Aventura Romântica – Lembranças escrita por Além do Meu Olhar


Capítulo 1
Lembrança I – Estou grávida!


Notas iniciais do capítulo

Um momento mãe e filho...


Boa leitura!



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Lipe sentado na bancada que separava a cozinha da sala, com as pernas cruzadas, feito um pequeno Buda, esperava a mãe espalhar o glacê sobre as bolachas recém-saídas do forno, para então enfeitá-las com a maior variedade de confeitos que estavam espalhados a sua frente.

No auto dos seus cinco anos, o menino de cabelos loiros e algumas sardas espalhadas ao redor do nariz, sabia que quando a mãe levantava cedo e começava a preparar bolachas caseiras, ela estava triste, mas mesmo assim, era um sorriso que mantinha nos lábios quando olhava para ele. Adorava esses momentos e eram raros desde a chegada da irmã cerca de dois anos atrás, tinha consciência que com um neném pequeno em casa e sem babás não era fácil para a mãe ter muitos momentos a sós, então ela escolhia as madrugadas. E que alegria o dia que ele descobriu isso, acordou sentindo cheiro das famosas bolachas se espalhando pelo ar, levantou, calçou suas pantufas e foi pé por pé até a cozinha, lá encontrou a mãe, com o tradicional avental de borboletas, que ele mesmo tinha pintado na sala do maternal II aos três anos, aquele que a professora tinha ajudado a escrever “Minha mãe é a melhor cozinheira do mundo”, por cima da camisola e os cabelos presos num coque desajeitado, ele ficou uns minutos apenas vendo a mãe amassar com as mãos as bolachas espelhando um pouco de farinha por todo lado e quando ele se revelou os olhos dela haviam brilhado.

—Olha só quem está acordado!

—Que ta fazendo mamãe?

—Vem cá meu amor... - ela se abaixou com as mãos cheias de farinha e o levantou meio sem jeito sobre a bancada. - Estou fazendo bolachas, quer me ajudar?

Ele abriu o maior sorriso que tinha e disse.

—Eu quero!

Não sabia se era uma tradição que os dois criaram, mas várias vezes desde aquele dia, um ano atrás- bem na época que todas as atenções estavam sobre Laura- essa parceria se repetia.

—O que está pensando meu bem? - ela perguntou.

—Que essas vão ficar mais gostosas, enchi de chocolate.

—Verdade, hummm, já posso ver o sucesso!

—Acabou mamãe?

—Sim querido, por hoje chega de bolachas, vamos arrumar tudo aqui, ainda é cedo para o café da manhã.

Ela o segurou por debaixo dos braços e o desceu até o chão, ele aproveitou para sentir o cheiro delicado dela, era o melhor perfume que conhecia uma mistura adocicada de canela, chocolate e limão.

Ajudou a guardar as coisas no balcão e secou alguns utensílios que a mãe lavou.

—Pronto, tudo em ordem, sua vó sempre dizia que cozinhar é uma dádiva, mas organizar a sujeira depois é uma missão. E nós concluímos a nossa.

O menino adorava escutar quando ela falava algo da avó, os olhos brilhavam e um sorriso terno no rosto demostravam a saudade que sentia. Apesar de pequeno já havia aprendido sobre isso.

—Vamos lá na varanda mãe?

—Sim querido, vou só tirar o meu avental. - falou enquanto tirava e dobrava o mesmo. - E estou pronta, vamos?

Ele segurou a mão que ela oferecia e os dois foram até a varanda. Moravam há alguns anos em cima da confeitaria da família. A pouco mais de seis meses tinham trazido uma cadeira de balanço e instalado ali bem perto das flores e dos temperinhos da mãe.

A moça sentou e abriu os braços para que o menino se colocasse ao seu lado, então puxou uma manta que sempre ficava dobrada no cantinho para as manhãs ou noites mais frias. Embrulhados os dois na manta, a mãe começou a se embalar devagar.

—Mãe está triste?

—Não filho, triste não, graças a Deus não tenho motivos para tristeza... Mas hoje acordei com saudade...

—Da vovó?

—É da vovó e de quando ela estava aqui comigo.

—Mãe, você acha que onde ela está ela consegue nos ver?

A moça sorriu e apertou o menino ainda mais em seus braços.

—Consegue, sabe por quê? Por que ela está aqui ó! - ela colocou a mão no coração dele. - Ela está viva ai dentro de você e de mim... E você e a Laurinha são um pedacinho de mim que sou um pedacinho da vovó então junta todos esses pedaços e da uma vó só.

Ele riu da explicação da mãe, uma risada gostosa e serena.

—Mãe, conta a história do dia que contou para o papai que eu ia chegar?

Ele adorava ouvir as histórias de quando era bebê, ou antes, ainda, mas fazia tempo que não escutava.

—Deixa me ver... Nunca vou esquecer a cara do seu pai, ele ficou tão feliz, que chorou emocionado com a notícia.

—Papai chorou quando contou da Laurinha?

—Você não lembra? Foi você mesmo que contou!

—Ah é mesmo, eu fiquei o dia todo usando aquela camiseta que a dinda encomendou dizendo “Melhor irmão mais velho” e o papai nem notava.

—Seu pai é bem atento, mas as vezes não repara muito em alguns detalhes.

—Ele não chorou ele ficou te rodopiando pela sala quase fez você vomitar.

—Nossa, que loucura! Ele ficou feliz também, mas é que quando você chegou foi como um presentinho que não esperávamos, e a Laura agente planejou, lembra que você ficava pedindo um irmãozinho o tempo todo...

—É, mas não ganhei um irmãozinho...

—Olha só, ficou bobo quando ela chegou não saía do lado do berço dela nem para passear com os dindos!

—Eu gosto da minha irmã, mas às vezes ela me cansa. - falou bufando.

A mãe deu uma risada e um beijo na cabeça dele.

—Então vou te contar a história, ainda quer ouvir?

—Sim!

Ele se ajeitou ao lado da mãe, que colocou a mão sobre ele e começou a falar com a voz melodiosa fazendo com que ele visualizasse as lembranças que ela contava.

 

****

 

Lis havia tirado o dia de folga não estava se sentindo bem, casada pouco mais de quatro meses, recebeu a ordem de Fábio que era: Ir ao médico imediatamente! Ele estava fora o dia todo divulgando seu livro recém-lançado, mas deixou Lia com a missão de obrigar a amiga ir na consulta.

—Bom seus exames estão ótimos Lis, na verdade muito bons mesmo!

—Engraçado tenho me sentindo tão cansada, sono direto, uma ou outra tontura.

—Ah sobre isso, tem um exame que tem uma alteração.

—Qual?

—O de sangue... Está positivo...

—Positivo?

—Sim Lis, você está grávida.

—Meu Deus! - ela se espantou, não estavam esperando engravidar, tinha feito uso de anticoncepcional corretamente.

—Está com pouco mais de duas semanas. 

—Não esperava essa notícia.

—É um bom período, casou há pouco tempo é uma benção um filho agora enquanto são jovens, vão ter fôlego para correr atrás dele ou dela!

—Claro que sim, só estou surpresa.

—E o papai como vai receber a notícia?

—Vai adorar, certamente. -falou pensativa, pois, na verdade não conseguia imaginar qual seria a reação dele, mas sabia que esse filho seria muito importante para os dois.

 

**

 

Mais tarde ela pensou na melhor forma de contar ao marido, sabendo que ele ia chegar somente a noite resolveu organizar uma pequena surpresa.

Fez um bolo de chocolate bem pequenininho e sobre ele usou um pequeno bercinho feito de massa comestível, embalou com uma fita vermelha e colocou bem no centro da mesa, deu uma corrida em algumas lojinhas e comprou elementos para ilustrar a surpresa, como um porta-retratos vazio, um sapatinho e uma agenda.

Na primeira página da agenda colou o exame de gravidez. O porta-retratos colocou do lado do bolo com o sapatinho, sabia que tudo aquilo significaria muito para ele, que traria a lembrança do bebê que perdeu, mas queria deixar claro que era a história deles seguindo.

Digitou uma mensagem no computador e imprimiu colocando do lado do bolo e assim ficou esperando Fábio chegar.

Duas horas depois o escutou abrindo a porta estava na cozinha preparando um jantarzinho para os dois e ficou esperando ele encontrar a surpresa na mesa que ficava na sala, onde sempre deixava suas chaves e papéis que trazia.

 

**

 

Fábio chegou e já sentiu cheiro da comida da esposa se espalhando pelo apartamento. Foi até a mesa da sala, largar suas coisas e ficou olhando o que estava em cima do móvel. Na hora o coração começou a acelerar, batendo com força.

 

“A vida é cheia de surpresas já aprendemos isso não é verdade? E juntos estamos vivendo uma história nova, que construímos dia-a-dia sem um planejamento pronto... E posso dizer que amo você cada vez mais. Viver cada momento do seu lado me faz querer permanecer e continuar nossa aventura, desejando que ela jamais tenha fim. Somos inseparáveis, meu amor. Agora e mais do que nunca, estaremos unidos para encarar de frente todas as novas etapas que surgirão com a chegada de um novo integrante na nossa família!”

 

 

Quando terminou de ler as lágrimas já varriam seu rosto, lembrou por um minuto do filho que esperava com Aline, e sentiu uma pontada no peito, deixando a dor sair e permitindo-se ficar feliz, ia ser pai.

—Lis?

Ela apareceu na porta da cozinha os olhos alegres e curiosos.

—Oi...

Ele não conseguiu articular nenhuma palavra, andou até ela e encostou seu rosto no dela, olho no olho, respirações juntas e lágrimas compartilhadas.

—Eu sei que não conversamos nada sobre filhos, ainda mais tão cedo... Mas aconteceu sem eu prever.

—Eu sei...

—Você está lembrando do seu bebê?

—Meu amor... - ele passou a ponta dos dedos nos cabelos dela. - Eu sempre lembro dele, ou nunca esqueço melhor dizendo... Mas, além disso, estou feliz demais, estou recebendo outra chance!

—Outra? Não! - ela colocou as mãos sobre o rosto dele e se afastou para que pudessem se ver melhor. - Essa é uma nova história, a nossa! Não uma chance, como se você tivesse feito algo errado, meu amor, já superamos isso né?

—Você tem razão... Mas ainda dói... Bem aqui no peito!

—Eu sei... - trouxe o rosto dele de volta ao seu e o beijou suavemente nos lábios.

—Vou ser pai de um filho seu? Quem diria que uma mesa de café da manhã renderia tanto? - ele procurou demostrar que tinha absorvido a novidade.

Ela sorriu e o abraçou.

—Esse café da manhã vai ser eterno meu amor! Você vai ser pai, vamos ter um bebê lindo!

—Sim, estou muito feliz! Obrigado!

—Te amo cada dia mais!

—E eu te amo cada dia muito mais!

Se beijaram e ele a ergueu ainda presa nos seus lábios e a rodopiou com carinho.

****

 

Lis olhou para o filho adormecido, o dia nascendo no horizonte e um sentimento de paz e saudade em seu ser. Com cuidado levantou e o pegou nos braços, com certa dificuldade pois ele estava tão crescido, o seu menino era um rapazinho já.

Foi até no quarto e o colocou na cama, ajeitou as cobertas e deu um beijo na sua testa. Passou no quarto da filha que dormia agarrada a uma boneca de pano, presente da dinda Nanda. Então foi para seu próprio quarto, o marido dormia agarrado a um caderno e uma caneta tinha rolado pela cama, sinal que tinha acordado e anotado alguma ideia, tirou o caderno dele e colocou juntamente com a caneta sobre o criado mudo e deitou ao seu lado.

—Lis? - ele sussurrou sem abrir os olhos. - Onde você estava hein?

—Por ai...

—Cozinhando de madrugada... - ele a envolveu em seus braços. - Lipe te ajudando... Essa mania de vocês, já estou vendo perdi meu lugar de ajudante.

—Você viu?

—Fui até lá e vi ele te ajudando, resolvi deixar vocês dois, sei que ele sente falta de ser filho único.

—Um ano amor... faz um ano hoje que mamãe me deixou.

—Eu sei querida, -ele buscou os olhos dela. - Queria diminuir a sua dor...

—Você já diminui... Mas a saudade só aumenta.

—Ah minha linda, vem cá... - ele a puxou para um abraço.

—Ainda bem que eu tenho vocês, são minha alegria.

—Você que é a nossa, a minha vida, você sabe não sabe? Minha vida, Lis é você!

—Te amo!

Os dois se beijaram e se deixaram ficar naquele abraço desajeitado na cama, sentindo um o coração do outro bater em sintonia.


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