Culpava a mãe por tal coisa: quando ainda era pequena, a mãe lhe dissera que nunca estaria sozinha se brincasse de faz de conta. Filha única que é, logo achou essa brincadeira perfeita: amigos que a amavam, a adoravam como uma primadonna, e que jamais a julgariam. Os amiguinhos da escola não eram assim, e depois de horas no inferno que era a sala de aula, era no faz de conta que buscava refúgio.
Culpava ao pai por desestimulá-la e forçá-la a encarar o doloroso mundo real: ela tinha que crescer, abandonar o complexo de Peter Pan de uma vez e notar que não seria uma "princesinha" para sempre. "Estude, arrume um emprego: a melhor herança que um pai pode deixar aos filhos é a educação". Justo, mas não deixava de ser doloroso e ela se feriu com tal coisa.
Culpava sua família por sempre se preocuparem mais com o status do que com o bem estar. Ela era a mais inteligente e deveria ter um futuro brilhante pela frente. Viver de arte? Só se fosse um hobby.
Culpava a si mesma pela falta de coragem de viver: não conseguia se expressar, não conseguia lutar pelo que desejava... Estava tão cansada de todos depositarem suas esperanças e pressões sobre ela, que o maior desejo da garota era sumir, viver em seus sonhos cheios de magia, porque sua vida real era trágica.
Culpava Alice por não dividir as maravilhas de seu país, Peter por não tê-la salvado e levado para a Terra do Nunca. Culpava todos, inclusive ninguém.
Afinal, o culpado se perdera no caminho!