Caminhos escrita por Siryen Blue


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Oi! Escrevi essa one pra um concurso! (:

Enjoy!



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Depois de uma longa jornada de três anos, finalmente pude avistar os grandes portões principais de Konoha.

Arrastei-me, seguindo em frente com dificuldade.

Aguente mais um pouco.

A dor parecia estar infiltrada em minhas veias, percorrendo todo o meu corpo. Queimando. Mas eu precisava suportar.

Cambaleante e enfraquecido, aproximei-me da entrada. Dois guardas saltaram em minha frente, fazendo-me parar.

"U-Uchiha Sasuke?" Um deles perguntou, surpreso.

Não consegui responder.

Minha visão ficou nublada e eu fui atingido por uma onda de tontura.

Apaguei.

*

*

Eu ouvia algumas vozes ao meu redor, mas não conseguia distinguir nem entender nada.

Minha mente estava pesada e lenta.

Aos poucos, fui ficando mais consciente.

"Ele está acordando." Ouvi alguém dizer.

Onde eu estava?

Lentamente, abri meus olhos. A claridade me incomodou por alguns segundos, fazendo minha cabeça girar.

"Sasuke-kun?" Uma voz bem conhecida chamou.

Acostumando-me com a claridade, procurei-a com o olhar, ansioso.

Sakura.

Três anos haviam se passado, mas a cadência em meu peito, ao vê-la, permanecia igual.

"Como está se sentindo, Sasuke-kun?" Perguntou-me.

A Haruno me encarava com indisfarçável preocupação.

Seus cabelos estavam um pouco mais curtos que da última vez em que a vi, mas ela não havia mudado muito. Ainda era a Sakura de quem me lembrava.

"Estou... Um pouco tonto." Confessei.

"Isso é normal." Uma segunda pessoa falou. Só então notei a presença da antiga Hokage: Tsunade. Ela estava perto da janela, de braços cruzados. "Os remédios podem te deixar um pouco tonto. Além do mais... Você foi envenenado."

Sakura começou a checar os aparelhos que estavam ligados ao meu corpo.

"Eu sei." Assenti. "Qual é o veneno?"

"Não sabemos. Nunca tínhamos visto." A Quinta respondeu. "Ainda estamos fazendo pesquisas, mas Sakura já retirou o veneno de seu corpo."

Olhei para minha ex-companheira de time, com admiração e gratidão. Ela apenas continuou concentrada nos números que as máquinas mostravam.

"Sakura usou uma técnica de extração extremamente difícil, por requerer um absurdo controle de chakra e muita habilidade." Tsunade continuou. "Pouquíssimos ninjas-médicos de que se tem notícia conseguem realizar. Se você não estivesse em Konoha, provavelmente o veneno já teria atingido seu coração e você estaria morto neste instante."

Suspirei.

Depois de tudo, eu já não ficava mais surpreso com as excepcionais habilidades de Sakura.

Já era de conhecimento geral que ela havia se tornado uma das melhores médicas na história do mundo Shinobi, juntamente com Tsunade.

E essa fora a razão que me fez cambalear por todo o caminho até minha Vila, quando cada médico com quem eu cruzei dizia que não havia como me curar.

Mas Tsunade e Sakura... Elas sim poderiam fazer algo.

Eu não estava pronto para morrer. Recusava-me a ser derrotado por um mísero veneno.

Por isso, vi-me obrigado a interromper minha jornada e voltar para o único lugar onde encontraria pessoas com a capacidade de me curar: Konoha.

"Não há nenhuma alteração em seus sinais vitais. Seus níveis de chakra estão um pouco baixos, mas você se recuperará aos poucos." Sakura falou, com tom profissional, assim que terminou de observar as máquinas. "Consegui tirar de seu sistema todo o veneno que encontrei. Mas é possível que ainda haja resquícios em sua corrente sanguínea."

"Sim. Sakura e eu estamos trabalhando na criação do antídoto." Tsunade acrescentou. "Acredito que em pouco tempo acharemos a fórmula."

"Hn." Respondi, apenas.

Quanto mais rápido fizessem o antídoto melhor. Eu não podia ficar na Vila por muito tempo.

"Como te envenenaram?" Sakura perguntou.

Dei de ombros. "Apenas um cara com quem lutei."

Em uma das vilas que visitei, encontrei um homem especialista em desenvolver venenos.

Ela havia matado, inclusive, o líder do vilarejo, na tentativa de assumir o poder.

Confrontei-o e, no fim, consegui matá-lo — não sem antes ser atingido por sua kunai envenenada.

Mas esses detalhes não relatei às duas médicas presentes.

"Por quanto tempo eu dormi?" Mudei de assunto.

"Quatro dias." Sakura disse. "Naruto e Kakashi-sensei vieram lhe ver algumas vezes. Mal puderam acreditar quando souberam que você estava de volta."

"Hn." Assenti, ligeiramente animado com a possibilidade de poder ver meus amigos novamente.

"Eu... Eu..." Sakura começou, hesitante. "F-Fico feliz que esteja de volta!"

Encarei-a, tentando achar as palavras certas. "Eu não vou ficar por muito tempo."

Sakura me olhou em um misto de surpresa e tristeza.

"Então... Você, realmente, só voltou por causa do veneno?"

A dor na voz de Sakura me deixou com receio. Eu não queria magoá-la, mas também não era certo enganá-la ou lhe dar falsas esperanças. Meu lugar não era em Konoha.

"Hn." Respondi, apenas.

Sakura assentiu, tristemente.

"Preciso continuar a pesquisar o antídoto." Falou, virando-se e saindo apressadamente do quarto, antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa.

Tsunade também seguiu até a porta.

Ela balançou a cabeça, dando-me um olhar de reprovação.

"Sakura tem esperado seu retorno durante cada segundo desses três anos. E você sabe disso." A Quinta disse. "Não podia, pelo menos, fingir que se importa?"

Sem esperar resposta, saiu batendo a porta.

Fiquei indignado.

Quis levantar da cama, ir atrás de Tsunade e lhe dizer que era óbvio que eu me importava.

Mas não iria resolver nada. Muito menos servir de consolo à Sakura.

Talvez eu nunca soubesse, de verdade, o que poderia fazer para consolá-la.

*

*

Uma semana havia se passado.

Naruto vinha me visitar no hospital regularmente. Ainda era estranho o fato de ele estar casado. E com Hinata. Eu ainda não estava acostumado.

Kakashi veio apenas uma vez, mas ele estava ocupado com seu cargo de Hokage.

Sakura e Tsunade haviam conseguido fazer o antídoto e, segundo elas, não havia mais resquícios de veneno em meu corpo.

O que significava que eu estava pronto para partir.

"Você não quer mesmo a prótese de braço que Tsunade-sama fez com as células de Hashirama?" Sakura perguntou, pela milésima vez.

"Não." Respondi, calmamente.

"Eu não entendo..." Ela balançou a cabeça.

Apenas fiquei calado.

Eu já estava acostumado sem o meu braço esquerdo. Não queria a prótese. Viver sem um braço era apenas uma pequena parcela da punição que eu merecia por todos os pecados que cometi.

Mas Sakura não precisava saber disso.

"Quando você vai assinar a minha alta?" Perguntei.

Sakura me deu um sorriso triste. "Você quer ir logo embora, não é?"

E entendi que ela não estava falando apenas do hospital.

Se por um lado eu sentia como se não pertencesse mais à Vila, por outro, quando Sakura ou Naruto estavam por perto, sentia como se não devesse ir a nenhum lugar que não estivesse próximo a eles.

E para um pecador como eu, em uma jornada de redenção, esse era um sentimento perigoso.

Então, sim. Eu queria ir embora de Konoha o mais rápido possível.

"Sua alta já está assinada." Sakura falou. "Você já pode ir."

"Hn." Assenti, mais aliviado.

"Naruto e Hinata querem que você fique na casa deles. É grande o suficiente." Continuou.

"Hn."

Sakura abaixou a cabeça.

Nessa semana em que passei no hospital, Sakura ficava dividida entre momentos de tagarelice e animação, e outros de silêncio e tristeza.

Não era como se eu não soubesse o motivo de ela ficar tão para baixo.

Claro que eu sabia.

Mas não entendia.

Talvez eu nunca fosse entender o que Sakura viu de tão especial em mim para me amar por todo esse tempo.

Eu nunca havia feito por merecer tal afeto, então... Por que, mesmo depois de eu afastá-la tantas vezes, ela continuava vindo até mim?

Não fazia sentido.

"Quando você parte?" Ela perguntou.

"Amanhã." Respondi.

Sakura assentiu. Aquela pontada em meu peito, que aparecia cada vez que ela ficava daquele jeito, voltou a me incomodar.

"Não fique triste." Disse, tentando lhe dar algum consolo.

Sakura forçou um sorriso. "Não estou." Mentiu.

Era engraçado como ela nunca me enganava.

Mesmo depois de tanto tempo sem conviver ao seu lado, eu ainda conseguia decifrar cada trejeito e pensamento seu.

Levantei da cama, enfim, resolvendo me preparar logo para deixar o hospital.

"O Naruto mora no distrito Hyuuga?" Perguntei.

"Sim." Falou. "Eu te levo lá."

"Hn."

Sakura sorriu, verdadeiramente. "Alguns hábitos nunca mudam." Falou.

Alguém deveria estudar as mudanças de humor dela.

"Hum?"

Ela riu, novamente. "Você nunca vai deixar de ser monossilábico, vai?"

Sorri, minimamente. "Hn."

Só no dia em que você deixar de ser irritante, completei mentalmente.

*

*

A noite havia chegado.

A casa de Naruto e Hinata era realmente grande. Eu iria passar a noite e partir ao amanhecer.

As coisas que Kakashi havia me contado à tarde, quando eu fui à Torre do Hokage, ainda rodavam em minha cabeça.

Havia a possibilidade de existirem resquícios de Kaguya.

Kakashi me incubiu a tarefa de investigar o assunto nas vilas que visitasse.

Agora eu não estaria apenas em uma jornada de redenção. Também estaria em missão.

Meus pensamentos foram desviados quando senti o tão conhecido chakra de minha ex-companheira de time consideravelmente perto.

Na entrada da casa de Naruto, pelos meus cálculos.

O que ela fazia aqui?

Saí do quarto de hóspedes e me dirigi à sala.

Sakura estava, definitivamente, na entrada da casa, mas permaneceu quieta. Eu, no entanto, me apressei em abrir a porta.

"Sakura."

Ela me encarou por alguns segundos. "Você tem um momento?" Perguntou, parecendo ansiosa.

Sem esperar respostas, Sakura deu meia volta, olhando ligeiramente para trás, em um claro sinal de que queria que eu a seguisse.

Curioso, apenas fechei a porta e a acompanhei.

A garota não foi longe.

Parou em frente à primeira árvore do lado de fora da casa de Naruto.

"E-Eu..." Sakura engoliu em seco. "Eu quero saber... Se eu posso... Ir com você... Na viagem."

As palavras de Sakura me pegaram um pouco de surpresa.

Já era a terceira vez que ela pedia para ir embora comigo.

A Haruno não havia entendido que meu caminho é solitário?

Eu odiava isso. Odiava que Sakura me colocasse em uma posição tão difícil assim.

"Sakura..." Comecei.

"Eu sei..." Interrompeu-me. "Eu sei que você não é indiferente a mim! Eu sei... Que eu tenho um lugar no seu coração!" Olhou-me, com brilho nos olhos. "Nós podemos ser felizes juntos, Sasuke-kun. Eu tenho certeza que podemos."

Tentei encontrar algo que pudesse lhe dizer.

Claro que eu não era indiferente à Sakura.

Ela era uma das únicas pessoas no mundo com quem eu tinha laços. Mesmo que tivesse tentado rompê-los desesperadamente.

Mas assim como Naruto, quanto mais eu a afastava, mais próximo ela vinha.

Inexplicável.

Porém... O fardo que eu carregava era somente meu.

Meus erros. Meus pecados. Minha redenção.

Não podia arrastar Sakura por esse caminho tortuoso.

Seu lugar era em Konoha, cercada por sua família e amigos.

"Você não pode vir comigo." Falei, categórico.

Sakura apertou os punhos. "Por quê?"

"Você está parecendo uma criança mimada." Observei, dando-lhe as costas e pronto para voltar à casa de Naruto.

Mas ela segurou minha mão. "Por favor, Sasuke-kun."

Encarei-a. Seus olhos estavam ficando úmidos.

Merda!

"Para com isso, Sakura." Disse. "Eu não quero te magoar ainda mais."

Eu já havia a ferido vezes demais. Por que Sakura não percebia que a fantasia de amor que ela tinha nunca seria possível?

"Estou cansada de te ver partir." Falou, aproximando-se de mim, com lágrimas nos olhos. "E estou cansada de esperar. Mas sei que esse é meu destino. Esperar até que você possa me ver como alguém que ficará ao seu lado para sempre, em qualquer circunstância. Então... Deixe-me ir com você. Com o tempo, sei que poderei mudar seu coração."

Mas não havia nada para ser mudado.

A única garota no mundo que estava em meu coração era Sakura. Nunca houve, nem nunca haveria nenhuma outra.

Eu não sabia exatamente o que eu sentia por ela. Classificava como um laço de infância. Mas tinha a plena consciência de ser um vínculo totalmente diferente do que tinha com Naruto e Kakashi. Porém, igualmente indestrutível.

Quando eu era menor, sem que pudesse me policiar, comecei a pensar em Sakura como a garota com quem reconstruiria o clã.

Afastava o pensamento cada vez que ele cruzava minha mente — o que acontecia bem mais do que gostaria de admitir.

Mas um pecador como eu não podia se dar ao luxo de pensar nessas coisas. Não depois de tudo que fiz e destruí.

Felicidade não era o meu caminho.

"Pare de me amar." Falei, em tom de ordem.

Os olhos de Sakura piscaram, com surpresa.

"Não posso. Não consigo. Eu sei... No fundo... Eu sei... Eu sinto... Que nós fomos destinados e que você precisa de mim tanto quanto eu preciso de você." Ela disse, com emoção.

Os olhos de Sakura brilhavam com esperanças, e algo em meu peito se contraiu. Eu precisava acabar com essa história de vez.

Sakura precisava seguir seu caminho, e me deixar seguir o meu. Sozinho.

Foi por isso que falei: "Apague essa bobagem de sua cabeça. Nós não fomos feitos um para o outro, Sakura. Pelo contrário. Você é tudo que eu não preciso."

Toda a felicidade de que não preciso.

E enquanto fazia o caminho de volta à casa de Naruto, deixando para trás uma Sakura com o rosto banhado em lágrimas, pensei no quão irônico era ter sido esfaqueado com cada palavra que eu mesmo proferi.

*

*

À noite, não consegui dormir.

O rosto de Sakura estava vívido em minha mente, junto com sua voz, suas palavras, suas lágrimas...

Merda!

Eu havia jurado a mim mesmo que nunca mais a faria chorar ou a magoaria.

Mas Sakura tinha que insistir em algo que nunca poderia dar certo.

No fim, ela sempre saía machucada, e eu sempre me sentia um lixo.

Certas coisas realmente não mudam.

Quando o dia amanheceu, não fui embora da Vila de imediato, como havia programado.

Não. Não consegui.

Eu não seria capaz de sair de Konoha com as coisas tendo ficado daquele jeito entre Sakura e eu.

Mas também não podia sair correndo para me despedir dela. Isso só tornaria as coisas piores.

Foi quando um gennin bateu na porta de Naruto e eu atendi.

Ele me disse que Kakashi me chamava na Torre do Hokage.

Estranhei. Todas as informações sobre a missão já não haviam sido ditas?

Mas talvez algo novo tenha surgido.

Aliviado por ter a chance me distrair com algo que não envolvesse minha ex-companheira de time, rumei para a Torre.

Kakashi me recebeu com um olhar duro.

"Alguma nova informação?" Perguntei.

O Hokage me encarou, com fúria contida. "O que, exatamente, tem de errado com você?"

"Como?" Franzi o cenho.

"Sakura veio hoje, no primeiro horário, dizer que vai retomar seu cargo no hospital!" Falou, com irritação.

Estranhei mais ainda. O que isso tinha haver com Sakura? Agora tudo tinha haver com Sakura?

"E por acaso alguma vez ela deixou o cargo?" Indaguei.

"Oh, sim." Assentiu. Era visível sua irritação. "Ontem mesmo, quando disse que acompanharia você em sua jornada."

Pisquei, surpreso. "Ela veio falar com você?"

"Sim." Kakashi disse, seco. "O que você fez dessa vez?"

Apertei os punhos. "Apenas lhe disse a verdade."

"Verdade? Que verdade? Que você está agindo como um bastardo novamente?"

Olhei-o, indignado.

"Eu sei que você é o Hokage, mas as decisões que tomo em minha vida não fazem parte de suas funções."

Kakashi, se possível, endureceu ainda mais o olhar. "Você sabe muito bem que eu não estou falando como um Hokage. E sim como o homem que viu vocês crescerem e faz parte de suas histórias." Ele se levantou de sua mesa, contornando-a e parando em minha frente. "Hora de ser homem, Sasuke. Já chega de fingir que Sakura não está em seus planos."

"Ela realmente não está." Rebati.

"Quantas vezes por dia você repete essa mentira?" Riu, seco. "Provavelmente o suficiente para ter, realmente, começado a acreditar nessa baboseira."

Irritei-me.

"Se foi para isso que você me chamou, eu já vou indo." Dei-lhe as costas.

"Você está cometendo um erro." Disse, ríspido.

"Adicione à minha lista gigante."

"Adicionarei. Mas fique certo que você estará condenando não só a si próprio, mas também Sakura, a uma vida de infelicidade."

Aquilo me fez virar, completamente irritado. "Não vejo desse jeito. Sakura estará feliz e segura em Konoha, enquanto eu continuarei sozinho em meu caminho. Exatamente como deve ser."

"Feliz?" Kakashi falou, num tom mais elevado. "Sasuke... Nesses três anos a única vez que vi Sakura verdadeiramente perto da felicidade foi na última semana. Com você aqui."

Balancei a cabeça. "Tudo que eu faço é machucá-la."

"Quando você age como um bastardo, sim." Encarou-me. "Mas só você pode dar felicidade para Sakura. Cada vez que você a afasta, ela murcha um pouco. Mas cada vez que se aproxima, ela floresce."

Fiquei calado, absorvendo suas palavras.

Kakashi, ao perceber meu silêncio, continuou: "Se você acha que estará tudo bem se, quando voltar, encontrar Sakura infeliz, casada com outro homem, num matrimônio sem amor — provavelmente feito numa tentativa frustrada de te esquecer — então vá em frente." Suas palavras me causaram uma estranha agonia. "Mas acho melhor você pensar bem antes de tomar uma decisão. Dessa vez é pra valer, Sasuke. Não acho que Sakura vá aguentar mais uma partida sua. Não acho que ela vá te esperar por outros longos anos. No fim, ela vai desistir e você a perderá."

E com suas palavras duras, Kakashi me dispensou.

Naquele dia, não consegui partir.

*

*

Três dias se passaram.

Não. Ainda não havia ido embora de Konoha.

Toda manhã eu caminhava até a entrada da Vila e sentava no mesmo banco em que havia deixado Sakura desmaiada, na primeira vez que fui embora.

Então, olhava para os portões de Konoha e lembrava do gesto — antes mantido apenas entre Itachi e eu — com o qual havia lhe presenteado na segunda vez que parti.

O gesto que significava tudo para mim. Talvez a única coisa real que poderia dar a Sakura.

O fato, era que toda manhã eu seguia até a entrada da Vila na intenção de partir.

Mas... Parte de mim esperava que Sakura viesse me encontrar. Uma grande parte.

Mas ela não vinha.

Com certeza sabia que eu ainda estava em Konoha e prestes a ir embora à qualquer momento. Mesmo assim, eu não via sinal de Sakura.

Três dias em que tentei sair da Vila e não consegui.

Três dias em que as palavras de Kakashi giravam em minha cabeça.

Sendo sincero, sabia que ele estava certo em relação à Sakura. Ficar ao meu lado lhe faria mais feliz do que permanecer em Konoha.

Mas a grande questão era comigo.

Meus sentimentos por Sakura já estavam assumidos para mim mesmo. Embora eu não soubesse nomeá-los.

Mas, depois de tudo, um pecador como eu merecia o amor de Sakura?

Eu merecia ser feliz?

A vida é cheia de caminhos. E, por muitas vezes, não escolhemos o certo — inclusive, sou especialista em escolher o caminho errado.

Desta vez, sentia como se estivesse em uma bifurcação.

Em minha frente, há dois caminhos.

Um é solitário. Definitivamente, o caminho mais fácil, porque eu já estava acostumado a ele. Não há nada de novo, surpreendente e assustador. É o caminho com o qual me sinto mais confortável.

Já o outro...

É como se houvesse uma placa grande e brilhante com a palavra "felicidade" escrito nele.

Mas esse era, de longe, o caminho mais difícil.

Primeiro, porque depois de tudo que fiz, depois de meus erros e pecados, não acho que seja digno de tal felicidade.

Segundo, porque eu não sei o que esperar desse caminho. Ele me parece perigoso e desafiador.

Totalmente fora da minha zona de conforto.

E, por último — mas não menos importante —, porque não é solitário. Eu não o seguiria sozinho.

Haveria Sakura para me acompanhar.

Ela, que sempre me amou além de qualquer compreensão racional.

Porém, nesse caminho eu não sabia nem como dar o primeiro passo.

Resolvendo tomar alguma atitude — qualquer que fosse, desde que me tirasse do tormento dos três últimos dias —, dirigi-me até a casa de Sakura. Ainda era cedo, ela devia estar indo para o hospital.

E estava.

Antes mesmo de chegar à sua casa, senti sua assinatura de chakra. Ela caminhava na calçada da rua, rumando para o trabalho.

Estancou — provavelmente ao sentir minha assinatura.

"Você continua mesmo aqui." Falou, virando-se para mim.

"Nós não tivemos uma despedida adequada." Respondi.

Sakura sorriu, triste. "Veio me agradecer? Tocar os dedos em minha testa e dizer que me verá da próxima vez?" A mágoa em sua voz era palpável. "E, então, você desaparece por anos e volta por alguns dias, só para ir embora de novo?"

"Sakura..."

"Eu não queria te amar."

Pela primeira vez, as palavras de Sakura me machucaram. Muito. Eu realmente senti como se ela tivesse enfiado uma espada em mim.

"Você finalmente cansou, não é?" Perguntei, tentando fingir que ela não havia me abalado.

"Eu estou mesmo cansada, Sasuke-kun." Afirmou. "Mas isso em nenhum momento diminui meu amor. Só aumenta a dor. Então... Seja rápido. Diga o quer que faça você se sentir melhor e vá."

O que Sakura dizia só me feria mais e mais, de um modo que eu nunca pensei ser possível. Talvez Kakashi tivesse razão e Sakura fosse mesmo desistir de mim.

"Kakashi falou sobre a possibilidade de você casar com outro homem." Não consegui frear minhas palavras.

Sakura deu mais um sorriso triste. "Isso nunca vai acontecer. Podem se passar mais três ou trinta anos... Vou continuar esperando você voltar. Porque sei que um dia irá perceber que eu tenho um espaço em seu coração. E se eu estiver errada, e for você quem acabar casando com outra ou, realmente, nunca olhar para mim com outros olhos... Então acho que meu destino era ficar sozinha desde o princípio."

As palavras de Sakura, apesar de tristes, acalmaram minha inquietação.

Kakashi estava errado.

Ela não desistiria de mim e nem se casaria com outro para tentar me esquecer.

Adorei saber disso, por mais egoísta que pudesse parecer.

E foi o seu olhar repleto de dor e amor que me fez, finalmente, escolher meu caminho.

"Sakura..." Aproximei-me, levando, lentamente, dois dedos à sua testa. "Obrigado."

Sakura assentiu, com lágrimas nos olhos. "Vejo você da próxima vez, então?"

Sorri, minimamente. "Na verdade... Eu estava pensando no quão rápido você juntaria suas coisas para viajar comigo. É que eu estou três dias atrasado, sabe?"

Os olhos de Sakura brilharam como nunca, num misto de surpresa e incredulidade.

"O... Quê?" Balbuciou.

"Quer se juntar a mim nessa jornada?" Perguntei, com todas as letras.

Por um segundo, Sakura continuou surpresa. Mas, em seguida, abriu o sorriso mais estonteante que eu já vira, numa perfeita combinação com seus olhos brilhantes, roubando-me o ar.

"Vou buscar minhas coisas!" Falou, alegre.

Sakura saltitou por todo o caminho, até sumir de minha vista.

Voltei à casa de Naruto. Ele fez questão de ir até o portão nos ver partir. O Uzumaki não parou de sorrir desde que soube que a Haruno iria comigo.

Quando Sakura apareceu, veio com Kakashi em seu encalço.

Ele me olhava com aprovação.

Após algumas despedidas, Sakura e eu partimos.

Assim que passamos do portão, Sakura me surpreendeu ao pegar minha mão única.

Fiquei dividido entre segurá-la ou afastá-la.

Sakura me tirava de minha zona de conforto.

Por fim, envolvi meus dedos nos dela e partimos de Konoha. Juntos.

Nos primeiros metros que percorremos, a garota olhava para mim tão feliz e com olhos tão repletos de amor que eu me perguntei como sequer havia cogitado pegar o outro caminho.

Eu não sabia como amar alguém da maneira correta. Mas Sakura parecia disposta a me ensinar, e eu, disposto a aprender.

E assim, o tempo passou e realmente aprendi.

Também descobri algumas coisas que não teria descoberto se tivesse seguido meu caminho sozinho.

Todos querem ser feliz. Mas não são todos que encontram a força para seguir em frente depois de sofrer com os obstáculos que a vida impõe. É preciso coragem, força de vontade e, principalmente, fé. Fé de que a felicidade venha nos acompanhar em algum ponto de nossa jornada.

Eu costumava pensar que a vingança seria a estrada mais perigosa que percorreria em minha vida.

Como tantas outras vezes — mais do que gostaria de admitir —, eu estava errado.

Não havia caminho mais perigoso, desafiador, assustador e maravilhoso que o do amor.

Eu não podia mudar meu passado e nem apagar meus pecados.

Tudo que eu podia fazer, era seguir em frente.

Apesar de tudo — e depois de tudo — eu ainda merecia a felicidade.

Meu caminho não era mais solitário. Agora, éramos três.

Sim. Três.

Durante nossa jornada, sem que programássemos, Sakura me deu o maior presente de minha vida: Sarada, nossa linda filha, fruto de nosso laço eterno.

Por elas eu daria minha vida. Sacrificaria-me da maneira que fosse. Protegeria-as a todo custo.

Porque elas eram a minha redenção.


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Notas finais do capítulo

É isso! Espero que tenham gostado! Desculpem a falta de beijo, mas é que SasuSaku é um ship lento! Hihi! Ele a levando na jornada já foi um grande passo. Esse é mais ou menos o jeito que eu imagino SasuSaku ficando canon. Com uma dose de drama, complexidade e, ao mesmo tempo, simplicidade. Afinal, essa é a marca do nosso ship, não é? Haha!

Bom... Se algum de meus leitores de AMDS estiver lendo isso, calma... Eu sei que deveria estar postando agora, mas não sei se vou conseguir hoje! Adorei escrever essa one, só que acabou roubando meu curto tempo pra AMDS. Porém... Prometo tentar ajeitar tudo pra postar o cap até amanhã!

XOXO ❤️