The Discovery escrita por CouldBe


Capítulo 5
Let me help you


Notas iniciais do capítulo

Sobre como ninguém resiste a um pedido do Ed...



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– E a prova? – Anna o abordou quando ele saia de sua sala. Ela estava na frente, conversando com Mary.

Ele esboçou uma tentativa de sorriso

– Sei lá...

Ela riu.

– Você vai se acostumar com essa escola. Prometo. Mary, esse é o Ed – disse, colocando a amiga um passo à frente. Ele mora lá na minha rua

Ele sorriu para ela e a cumprimentou.

– Você vai para casa agora?

– Sim, na verdade eu tava te esperando – ela disse, com um sorriso engraçado – queria saber se minhas dicas serviram de alguma coisa

Eles se despediram de Mary e andaram para fora da escola, quando passaram o portão, a garota o ofereceu um biscoito, o que ele prontamente aceitou

– Não recuso comida – disse, rindo.

– Dos meus, então.

Eles caminharam em silêncio por cerca de 5 minutos. Era um dia bonito, a temperatura amena e o céu azul. O caminho até a rua deles era tranquilo, pois a escola ficava numa posição central, e eles passavam por algumas ruas movimentadas até lá, então sempre tinham com o que se distrair. Pessoas passeando, crianças brincando, lojas abertas etc. Ed olhou para ela e retomou a conversa

– Não sei se algum dia vou me adaptar a essa escola.

– Olha – ela disse, paciente – eu sei que o The Team parece ser uma escola difícil, por causa da preparação voltada para o vestibular e tal, mas você se acostuma. Não é nada de outro mundo para quem estuda.

– Esse é o problema! Não quero estudar essas coisas.

Anna olhou de lado para ele, o encarando de cima a baixo, depois baixou a cabeça:

– Para com isso, vai. Você consegue. E eu posso ajudar, se quiser. Posso te dar quantas dicas você precisar. Eu até sou uma pessoa ocupada, mas eu gosto de ajudar os outros.

– Não é questão de eu conseguir. É questão de querer.

– Olha, Edward, seja lá o que você quiser da sua vida, você precisa estudar.

– Eu não acho que seja tão “simplesmente isso”

– Não precisa ficar complicando as coisas.

– Não to complicando. É só que...argh. Odeio tudo isso! É complicado sim, tenho que agradar meus pais e essa prova foi uma desgraça, to completamente perdido.

Anna olhou para ele com uma cara triste. Andaram o resto do caminho em silêncio, até chegar na casa dela

– Tchau – ele disse, com um leve sorriso.

– Olha só – ela olhou para ele – eu sou bem organizada, e eu tenho uns resumos lá em casa que podem te ajudar a estudar para o vestibular. Eles têm o conteúdo bem resumido, eu não gosto muito porque prefiro me aprofundar mais, mas acho que pode ser útil para você, principalmente agora no começo

– Não precisa, de verdade...

– Não, eu faço questão. Nossas provas acabaram hoje, então você vai ter bastante tempo para estudar para as próximas e se recuperar. Eu tenho que procurá-los, mas isso não é problema. Vou passear com Nick, meu cachorro, mais tarde. Passo na sua casa e te entrego.

– Tá, vou aceitar – ele cedeu - Mas só porque tu estás insistindo. Me passa seu celular para eu anotar meu número.

A menina sorriu, satisfeita, para ele. Abriu a bolsa, vasculhou e retirou seu celular. Entregou para ele, que o devolveu segundos depois.

– Valeu – disse ela - te vejo mais tarde então- Ela piscou pra ele e virou de costas, abrindo o portão de sua casa.

– Até – ele respondeu, indo embora depois de um breve aceno.

No caminho, não pode deixar de esboçar um sorriso. De todos os amigos que tinha feito nessa cidade nova até então, certamente essa menina era a mais engraçada. Tinha um jeito diferente, um pouco ingênuo e espontâneo, que realmente demonstrava uma vontade grande de ajudar. Bem diferente de seus amigos, que eram mais largados e brincalhões, apesar de companheiros. Ele imaginou se ela queria fazer vestibular para medicina. Depois, sorriu ao imaginar a cena dela cuidando de pessoas e tendo que conviver com a loucura dentro de um hospital, fazendo o máximo possível para ajudar e enlouquecendo com tanta coisa para comandar. Riu de si mesmo por pensar isso.

Anna chegou em casa, que, como sempre, estava vazia. Era hora do almoço, seus pais estavam no trabalho e sua irmã estava na faculdade. Sua mãe e sua irmã comiam fora. O pai almoçava com ela sempre que pegava a menina na escola e eles vinham juntos até em casa. Mas em algumas situações, como em dias de prova, que ela saia mais cedo, ou quando seu pai tinha algum compromisso, ela vinha sozinha e almoçava da mesma forma. Em geral, não se incomodava. Ligava a televisão, ficava na internet ou simplesmente ficava com Nick enquanto almoçava. Depois, subia para o quarto, descansava um pouco e ia estudar. Essa era a rotina desde...sempre, pelo menos do que conseguia se lembrar.

Mas os dias em que acabam as provas, como era hoje, eram especiais. A menina ia para casa feliz, almoçava feliz, tomava banho feliz e tirava o resto do dia de folga, para recomeçar os estudos no outro dia. Colocava as suas séries em dia, lia livros, saia com os amigos, ou levava Nick para passear.

Ela mal abriu a porta, quando o cachorrinho veio correndo.

– Nick! Oi, rapaz! Tudo bom? – Já havia um bom tempo que ela parara de se sentir idiota por falar com ele. Todos da casa faziam isso – Vamos passear mais tarde, viu rapaz? – Disse, alisando a cabeça do cachorro, que abanava freneticamente o rabo com o som da palavra “passear”

Colocou suas coisas em cima da mesa, lavou as mãos e foi almoçar. Sua mãe sempre deixava seu prato pronto na geladeira. Esquentou-o no micro-ondas, ligou a televisão e sentou-se na mesa. Cerca de 30min depois, subiu ao seu quarto e foi procurar o que tinha prometido a Edward. Abriu as gavetas da escrivaninha e deu graças a Deus por ser organizada. Eram pastas e mais pastas, entupidas de papel. Cada uma tinha um ano e uma matéria escritos na capa, de forma que algumas tinham, naturalmente, bem mais coisas que outras. Reuniu as pastas do 1º e 2º anos e as colocou em cima da mesa. Porém, deu por falta de uma das pastas de física. Lembrou-se imediatamente de onde poderia estar. Pegou o telefone e apertou o 1, ligação automática que ia para o seu contato preferido.

Alice atendeu no segundo toque.

– Oi, que tu quer? Ta quase na hora do meu sono de beleza – Alice não sabia simplesmente dizer “alô”

– Boa tarde para você também. Como foram as provas?

–É...tu sabe né...foram boas...eu acho.

Anna nunca conseguia não rir falando com sua amiga.

– Seguinte: meus resumos de física, tão por aí?

Pôde ouvir a amiga gritando do outro lado da linha:

Ei, resumos de física da Anna, vocês estão aí? Depois esperou 3seg

– Desculpa, mas se eles estão aqui, não querem ser achados

– Deixa de ser palhaça – Anna respondeu, rindo. – Eu preciso deles para emprestar para um amigo. E eu sei que você não tá usando mais eles desde o ano passado.

– Tá miga, relaxa, amanhã eu levo pra você. Mas que urgência é essa, hein?

– Prometi que ia emprestar a uma pessoa, já falei

– ...to esperando uma informação mais precisa.

Anna respirou fundo. Obviamente, Alice não ia aceitar ficar sem uma explicação.

– Tá. Tem um menino novo na escola, que mora na minha rua, e que tá meio enrolado com os estudos e eu prometi ajuda-lo. Antes que você tente fazer qualquer piadinha de duplo sentido, já to falando para parar. Sério

– Uii, “já to falando para parar” – ela disse, imitando a voz da amiga – ta bom, senhorita “não quero me apaixonar esse ano nem nunca mais porque não esqueci meu ex-namorado”

– Para, Alice! Toda vez a gente volta para esse assunto. Vai dormir, vai. Tu tá é com a cabeça pesada por causa dessas provas, descansar vai te fazer bem. E leva meus resumos amanhã.

– Te amo, bicha estressada – ela disse, antes de desligar o telefone.

Alice desligou o telefone e foi tomar banho. Depois, trocou de roupa, pegou todas as pastas que havia separado e colocou-as dentro de uma mochila. Chamou Nick e o colocou na coleira, e os dois saíram juntos de casa.

Eles estavam a caminho da casa do ruivo, quando Anna lembrou que deveria ter mandando uma mensagem para ele, perguntando se já podia passar lá. Ela achava que não tinha intimidade suficiente para simplesmente chegar e tocar a campainha. Pensou em voltar, mas já estava quase na metade do caminho.

Quer saber? Eu que to fazendo um favor a ele, e não o contrário, então não tem problema nenhum nisso pensou, confiante.

Ela e Nick andaram a rua toda, obviamente levando mais do que o tempo mínimo necessário, porque ele parava o tempo todo para cheirar tudo, mesmo – ela imaginava- já conhecendo cada detalhe de cada cheiro daquele lugar.

Pôde ouvir os primeiros acordes de violão a alguns metros da casa do ruivo. Ela não sabe por que, mas sentiu seu rosto corar.

Bem, pelo menos não vou precisar tocar a campainha.

Quando finalmente chegou, Nick já estava com a língua para fora, cansado, e ela constatou que precisaria carrega-lo no caminho de volta. Chegou na frente do portão para chamar o garoto, porém, ele estava sentado no jardim, em frente à casa, completamente entregue à música. Achou errado perturbar alguém tão concentrado. De fato, ele tocava como se só existissem ele e o violão em todo o mundo, era realmente bonito de se ver – e ouvir.

Deve ter ficado um bom tempo encarando o menino porque, de repente, ele olhou para a frente e seus olhares se encontraram. Ele parou de tocar imediatamente. Ela abaixou o rosto, sentindo-o corar novamente. Quando finalmente olhou para ele de novo, deparou-se com a mesma cara que havia visto da primeira vez em tinham se conhecido. Um sorriso de lado e uma sobrancelha erguida: “Explique-se”

– Desculpa – ela disse, sem jeito – cheguei faz um tempinho, mas não quis te atrapalhar. Você dava concentrado demais.

– Anna, você pede muitas desculpas – ele disse, sorrindo para ela – entra aí. O portão está aberto.

Ela ponderou se deveria entrar na casa de um quase desconhecido, mas depois de uma reflexão que deve ter durado uns 5seg, constatou que ele não era assim tão desconhecido, e que ela não tinha nada melhor para fazer nessa tarde sem estudos. Entrou e fechou o portão atrás de si, com Nick ao seu lado. Quando o cachorro viu Edward, correu para ele, que o recebeu também com carinho.

– Gosta de cachorros, Edward? – Ela perguntou, sentando-se na grama, na frente dele.

– Prefiro gatos. Tenho dois, inclusive. Mas sim, gosto. E pode me chamar de Ed – ele respondeu, e ela concordou com a cabeça.

Nick voltou-se para ela e se aninhou em seu colo.

– Não me diga que essa mochila gigantesca é com as coisas que tu vai me emprestar

Ela provocou:

– Já vai começar a reclamar, é?

Ele sorriu.

– Já vai tirar onda, é?

A garota riu, tirou a mochila das costas e a colocou em sua frente. Abriu-a e retirou cerca de uma dezena de pastas de dentro da bolsa, ato que o garoto assistiu boquiaberto. Porém, antes que ele pudesse falar qualquer coisa, ela antecipou-se:

– Antes que você se assuste, lembra que isso aqui é todo o conteúdo do ensino médio, então, sim, tem bastante coisa, mas não é para ser estudada de uma só vez.

– Acho que tem muita coisa aí que não é para ser estudada nunca – ele comentou.

– Olha, se você precisar de ajuda, pode me procurar, sério. Eu estudo no The Team há 5 anos, sei bem como funcionam as coisas por lá.

Ele pegou as pastas, claramente entediado, e levantou-se.

– Vou guarda-las lá dentro, para não sujar

– Tranquilo – ela disse, preparando para se levantar – então acho que vou indo.

Ele pôs a mão no ombro dela.

– Fica um pouco. Você tem muito a me contar sobre essa cidade, e essa escola, e essa vida. E eu tenho músicas da Taylor Swift para te oferecer – ele disse, com um sorriso malicioso no rosto.

Ela corou e reprimiu-se mentalmente por ser tão tímida.

– Tem certeza? – Perguntou.

– Claro! Ou você tem alguma programação melhor de fim de provas?

– Na verdade, não – ela respondeu, rindo.

– Então espera aqui – ele sorriu e piscou para ela. Depois se virou e foi em direção a casa.

Anna aguardou, sentada no jardim da casa onde passara a sua infância brincando e onde agora tinha – aparentemente- feito um novo amigo, e sentiu a adrenalina de estar fazendo alguma coisa diferente pela primeira vez desde que esse ano letivo começara.


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