Por ironia do destino escrita por Ágata Arco Íris


Capítulo 7
Mas eu só queria um beijo




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No Sábado joguei vídeo game basicamente a manhã e tarde inteira, estava começando a pegar a manha do Sayonaka, meu recorde foi de 25.724 pontos e mesmo sendo basicamente ⅛ do recorde dos meninos eu fiquei bem feliz.

Um pouco antes das cinco da tarde já havia começado a me arrumar para encontrar o Yuan às sete. Foi aquele ritual básico que toda garota passa, uma maratona básica que envolve antes de tudo ansiedade,  depilação, tomar banho,  fazer uma maquiagem descente, arrumar o cabelo,  fazer as unhas, escolher uma roupa top ou pelo menos apresentável...Enfim...Sofrer para ficar bonita e no fim de tudo ainda achar que está uma merda para simplesmente revirar seu guarda-roupa inteiro procurando uma roupa, vestir todas as roupas e decidir vestir a que estava usando antes mesmo. Até aí tudo bem porque não envolveu chances de morte, ruim mesmo é quando seu irmão (Chato e implicante) chega no seu quarto, te vê passando delineador nos olhos e diz:

—Pra que isso tudo?  Ele não vai reparar nem na metade do que você fez.

Eu quase errei o traço quando ele falou aquilo em tom de deboche...Aff que vontade de quebrar aquela porta na cara dele...Mas não tenho tempo para isso agora.

—Obrigada pelo apoio viu Gabriel… Tu é mesmo aquele parça para todas as horas.

—Estou sendo realista tá.

—Você está é sendo muito chato com sua irmãzinha. Poxa, é a primeira que eu vou num encontro com um oriental.

— Ainda digo a mesma coisa, ele não vai olhar nem a metade das coisas que você fez, e se reparar também... Pode desconfiar que é gay, só um conselho meu.

—Ai tá bom Gabriel, agora me deixa terminar de arrumar.

—Como queira Sasá.

Meu irmão saiu do quarto e me deixou em paz, fechei a porta e terminei de me arrumar, quando ia saindo vi uma caixa de celular daqueles bem velhos na porta do meu quarto, ainda estava embalado na caixa original, era novinho esse. Um Motorola W375, esse é daqueles que abrem(Meu sonho de consumo...Só que de sete anos atrás), era cinza e ainda estava com o plástico de proteção em sua tela. Havia um bilhete do meu irmão junto á caixa.

“A tia me mandou ir pegar ontem na loja, mas ontem fiquei tão nervoso quando soube que você tinha um encontro que até esqueci-me de te entregar. Então está aí Sasá... Esse celular funciona sem chip, veio com o plano que a tia fez e parece que funciona melhor que os nossos em relação á sinal. Mas de todo jeito eu chorei para a tia e consegui chips para nossos celulares android que são anos luz mais adiantados que essas coisas, enfim o seu chip está junto na caixa, ele é pré pago, mas a internet 4G é ótima no meu...Só que você vai ter que pagar a recarga tá(Não essa porque eu já paguei).

E como fui expulso do seu quarto decidi sair de casa um pouco também, então não quis lhe incomodar... Passar bem sua Chata.

Um tapa na sua orelha

E beijos”

Peguei o celular velho que é novo, quer dizer... Modelo velho, mas aparelho novo, coloquei em minha bolsa e saí. No corredor vi Naoko sentada sobre o parapeito de frente para seu apartamento, estava olhando a paisagem. Ela olhou para mim, mas nada disse, apenas me sorriu de lado.

—Boa noite Naoko! —Disse eu enquanto fechava a porta.

—Boa noite Samanta—Disse ela logo voltando a observar a paisagem.

—Sabe, minha tia me disse para convidar você e seus pais para jantarem conosco qualquer dia desses.

—Seria bom, mas só uma coisa... Não moro com meus pais.

—Ahh, perdão... É que você parece tão jovem.

—Mas eu sou jovem, só não moro mais com meus pais.

—Quantos anos tem Naoko?

Ela olhou para baixo e pareceu ter ficado envergonhada com a pergunta.

—Não é muito educado perguntar a idade de uma mulher—Disse ela levemente rubra.

—Achei que isso servisse apenas para os homens, á propósito... Tenho 17 anos.

—Bem, eu tenho 15, faço 16 em outubro.

—O QUE?! Você é mais nova que eu e já mora sozinha? Você fugiu de casa por acaso? —Disse eu brincando, pensei que ela fosse da minha idade ou mais velha.

—Ah perdoe-me... Mas tenho que entrar agora—Disse ela fugindo de mim.

Antes de fechar ela saiu rapidamente para fora do apartamento e me disse:

—Samanta, por favor... Não conte minha idade para ninguém—Disse ela visivelmente envergonhada.

—Ah, tudo bem... Eu acho.

—Por favor... Não diga.

Depois disso ela fechou a porta com a maior força, achei estranho, mas não tinha tempo para me preocupar com isso agora, então fui para a galeria encontrar Yuan. Cheguei 20 minutos mais cedo e pensei que iria estar adiantada, mas o vi lendo um livro bem de frente para a loja onde ele trabalhava, eu me aproximei por trás e quis tampar seus olhos para que ele descobrisse quem era, mas antes me mesmo de chegar perto dele ele me disse sem virar-se:

—Samanta, seja mais silenciosa se quiser me surpreender.

—Ah seu chato.

—Perdão, é que eu te vi chegar de longe—Disse Yuan sorrindo para mim—Então, vamos comer?

Fomos até o final da galeria em um restaurante “Lian Chef Restaurant and Deliveries”, era todo ambientado com dragões e paredes vermelhas e quadros escritos em Mandarim, eu com certeza nunca havia visto os pratos sobre as mesas de fora, eram diferentes e pareciam indigestos, ou pelo menos pareciam que não iriam descer a minha garganta. Na porta era possível sentir o cheiro que vinha da cozinha, era cheiro de carne de porco, o que me lembrou um pouco do Brasil, já que o consumo de carne vermelha aqui no Japão é bem pequeno, e senti mais á vontade.

—Yuan, por que eu sinto que você vai me forçar a comer insetos?

Ele parou e riu do que havia dito, depois me disse sorrindo:

—Eu não vou te forçar a nada, sem contar que eu sei que não é da sua cultura comer isso. Mas mesmo assim você não faz ideia como uma barata assada é gostosa... Huuum!

—Ai credo!

Ele riu até chegarmos á recepção do restaurante, onde o atendente nos disse boa noite e Yuan falou em Mandarim com ele, como de costume eu não entendi nada. O homem nos levou para uma mesa de frente para a parede onde havia um Dragão enorme que cobria toda a parede, bem no meio do restaurante. Deixei Yuan escolher a comida, já que não conhecia nada, apenas disse para que ele ter dó de mim e não pedir nada que não conseguisse comer. Ele pediu rolinhos primavera, um prato que eu já havia ouvido falar (pelo menos alguma coisa eu conheço), mas nunca comi. Tirando isso o resto eu nunca nem ao menos tinha ouvido falar, como uma bandeja de Zong Zi que segundo ele era uma espécie de bolinho de arroz(até aí dá para comer), Gua-Bao que pelo que eu entendi é um pão Chinês recheado com carne de porco (Acho que desce, pelo menos acho). Desde que Yuan pediu as comidas nós não havíamos nos falado mais, ele apenas olhava ao redor, na verdade ele não parou de olhar para o dragão sobre nós desde que chegamos, eu não conseguia pensar em nada para conversar, então do nada ele disse:

—Você sabe a diferença de um dragão Chinês de um Japonês?

—Não faço a mínima ideia... Isso tem diferença?

—Claro, os dois tem corpo de serpente, mas o Chinês tem olhos de tigre, patas de águia, chifres de veado, orelhas de boi e bigodes de carpa. O Japonês já tem cabeça de crocodilo, escamas de lagarto, nariz de salamandra, garras de águia, patas de lagarto, juba de leão e bigodes de bagre.

—Hum, legal—Disse eu tentado disfarçar a falta de interesse na conversa.

— Um ponto importante é que, ao contrário dos dragões chineses, os dragões japoneses têm três garras em suas patas ao invés de quatro, como basicamente todos os outros dragões asiáticos.

—Hum isso eu sei por que, pelas superstições japonesas o número quatro traz a morte.

—Não é que traz, só tem som... Mas só os mais velhos, na verdade bem velhos não gostam disso.

— No meu caso trouxe mesmo—Disse eu olhando para o forro da mesa.

—Você já perdeu alguém próximo?

—Não devia ter tocado nesse assunto, perdão, mas podemos falar sobre outra coisa?

—Desculpe minha indelicadeza, eu estou no Japão faz quatro anos e também perdi meu pai quando tinha 4 anos, acho que o número quatro também não é meu favorito.

—Nossa... Meus pêsames.

—Obrigado.

—Eu também não tenho mais meu pai... Nem minha mãe... Na verdade eu já perdi muita gente da minha família.

Bem nessa hora chegou a comida, agradecemos ao  garçom, depois antes de comermos Yuan disse:

—Meus pêsames Samanta... Mas não traz muita sorte falar de coisas tristes á mesa... Podemos mudar de assunto só por hora?

—Claro.

A primeira coisa que peguei foi o tal de Zong Zi, parecia gostoso e a aparência era chamativa, mas ao morder eu vi que a textura definitivamente não era o que eu esperava, era mole demais. Eu devo ter feito um careta e Yuan não resistiu e soltou uma risada abafada já que estava de boca cheia, creio que se ele não tivesse tampado a boca com a mão provavelmente voaria arroz em mim.

—Desculpa por isso—Disse ele limpando sua boca—Eu sei que o arroz faz parte da dieta brasileira... Mas como vocês o comem? Sempre tive essa curiosidade.

—Com feijão, salada, carne e qualquer outra mistura, mas o principal é o feijão.

—Credo... Feijão dá só para doce mesmo em minha opinião.

—Tanto seu arroz quanto o feijão daqui são diferentes do que os brasileiros comem.  Aliás, nunca comi um doce com Azuki (O feijão japonês).

—Eu sou um bom doceiro por assim dizer, não tão bom como minha mãe, mas eu sei fazer bastante coisas... Um dia te faço um doce com Azuki... E se não quiser comer o resto da comida não precisa.

—Mas a comida está boa, só a textura que é diferente do que eu esperava... Então você sabe cozinhar?

—Bem...

Nesse momento nossa conversa foi interrompida pelo garçom que chegou a nossa mesa falando Mandarim (Novamente... Que irritante), Yuan falou algo com feições diferentes, parecia irritado. Logo em seguida veio uma senhora mais velha, devia ter uns sessenta anos ou mais e também falou com ele. Yuan esticou sua mão para o garçom e ele lhe deu seu avental e bloco de notas, eu não entendi muito bem o que estava acontecendo, mas Yuan colocou o avental e foi até uma mesa do outro lado do restaurante, virei e fiquei o olhando perplexa , ele parecia estar anotando os pedidos do casal sentado na mesa.

Assim que ele voltou a primeira coisa que eu perguntei foi o que havia acabado de acontecer.

—Bem, esse restaurante é da minha tia e geralmente eu ajudo aqui nos finais de semana como garçom... Droga, eu pedi para eles não me chamarem enquanto você ainda estivesse aqui... Mas o casal da mesa 14 é Coreano e não falam japonês.

Espera aí... Ele me trouxe no restaurante da família dele para não pagar a comida? Nossa, não posso falar nada, mas poxa... É... Nada a falar, deixa quieto.

Por outro lado fico triste, porque o tadinho visivelmente trabalha muito e ainda estuda... Acho bonito isso nele, mas ele também parece não saber descansar.

—Você fala coreano? —Perguntei á ele.

—Sim eu arranho um pouco.

—Uau, coreano, japonês e Mandarim... Tá de parabéns—Disse eu batendo palminhas.

—Na verdade eu falo também Cantonês e inglês, porque sou de Hong Kong.

—Uau... Um poliglota. Qual dessas línguas você acha mais difícil?

—Na verdade, eu meio que aprendi todas quase que ao mesmo tempo, e não foi por querer e sim por necessidade, então não sei dizer ao certo—Disse ele pegando um rolinho primavera— Mas a mais fácil com certeza foi o japonês.

—Nossa... Me quebrou agora, eu estou me matando até hoje para aprender a língua e sobreviver á aulas de gramática japonesa, e você vem me dizer que a mais fácil das línguas que você fala a mais fácil é o Japonês? Jesus amado... Eu achava que isso não era possível.

Yuan riu sem disfarçar do que eu falei, depois estendeu sua mão até encostar-se à minha do outro lado da mesa.

—Acho que o segredo das línguas é o mesmo do da dança, sempre precisamos de um parceiro para treinar e até ensinar novos passos—Disse ele olhando em meus olhos.

Hum, ele falou de um jeito tão galanteador agora... Falando nesse papo de línguas, bem que ele podia me beijar agora.

Eu realmente pensei que Yuan iria me beijar naquele momento, ele se levantou e mudou de cadeira, sentou-se na cadeira á minha esquerda, então aproximou de mim e colocou a mão em minha face levantando meu queixo. Mas quando estávamos bem próximos um do outro acho que ele parou, tentei beijá-lo, mas ele recuou um pouco. Olhei para sua boca e depois para seus olhos, ele também me olhava  e então disse:

—Aff... Meu primo está me chamando de novo—Disse ele levantando-se—Eu já volto Samanta.

Yuan voltou á mesa dos coreanos, foi até a cozinha e depois passou no banheiro. Quando voltou á mesa se sentou de novo de frente para mim, tanto eu quanto ele estávamos claramente tristes, ele passou a mão em seu rosto e depois ficou me olhando comer pensativo.

—Você topa tomar um sorvete depois que sairmos daqui? —Perguntei eu.

—Claro—Respondeu ele sorrindo para mim.

Terminamos de comer rapidamente, depois fomos até uma sorveteria na própria galeria, Yuan disse que naquela sorveteria vendia Kakigori que é basicamente gelo raspado com calda...Então ao meu ver é raspadinha e eu nunca tomei, sempre vi nos filmes americanos, mas nunca tive a oportunidade de tomar. Chegamos á sorveteria e ele pediu um copo pequeno e uma garrafa de água e eu... A gulosa e exagerada Samanta pediu um copo grande, e para piorar tomei quase que a metade do trocho em um só gole, resultado disso, uma dor de cabeça infernal. Yuan havia me avisado para ir devagar, mas eu não ouvi e quase morri, sem exageros. Por sorte ele não riu da minha burrada, vi que queria rir, mas ele se controlou ao máximo... Sinceramente, se não fosse eu quem tivesse feito isso ou talvez tivesse capacidade de rir de mim mesma durante aquela dor de cabeça, provavelmente eu riria de mim, então tenho que aplaudir seu alto-controle.

—Você está bem? —Disse ele me dando uma garrafa d’água.

—Obrigada—Disse eu tremendo.

—De nada Samanta, você disse que nunca tinha tomado... Imaginei que isso poderia acontecer, porque volta e meia eu também esqueço e acontece o mesmo. Por sorte minha mãe me ensinou a sempre que comer coisas doces ter um copo de água á mão.

—Você parece gostar muito da sua família, isso é bom.

—Eu amo minha família, mas sinto muita falta da minha mãe... Tenho que pedir perdão, porque eu geralmente falo muito dela... É saudade.

—Tudo bem, eu entendo... Não se esqueça disso.

Ele sorriu para mim de uma forma tão meiga, visivelmente ele gosta de mim e eu... Sei lá, meio que acho que estou gostando dele também, mas estou conseguindo manter a aparência de calma... O que é ótimo. Evita vexame e isso eu já passo sem estar gostando de alguém, então é bom manter a calma para evitar mais vexame.

Depois de terminar a raspadinha íamos nos despedir, mas eu o convenci á me acompanhar até em casa. No caminho fomos contando piadas, quer dizer, piadas de “nossa terra” como ele mesmo disse adaptadas para japonês, para ver se tinha graça.  Há palavras e coisas que eu não sei traduzir, nem ele também(Apesar de ser muito mais familiarizado com a língua) e acho que por isso mesmo foi tão legal e divertido, mesmo que muitas piadas dele não tivessem graça ao meu ver e quase todas minhas ao olhar dele.

Assim que chegamos no portão do meu condomínio eu o abracei e me despedi, eu já estava entrando, mas ele me segurou pelo braço.

—Perdão por esse encontro ter sido um fiasco.

—Que isso, foi muito legal.

—Depois de hoje você provavelmente não vai querer me ver mais, muito menos sair comigo.

—Hum... Eu saio com você, mas eu acho chato da minha parte pedir isso... Sempre que eu chamo alguém, até minhas colegas para me acompanhar até o banheiro parece que eu estou sendo muito incomoda.

—Eu entendo seus motivos—Disse ele soltando meu braço, mas logo em seguida me segurou novamente—Espera, e se eu te chamasse para sair?

—Puf... Que pergunta idiota... Eu aceitaria... Óbvio!

Ele olhou para o chão, deu um sorrisinho, depois me puxou para perto dele. “Um beijo finalmente, até que esse garoto tem pegada” pensei eu olhando para cima me equilibrando na ponta dos dedos do pé para poder beijá-lo, eu podia sentir seu sua respiração em minha pele e então... Tudo foi pelo ralo. Não sei o que aconteceu, eu estava fechando os olhos quando vi ele recuar novamente e fechar a boca, ele disfarçou e puxou a correntinha que eu usava e perguntou:

—Correntinha bonita—Disse ele sorrindo sem graça.

—Ah... Obrigada... Eu acho.

Yuan beijou minha testa e então se afastou de mim, isso em quase que numa fração de segundo. Eu realmente não sei o que aconteceu, ele desistiu?

—Boa noite Samanta!

—Ah, boa noite—Disse eu triste e meio confusa.

Ele parecia querer dizer algo, mas não disse nada, então se virou e foi embora. Eu subi as escadas e entrei em meu apartamento cabisbaixa, todas as luzes estavam apagadas, menos a que vinha da televisão, já que minha tia estava sentada no sofá vendo tv.

—E aí Sasá... Como foi o encontro?—Perguntou tia  Kiyomi virando-se para mim.

—Bom—Disse sem graça.

—O rapaz parece ser uma boa pessoa.

—É mesmo, trabalhador, mas...

—Mas?

—Nada, nada de importante na verdade.

—Hum... Se ficou pensativa é importante sim.

—Não, é que ele teve chance de me beijar, e eu queria isso na verdade... Mas ele recuou, não entendi isso.

—Hum... É estranho isso, mas acho que ele causou mais impacto do que se tivesse beijado.

Eu apenas acenei positivamente com a cabeça e fui direto para meu quarto, quando cheguei lá meu irmão folgado estava dormindo na minha cama com uma revista na mão. Eu não podia deixar essa chance escapar, peguei meu celular sobre a escrivaninha e o deixei pronto para tocar uma música muito irritante e alta no ouvido daquele chato. Aproximei-me do meu querido irmão com a maior delicadeza e silencio possível para ele não me ver e liguei a música bem em cima do ouvido dele, mas ele simplesmente começou a rir de olhos fechados.

—Samanta, eu sabia que você não era uma boa garota, mas não pensei que tivesse uma índole tão má e nem que fosse tão desesperada —Disse ele se levantando— Eu não estava dormindo sua boba, estava te esperando

—Sai daqui Gabriel! —Gritei eu batendo nele com o travesseiro.

—Ei calma... Eu só queria te entregar uma coisa.

—Sai daqui! —Disse eu sem paciência, realmente não estou com cabeça para as brincadeiras dele hoje.

Sentei-me na cama, comecei a desfazer a maquiagem. Droga! Eu queria aquele beijo, por que será que ele desistiu? E por que eu simplesmente não beijei ora? Aff, acho que estou realmente gostando desse Chinês, mas eu acabei de conhecê-lo, isso não tem muita lógica. Estava perdida em meus pensamentos quando percebi que meu irmão estava do outro lado da porta pela sombra debaixo da porta.

—Biel, fala o que você quer?

—Te ajudar PORRAA!! —Disse ele.

—Sem xingar Gabriel! —Gritou minha tia da sala.

—Droga como ela me escutou? —Disse Gabriel baixinho.

—Eu ainda consigo-te escutar—Gritou minha tia novamente—Tá de castigo, sem videogame para você amanhã.

Eu não aguentei e ri daquilo, finalmente meu irmão se ferr... Acho melhor nem pensar em um xingamento, vai que minha tia sabe ler pensamentos... Hahaha.

—O que?! Mas... Mas...

—Sem mais Gabriel, isso dói em mim mais que em você... Mas se não fizer isso você vai continuar a falar palavras feias e isso vai se tornar um mal hábito.

—Ai, tá bom tia... Te amo! —Disse ele entrando em meu quarto e fechando a porta.

—Também te amo fofucho.

Gabriel entregou para mim a revista que estava lendo, aparentemente era sobre videogames “Android Guild XD”.

—Eu comprei no Arcade Terious Palace, uma loja muito legal, que segundo meus colegas tem uma coleção de fliperamas e árcade games, aquelas maquinas antigas que eu sempre tive vontade de jogar...

—Ai, chega ao ponto Gabriel, tô sem paciência agora.

—O ponto está em sua mão, há dicas sobre Sayonaka e seus easter eggs. Achei que podia te ajudar á ganhar meus 800¥.

—Ah, obrigada Biel—Disse eu abrindo a revista.

—De nada Sasá... Você está sem paciência, o encontro foi ruim por acaso?

—Não, foi ótimo.

—Mas?

—Mas o que? Sem mas seu bobão.

—Sempre tem um mas, desembucha logo, talvez eu possa te ajudar.

—Bem, ele teve chance de me beijar duas vezes, chegou bem perto... Mas...

—Não rolou—Disse eu batendo minhas mãos.

—Isso mesmo.

—Hum, foi mal, mas eu disse que ele era gay... Você não quis me ouvir.

—Ele não é...

Eu havia esquecido um pouco do meu celular, mas naquele momento eu vi vibrar, era uma mensagem. Corri para pegá-lo e havia quatro mensagens no Face, uma delas era do Yuan e as outras três das minhas irmãs, provavelmente perguntando como foi o encontro. A mensagem do Yuan dizia “ Me perdoe pelo desastre de hoje, me deixa te compensar te levando para passear no domingo que vem... Eu gostaria muito de vê-la novamente”. Só faltou gritar de alegria quando li aquela mensagem, então me virei para meu irmão e mostrei para ele as palavras escritas por Yuan.

—Eu disse que ele NÃO era gay—Disse eu dando pulinhos de alegria.

—Mas não é macho, te chamou pelo face ao invés de te pedir isso pessoalmente!

Ele tem razão, mas mesmo assim FODA-SE! E graças á Deus minha tia não lê pensamentos, se pudesse ler ela já teria gritado comigo agora.

—Sai do meu quarto agora, vai—Disse eu friamente com a cabeça abaixada—Você está me tirando do sério hoje.

—Sei disso e me orgulho muitíssimo do resultado—Disse ele rindo.


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