta.

–Então...eu vou dormir...está.. ahn.. - Presto atenção em tudo o que está ao meu redor, menos nele.

–Sim, está tarde....- murmura ele ao dar uma olhada em seu pulso que estava sem o relógio. Acho graça disso. - Boa noite, America.

–Boa noite, Maxon. - Falo, segurando firmemente o tecido do vestido na mão e fazendo esforço para subir as escadas da forma menos apressada possível. Quando estou prestes a dobrar para o corredor, arrisco uma olhada para baixo. Maxon está com as mãos dentro do bolso da calça, olhando para baixo e sorrindo. No que será que ele está pensando?

Assim que estou invisível pelas as paredes, corro o máximo que consigo, o que não é muito. Digamos que um vestido colado até perto do tornozelo não é tão fácil assim de fazer movimentos bruscos com as pernas. Fecho a porta e a tranco imediatamente, e tão rápido quanto abro, o zíper do vestido e deixo com que ele escorra pelo o meu corpo. Sento-me no chão e observo o meu rosto através do espelho. Meus olhos estão mais grandes que o normal, e minha face corada combinava com o sorriso estranho que volta e meia queria surgir no meu rosto. De repente, a imagem mental dos lábios de Maxon se aproximando de mim aflorou diante dos meus olhos. Tive que me concentrar muito para espanar a lembrança para bem fundo da minha memória. Não tinha tempo para pensar sobre...essas coisas. Aspen esperava um contato meu.

Aguardo quase uma hora para descer as escadas, vestindo o vestido rosa bebê que usei no primeiro jantar com família Schreave. Estou prestes a pegar o telefone na mão quando escuto uma fungada vindo do sofá. Pisco muitas vezes até que meus olhos começam a se acostumar com a luminosidade precária e me surpreender com Kriss sentada com as pernas cruzadas. Minhas mãos automaticamente voam em direção ao meu peito, meu coração parece que parou e depois voltou a funcionar a mil.

–Kriss... - minha voz sai esganiçada. Tusso e tento novamente: - O que está fazendo aqui?

Kriss revira os olhos e ergue um copo com um liquido marrom.

–Não é óbvio. - Responde com as palavras saindo um pouco arrastadas.

Encolho os ombros.

–Ah. - Foi a resposta genial que eu dei.

–O que está fazendo aqui? - Indaga enquanto começa a balançar a perna, sua expressão é a de poucos amigos.

–Nada, às vezes eu perco o sono e preciso dar uma volta. - Minto.

Ela franze o cenho e quando fala sua voz está desconfiada.

–Sei. Iria dar algum telefonema?

Engulo em seco e começo a tossir novamente.

–Não.

–Não?

–Não. - Falo agora com mais convicção.

–Sério? Podia jurar que você estava prestes a pegá-lo. - E estreitou os olhos.

–Impressão sua. Vou voltar para o quarto, passar bem. - Retruco, começando a me virar para subir as escadas.

–Espere. - Ela pede.

Reviro os olhos antes de me voltar novamente para Kriss.

–Sim?

–Me faça um favor, America. - Murmura com os olhos marejados. Ai meu Deus, não sei lidar com pessoas alcoolizadas e muito menos chorando. Incapaz de pronunciar uma palavra sequer, assinto com a cabeça.

Kriss demora um pouco antes de sussurrar:

–Cuida bem dele.

Abro a boca para dizer algo, meu coração ficou apertado.

–Não se preocupe, eu vou cuidar. - Digo, dizendo a verdade. - Boa noite.

–Boa noite. - Responde entre um soluço e outro.

Volto para o meu quarto e apago todas as luzes antes de me jogar na cama. Coitada de Kriss, estou me sentindo mal por ela. Ela acabou me impedindo de encontrar com Aspen, mesmo sem querer, e era para eu estar irritada, mas não...apenas sentia dó dela. Aspen podia esperar outra oportunidade. Até porque, pensando melhor...eu não queria encontrá-lo hoje, não quando minha cabeça estava cheia de emoções confusas e quando eu me sentia culpada.

Sim, culpada. Como ele lidaria com a notícia de que eu havia beijado Maxon? Com certeza, não seria nada boa. Se nos vissemos agora, ficaria óbvio que algo estava errado comigo, ele acabaria me forçando a dizer o que era. Melhor evitar.

Na manhã seguinte fui informada de que Kriss partira bem cedinho para Madri, onde vivia com sua família. É sábado, e quando cheguei na sala de jantar ninguém estava por ali. De repente, enquanto eu erguia a mão para puxar a cadeira, Anelise entra trazendo um papel em mãos.

–É para a senhorita. - Avisa antes de estende-lo para mim com um sorriso de orelha a orelha. Meu coração se acelera, criando mil possibilidades para aquele papel. Será que Lucy havia vacilado e Anelise acabara pegando-o? Ou pior, será que Aspen teria se zangado e entregue um bilhete ao invés de um envelope lacrado?

Pego a folha branca rapidamente, incapaz de esconder minha cara de pavor.

–Algum problema, senhorita America? - Me indaga ela, com o ar preocupado e me fitando com atenção.

Abro um sorriso miúdo.

–Não, tudo certo. Obrigada Anelise, agora pode ir, por favor. - Falo eu, soando um pouco desesperada. Ela acena com a cabeça e parte com uma expressão hesitante. Olho para todos os lados antes de abri-lo, me deparando com uma caligrafia conhecida, mas não de Aspen.

"America, querida, venha tomar café comigo está manhã. Já deve saber onde estou.

Maxon Schreave."

Solto um suspiro aliviado, acompanhado de um sorriso autêntico. Rumo em direção à cozinha, cumprimentando a cozinheira que descobri chamar-se Mary Louise e entrei no pequeno puxadinho com entrada em formato de U de cabeça para baixo. Assim que Maxon me vê, ele se ergue e faz uma reverencia, como se eu fosse da realeza ou algo do tipo.

–Falou só me chamar de majestade. - Brinco antes de me sentar à mesa.

Maxon sorri.

–Gostaria?

O olho séria.

–Não.

Agora ele acaba de dar uma risada.

–Uma pena. - Murmura enquanto se servia de suco de laranja. Eu preferi o meu cafezinho com leite que amava tanto.

–Claro. - Retruco com uma piscadinha.

–Vou a Miami daqui a pouco. - Diz simplesmente enquanto passa margarina em um pão francês cheiroso.

Dou um gole no meu café com leite.

–Hm, quando vai voltar?

Ele revira seus olhos castanhos.

–O final de semana apenas. Hoje tenho coisas para resolver, no domingo podemos sair e ir à praia. - Agora ele está me encarando com um sorrisinho torno nos lábios. - Se não me engano, você sente falta disso.

Quase me engasgo. Maxon faz uma careta e começa a gargalhar.

–O que foi, America? - Pergunta ainda rindo, uma de suas sobrancellhas está erguida.

Respiro fundo e torço para o meu rosto não estar vermelho.

–Nada, é que...você disse...no plural, e...

–Você esqueceu que te convidei para ir comigo? - Questiona, me olhando atentamente. Provavelmente querendo verificar se eu tinha ou não problemas mentais.

–Não, eu lembro. Mas pensei que VOCÊ tivesse esquecido.

–Seria um tédio sem a sua companhia. E além do mais, não quero que você morra de saudades de mim. - Debocha e eu mostro a lingua.

–Você que não vive sem mim. - E bufo.

–Acho que não mesmo. - Retruca. Encaro seus olhos, procurando algum sinal que indicasse que ele estava me zoando, mas não havia nada. Senti um arrepio esquisito envolver o meu corpo. - E também comprei nossas passagens naquele mesmo dia.

Nossa, acho que aquele beijo está começando a me fazer enxergar coisas que não existem. Maldita Kriss!

O Eduardo acaba de colocar minhas malas e as de Maxon dentro do porta-malas do carro, enquanto nós dois estávamos sentados no banco de trás. Assim que ele dá a partida, fico absorta (como sempre) com a beleza de Londres. Pouco tempo depois estávamos fazendo nosso Chek in em frente a uma moça morena e de olhos escuros que não parava de encarar Maxon com uma cara de "se você me deixar o seu número, eu ligo um minuto depois". Argh. Cruzo os braços e me afasto um pouco, eu não sou obrigada a ter que ver aquilo.

No avião ficamos em silêncio até que Maxon acabou cochilando e repousando a cabeça em meu ombro. Não me importei, amigos tinham intimidade para fazer isso, certo?

Estou guardando um pouco das roupas que eu trouxe de Londres na gaveta do imenso roupeiro da suíte do hotel, enquanto Maxon toma banho antes de sair em reunião. Tivemos que ficar no mesmo quarto, já que teríamos que manter as aparências em qualquer lugar.

Assim que termino fico sentada em um dos sofás e ligo a televisão, o apresentador de algum programa de humor estava preparando alguma pegadinha para o convidado do dia, e o mesmo não fazia a minima ideia do que se tratava. Interrompendo a minha diversão provisória, Maxon aparece sem camisa, com os cabelos molhados e bagunçados de um jeito que deixava ele ainda mais bonito. Sua calça social e preta, como ele costumava usar e quando me vê seu sorriso é um pouco constrangido.

–Me desculpe, é que não sou acostumado a dividir o quarto com outra pessoa. - Ele aponta para a sua mala em cima da cama. - Preciso pegar uma camisa. - E então caminha até ela.

Abro um sorriso de lado. Meus olhos analisaram as costas de Maxon, cada músculos que se sobressaia sobre a pele clara e as três gostas que escorreram dos cabelos úmidos dele e desciam de forma desordenada por ali. Talvez não seja culpa de Kriss ter se apaixonado por ele. Talvez se eu não fosse apaixonada por Aspen, pudesse me encantar por ele também.

–America? - Chama ele, me fazendo voltar a prestar atenção nele. Pisco algumas vezes e pigarreio.

–Hm?

–Minhas roupas.

–Ah, sim!- Digo eu, rindo um pouco. - Estão guardadas ali. - Aponto para uma das portas do roupeiro.

Ele abre um sorriso surpreso.

–Não precisava, eu faria isso logo depois. - Murmura ao abrir a porta e procurar pela a camisa que usaria hoje.

–Tudo bem, arrumei as minhas roupas e achei que seria educado ajeitar as suas também.

Maxon bufa e solta uma risada abafada.

–Educada? Desde quando? - Provoca com arzinho de riso enquanto começa a abotoar a camisa escura. Ele se vira para mim e eu jogo uma almofada em seu rosto.

–Sou um poço de educação, querido. - Retruco com os olhos semi cerrados.

Ele me dá um sorrisinho de lado.

–Um poço raso, só se for.

–Teu humor está acirrado hoje. - Murmuro e cruzo as pernas.

–É que estou empolgado, porquê você parece empolgada.

Lanço um olhar pro sol que, mesmo se pondo, ainda era escaldante do lado de fora da suíte.

–Estou mesmo. - Respondo eu ao abrir um sorriso largo, que logo Maxon retribui.

–Eu sei. Quando eu voltar nós podemos jantar fora, pode ser?

Dou de ombros.

–Por que não, né?

Minutos depois Maxon partia em retirada com uma pasta grossa em mãos. Ele parecia norvoso com o encontro com o tal de Anderson não sei das quantas. Cminho pelo o quarto, examinando tudo o que tinha ali. O relógio marcava quase 19:00 da noite e, mesmo eu sabendo que poderia sair a hora que eu quisesse, preferi ficar por ali mesmo e assistir televisão até que Maxon chegasse.

Só fui perceber que pegara no sono quando me vi em uma encruzilhada, com dois caminhos diferentes para seguir. Em um está Maxon, vestido de terno e me olhando seriamente. No outro, o que eu estava prestes a entrar, estava Aspen, sorrindo de um jeito tão conhecido que fazia meu coração pular de alegria.


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