Silêncio! Você pode ouvir esse som? Tum-Tum Tum-Tum Tum-Tum. São as batidas do seu coração.

Continue em silêncio! Esse outro som... Ar entrando e saindo dos pulmões. Você também pode perceber seu peito subindo e descendo lentamente enquanto respira. Respire devagar e sinta. Sobe. Desce. Sobe. Desce.

Pare! Você piscou. Piscou novamente. Mais uma vez. Agora que se deu conta disso, parece que você quer piscar mais que o normal.

Engula sua saliva. Lamba seus lábios ressecados. Ative seu olfato. Que cheiro é esse? Não é comida. Não é perfume. Não é sangue também. Não pode saber do que é. Talvez não seja cheiro de nada.

Pare! Aguce seus ouvidos! O cachorro do vizinho está a latir novamente. Ao menos aquela música detestável que ele costuma ouvir não está soando agora.

Silêncio! Não, não se mexa. Não coce o nariz. Não coce a testa. Nem a sobrancelha. Seu olho não está cocando. Nem a cabeça. A orelha também não. Nem o tornozelo. Nem parte alguma do corpo.

Pare! Não é para tossir. Não exprima som algum. Não boceje. Você não está com sono. Lembre-se de piscar. Não espirre.

Quando te falo para não fazer, não faça! Ordens são palavras absolutas que devem ser respeitadas. Se eu exprimo palavras absolutas, significa que sou absoluto. Eu sou importante.

Quero levantar-me enquanto você observa minhas ações. Quero caminhar de um lado para o outro calmamente. Farei isso agora. Ah! Tão libertador.

Não! Não caminhe. Não se espreguice. Não boceje.

Silêncio! Ouve esse som? Creio que sei que som é esse? Um sino. É um sino que toca quando algo está perto do fim.

Pare! Há uma vela que está quase no final. É a vela que se apaga quando uma vida chega ao fim.

Silêncio! Vê essa lágrima escorrendo do meu olho? Lágrima de felicidade. Por quê? Por que me regozijo na morte. Por quê? Por que é uma transição que eu gosto de ver acontecer. É um dia feliz.

Pare! Agora, apenas feche lentamente seus olhos. Lentamente. Lentamente. Ouça o sino, mas feche os olhos. A vela já não importa mais. O sino sim.

Silêncio! É tudo o que resta depois. Afinal, a vida não termina com o barulho, mas com o silêncio.