Jenna, a esposa de Johnny, olhava de canto de olho mal humorada toda vez que via Esme caminhando pela casa. Era família do marido e era obrigada a aceitá-la ali, mas isso não queria dizer que gostava daquela situação. O que suas amigas iriam dizer?

Esme Evenson era o pus de uma ferida que ela queria a todo custo esconder. Por quanto tempo aquela mulher iria continuar na sua casa? Um mês já tinha se passado e Esme não dava nenhuma indicação de que um dia iria embora.

Ainda pior, a mulher só sabia comer, comer a comida que ela preparava com esforço. Será que a cunhada não percebia que estava gorda? Tudo bem que para todos os fins ela era viúva e portanto agora não teria que agradar nenhum homem da cidade, mas o que custava ela se arrumar um pouco? Seria questão de tempo até que os Platt ficassem mal falados.

Na verdade ela poderia apostar que já tinha comentários maldosos na cidade sobre eles. Sobre a estranha prima de Johnny que Jenna Platt acolheu.

— Aqui – disse entregando as moedas ao vendedor de frutas.

Com os braços cheios de sacolas das provisões da semana, Jenna Platt começou a andar até sua casa, queria evitar encontrar algum conhecido ali no mercado da cidade. Mas obviamente não conseguiu se esconder por muito tempo.

— Jenna, querida – a senhora Flamming a cumprimentou – como está? O dia hoje está agradável, concorda?

— Oh, olá querida, bom encontrá-la aqui – disse com um sorriso amarelo – está um pouco cedo para vir ao mercado, não esperava encontrá-la.

— Verdade, mas hoje acordei cedo e não consegui voltar a dormir sabe? Aí resolvi vir aqui, fazer as compras da semana logo. Mas e você? Tão cedo aqui?

— Sim, como minha cunhada estará conosco por um tempo achei que seria melhor fazer as compras agora para ter mais tempo a tarde para passar com ela, você entende não?

— Certamente, faz o certo. E como ela está a pobrezinha? Soube que perdeu o marido na guerra. Tão jovem e já viúva... que tragédia...

— Pois é – Jenna respondeu sem graça – bom, preciso ir, até mais senhora Flamming, espero cruzar com você em breve.

— Venha tomar um chá na minha casa sexta e claro, traga a viúva contigo, imagino que um pouco de companhia feminina fará bem a ela. A propósito, como ela se chama mesmo?

Jenna travou um pouco, deveria responder? O marido disse para não comentarem muito sobre Esme na cidade. Ela não entendeu direito o por que mas não quis desobedecer o marido. O que de tão grave Esme poderia ter cometido além de abandonar o marido?

Bobagem, o marido estava exagerando, que mal faria se as pessoas soubessem o nome da cunhada.

— É Esme, Esme Even-alguma-coisa. Bem, então até sexta, levarei um bolo caseiro para acompanhar nosso chá.

— Muita gentileza sua.

Jenna tomou o rumo de casa e não percebeu que um homem com uma barba espessa a acompanhava com o olhar. Quando a perdeu de vista o homem se levantou do canto onde estava sentado e caminhou em direção a tal senhora Flamming.

— Boa tarde minha senhora – comprimentou educado.

— Olá – ela respondeu olhando com desprezo suas roupas sujas e remendadas – em que posso ser útil ao senhor?

— Essa mulher, Esme alguma coisa, você a conhece? Sabe se ela está na cidade a muito tempo?

— Posso perguntar o por que do seu súbito interesse? Quem é você afinal? E por que esse interesse nos Platts? Olha que chamarei a polícia e garanto que você nunca mais verá o céu azul de novo. Sou uma mulher importante na cidade - disse estufando o peito.

— Calma minha senhora. Não desejo nenhum mal a eles. Só estou um pouco curioso sabe?

— Pois fique com sua curiosidade aí e não me dirija mais a palavra.

— Por favor minha senhora. Só me diga, ela é nova na cidade não?

— Sim – a senhora Flamming respondeu cansada enfadada - ela é. Agora vai me dizer o por quê desse interesse?

— Por suposto, eu sou Charles Evenson e Esme é minha esposa. Eu vim aqui levá-la de volta para casa.