Memórias de um Passado Esquecido escrita por Kaoru Hakuou


Capítulo 1
A Despedida




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– Não, ainda não está bom.

Respirando fundo, Adrien amassou a folha em suas mãos e a lançou no lixo já cheio. Desanimado viu a bola de papel bater na pilha de folhas amassadas descartadas anteriormente e derrubar todas no chão. Respirou fundo novamente e com as pernas empurrou a parede, impulsionando a cadeira com rodas na qual estava sentado. Enquanto deslizava pelo quarto, ele pegou um dardo e o lançou na foto que pendurara dias atrás, quase atingindo Plagg que desviou no último segundo.

– Wooah! Essa foi quase! Onde está apontando estes dardos?

Plagg flutuou para mais perto de Adrien.

– Desculpa Plagg, não te vi aí. Ando em outro mundo. É só que...

Imprimira aquela foto quando seu pai gentilmente o informara, através de sua secretária, que no ano seguinte seria enviado para um internato suíço de renome onde obteria educação de primeira.

– Meu pai nem ao menos pediu minha opinião! Isso não devia me surpreender. Ele nunca se importa com o que eu penso. Amanhã estarei longe de tudo: meus amigos, Paris... Ladybug.

Com um suspiro, Adrian deslizou a cadeira de volta para sua bancada e ligou a tela do computador onde havia várias imagens da Ladybug.

– Nem ao menos disse a ela o que sinto. Toda vez que eu tentava falar ela fugia. Parecia até que ela sabia. – disse desanimado.

– Hunf! Como pode estar apaixonado por alguém que nem ao menos sabe quem é? Na Suiça pelo menos tem Gruyère de sobra!

– Você não entenderia e eu não sei se conseguiria explicar. A primeira vez que a vi, saltando pelos prédios sob a luz do luar, tão livre, tão confiante! - empolgado, Adrien se levanta e acaricia o rosto da Ladybug na imagem em seu computador - Eu nunca tinha visto alguém tão linda na minha vida.

– Provavelmente porque nunca viu um queijo Camembert gigante, isso sim seria lindo. Alias, por que você não dá um queijo Camembert em vez destes poemas bregas que nem consegue terminar.

– Esse queijo fede! Duvido que Ladybug coma algo assim. Vou terminar de me arrumar antes que eu me atrase.

Adrien se afastou em direção ao banheiro enquanto Plagg parou de rir e o ficou encarando. Quando tinha certeza que ele não o podia ouvir, sussurrou:

– Sinto muito, Adrien.

Enquanto isso na casa da Marinette...

– Ha há!

Disse o pai de Marinette colocando um queijo Camembert do tamanho de uma melancia.

– Que tal? Um amigo acabou de voltar de viagem e me trouxe este adorável pedaço de queijo Camembert. Que tal usarmos ele para o jantar?

– Acho uma ótima ideia querido. Podemos fazer um quiche. - respondeu sua esposa.

Marinette se aproximou do queijo e o cheirou, tampando o nariz com cara de nojo.

– Que cheiro é esse?

– Err, o cheiro pode ser um pouco forte, mas é muito bom – disse o pai de Marinette cortando um pedaço e dando para Marinette – tome, experimente.

Obediente, Marinette pegou o queijo e um pouco hesitante, o jogou inteiro na boca de uma vez. Sua expressão lentamente se suavizou e soltou um sorriso.

– É muito bom! Voltarei mais cedo para casa para ajudar!

Um barulho vindo do terraço então interrompeu sua alegria e fez todos olharem para cima. Marinette disparou em direção as escadas subindo enquanto ainda falava.

– Eu, err, esqueci de fechar a janela e talvez um gato tenha entrado. Vou lá fechar e já vou para a escola!

Entrando em seu quarto, começou a procurar a origem do barulho.

– Tikki! O que aconteceu?

– Não fui eu, o seu celular começou a vibrar – respondeu Tikki flutuando com celular.

Pegando o celular, Marinette desbloqueou-o e verificou uma mensagem da Alya perguntando onde estava. Olhou o horário e levou um susto.

– Aaaah, estou atrasada! A despedida surpresa do Adrien!

Apressadamente, ela terminou de se arrumar e foi até a bancada onde deixara o presente para o Adrien. Embrulhado em um papel de presente verde claro, Marinette decorara a caixa quadrada de sete centímetros de altura e do tamanho de um prato com uma fita de cetim preta com bordas douradas.

Encarou o presente, sua mente viajando. Pensara que demoraria dias para decidir o que dar a ele, mas a ideia lhe veio tão fácil que quase a assustara.

Adrien estava partindo. Por tempo indeterminado.

Poderia nunca mais vê-lo.

Imagens dele invadiram sua mente.

Quanto ele estava sorrindo em uma sessão fotográfica.

Quando foram ao cinema com os amigos.

Quando dançava em sua festa de aniversário.

Quando estava atuando na peça da escola.

Quando sorria para ela por debaixo de uma máscara preta.

– O que eu faço Tikki? E se eu não nunca mais o ver?

Como que sabendo que do que Marinette falava, Tikki flutuou até ela e abraçou sua bochecha.

– Talvez devesse contar a ele que você sabe. Antes que ele vá.

Negando com a cabeça, Marinette pegou o presente e se afastou.

– Que bem isso faria? Ele está indo embora, para longe disso tudo. Se eu contar que eu sei e ele se lembrar do que aconteceu, não poderei viver com isso. Será melhor para ele se esquecer tudo sobre aquele dia.

O olhar de Marinette escureceu diante das lembranças do dia mais desesperador de sua vida. O dia que a fez perceber uma escuridão em seu coração que jamais havia notado.

– Como esconder a verdade poderia ser melhor para ele?

Sacudindo a cabeça, Marinette respirou fundo.

– Tikki... Pode me prometer algo?

Preocupada com a repentina mudança em Marinette, Tikki flutuou para frente dela e a olhou nos olhos.

– Marinette...

Olhando-a bem nos olhos.

– Se alguma coisa acontecer comigo, me prometa ir direto ao Chat Noir. Pegue o miraculous e vá até ele. Não tente me ajudar, apenas vá até ele. Você me promete?

– O que você quer dizer com acontecer algo com você?

– Apenas me prometa.

Marinette estava estranhamente calma para suas palavras e isso deixou Tikki inquieta, mas viu determinação em seus olhos. Confiava nela.

– Ok – concordou balançando a cabeça.

Afastou os pensamentos sombrios, Marinette pegou seu celular e sorriu.

– Estou atrasada e ainda tenho que entregar este presente! Vamos Tikki, Alya está esperando.

Minutos depois na escola...

Correndo, Marinette e Adrien subiram correndo as escadas, só notando um ao outro quando ambos colocaram a mão na maçaneta ao mesmo tempo. Rapidamente Marinette retirou sua mão e Adrien encarou por alguns segundos o local onde suas mãos haviam se tocado e então sorriu para ela sem mover sua mão.

– Também atrasada?

– Aaahh, errr, você, humm, atrasado... hehehe

Coçando a cabeça e suando frio, Marinette entrou em desespero sem saber o que dizer. Teria que esperar todos estarem distraídos para deixar o presente nas coisas do Adrien.

Mais do que isso, precisava chegar na sala antes de Adrien ou não participaria da surpresa e com certeza Chloe estava inventando algo para chamar a atenção dele só para ela.

Adrien a olhou por um momento, esperando. Marinette percebeu e se perguntou como ele a via. Uma sombra invadiu seu olhar. Se ela se transformasse em Ladybug, não haveria competição, pois Adrien a amava.

Não ela, mas Ladybug.

– Você vai entrar? – disse Adrien enquanto segurava a porta aberta, levemente impaciente. Era seu último dia na escola e de alguma forma esperava passar por tudo o mais rápido possível para que pudesse achar Ladybug.

A voz de Adrien tirou Marinette de transe e a fez perceber que devia estar com pressa.

– SIM! Sim – disse deslizando rapidamente pela porta.

Não esperou Adrien entrar, rapidamente saiu correndo pela escola. Estava a menos de 10 metros da sala quando sentiu seu braço sendo puxado e sua boca tampada. Ela tentou de debater, mas se acalmou ao reconhecer a voz de Alya.

– Shhhh! Por que está tão atrasada? Venha, vamos entrar pela janela! – disse soltando-a.

Marinette a seguiu até uma passagem, que ela só poderia descrever como secreta. De alguma forma elas chegaram até a sala pela janela, dando um susto nos presentes.

– Chega de reclamar, o Adrien deve estar chegando a qualquer minuto! – disse Alya dispensando todos com as mãos.

Enquanto todos estavam distraídos, Marinette discretamente deslizou seu presente para debaixo da mesa de Adrien.

Sempre esquecia de assinar quando dava a ele um presente, mas desta vez era diferente.

Não havia cartões e nem o nome de quem estava dando o presente. Sabia disso, escondeu bem no fundo de sua mente.

– SURPRESA!!

Um coro de vozes ecoou pela sala, assim que Adrien abrira a porta. Surpreso, olhou abismado para seus amigos.

Estavam todos juntos olhando para ele ansiosos.

A sala fora decorada com balões coloridos e uma faixa pendurada onde estava escrito “sentiremos sua falta”. Com o canto do olho Adrien percebeu que Marinette chegara antes, o que explicava seu repentino sumiço.

Perguntou-se brevemente como fizera isso, mas logo então voltou sua atenção para Chloe que agora se gabava com sua voz estridente por ter organizado a despedida para ele. Se ele tivesse sorte, ela não pensaria em visita-lo. Nunca.

Após a comemoração, Adrien agradeceu a todos pela festa, despedindo-se deles.

Alguém pegara uma foto de quando todos saíram em uma excursão e assinaram mensagens para que ele pudesse levar como lembrança de todo o tempo que passaram juntos.

Sentiria falta deles.

Todos já haviam partido quando Adrien andou até sua mesa para pegar sua mochila que jogara ali mais cedo. Quando a puxou, porém, sentiu algo engatar e cair.

Olhando por debaixo da mesa, notou pela primeira vez uma caixa de presente. Verde claro decorado com uma fita de cetim preta com bordas douradas.

As cores do Chat Noir.

Suas cores.

O coração de Adrien começou a acelerar e sem querer ele sussurrou .

– Ladybug

Do lado de fora da sala, Marinette estava encostada na porta enquanto um Adrien sorridente abria o presente.

Uma lagrima escapou de seu olho e percorreu sua bochecha.

Ela sabia que Adrien acharia que o presente era Ladybug. Ele nunca achava que era dela e isso sempre parecia o deixar mais feliz.

Pensar que era de outra pessoa.

Principalmente se essa outra pessoa era a incrível e perfeita Ladybug.

Por isso ela sabia. No fundo ela sabia que ele chegaria conclusão de que o presente era dela e por isso deixou sem nome de propósito.

Isso era injusto.

Para Adrien, Marinette jamais seria tão boa quanto Ladybug.

Pode ver em seus olhos quando ele descobrira pela primeira vez só para depois esquecer.

Sim.

Esquecer seria melhor.

Esquecer Ladybug.

Uma dor cortante atravessou seu coração e a Marinette tentou combater a escuridão que agora tomava conta dela. Respirando pesadamente e apertando seu peito, fez a única coisa que podia.

– Tikki, você se lembra do que me prometeu esta manhã?

Tikki saiu flutuando de sua blusa e a olhou preocupada.

– Marinette...? - perguntou Tikki preocupada pela súbita no ar.

Havia notado as mudanças sutis que andavam acontecendo em Marinette, mas atribuíra tudo ao incidente. Percebia agora que podia não ser tão simples.

– Pegue o miraculous e vá para o Chat Noir, rápido. Eu não vou conseguir aguentar por muito tempo.

– Mas...

– Apenas vá!

Tikki deu uma última olhada para ela e então pegou o miraculous, voando rapidamente para a sala.

Marinette saiu correndo o mais rápido que pode. Precisava se afastar o máximo possível.

Ainda estava correndo quando perdeu as forças e caiu de joelhos no chão, sua respiração se tornando mais pesada.

Percebeu que em sua roupa surgiu uma mancha que começou a se espalhar por seu corpo. Com os olhos cheios de lágrimas, Marinette se encolheu chorando.

Tentara tanto lutar contra o akuma do Hawk Moth, mas já não tinha mais forças. Sabia que ia ser infectada. Poderia ter evitado, mas não o fez. Se o tivesse feito, não teria sido capaz de salvar Chat Noir e agora ele estaria ainda mais perdido.

As memórias daquele dia terrível novamente a invadiram. Cometeu o erro de pensar que era mais forte, que sua convicção não seria abalada.

Estava errada.

O akuma penetrara a escuridão em seu coração aos poucos e agora dominaria seu corpo e sua mente.

Não importa o que acontecesse, o sacrifício valia a pena. Daria sua vida quantas vezes fosse necessárias para salvar o lindo e esperto Chat Noir, Adrian.

Marinette deixou suas lágrimas caindo até que uma a uma suas emoções começaram a sumir. A dor sumiu, a tristeza sumiu e a felicidade sumiu.

E quando não havia mais nada para sumir, o mundo caiu na escuridão.


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