Herdeiro Imperfeito escrita por My Dark Side


Capítulo 6
Incógnitas


Notas iniciais do capítulo

O título explica um pouco do que vai acontecer.
Eu fico muito feliz pelos comentários e por todos os leitores, obrigada por todos eles.
Como sempre, teremos algumas curiosidades, explicações e, bom, perguntas sem resposta.

Espero que gostem do capítulo,



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— Qual é a sua cor favorita? — Gael perguntou nos olhando.

Franzi as sobrancelhas, olhei para Elliot esperando ver a mesma expressão, mas ele respondeu num segundo.

— Roxo.

Zeno fez um muxoxo e olhou para o teto, como se ele fosse lhe dar a resposta.

Eu não conseguia acreditar que o ataque tinha acontecido esta manhã, mal durou duas horas e logo todos já estavam indo para os quartos e se arrumando para o café. A bagunça que os rebeldes fizeram ficou contida no primeiro andar, nenhum foi morto, os feridos não estavam em estado grave... Foi apenas uma bagunça, e sumiram.

— Acho que a minha é... Hum... Amarelo. — sorri, lembrando minha prima girando como um pequeno girassol.

— Zeno, só falta você. — o príncipe apoiou o queixo na mão e encarou o mais novo dentre nós.

A entrevista que Ginevra falou que aconteceria foi um estranho comunicado, o príncipe nos separou em pequenos grupos, porque tínhamos que interagir uns com os outros e não ficar calados esperando pelo príncipe. Segundo ele a amizade é essencial.

— Eu não sei, realmente. Via poucas cores em casa. — ele explicou inclinando constrangido.

— Escolha uma. — Gael passou a mão no cabelo tirando os fios rebeldes do rosto.

Provavelmente ele vai escolher laranja, uma cor quente e espontânea.

— Preto. — péssima hora para decidir tomar água, engasguei com a surpresa, Elliot assustado começou a dar tapas nas minas costas.

— Por que?

— Uma vez me disseram que eu era o príncipe das trevas, e ela estava com razão. É uma cor mórbida e elegante. — arqueei as sobrancelhas.

— Você? Príncipe das trevas? — indaguei ainda me recuperando do sufoco, ele deu de ombros.

— Todos têm seus segredos.

— Concordo, a minha cor favorita é o vermelho escuro. Vocês preferem cães ou gatos?

— Cães. — falamos simultaneamente. — Não posso negar, no entanto que gatos são muito elegantes. — Zeno completou.

— Elegantes e assustadores, eles estão fazendo uma conspiração para dominar o mundo! — Elliot falou, o que me fez revirar os olhos.

— Não é tanto, eles só são egoístas demais, desconfiados demais.

— São flexíveis e equilibrados, normalmente tem muita classe. — a criança continuou defendendo.

— Fala como se cachorros não fossem assim.

— Eu apoio os cães com minha vida, eles são companheiros leais que ficam ao seu lado até o último momento. Meu amor por eles não pode ser expresso em palavras. — o rapaz bateu a mão sobre o peito.

— Gatos roubam nosso leite, também. — comentei.

— Eles são silenciosos e...

— Mimados.

Não sei quanto tempo ficamos discutindo, mas logo passamos a falar de movimentos artísticos e descobri que o Zeno tinha dança como hobbie. Além de Elliot tentar nos convencer que filmes são mais incríveis do que aparentam, pois — segundo ele — têm uma profundidade imensa.

— Cadê o príncipe? — questionei quando finalmente olhei ao redor.

— É... Não sei. — Zeno se inclinou e sorriu. — Ele deve ter saído quando percebeu que estávamos interagindo. Sabe, na conversa dos gatos.

— Faz quanto tempo aquilo aconteceu?

— Dez minutos, meia hora, quem sabe? — seus olhos brilharam. — É a primeira vez que falo por tanto tempo sem ser um monólogo. — o sorriso vacilou por um momento assim como o brilho. — Foi bem divertido.

— Conversar é sempre divertido. — Elliot se esticou. — Eu estou curioso por uma coisa, qual é o significado do nome de vocês?

— Er... Liot, isso não é uma pergunta muito normal. — significado das cores sim, eu conheço a maioria, mas do meu nome? — Mas, eu sei o significado do meu sim. Minha mãe me disse, porque ela ficou curiosa quando eu falei o meu nome para ela.

— Sua mãe não sabia o seu nome? — franzi as sobrancelhas confuso.

— Zeno significa ‘aquele que é divino’.

— E Kyan? Eu nunca tinha ouvido esse nome antes.

— O nome dele é Ryan. — os olhos castanhos de Elliot se arregalaram.

— Sacré-Cœur! Você mente sobre o próprio nome? Que coisa feia, lindeza... — ele sorriu. — Pequeno rei, até faz condiz com a situação, será que a sua mãe previu isso?

— Não é mentira, é apenas a mistura do meu primeiro com o segundo nome.

— Que seria? — eles questionaram ao mesmo tempo se aproximando.

— Klaus. — eles se entreolharam, castanho e verde água conversando em cumplicidade. — Vocês têm algum problema? Por que são tão curiosos?

— Nada não, vitorioso.

Palmas me impediram de indagar buscando a resposta para ações tão... estranhas. Gael estava de pé no meio do salão e olhava para todos com um sorriso.

— Por favor, sei que o ocorrido desta manhã abalou alguns de vocês e fico feliz por terem exposto suas dúvidas sobre a permanência no palácio. E com esta interação com outros selecionados, eu acabei decidindo mais alguns que também partirão. Infelizmente, gostaria de chamar alguns nomes. — ele buscou as pessoas nas mesas. — Thomas, Matias, Francesco, Lizandro, Nathaniel, Karl, Hansel, Leo e... Cherles. Por favor, podem voltar para seus quartos e arrumar as malas.

— Não! — o exclamação foi baixa e sofrida como um animal ferido, fitei Zeno seu rosto estava lívido. — Ele não...

Ele está chorando? Por que? O que raios... Senti uma cutucada nas costelas, que fez eu voltar a atenção para o discurso.

— Com isso, quero dizer que vocês poderão retornar as suas famílias e para onde seu coração se encontra. Espero que tenham um maravilhoso ano.

Zeno saiu correndo antes que eu pudesse sequer abrir a boca para perguntar a razão de sua discussão, de qualquer jeito eu seria impedido de completar a minha tarefa. A criatura baixinha era incrivelmente forte e me puxou para o fundo do salão antes que qualquer um nos notasse.

— Você não vai atrapalhar os dois! — ele me empurrou para a parede. — Nunca conversou com o Zeno até agora, é óbvio que não ia ter ideia do motivo da reação dele. Nessa semana inteira o único que conversou com ele foi o Charles. — ele parecia transtornado. — Não ouse falar uma palavra sobre o que você não sabe, existe muita tristeza no mundo além da sua vida perfeita, criança.

— Sou mais velho que você. — arquei as sobrancelhas.

— Só no papel, na realidade, duvido. — ele se aproximou, ferino. — Lindeza, só porque você chamou a minha atenção, não quer dizer que eu vou te defender.

Engoli em seco, aquela reação não me era estranha. Eu já a tinha visto algumas vezes, nas vezes que saí de casa, ou quando clientes dos meus pais falavam sobre a minha tia e prima, era a mesma reação da minha mãe.

Uma leoa protegendo as crias, com garras e dentes.

— Entendido, capitão.

— Acho bom. — ele deu um passo para trás. — E não ouse me chamar pelo primeiro nome, sei que você quer muito fazer isso, para sua sanidade, é melhor que não o faça. — virou as costas e deixou-me com os ensurdecedores pensamentos.

Ele defendia Zeno como se fosse a mãe da criança, por que? Zeno é o mais novo entre nós, mas isso não é motivo para ser tão assustador. Sem falar que ele só conversou com o dito cujo nessa entrevista coletiva. Será que ele sabia de alguma coisa? E como ele sabia que eu queria chama-lo pelo primeiro nome?

Na saída, percebi que Elliot e Gael estavam juntos, provavelmente indo para um encontro, enquanto Higor e Alexei discutiam em russo em um canto. Eu me aproximei um pouco hesitante, talvez eles não quisessem companhia também.

— Olá, Kyan. Como foi a sua entrevista coletiva? — Alex perguntou assim que me notou.

— Bem divertida, e a sua?

— Ignoraram ele completamente, por isso os dois foram expulsos. Segundo o Gael: “Se vocês não têm capacidade de lidar com um selecionado que não fala a mesma língua que vocês, como lidarão com os chefes de outros países? ”. — o tradutor respondeu no lugar.

— Eu consegui entender a maior parte do que eles falaram, parece que as aulas intensivas estão dando certo. — ele sorriu. — Só que eu ainda tenho um sério problema para falar. — terminou dando ênfase na palavra.

— Nem fale que é por causa do seu sotaque, porque seu francês é perfeito.

Dei alguns passos para trás devagar, não querendo deixar muito evidente a minha escolha de sair dali. Andei pelo labirinto de paredes altas e chão de mármore procurando pela biblioteca, provavelmente a minha geografia continua tão precária quanto eu me lembrava, pois acabei trombando com uma criaturinha loira, que exclamou captando a minha atenção, mas ficou em silêncio por alguns segundos antes de perguntar.

— O que você está fazendo aqui, Ryan? — Olivia segurou meu braço e começou a me puxar para a direção pela qual eu tinha vindo. — Esta é a área dos criados, você está perto dos dormitórios. Não é um lugar para você ir. — ela tinha passos firmes e fungava.

— Você estava chorando?

Ela olhou para mim como se eu fosse uma criatura de outro planeta, e percebi que apenas seu nariz estava vermelho. Como uma rena de Natal.

— Princípio de gripe, por isso eu não apareci no quarto hoje, minha mãe me obrigou a ficar na cama.

— Gripe no verão? — ela assentiu, diminuindo o passo. — Isso é possível?

— Que eu saiba não é impossível. — ela parou e se virou para mim. — Onde você queria ir?

Eu ia responder, mas então uma leve brisa passou e as cortinas se movimentaram deixando os raios de sol passarem e tremeluzirem no cabelo dela; sua pele cintilou e as sombras que se formaram no seu rosto e nas mechas flutuantes faziam dela uma princesa.

— Minha. Eu. Você. Agora. — segurei seu pulso e corri com ela até o salão dos homens, lá tinha que ter papel e lápis.

Os selecionados se assustaram quando abri a porta num rompante, quase batendo em um que estava saindo. Empurrei Olivia para perto da cortina, ela tentou brigar, mas eu estava no meio de um ataque artístico.

Eu não podia esperar ela assimilar, ela tinha que fazer.

Sentei no chão, com uma prancheta, uma folha qualquer que eu achei em algum lugar por aí e comecei a desenhar.

— Não mude de expressão. — repeti pela milionésima vez, desde que terminei o rascunho do ao redor, só faltava terminar a as feições.

— Eu estou há meia hora nessa posição, não me movi um músculo. — resmungou.

— Você tem irmãos? — questionei, prestando atenção nos seus olhos, que suavizaram e se tornaram melancólicos.

— Sempre quis um... Minha mãe teve vários problemas quando eu nasci, por isso eu nunca insisti. — nós já estávamos isolados, ao contrário dos primeiros quinze minutos em que todos queriam atrapalhar a criação, então ela conversava mais soltamente.

— Se você tivesse? Como seria?

Consegui! Exatamente a expressão que eu queria, essa aura, esse sentimento de amor e impossibilidade, o desejo de algo que é quase impossível ter. Eu podia sentir a alegria e tristeza debatendo em seu anterior, o amor contido por algo que jamais seria seu. Era maravilhoso como esse furacão era tão profundo e impactante, eu me deleitava com a mistura de emoções.

— Acabei! — exclamei dando uma risada. — Obrigada, minha bela dama, agora eu a acompanharei até o seu local de trabalho. — ela arqueou uma sobrancelha. — O que foi?

— Nada, senhor. — ela aceitou o meu convite e nós fomos juntos para o meu quarto.

Parecia que elefantes tinham passado por ali, pelo barulho que eu escutava. Será que eles achavam que era a casa da mãe Joana? Abri a porta, encontrando — para minha surpresa — Jean sentado no chão, Ginevra parecia querer pular no lugar, segurando as mãos com os olhos enormes. Também havia uma terceira presente, que reconheci como a chefona do primeiro dia. Qual era o nome dela? O Higor me disse no outro dia... Vivian? Liane? Ane?

— Olivia, o que está fazendo aqui? Achei que não viria. — Jean se levantou, batendo nas calças, ele fez uma breve mesura para mim e continuou se dirigindo a amiga.

Minha surpresa foi pelo fato dele estar sentado, acho que foi a primeira vez que isso aconteceu. Ele parece gostar de manter o peso do corpo sobre os pés, minha mãe é um exemplo, preferindo ficar em pé em momentos de nervosismo a permanecer sentar sentada.

— Livia, eu preciso falar com você. — a mais velha falou, se aproximando com passos firmes. — Vamos almoçar juntas.

A loirinha engoliu em seco, seguindo a mulher altiva.

— Não se preocupe. É uma boa notícia. — Ginevra realmente parecia feliz.

— Gina, é uma grande coisa, como você acha que a Liv vai ficar amanhã? Não se esqueça de que ela está... Você sabe. — Jean fechou a porta.

Eu sentia que estava perdendo alguma coisa, não os conhecia tão bem. Será que... Sinto desconforto com isso, talvez seja a minha curiosidade, ou seria a insegurança de novo?

— A Olivia está mais quieta que o normal, ela está assim desde o começo da seleção. Você provavelmente não notou porque conheceu ela assim. — Gina falou, fazendo eu pular assustado. — Estava distraído?

— Um pouco. — admiti.

Na hora de interagir eu sempre ficava com um pé atrás, nunca sabendo se seria bem-vindo. E fica pensando nisso eu me distraía muito e frequentemente, já não bastava ter cérebro de passarinho...

— Você vai almoçar no quarto ou vai descer?

— Eu tenho que organizar os desenhos. — abri a gaveta e peguei, uma das aquarelas caiu no chão, quando me abaixei acabei derrubando também o desenho de Olivia.

Os traços eram completamente opostos para um estranho, mas a semelhança... Não era apenas por minha preferência.

— A Livia e a outra mulher tem alguma ligação familiar? Irmãs, primas, ou algo do tipo? — indaguei, agachando e analisando as duas peças.

Eu gostava de focar em detalhes, os narizes delas eram muito parecidos, assim como as sobrancelhas, o queixo angular, a linha dos lábios.

— Por que acha isso? — ouvi os passos ritmados de Ginevra se aproximando.

— Acabei de descobrir como elas são parecidas. — apontei para os papeis.

— Hum... É a primeira vez que vejo um desenho seu, senhor. Eles são incríveis.

Aquarelas borradas e desenhos detalhistas, a rainha altiva e a princesa sonhadora, cores e variações de cinza.

— Belos traços. — Jean se pronunciou. — Acho que captou a primeira impressão da Villiane, ela é uma mulher linda. E jovem.

— Quantos anos ela tem?

— Trinta e seis. Um a mais ou um a menos, não faz tanta diferença.

— Vocês podem avisar que eu provavelmente vou me atrasar para o almoço?

Não sei se era impressão minha ou não, mas o ar ficou mil vezes mais pesado a partir do momento que terminei de fazer o pedido. Quando virei a cabeça Jean parecia com vontade de me bater.

— Ou você fica, ou você chega na hora. Tem dois minutos para escolher. — pelo tom da sua voz ele estava irado.

— Ele gosta um pouquinho de pontualidade.

Não, imagina só! Pontualidade? Eu não tenho dúvidas de que ele se atrase para todos os compromissos aos quais se compromete. Homem que não segue suas palavras... Jamais cumpre horários.

— Ryan Klaus Wain, você tem exatos dez segundos para me responder. Dez... Nove... Oito... Sete...

— Eu desço! Pode deixar que eu vou almoçar com o pessoal. — peguei os desenhos, e deixei que eles me empurrassem de um lado para o outro como se eu fosse um manequim.

Fiquei pronto em cima da hora, Jean esperou que eu saísse do quarto antes de dizer uma frase que faria a minha cabeça curiosa dar voltas.

— A relação entre Villiane e Olivia é mãe e filha.

Virei rápido com as palavras na ponta da língua para dar de cara na madeira.

— Tudo bem... Eu pergunto mais tarde. — esfreguei a ponta do nariz e desci as escadas, sentindo meu estômago mostrar fome pela primeira vez desde o tarde café da manhã.

Perto da porta de entrada, os selecionados se despediram dos outros. Acho que fui o único que esqueceu a despedida. Não sei se vale muito a pena ir lá, afinal, eu só conversei um pouco com Cherles e Thomas...

Será que o Thomas está indo embora por causa de alguma resposta errada na entrevista? Porque ele passou o ataque rebelde quase inteiro completamente apagado.

— O príncipe te expulsou?

— Não, eu pedi para sair. — ele falou simplesmente, logo outro selecionado se aproximou e começou a conversar.

Nem parece que faz uma semana que estamos aqui, fico impressionado com o tanto de gente que saiu. Será que ele quer fazer eliminações semanais? Hoje nove estão indo para casa, antes já tinham ido sete... Se ele fizer mais um corte a Elite começará no próximo sábado.

Não, isso seria demais. Rápido demais, por que ele está fazendo tantos cortes? Isso não faz o mínimo de sentido.

— Kyan! — Alexei agarrou meu ombro. — Vamos almoçar e depois para a biblioteca, você sumiu e eu não consegui te encontrar. E Higor estava com um mal humor... Vamos? Eu estou com muita fome mesmo.

— Você quer começar a fazer as pesquisas? — seus olhos brilharam perigosamente, dando uma intensidade desconhecida para o castanho.

— Poderia ser meu tradutor para alguns livros? Caso eu seja expulso eu ainda quero ser historiador e... Eu tenho que conhecer a história de Illéa. — ele pronunciava o nome do país de uma maneira um pouco estranha.

— Quais? — as covinhas apareceram conforme o sorriso se alargou.

— Os diários.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?

Questionamentos? Perguntas, respostas, tentarei dá-las se puder.



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