Apartamento 804 escrita por Drama Queen


Capítulo 6
Todo mundo é fodido


Notas iniciais do capítulo

Acho que esse é o mais curto até agora... Não é por falta de vontade de escrever, estou bem animada com os comentários de vocês... Só não estou em um bom momento e provavelmente vou me afastar por um tempinho. Apesar de ser curto, coloquei meu coração nesse... Boa leitura.



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Meu corpo inteiro está tremendo. Estou enrolada em um cobertor macio, mas não consigo controlar meus músculos. Ainda sinto o peso das mãos de Theo em meus ombros. Escuto uma voz distante, mas não consigo focar o suficiente para entender o que a pessoa diz.

Já esfregou na minha cara minha insignificância uma vez e eu aceitei… Fecho os olhos e tento me concentrar em respirar. Meu rosto está formigando, provavelmente uma hiper ventilação. Não consigo. Meus pulmões se expandem e se retraem quase não rápido quanto meus batimentos cardíacos.

É só isso? Uma satisfação sexual e pronto?! Meu ventre se retrai. Ele está em mim novamente. Tento, desesperadamente, expulsar a sensação. Parte de mim traz de volta a memória, parte de mim me odeia por isso. Pra mim não foi só algo casual! A imagem de seu olhar desesperado vem à minha cabeça. Eu queria rir. Eu queria poder filmar a cena para assistir depois, quando a raiva tivesse passado.

“Nós”? Você sabe que não existe “nós” aqui, certo?

Só aumentou.

Christine quer estar profissional e economicamente segura antes de considerar qualquer coisa.

Ele parecia tão seguro enquanto segurava minha mão.

Eu me senti segura na casa dele. E no sofá, em seus braços. E em cima dele.

Eu não vou deixar você ir para a casa do Victor!

Não existe nenhum Victor!

O banheiro de Vick. Ela e a ex namorada brigando por minha causa. O celular apitando em minhas mãos, informando-me da vaga no apartamento de Theo.

Ela sabia de tudo!

Minha mente vai até outro banheiro. A cabine de material vagabundo do colégio com o melhor ensino médio da cidade. Tenho 17 anos novamente. Estamos matando aula, eu e a garota, trancadas na cabine. Estou pressionando o corpo dela contra a porta e nenhuma das duas se importa com o conteúdo da prova de química. Escutamos risadinhas, mas ignoramos. Temos mais com o que nos preocupar.

Até que a inspetora exigir que a cabine seja aberta.

Meus pais estão gritando. Eles não me educaram assim. Eu não devo ser uma garota vulgar. Promíscua. Não devo ser tão manipulável. Vou ter fama na escola. Minha mãe chora e meu pai está roxo de tanto se segurar. Estou soluçando. Ninguém reclama por estar perdendo aula. Só falam sobre minha sede por rebeldia e satisfações carnais.

Theo está me abraçando. Estamos sozinhos na sala de informática. Deveríamos estar fazendo nosso trabalho de sociologia, mas assim que ele pergunta o que aconteceu, começo a chorar. Conto tudo e ele só se preocupa em me manter calma.

Naquela tarde, Theo me prometeu que resolveria aquilo por mim. E resolveu.

Em menos de uma semana, todos estavam certos de que fui pega com Theo, não com a garota da outra classe. Uma fofoqueira só quis aproveitar o boato para manchar minha imagem. Os filhos dos amigos dos meus pais foram os primeiros a saber. Não demorou muito até que meus pais ouvissem a fofoca atualizada. É claro que menti. Ir para o banheiro masculino com um garoto é uma pena muito mais grave do que matar aula no banheiro feminino. Eu não podia perder tempo cumprindo detenção. A garota comigo? Ela já tinha a fama, não se importou em ceder o nome.

Theo nunca cobrou o favor. Quando tentei encontrá-lo para agradecer, ele estava ocupado demais conversando com Claire. Só vi suas costas, mas o corpo balançava e eu ouvia soluços. Ela me encarou com um olhar de compaixão e moveu os lábios, pedindo licença. Quando perguntei o que aconteceu, limitou-se à responder que eram “problemas pessoais”.

Ela sabia de tudo!

Como que com um clique, volto à vida real.

Estou no sofá de Vick. O peso das mãos de Theo desaparece, substituído pelo peso do cobertor. Vick está ajoelhava à minha frente, com as duas mãos nos meus joelhos, me observando preocupada.

—Christie? Me diga o que aconteceu. Devo ligar para a polícia?

Respiro fundo, conhecendo bem o porvir.

—Não. Ligue para Claire.

Eu ainda estou no sofá. Tenho medo de levantar e perder a força das pernas. Claire está sentada no chão. Claramente está nervosa, mas mantém o controle de sempre. Vick está em pé, encarando nós duas com um olhar reprovador.

—Deixa eu ver se entendi. - Ela diz, pausadamente, segurando a raiva na voz. - Você - Vick aponta para Claire. - sabia que o cara era maluco pela Christie e mandou ela para lá mesmo assim. E você. - Agora aponta para mim. - Estava entrando em um relacionamento com um psicopata e não me falou nada?

—Não era nenhum relacionamento… -Digo, tentando me defender.

—Você está morando com o Theo e ficando com ele.

—Eu dormi várias noites aqui e fiquei com você. Quando é o casamento? - Quando vejo seu rosto corar, balanço a mão, sinalizando que relaxe. - Claire sabe de tudo.

—É, ela sempre sabe. Explique, estava tentando matar a garota?

—Claro que não! - Claire diz, se exaltando. - Christie precisava de um lugar e eu sabia que Theo iria topar na hora. Se eu contasse tudo, ela desistiria.

—Não pensou nas consequências? - Digo baixinho. - Ele ficou mesmo magoado… Pirou de vez. Algo de muito ruim podia ter acontecido. E agora ele está magoado com nós duas.

Claire encara o chão, envergonhada. Ninguém diz nada por um tempo, até que ela levanta e sai do apartamento. Vick olha para mim com certa compaixão, então senta-se ao meu lado e me abraça. Apoio minha cabeça em seu ombro, percebendo só então que estou chorando. Ela me faz cafuné e me embala, como um bebê. Não contei sobre o motivo do surto de Theo e não pretendo contar tão cedo.

—Ei… - Vick sussurra. - Vamos dormir. Você teve um dia cansativo.

Dessa vez ela não se preocupa com colchão. Deitamos no cama de Vick, minha cabeça no busto dela, suas mãos abraçando minha cintura e afagando minhas costas de forma protetora. Não dormimos na hora. Ela fica até tarde da noite sussurrando histórias e cantarolando músicas carinhosas. Quando Vick levanta para ir ao banheiro, agarro-me em sua blusa e choramingo que não vá. Ela apenas dá uma risada e diz que vai ao banheiro. Não demora muito e logo estou enrolada em seus braços novamente. Em alguns momentos da noite, começo a chorar do nada, mas ela me abraça forte e me segura enquanto meu corpo balança com os soluços. Enrolo minha mão no tecido da blusa dela, como que com medo que ela vá embora no meio da noite.

—Eu sou fodida pra caramba. - Sussurro. Os pássaros já estão cantando no outro lado da janela. -Não o tipo fodida que todo mundo tá acostumado. Sou o tipo que não sabe pra onde ir na vida. O tipo que precisa que tenha alguém pra me segurar quando eu cair porque sei que vou cair com alguma frequência. Preciso que alguém tome conta de mim. Mesmo que eu seja confusa e complicada…

—Shh… Todo mundo é fodido. Eu sou fodida. - Ela faz carinho nas minhas costas e me aperta contra si. - Mas relaxa. Eu vou tomar conta de ti.

Não sei que é verdade ou não, mas no momento não importa. Vick se importa o suficiente para dizer o que eu preciso ouvir. Ouvindo isso, fecho meus olhos e finalmente relaxo, adormecendo.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem, desculpe o tamanho do cap.
Ps.: Eu estava considerando criar um Tumblr pra fic. Seria ligado a outras histórias histórias também e eu poderia postar alguns textos curtos. O que vocês acham?



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