Já se faz uma semana, como as aulas só começavam pra valer na segunda semana, eu e o Andy decidimos fazer a famosa “despedida de férias” e ficarmos o resto da semana de “folga”, pra ele foi meio forçado, ele queria ir para a escola, mas acho que depois de insistir um pouco ele cedeu. Fizemos um pouco diferente dos outros anos, decidimos explorar a cidade, os shoppings, lanchonetes, coisas assim.

Passou-se uma semana, o domingo chegou tão rápido, mais rápido do que minha fome da madrugada.

– Nem acredito que vou ter que voltar para aquela prisão desgraçada...

–Não é tão ruim assim Emy – Ele parecia animado enquanto passava a roupa dele e eu o observava deitada no sofá do quarto dele.

–Você está extremamente animado para estudar não?

–Não é exatamente isso... –Ele parou de passar a roupa e colocou a camiseta num cabide. –Mas é que parece que essa escola vai ser divertida, nunca participei de algo realmente importante, você sabe disso.

–Que seja, vou ter que voltar todo dia sozinha mesmo... –Olhei pro chão desanimada e um pouco frustrada.

Eu o vi respirando fundo e vindo até mim, ele olhou pra mim e deu aquele sorriso de sempre dele. –Você quer que eu volte com você todo dia? Eu posso dizer que não posso ficar no clube, não tem problema.

Apesar de pensar em dizer isso, eu sabia que ele queria muito participar daquilo, ele não disse nada, mas é só olhar para ele, para aquele sorriso de “eu desisto para o seu bem”, ele nunca disse, mas sei que se sacrifica pro meu bem 99% das vezes.

–Para de ser otário? Você não quer ir ao clube? Então vai, para de fingir ser um cachorrinho que faz tudo por mim.

–Está bem. –Ele riu da minha reação, não importa como eu o respondo, ele sempre parece feliz. –Depois não fique me mandando mensagem de ódio, eu te dei uma chance, agora está tarde é melhor irmos dormir.

–Okay, okay...

Logo depois dessa conversa fomos dormir, eu para o meu quarto e ele trancado o dele, como sempre, ele tem sorte do quarto dele ter tranca, na outra casa quem tinha essa sorte era eu...

No dia seguinte me apressei e me troquei rápido, colocando aquela roupa confortável como sempre, fui até o quarto do Andy para dar bom dia para ele como sempre, mas a porta estava aberta, geralmente só dou um toque na porta pra avisar ele que tem que levantar, claro, se ele não tiver já levantado.

–Eu estou entrando viu Andy? –Quando eu entrei ele estava colocando a camiseta “bem passada” dele e quando ele se tocou que eu tinha entrado ele se virou rápido para a mochila, parecia envergonhado, agora não sei se era por eu ter entrado quando ele colocava a camiseta ou por algo que ele guardava.

–O que você está fazendo?

–Me trocando, não é óbvio?

–Me respondendo com outra pergunta?

– Estou?

–Será que está?

–Chega de perguntas, por favor! –Ele começou a rir da nossa conversa totalmente não produtiva

Não o culpo, até eu ri daquela bobagem. - Vamos temos que ir logo para o campo de concentração.

–Tão dramática. –Quando ele passou por mim ele bateu na minha cabeça como se eu fosse um cachorrinho...

Enquanto nós esperávamos o ônibus, que por sorte era bem perto o ponto, por isso nunca tínhamos muita pressa pra nada, o Andy me fez uma pergunta aleatória.

–Você percebeu que a gente passou essa semana sem ver nossa tia?

–Sorte que temos você que sabe cozinhar!

–Você não está preocupada com a Fran?

–Ela é do mesmo sangue que a Mãe, então deve estar vagabundeando por ai.

Ele só respirou fundo.

O ônibus chegou logo depois de alguns minutos de conversa aleatória, sobre teorias evolutivas e coisas estranhas.

–Da última vez nós chegamos quase atrasados para a escola, espero que não estejamos adiantados de mais...

–Pra mim tanto faz, desde que eu não fique com falta, to tranquila.

Fomos escolher um lugar para nos sentarmos, quando ia passando pelos bancos me deparei com o cara que discuti na semana passada, e só vi o Andy em direção a ele, sentar do lado direito do ônibus, Andy tinha o incrível costume de se sentar sempre na janela então eu tive que sentar do lado do corredor, não tinha como eu me esconder dele ou pelo menos fingir que eu não o conhecia, mas decidi tentar, por que se eu agisse estranho era capaz de levar sermão do Andy quando eu explicasse a situação. Não deu alguns minutos e...

–Ei...

–Ah não... -Disse para mim mesma e logo o Andy virou para ver o que eu tinha dito.

–Você é aquela menina irritadinha que me encheu no outro dia.

–Você deve ter me confundido...

–... – O Andy só observava a situação criada pelo retardado que estava a meio metro de mim.

–Não, é você mesmo aquela menininha que me chamou de lixão.

–Você estava perturbando a menina que não te fez nada. –Me virei pra ele irritada.

–Ela não se importava... – Disse ele caçoando da situação.

–E você? Se importa com essa cara de defunto?

–O que?..

–Ahn... –Andy não sabia nem o que falar, só estava perplexo. –Quem é ele?

–Eu me chamo Martin, não defunto, nem lixão! –Ele disse revoltado para a mim respondendo e ao mesmo tempo ignorando o Andy.

–Você poderia parar de falar, por que quando você fala sai mer... –O Andy colocou a mão na minha boca antes de eu terminar a frase.

–Vocês poderiam parar? Não sei o que aconteceu, mas olha a hora.

Ele riu do Andy e colocou os fones de ouvido.

Só olhei para o Andy e ele para mim, o resto do caminho foi silencioso...

Chegamos na escola, eu e o Andy fomos descer antes do bruta montes, quando o Andy tinha chegado a um degrau de descer do ônibus o babaca empurrou o Andy, fazendo-o cair.

–Até depois otário! –Disse ele indo até os amigos, mas olhando para trás.

–... –Ele não disse nada só se levantou e limpou os joelhos.

–Você está bem!?

–Sim, sim, ótimo começo de aulas. –Ele riu como se não tivesse acontecido nada.

Fomos andando pelo mesmo caminho do primeiro dia de aula, pelo caminho fui falando de que clube era o idiota que tinha arrumado confusão e sobre o que aconteceu na semana passada, achava que ele me daria sermão, mas não ele só assentiu e disse pra eu não me meter com pessoas assim.

–Ahn... Emy, vai indo primeiro, minha aula vai começar daqui 10 minutos e preciso resolver algumas coisas.

–Ah okay, a minha começa mais ou menos nesse tempo, mas tudo bem, te vejo no almoço.

E foi assim que fui para a minha aula, ficar quase 10 minutos na sala sozinha...

*****

–O que!?

–Desculpa... não vou poder participar do clube...

–Mas como assim, você parecia tão interessado... – Fred parecia realmente desapontado.

–É que eu tenho q fazer umas coisas importantes e tal... – Eu não conseguia inventar alguma desculpa boa o suficiente para convencer ele, parecia que ele sabia que eu estava tentando mentir.

–Não parece que você precisa fazer algo importante pelo modo que fala. –Eu disse...

–Bem é que...

–Venha até aqui no almoço pra você me explicar o porquê essa ideia mudou do nada, estou atrasado para minha aula de geografia.

–Ahn mas...

–Até! – E então ele se foi sem me deixar encerrar o assunto.

Fui até minha sala pensando em vários problemas que estava tendo, nunca ir para o primeiro dia de aula foi tão frustrante.

Após as aulas terminarem, ainda não foi decidida a grade de aulas então ainda está meio confuso, só temos o horário provisório, mas foi muito chata, teve várias aulas de exatas seguida, espero que isso mude...

No almoço decidi mandar uma mensagem para a Emy dizendo :

“De: Andy-gnado
Para: Emy-joada

Preciso resolver uma coisinha,
não fique brava ;-; ,
te encontro daqui a pouquinho, não vai embora sem falar comigo!!
“

Fui até o auditório com esperança de encontrar o Fred, mas a porta estava trancada, então pensei em ir atrás dele na sala dele, mas lembrei de que eu não fazia ideia de qual era a sala dele então só fiquei rodeando os corredores do segundo ano, como descobri que era do segundo ano? Eu nunca o vi no prédio do primeiro ano.

Enquanto andava pelos corredores me deparei novamente com aquele tal Martin, o que me empurrou ao sair do ônibus. Pessoas adoravam me provocar, mas ninguém, mesmo o pessoal implicante, a me empurrar ou me encher de qualquer forma.

–Olha só...Se não é o menininho otário.

–Eu tenho nome como você. –Revirei os olhos e peguei minha mochila, que tinha acabado de jogar no chão por estar pesada e me virei para ir embora, mas ele veio até mim e puxou pela camiseta e me jogou no armário. –Olha eu literalmente não fiz nada para você, me deixa! –Tentei empurrar ele, mas ele era muito grande.

–Cara, ninguém me irrita, nem uma menininha, como não posso bater nela vou descontar em você, nojento. –Ele me soltou, não tinha notado até ele me soltar que ele tinha me levantado pelo menos alguns centímetros do chão, ele chutou minha mochila e foi embora rindo, só vi minhas coisas voarem, inclusive as folhas que eu estava levando na minha bolsa.

–Eu ? Nojento? Brincadeira mesmo... –Murmurava para mim mesmo, enquanto ficava sentado pensando como eu era azarado por ter uma irmã tão bocuda e também como as coisas nessa escola aconteciam extremamente rápido.

–Você trouxe isso para o clube? –Levei um susto ao ouvir uma voz do nada, sendo que não tinha ouvido nenhum passo, nem algo do gênero.

–Ah... Frederick...?

–É seu?

Demorei a me tocar que ele estava com alguns dos meus papéis na mão.

–NÃO! –Gritei sem pensar duas vezes.

–Não? Mas em alguns estão escritos “Assinado Anderson “...

–...

–Você vai me dizer a verdade? Para eu retirar sua inscrição preciso de um motivo real.

Ele estava me olhando preocupado, ele me ajudou pegar o resto das coisas, mas se recusou a me dar os papéis e fomos até o auditório...

*****

–Por que ele não me atende? Vou dar uma volta, se ele não aparecer vou embora, to nem ai... –Desliguei o celular e decidi andar por ai.

Enquanto andava, descobri que o campus era realmente enorme, descobri também que tinha uma biblioteca, não pensei, só entrei. Para minha surpresa estava totalmente vazia, claro que estou sendo irônica. Comecei andar pelos corredores cheios de livros, quando no fim de um desses corredores, eu vi uma mesa com uma pessoa, decidi me aproximar para ver quem era, e agora sim, para a minha surpresa era a Valerie sentada com a Karen, as duas estavam lendo um livro sobre a Segunda Guerra Mundial, que por acaso era um dos meus assuntos favoritos. A Karen olhou para mim, fiquei sem o que fazer, logo depois a Valerie olhou também, ela parecia sem jeito, mas então a Karen levantou e me puxou sem dizer nada.

–Ahn... o que vocês estão fazendo?

A Karen sorriu para mim, com um sorriso bem gentil e meio sonolento. –Estamos discutindo alguns fatos da época da segunda guerra.

–Para a aula?

–Nã...

–Sim. –A Valerie levantou um pouco a voz, logo vi a Karen com uma cara desapontada.

–Quer ficar com a gente? –A Karen perguntou para mim.

–Ah é que...

–Você não quer fazer amizades? É assim que se começa... eu acho... –A Karen parecia confusa com a própria afirmação dela.

Eu acabei me sentando com elas e lendo alguns livros que estavam pela mesa, realmente não esperava que, principalmente, a Valerie faria algo assim, mesmo que fosse para as aulas!

As vezes as pessoas nos surpreendem...

*****

–Quer dizer que você esta fazendo isso pela sua irmã? –Fred fez uma cara confusa, mas ele parecia compreender.

–Sim... Não quero que ela fique sozinha, ela não faz amizades facilmente e...

–Ta, mas espera...–Ele me cortou, ele falava balançando as mãos e a cabeça, ainda segurando aqueles benditos papéis voadores. –Ela não disse para você participar do clube?

–Sim, mas...

–Tenho certeza que ela percebe que você se esforça por ela, se não ela não teria deixado você vir de mão beijada.

–...

Ele sorriu simpaticamente e colocou a mão no meu ombro.

–Cara, eu te entendo, você faz de tudo para não magoar ela não é? –Não fiz nada, só o olhei surpreso. –Eu faço o mesmo, mas pense, ela talvez não queira que você perca algo especial para você.

–...

–Olhe todos esses roteiros! Você os trouxe com esperança de poder ajudar ou colocar algum deles em “cartaz” não?

–Sim, eu imprimi minhas peças, as que eu escrevi e as minhas favoritas... –Falava meio envergonhado, não duvido nada estar corado, mesmo se estiver espero que ele não note e zoei de alguma forma.

–Por que está com vergonha? –Ele sorriu. –PRECISAMOS usar um dos seus no nosso clube! –Ele riu como se estivesse em frente à uma caixa cheio de gatinhos fofos e se levantou de onde estava. –Relaxa! Eu não vou te zoar nem nada – Ele me empurrou animado, incrível como esse cara parece ler minha mente, realmente assustador, mas um assustador legal, se isso faz sentido.

–Mas eu não vou poder.

–Faz o seguinte. –Ele se aproximou de mim e agachou para ficar na altura do meu rosto. –Me prometa que vai ter uma conversa sincera com sua irmã

–Mas...

–PROMETA!!

–TÁ!

–Isso ai! Agora pode ir, está dispensado por hoje, até amanhã e venha com a resposta sólida.

Fiquei vendo ele ir embora, junto com as minhas folhas, ele só deixou os que não eram escritos por mim, então decidi ir embora, nem tinha me tocado que tinha esquecido meu celular, espero que quando eu chegue em casa a Emy não me mate por tê-la deixando esperar, acabei demorando mais do que pretendia.

Quando cheguei em casa e abri a porta estava minha tia sentada no sofá com os braços apoiados na perna e o rosto coberto pelas mãos...

–Fran?

–Oi Andy... –Ela olhou pra mim com uma cara de cachorro abandonado, eu sentei ao lado dela e ela começou a chorar e pedir para eu trazer sorvete para ela.

–Ele é um otário Andynho! Me trocou pela babaca da faculdade dele!

–Por que ficou tanto tempo fora então?

–Fui visitar minha mãe e esqueci de buscar vocês!

–...

Eu penso que minha vida as vezes é muito parada e as vezes é extremamente aleatória....