Filhos da Guerra escrita por Leonardo Souza


Capítulo 6
V


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.



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Natasha

Localização: Desconhecida 

Hora: Desconhecida

A situação não era boa, Natasha precisava pensar em alguma maneira de se livrar, mas não conseguia pensar em nada. Enquanto Bernard estava encarando Jon, ela tentou usar força bruta, porém não funcionou.

"Você não pode prender um soldado americano!" O sargento gritou irritado.

Por um segundo a expressão de Bernard ficou irritada antes de abrir um sorriso.

"E onde está o seu exercício?" Ele perguntou.

Sargento não respondeu.

"Onde está o resto do seu povo?" Jon perguntou e aquilo realmente surpreendeu Bernard.

"Pelo menos um de vocês é esperto." Ele respondeu. "Como descobriu?"

"Andamos durante algum tempo aqui embaixo sem encontrar nada vivo e você parece nutrido o suficiente. Então ou sabe a localização de um oásis na zona morta ou têm mais gente ajudando você."

Aquilo fazia sentido, Natasha se sentiu irritada por não ter pensado nisso, ela ficou tão desesperada em fugir que não pensou em ler a situação. Jon manteve a calma mesmo naquela situação. Natasha poderia ter melhores poderes, mas no momento não era a pessoa mais forte ali.

"É assim que vai funcionar." Bernard começou a falar. "Eu vou liberar vocês e nós vamos andar. Qualquer tentativa de fugir, eu congelo a pessoa e a deixo nos túneis para… as coisas." 

Os quatro começaram a andar, os três na frente e Bernard atrás, ele estava com uma lanterna na mão e entregou outra para Jon, os túneis pareciam estar mais próximos da terra, eles estavam mais quentes como se a luz chegasse até ali, depois de algum tempo andando. Os quatro chegaram a um local grande e aberto, com várias cabanas feitas de pano, madeira e outras coisas. A chegada deles moveu todo o lugar, algumas crianças correram para as mães, outros olharam espantados e alguns pareciam prontos para atacar. Natasha fechou os punhos por reflexo e tentou trocar um olhar com Jon, mas eles estava ocupado observando tudo em volta.

"Uau." O sargento falou em voz alta.

"Sigam até o final, a casa vermelha." Bernard falou.

Natasha achou que seria uma construção com algum material velho ou pintada de vermelho, mas era uma casa feita de tijolos vermelhos expostos. Comparado às outras casas, aquilo parecia ser algo de outro mundo. A porta estava aberta, os três entraram, a casa parecia normal, uma sala, uma escada para o segundo andar e era possível ver a cozinha.

"Subindo as escadas." Bernard ordenou, seu tom havia mudado completamente.

O segundo andar não era como o primeiro, todas as paredes haviam sido derrubadas, vários mapas estavam na parede, Natasha viu alguns mapas de antes da primeira guerra, vários aparelhos que pareciam ser de comunicação em um canto e no centro uma mesa de metal e atrás dela um homem sentado em uma poltrona. O homem lembrava um pouco uma versão mais velha de Bernard, a barba com alguns fios brancos, o cabelo precisava de um corte o que quase fez o fato dele não ter uma das orelhas passar despercebido.

"Olha o que eu achei vagando nós túneis." Bernard começou a falar com orgulho, mas o homem apenas o encarou sem mostrar reação.

O homem ficou olhando eles por um minuto e se levantou subitamente, Natasha pensou em reagir e sentiu seu corpo travar na hora, Bernard. O homem andou até os três e começou a analisar de perto, como se fossem algo que ele nunca viu na vida.

"Quem está no comando?" Ele perguntou depois de um tempo.

"Eu." O sargento respondeu e Natasha pensou em interferir, porém algo no tom dele fez ela desistir.

"Sério?" O homem falou enquanto observava os dois. "O que estão fazendo aqui?"

"Bom. Nosso acampamento foi atacado por… animais modificados e estávamos falando indo para outro acampamento quando fomos atacados outra vez e tivemos que nos esconder nós túneis." 

"Acampamento? Onde estão os outros soldados?"

"Os animais infelizmente mataram todos."

"Que estranho, Bernard, existe algum animal que consegue matar tantos soldados armados e com poderes?" O homem perguntou sem tirar os olhos do sargento.

"Não que eu saiba."

"Ou será que os ótimos soldados Americanos não são tão bons assim?" O homem sorriu com sua piada.

"Talvez." Bernard também estava rindo.

"E você?" Ele se virou para Natasha. "Porque não está de uniforme?" 

Natasha quase deixou uma expressão de surpresa aparecer, mas não podia revelar nada para aquele homem sem saber as intenções dele e então entendeu o motivo do sargento ter respondido primeiro no início da conversa. 

"Estava a caminho do banho quando os animais começaram a atacar, quase não sobrevivi." Ela abriu um sorriso.

"Entendi. Bernard, leve os três para o porão."

"Vamos descer." Eles obedeceram.

Não havia nenhum móvel no porão, só uma lâmpada no teto que mal iluminava o lugar.

"Fiquem aí e não tentem nada." Bernard falou antes de fechar a porta. 

Jon

Localização: Desconhecida

Hora: Desconhecida

Ficamos um tempo em silêncio para garantir que Bernard não estava atrás da porta escutando.

"Você consegue quebrar essa parede, certo?" O sargento perguntou para Natasha.

"Não posso." Ela respondeu.

"Claro que pode, eu vi o que você consegue fazer."

"Ela não está falando disso." Entrei na conversa. "Ela não pode porque seria a coisa errada a se fazer."

"Exato." Ela concordou.

"Porque não? Nós podemos dar apoio a ela."

"Estamos em um lugar desconhecido, não sabemos quem e quais são os poderes das pessoas que estão lá fora. Sair tentando usar força bruta é suicídio."

"Bernard também é um problema, temos que neutraliza-lo primeiro." Natasha acrescenta.

"Outra pergunta. Porque não estamos mortos ainda? O que eles podem querer com a gente?"

"Talvez eles queriam trocar soldados com o governo americano." O sargento respondeu.

"Não faz sentido, mas não sei como essas pessoas pensam."

Bernard

Localização: Bunker subterrâneo

Hora: 13:07

Subi as escadas, aquilo era a coisa mais emocionante que aconteceu em toda minha vida, soldados no mesmo lugar que meu povo, normalmente nenhuma pessoa sobrevivia do lado de fora, eles eram fortes ou sortudos.

Nasci e cresci no Bunker, meu irmão, David acabou se tornando o líder da comunidade depois que nosso pai morreu e foi nesse dia que ele acabou perdendo a orelha. Não sabemos exatamente como viemos parar em uma zona morta. Os contos contados aqui são vagos e no fim você só entende que um grupo de pessoas se aventurou nas terras cheia de radiação procurando um lugar intocado pela guerra. A terra prometida. E tudo o que encontraram foi esse Bunker. Subi as escadas e meu irmão estava me esperando.

"Que ideia idiota foi essa?" Ele perguntou irritado.

"O que?"

"Trazer soldados para cá! Você sabe o risco que estamos correndo agora que você fez isso?" 

"Eles são fortes e podem ajudar a gente a tomar o túnel até a horta de volta."

Os animais modificados, umas aranhas de um metro acabou tomando uma das hortas e desde então a comida estava ficando escassa. Poucas pessoas aqui nasceram com poderes e os que nasceram não era algo muito útil em batalha.

"E porque eles ajudariam? Com qual motivação?" David colocou a mão na testa como se estivesse com dor de cabeça.

"Eu… eu vou pensar em alguma coisa."

"Você não vai, eu vou ter que te salvar outra vez." Ele sentou na cadeira e começou a analisar alguns mapas. A conversa havia acabado.

20:00

Pensei durante o dia inteiro e não achei nenhuma solução, David estava certo. Eles não tinham nenhum motivo para ajudar e não podia falar que libertaria eles se me ajudassem. Seria perigoso deixar três soldados Americanos que sabiam a localização do Bunker soltos por aí. Não tínhamos muitas regras, mas a principal era não acreditar nos Americanos.

Fui até a cozinha, peguei três pães e três copos de água.

Bati na porta do porão.

"Os três, vão para o meio da sala ou eu volto com a comida e vocês continuam com fome." Falei.

Assim que abri a porta, os três estavam sentados e no meu campo de visão, não precisei usar meu poder o que era um alívio, congelar três pessoas era exaustivo e não conseguia manter durante muito tempo. Esse era um dos motivos para não conseguirmos derrotar as aranhas eram muitas e só consigo congelar o que está no meu campo de visão e as outras sempre acabavam atacando rápido demais.

Coloquei a bandeja com a comida no chão e saí do cômodo.

"Obrigado." O soldado disse antes de fechar a porta.

Natasha

Localização: Desconhecida 

Hora: Desconhecida

Estávamos no porão por dois dias, só era possível saber disso porque Bernard trazia três refeições, sempre pão e água.

"Temos que fazer algo." O sargento reclamou mais uma vez. "Já estamos aqui há dias."

"Já falamos sobre isso." Jon respondeu.

"Têm alguma coisa errada aqui." Falei, porém nós três sabíamos disso. Se Bernard ou o homem tivesse algum plano, eles já teriam feito algo.

Bernard bateu na porta, aquele era o sinal de que deveríamos ir para o centro do cômodo. Nos sentamos e ele entrou.

"O que vocês vão fazer com a gente?" Perguntei.

"Não é da sua conta." Ele respondeu.

"Você não tem um plano, nem o outro homem, acertei?"

"Vocês são reféns." Bernard respondeu em um tom um pouco mais alto.

"E como vão negociar?" Sargento entrou na conversa. "Não acho que o rádio que vocês têm na sala não consegue entrar na frequência do exército."

Bernard saiu sem responder.

David

Localização: Bunker Subterrâneo

Hora: 11:51

Os rádios interceptavam algumas transmissões, não conseguia mensagens claras, mas pelo o que consegui entender alguns países estavam falando sobre guerra. Depois de tanto tempo ela estava voltando. Aquele era o momento perfeito para viver no subterrâneo. Infelizmente a situação não era ideal, precisávamos resolver o problema da horta. Com o estoque atual não iríamos durar um ano. O Bunker era um local que captam energia solar  e tratava a água, isso não era o suficiente para as quase trezentas pessoas que viviam ali. Pessoas começaram a gritar. Olhei pela janela e vi o problema, duas aranhas entraram aqui.

Bernard havia saído para checar perímetro, desci as escadas, peguei a arma atrás da porta e corri em direção ao barulho. Cada aranha era diferente, algumas só soltavam teias fortes como aço, algumas soltam veneno que ao entrar em contato com a pele criava bolhas de pus e a única solução era tirar o membro afetado e algumas até soltavam fogo. Quando cheguei até a primeira, vi que era uma que soltava teia. Atirei na sua direção para atrair, quando ela me viu corri para um local com menos casa, ela alcançou rapidamente. Atirei outra vez, acertei nas pernas, ela gritou e se jogou na minha direção. Por estar sem uma perna o salto não foi perfeito e usei isso para usar meu poder. Bernard conseguia paralisar os membros das pessoas e eu conseguia controlar um por vez, fiz uma das pernas dela ir para direção oposta, ela caiu e atirei em sua cabeça. Uma chama apareceu nas casas perto dali, corri até lá vi a aranha cuspindo fogo. 

Bernard

Localização: Bunker Subterrâneo

Hora: 11:56 

Escutei os gritos antes de chegar, sabia que alguma coisa estava acontecendo, por um segundo pensei que os três haviam escapado. Quando cheguei nas casas eu vi algumas pessoas correndo.

"O que está acontecendo?" Gritei.

"Aranhas!" Jud respondeu.

"Merda." Comecei a correr na direção dos gritos, mas parei no meio do caminho e comecei a correr na direção oposta.

Jon

Localização: Desconhecida

Hora: Desconhecida

"Tem alguma coisa acontecendo." Natasha falou ao abrir os olhos. Ela fazia isso várias vezes ao dia, se sentava de olhos fechados como se estivesse meditando.

"Como assim?" Perguntei.

"Tem pessoas gritando." Ela respondeu e se levantou.

"Não estou escutando nada." Sargento falou.

"Mas eu sim." 

Depois de algum tempo, a porta do porão se abriu, Bernard estava ofegante como se estivesse correndo. 

"Olha," ele começou a falar antes de qualquer um de nós perguntar. "Meu irmão provavelmente vai acabar matando vocês, mas se vocês ajudarem na situação lá em cima, posso convencê-lo a deixar vocês viverem." 

"Qual a situação" Natasha perguntou.

"Aranhas gigantes com alguns poderes invadiram o lugar."

"Quantas?" 

"Não sei, vão ajudar ou não?"

"Vamos." Natasha e Jon responderam em uníssono. O sargento ficou em silêncio por alguns segundos enquanto os outros o encaravam.

"Já que não tenho outra escolha." Ele adicionou.

Natasha

Localização: Desconhecida

Hora: Desconhecida

Saímos do porão e assim que chegamos na porta, a chama era visível, a maioria das casas eram feitas de material inflamável então o fogo precisava ser apagado antes que o ar aqui dentro ficasse impossível de respirar.

"Natasha." Jon começou a falar. "Procure as aranhas, nós cuidamos do fogo."

"Tudo bem." Fechei os olhos e me concentrei procurando algum barulho diferente, escutei uma arma sendo disparada e corri o mais rápido que pude na direção do som.

Assim que cheguei, vi o homem mantendo a arma apontada para a aranha e mantendo distância, ele percebeu minha chegada e ficou confuso por um segundo, a arma continuou apontada para a aranha. Usei toda a velocidade que conseguia para ir em direção do bicho e para minha surpresa ele cuspiu fogo, desviei do ataque e agradeci por não ter tentado pular até ela.

"O que mais isso faz?" Gritei para o homem.

"Até onde eu saiba só cospe fogo e é muito rápida."

"Só? Isso mais do que muita gente consegue fazer aqui."

"Onde está Bernard?" O homem perguntou.

"Cuidando do fogo." Respondi enquanto pegava uma barra de metal do chão.

"Eu distraío e você ataca?" O homem sugeriu.

"Não vai precisar." Respondi.

Não sabia se ia funcionar, nunca tentei fazer isso, com a mão apertei uma ponta da barra e deixei o mais pontiagudo possível, o homem ficou claramente surpreso com a minha força. E depois joguei a barra em direção a aranha como uma lança, atravessando o corpo a partir da cabeça. O bicho tremeu um pouco antes de cair no chão.

"Quantas mais?" Perguntei.

"Essa era a última, a outra eu já matei."

"Ótimo, vamos ajudar os outros a apagar o fogo."

Por sorte um dos moradores conseguia controlar uma certa quantidade de água, e ajudou bastante. O homem do garantir que ninguém estava ferido ou morto. Depois que o fogo foi apagado nós ficamos parados sem saber o que fazer.

"Essa é a primeira vez que elas entram aqui, normalmente ficam nos túneis." Bernard fala mais para ele mesmo.

Antes de ver, eu escuto. O som de algo se aproximando. Não consigo falar nada, sou interrompida por uma onda de aranhas invadindo o lugar.


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