Desastre escrita por thatsthejao


Capítulo 2
Capítulo Um: Cicatrizes


Notas iniciais do capítulo

* Espero que gostem, marotinhos do Nyah ♥



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Naquela madrugada, fomos socorridos por uma ambulância. Eu lembro de meus olhos abrindo e minha cabeça latejando e meu corpo totalmente imóvel.

É a pior coisa que pode acontecer : sentir uma dor terrível e não conseguir se mover, quanto menos falar. Querer pedir por socorro mas não ter ajuda no meio da escuridão.

Meu corpo somente se mexeu quando os bombeiros me tiraram de dentro do carro, que se encontrava esmagado. Foi naquele momento que olhei para meu braço e o vi totalmente ensangrentado. Em seguida, me colocaram numa maca e colocaram dentro da ambulância. Rapidamente, uma enfermeira colocou uma espécie de inalador em mim, e após isso, eu cai num sono profundo porém inquieto em meio aos meus pensamentos sobre o que estava acontecendo.

Quando acordei percebi-me toda enfaixada : nos braços, na cabeça, nas pernas...aquele acidente havia sido feio. Também percebi que estava respirando por aparelhos médicos e que do outro lado do vidro da sala, a enfermeira reparou meu despertar e rapidamente avisou um homem, que então entrou na sala.

– Garota, como está se sentindo? - perguntou o médico.

– Onde estão meus pais? - sussurrei.

– Menina...

Onde estão meus pais?

O médico se manteve em silêncio, sentado em um banco da sala mas ele sabia que devia dizer a verdade, então, em certo momento, ele não resistiu e disse:

– Seus pais...eles, eles...não sobreviveram.

Eu fiquei em choque, pensei que não estava ouvindo direito, ou algo assim. Até a ficha retamente cair.

– Não... - sussurrei para mim mesma. - NÃO! NÃO!

Estava desesperada, se contorcendo na maca. Sem consciência do que estava acontecendo.

– Srta. Melissa... - disse o médico tentando me consolar e colocando a mão sobre meu ombro.

– ME LARGA! - gritei - SOCORRO!

Após gritar histericamente, arranquei de mim o aparelho respiratório e levantei da cama, porém não tinha idéia do quanto minhas pernas ainda estão doendo e assim que tentei correr, cai no chão em prantos.

– PAI! MÃE!

Várias enfermeiras entraram depressa na sala e inejetaram algo em mim. No momento que inejetaram aquilo em mim, parei de gritar e pensando que nunca mais seria feliz novamente, adormeci.

Muitas horas se passaram e finalmente acordei, sentindo o sol bater no rosto. E duas pessoas conversando perto de mim.

– Como ela está senhor?

– De maneira milagrosa, ela não se feriu o suficiente para entrar em coma. Quebrou uma perna, uma parte das costelas e teve um profundo corte atravessando a boca.

– Graças a Deus.

– Essa menina foi sortuda. O carro caiu em uma represa. Cerca de dez metros de altura o separando da estrada. É um tipo de acidente em que não se sobrevive fácil, quanto menos com tão poucas lesões.

– Já, a Marcela e meu irmão...

– Eles foram fortes. Ainda estavam respirando quando chegaram ao hospital, mas infelizmente, não havia jeito.

Nesse momento eles ficaram em silêncio. Abri os olhos e descobri que quem falava com o médico era a tia Marta, que agora estava chorando silenciosa.

– Tia...

Tia Marta se aproximou e me deu um rápido beijo na minha testa.

– Querida...seus pais...

– Eu sei - disse fria, tentando me conter para não chorar novamente.

– Eu sinto muito - disse minha tia - Escute...o senhor Eduardo deixará você internada aqui por mais alguns três dias, mas hoje ele abrirá uma exceção para você ir ao velório. Em seguida, você volta para cá e fica mais esse tempinho e depois vai para minha casa.

– Lembrando, que teremos que começar o seu tratamento - comentou o Sr. Eduardo - Vai demorar um pouco para que você volta a andar sem sentir dores.

– Tudo bem - disse, pensando em quanto tempo demoraria para voltar a andar. - Eu pratico atletismo depois da escola, poderei algum dia voltar a praticar esportes?

– Um dia, se Deus quiser, estará recuperada - disse o médico - Porém, sua coordenação motora não será mais a mesma, e suas pernas não vão aguentar correr numa velocidade tão rápida o quanto o desejado e nem sua respiração será igual devido sua fratura nas costelas, próxima do diafragma. Você poderá correr, mas o desempenho jamais será o mesmo.

Além de perder meus pais, naquele dia perdi a possibilidade de que meu sonho se realizasse. Ser uma atleta, vencedora de vários prêmios e participar das Olimpíadas...tudo aquilo jamais aconteceria. Eu perdi meu sonho, e também as duas pessoas que mais o motivavam.

– Vamos, querida - disse suavemente minha tia - Temos de prestar a última homenagem aos seus pais.

Para mim não era uma última homenagem porque eu ainda não estava acreditando, não estava aceitando a perda cruel dos meus pais. Havia sido tudo tão rápido, estava sendo muito rápido. A velocidade excessiva nunca é boa, e aquele acidente foi a prova.

Com muletas, retirei-me do hospital com a minha tia e ela me levou até minha casa, para escolher uma roupa para o velório. Assim que entrei me deparei com uma sala com design moderno, com plantas na mesinha de centro e as paredes de mármore.

Por todo lugar haviam fotografias de nós : meu pai, minha mãe e eu, em diversos lugares. Havia uma foto minha, com seis anos, indo assistir ao Circo do Soleil, abraçada com meu pai. Havia outra, de minha mãe e eu sentadas em balanços, lado a lado, no Parque do Ibirapuera. Havia várias outras, mas a que mais gostei foi a de nós três abraçados, na areia, na linda praia de São Sebastião. Sempre amei as praias, por serem abertas para a extensão do mar. As ondas, a areia, o som da maré...tudo isso sempre me seduziu. Aquele foi um dos melhores dias da minha vida.

Foi impossível não chorar naquele momento.

Subi as escadas com o auxílio de minha tia e fui até meu quarto. Escolhi um vestido de renda preto e fui até o espelho: era uma garota bela, de cabelos negros e olhos azuis. Minha rosto era redondo e simétrico. Minha cintura era fina e minhas pernas eram compridas. Tudo em mim estava perfeito se você não reparasse nos cortes por todo o meu rosto e minhas pernas e costelas enfaixadas.

Pouco tempo depois, desci as escadas com dificuldade e disse a minha tia que estava pronta. Antes de partirmos para o velório, peguei minha bolsinha que ficava no rack da sala e guardei o porta-retrato de meus pais e eu em São Sebastião. De alguma maneira, precisava daquilo.

Durante toda a viagem até o cemitério, permanecemos em silêncio. Ao chegar naquele melancólico lugar, não me surpreendi: haviam poucas pessoas. Só alguns conhecidos e amigos de trabalho. Minha mãe era órfã e sua única família era sua mãe adotiva, que faleceu pouco tempo após ela completar a faculdade. Meu pai tinha parentes em Florianópolis, mas quase nunca se víamos. Minha tia Marta era simplesmente a única de minha parte paterna da família que vivia na cidade de São Paulo.

Logo, ouvi muitas palavras de consolo e de apoio, mas nada disso me importava. Isso não traria meus pais de volta, nada traria.

Como dizia Hazel Grace, em A Culpa é das Estrelas, os velórios são para os vivos, e não para os mortos. Afinal, os vivos são fracos, precisam de consolo, e raramente suportam a dor. Os velórios são uma tentativa inútil de diminuir as feridas de alguém.

Mas algumas feridas viram cicatrizes, que ficam marcadas na pele para sempre e nunca vão se curar.


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Notas finais do capítulo

*Pobre Melissa...infelizmente a criei pra ser sofrida hehehehehe



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