May our fates interwine. escrita por StardustWink


Capítulo 1
1 a 5: by your lips, i come undone


Notas iniciais do capítulo

O que você faz quando seu amor por um ship te faz escrever mil coisas deles e você tá cansada de fazer capas e mais capas p/ drabbles que não tem nem mais de 1.000 palavras direito?

Simples, você cria uma coleção de drabbles para postar tudo num lugar só. :v Eu achei melhor colocar minhas futuras mini-fics de yatori num só lugar (já que eu definitivamente vou escrever mais deles, quem eu tô querendo enganar), então daí nasceu essa coleção. O primeiro capítulo está especialmente dedicado às pessoas que morreram quando a Hiyori foi pra Capypa land no episódio de duas semanas atrás. O que você faz para superar o beijo que o trash dad roubou da sua filha? Você escreve seu otp se beijando de todos os jeitos possíveis para compensar, claro.

Cuidado com spoilers do mangá na última drabble! Fora isso, espero que gostem ♥



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um beijo para surpreender.

Yukine pausou a mão que escrevia a resposta de um exercício no caderno, estreitando os olhos para a figura parcialmente escondida pelo outro lado da mesinha que no momento estava usando as pernas de sua tutora de travesseiro.

- Hiyori... Se você quiser, eu posso chutar ele pra fora.

A garota abriu um sorriso sem graça para o loiro, ciente do olhar de ultraje do deus que, virando a cabeça para encarar seu shiki, levantou os braços para segurá-la pela cintura.

- Eu nem estou fazendo nada, Yukine!

- Agora, mas eu te dou cinco minutos no máximo para você fazer alguma coisa. - O garoto tinha os braços cruzados, uma expressão de quem já passara por esse momento milhões de vezes. - Você não tem mais nada para fazer?

- Não quando eu não tenho meu shiki. - O deus resmungou, fazendo bico.

Hiyori o encarou. Normalmente ele dava espaço para ela e Yukine terem suas sessões de estudo em paz enquanto o mesmo procurava por trabalhos mais simples pela cidade ou simplesmente ia para algum lugar, mas... Desde o acidente de alguns dias atrás, Yato parecia bem mais grudado a ela que o usual.

Quer dizer, a garota entendia a preocupação - por mais normal que fosse o ayakashi (quem diria, ela chamando um de normal agora), ele passara perto de abocanhar sua cauda por um descuido próprio. Yato e ela já haviam tido uma briga breve após o ocorrido e, mesmo que já tivessem feito as pazes, o deus ainda insistia em ficar a seguindo pelos lados.

Ela entendera o susto que fora o ataque, mas não precisava daquilo tudo. No entanto, era Yato, a garota podia esperar exageros vindos da parte dele. Já se acostumara suficientemente desde que haviam virado um casal, afinal.

- Tá tudo bem, Yukine-kun. Desde que ele fique quieto, eu não me incomodo. - Ela suspirou, olhando para baixo para encontrar olhos azuis que brilhavam felizes por sua permissão. - Quieto, entendido?

- Ok! - Sua voz repreendedora não fez nada para tirar o sorriso bobo do rosto do deus, mas pelo menos tudo o que ele fez depois foi abraçar ela mais forte pelo torso e fechar os olhos.

A garota suspirou outra vez, voltando-se para o loiro que balançava a cabeça em desgosto para seu mestre. Depois de um sorriso amarelo por parte dela, ambos voltaram a olhar as questões de física que resolviam antes.

Ela não soube o momento exato que sua mão livre começou a passear pelas mechas negras do garoto que deitava em seu colo, mas como ele não parecia estar reclamando, Hiyori continuou. Foi enquanto ela fazia círculos com seu dedo no rastro de cabelo acima da nuca dele que sentiu a mão de Yato puxando a sua.

Hiyori, que observava enquanto Yukine tentava resolver outra questão por si mesmo, dirigiu seus olhos brevemente para o garoto em seu colo.

Yato tinha os olhos voltados para a mão que trouxera com a sua, e acabara de entrelaçá-las. Ele trouxe a mão dela para perto de seus lábios e beijou um dos dedos, olhos azuis límpidos se voltando para ela no segundo seguinte.

- Hiyori?

A garota quase pulou em seu lugar, um tom forte de rosa colorindo suas bochechas enquanto se voltava para Yukine como se nada houvesse acontecido. Felizmente, o garoto havia apenas chamado seu nome, ainda parecendo não entender o que estava escrito no papel.

- A-ah, sim, Yukine-kun? - Ela se inclinou na direção do mais novo, tentando se concentrar no que estava lá para fazer. Não é como se a garota odiasse o que Yato estava fazendo, então não viu o porquê de pedi-lo para parar.

- Eu tentei resolver essa questão com a equação, mas deu alguma coisa muito errada e eu não sei onde. Nenhuma das respostas é a que eu achei... - O loiro comentou, coçando a cabeça.

Os lábios que se encontravam em seu dedo deslizaram pelos os outros, mal pressionando, mas deixando um rastro aquecido por sua extensão. Engolindo em seco, ela passou os olhos pela folha que o loiro tinha por cima da mesa.

- Hm... Eu acho que, - Ela hesitou quando o garoto voltou para o primeiro dedo, pressionando com mais força dessa vez. - Uh... V-você deve ter se esquecido de considerar a força desse peso aqui.

- O que puxa de volta? Hm... - Yukine murmurou para si mesmo, voltando os olhos para a folha, e Hiyori olhou de soslaio para o deus que agora subia para beijar a palma de sua mão, olhos fechados, um sorrisinho no canto da boca.

Ele parecia contente em dar atenção para ela daquele jeito, Hiyori sorriu para si mesma. Não era tão ruim o deixar ficar ali enquanto estudava se Yato continuasse não atrapalhando ambos. Ela estava até achando fofo que ele pudesse se contentar com tão pouco...

Essa opinião sofreu uma reviravolta de 180 graus assim que o deus resolveu morder seu dedo.

- Hya! - Dessa vez, a garota pulou de seu lugar, assustando tanto Yukine que parecia estar conseguindo resolver a questão quanto o próprio garoto deitado no seu colo. Ela pôs se de joelhos, rosto completamente vermelho agora enquanto apontava para a saída do quarto.

- Ok, mudei de ideia, é melhor você ir!

Yato tentou protestar de novo, mas Yukine foi rápido para tomar o lado dela e ajudá-la a tirá-lo de lá, já adivinhando que ele fora a causa de seu grito de susto. Ela, porém, não perdeu o brilho de travessura que iluminou os olhos do deus um segundo antes do mesmo finalmente sair.

Hiyori suspirou, encarando a marquinha de dentes quase imperceptível em seu dedo atacado. Jurava que Yato iria a fazer enlouquecer um dia.

2. um beijo para revelar.

A garota estreitou os olhos para a visão à sua frente. Assim que subira as escadas para o sótão onde Yato e Yukine costumavam ficar, encontrara o primeiro lá, sentado no chão, expressão de quem estivera pacientemente esperando até que ela entrasse pela porta.

E ele tinha uma fita crepe colada na boca.

O primeiro pensamento de Hiyori foi de que bom, eu já esperava que um dia o Yukine-kun fosse perder a paciência. Depois, ao notar que o loiro não se encontrava no quarto, andou até o garoto de cabelos negros que acabara de se por de pé, parecendo tentar falar algo mesmo com a fita ainda grudada.

- O que você fez dessa fez, hm? - Ela suspirou levemente, estreitando levemente os olhos e o encarando. O deus balançou a cabeça para os lados em negação, apontando para a fita em sua boca.

- Você quer que eu tire?

Ele assentiu, fechando as mãos em punhos animadamente na frente de seu corpo. Hiyori arqueou uma sobrancelha, um pouco desconfiada, mas estendeu as mãos para tirar a fita o mais delicadamente possível.

O sorriso que o deus escondia por baixo tinha um quê de travesso que aumentou sua desconfiança, mas Hiyori não foi rápida o suficiente para impedir a mão que a trouxe mais para perto por sua cintura.

- Finalmente, Hiyori. Estava guardando meus lábios o dia inteiro só para você. - O garoto murmurou, voz num volume baixo proposital que ele sempre tinha quando queria parecer sedutor. Ela corou até as orelhas, observando com a boca abrindo e fechando inutilmente enquanto o mesmo se aproximava mais e mais-

Para no fim, por instinto, grudar a fita em suas mãos de volta na boca dele.

Yato piscou, ainda a segurando, parecendo ter sido pego numa situação em que não tinha previsto. O olhar de dar pena que ele tinha a fez soltar uma risada baixa.

Antes que o deus pudesse ficar com um rosto ainda mais triste por ela estar rindo de sua cara, a garota pousou as mãos delicadamente sobre suas bochechas, se propulsou com as pontas dos pés e plantou um beijo bem por cima da fita que cobria a boca dele.

Hiyori aumentou o sorriso ao ver o vermelho que praticamente explodiu no rosto de Yato em seguida, mão afrouxando em sua cintura suficientemente para ela conseguir escapar.

Com um último beijinho em sua bochecha, ela se virou, lançando um sorriso tímido na direção do deus:

- Você vai ter que tentar cantadas melhores que essa, Yato.

3. um beijo para descobrir.

Hiyori não queria admitir para ninguém, mas ela tinha um segredo.

Não era nenhuma dessas coisas que fariam seus pais a expulsarem de casa, nem nada que pudesse virar história de um drama juvenil de novela na televisão. O segredo dela era simples, bem específico, mas que ainda assim a deixava com vergonha de qualquer forma.

...Ela realmente adorava quando Yato prendia o cabelo.

A garota não sabia quando sua adoração tinha exatamente começado; mas, num dia quente de julho, a mesma se pegara observando a parte de trás do pescoço dele com olhos e, depois de ganhar um olhar um tanto divertido vindo de Kofuku, finalmente admitira para si mesma que aquilo talvez fosse um problema.

Hiyori gostava das mechas negras de Yato que às vezes pareciam mais sedosas que as dela, mas vê-lo de cabelo preso o dava uma aparência jovial que o deixava mais fofo do que ela considerava aceitável, além de que o seu pescoço ficava exposto, e...

E, por mais embaraçoso que aquilo poderia ser, ela realmente queria testar uma coisa.

Por esse motivo, lá estava ela, observando enquanto seu namorado-quase-imortal bebia outra lata de cerveja (provavelmente roubada de Daikoku), cauda balançando de um lado para o outro enquanto via uma gota de suor descer pela nuca dele até desaparecer pela gola da blusa branca.

- Yato, você não deveria beber tanto. Quantas você já jogou aí do lado? - Ela murmurou, estreitando os olhos na direção dele.

O garoto virou-se para ela, a vermelhidão de sua pele denotando que já tinha álcool o suficiente em seu corpo, e fez bico.

- Mas Hiyoriiiii~ Hoje tá o dia mais quente do ano! E o Yukine tinha que ir ajudar nos afazeres com o Daikoku...

Hiyori escondeu seu risinho com a mão; Yato sentia mais ciúmes de seu shiki do que gostaria de admitir. Aqueles dois eram uma família não convencional que ela certamente nunca ficaria cansada de ver.

...E que ela nunca se cansaria de participar, também, se dependesse de si mesma.

A garota voltou ao presente quando viu que Yato agora tombava a cabeça contra a mesinha, resmungando coisas que ela não conseguia ouvir do lugar de onde estava. Calmamente, ela engatinhou até chegar ao lado dele, rosto inclinando-se para frente na tentativa de achá-lo.

-... Yato, se você vai dormir, não é melhor ir lá pra cima, pelo menos?

- Nn... não vou...

Ela estreitou os olhos. Tinha certeza de que ele não ficaria tão desgastado com tão pouco; mas, ao mesmo tempo, lembrava um comentário de Kofuku de que ele e Yukine haviam voltado muito tarde de um trabalho na noite anterior, e Yato ainda fora expulso do quarto pelo loiro por “estar sonhando alto demais e não deixando os outros dormirem”.

Será que ele realmente estava com tanto sono assim? A garota franziu a testa na direção de Yato...

Para dar de cara com seu pequeno problema de frente ao seu rosto, a centímetros de distância, exposto.

A garota se afastou um pouco, corando com o pensamento. Depois, ela comprimiu os lábios, olhos brevemente voltando para o rosto de Yato ainda escondido pelos braços na mesinha.

Se ele estivesse só fazendo manha, aquela seria uma boa maneira de surpreendê-lo e fazer o mesmo subir para tirar um cochilo num lugar melhor. Se estivesse quase dormindo mesmo, provavelmente não perceberia o que ela iria fazer.

Hiyori possuía uma desculpa válida para as duas opções. Ela podia fazer isso.

- Yato... - Ela o chamou uma última vez, num aviso, mas o deus não fez nenhum esforço para se mover. Expirando calmamente, a garota chegou mais perto de onde os fios negros presos do garoto revelavam sua nuca e se inclinou para frente.

Ela plantou um beijo leve bem abaixo da raiz do cabelo, se afastando rapidamente.

Nada aconteceu. A garota soltou a respiração que estava segurando, e voltou-se para a situação novamente.

Ele... Não tinha acordado. Mais do que isso, não parecia nem ter notado o que ela fizera. Isso poderia dizer que...

Não, Hiyori, não. Você não vai fazer isso de novo. E se ele te pegar dessa vez e achar que você tem um fetiche estranho ou coisa parecida?!

...Bom, não é como se ele pudesse falar alguma coisa sobre fetiches estranhos, mas...

Mesmo assim, era muito arriscado. Não daria certo.

Então por que ela estava se aproximando de novo?!

Dessa vez, seus lábios pousaram mais embaixo, mais perto da base do pescoço, e ela suspirou antes de se afastar minimamente.

Nada de novo?! Ele seriamente tinha ido dormir com isso?!

Ela chegou perto e o beijou de novo. E de novo. E de novo. Aquilo estava começando a deixá-la irritada. Quer dizer que ele não era nem um pouco afetado por aquilo? Pescoços não deviam ser uma região sensível?

Hiyori distribuiu beijinhos leves desde a base do pescoço até a parte superior da nuca, até perto da orelha dessa vez, mas nada. Com os lábios ainda tocando seu pescoço, ela estreitou os olhos.

- Hmm... - Hiyori seriamente não sabia como alguém podia dormir no meio daquilo- Ah, espera, ele tinha se movido.

Piscando, a garota se afastou, tendo certeza que algo tinha acontecido dessa vez.

Então, falar contra o pescoço? A cauda dela balançou, manifestando sua curiosidade, enquanto ela se aproximou de novo, encostando seus lábios contra a nuca do garoto e tentando novamente.

Ela viu quando ele moveu os braços, o rosto de posição. Algo no canto de sua mente dizia que ela deveria parar; mas já havia começado, qual o pior que poderia acontecer?

Hiyori deslizou seus lábios até abaixo da orelha dele, de novo, e pôde sentir a estremecida que sentiu correr pela pele do deus com isso. Tentada, ela tentou de novo, murmurando o nome dele contra sua pele, pressionando os lábios-

- Hnn, H-hiyo...

Em um segundo, a garota conseguiu se jogar de costas para a parede do aposento, rosto completamente tingido de vermelho e boca aberta num gritinho que falhara em escapar de sua garganta.

O som que ele fizera com aquela voz rouca a fez perceber em um segundo exatamente o que estava fazendo, ao mesmo tempo em que revelado o deus que acabara de levantar a cabeça da mesa, uma mão cobrindo seu pescoço e rosto praticamente no mesmo tom de vermelho que o dela.

Ela tinha se aproveitado dele! E-e pior ainda, ele provavelmente nem estava dormindo! Ou se estava, acordou numa péssima hora, e agora ela ficaria com fama de molestadora de namorados e meu deus o que o Yukine-kun iria pensar dela agora-

- H-hiyori?

- F-fica longe! - Ela exclamou, balançando os braços para afastar qualquer tentativa do deus de se aproximar. Yato piscou, comprimindo os lábios, e desviando os olhos dela.

- Uh, Hiyori, você não me assustou, eu só estava...

Eu sei muito bem o que você estava pensando! A mente dela gritou, e a garota corou ainda mais. Ela estreitou os olhos, não sabendo o que fazer. Se pudesse acordar em seu corpo agora, seria ótimo...

- Q-quer dizer, você começou a me beijar, e aí...

- V-você estava ACORDADO?! - Ela gritou de novo, agora também com raiva na voz. Com todo o barulho que estavam fazendo, era uma surpresa que Kofuku ainda não tinha vindo ver o que havia acontecido.

- Desculpa! Eu só... - Ele desviou seus olhos azuis para ela, que pareciam incertos assim como os dela, mas ainda assim estavam tão suaves que ela perdeu metade da vontade de bater nele. - Eu não queria que você parasse, então...

Ah. Hiyori mordeu o lábio inferior, desviando os olhos. Ela surpreendentemente achava mais difícil de lidar com um Yato envergonhado e honesto do que com seu modo brincalhão e insinuante usual.

- B-bom... Se é assim.

Ambos voltaram seus olhos para o chão, processando aquele acontecimento. Hiyori acabara de achar um aparente ponto fraco novo de Yato. Ele descobrira que ela poderia afetá-lo ainda mais do que o esperado. Aquela parecia ser mesmo uma grande tarde.

Os olhos azuis dele subiram para fitá-la de novo, hesitantes.

- Então... Se você quiser fazer de novo, eu...

- Hoje não, Yato. Por favor. - Ela resmungou, escondendo o rosto com as mãos.

Kofuku, escondida na porta e usando muito bem a câmera de seu celular, teve que controlar o riso ao ver o rosto dos dois.

4. um beijo para prometer.

Os dedos dela deslizavam leves por sua pele, seu rastro passando como cócegas enquanto ela terminava de enrolar gaze por cima do corte recém-tratado de seu braço. Hiyori não havia falado um pio desde que Yato sentara ali, preferindo tratar dos assuntos mais urgentes primeiro antes de qualquer outra coisa.

Ele podia ver, porém, a aflição refletida nos olhos dela. Aquela não fora uma batalha fácil, ele sabia disso, mas os “e se”s que poderiam ter acontecido só tinham se instalado em sua cabeça agora que estava em segurança.

E, por mais que ter a garota estivesse tão perto de si mesmo e transmitindo preocupação com cada gesto que fazia, ele não se viu conseguindo suportar seu silêncio.

- Hiyori? - O deus tentou, observando enquanto as mãos dela pausaram, tendo acabado de acertar a gaze sobre o ferimento, mas ela logo se voltou para limpar outro corte em seu ombro oposto.

Engolindo em seco, ele continuou.

- Tá tudo bem agora. - Os olhos azuis dele percorreram seus movimentos enquanto a garota se movia para limpar o ferimento, inclinando-se para frente, mas ela continuava concentrada num ponto, recusando a fitá-lo de volta. - Quer dizer, você realmente achou que eu seria derrotado tão fácil, Hiyori? Eu e o Yukine saímos bem dessa, não saímos?

O tom mais leve na voz dele não adiantou muito para melhorar o humor dela, mas suas mãos pararam novamente. Yato estava quase falando outra coisa quando pôde ouvi-la murmurar algo.

- O quê? - Ele inclinou-se para o lado, tentando achar seus olhos, e viu-se surpreso quando ela decidiu subitamente levantar seu rosto.

- Eu disse, isso não muda o fato de que você poderia ter morrido, Yato.

O deus piscou, olhos arregalando ao verem os indícios de lágrimas brilhando contra os olhos dela. Ele observou enquanto ela voltou-se para o ferimento em seu ombro, mãos trabalhando com mais força que antes e ignorou o arder do algodão contra o corte.

- Eu sei que você é um Deus, mas você não é como a Kofuku-san e os outros, e– E mesmo que você fosse, eu não quero que–

As palavras dele ficaram presas em sua boca quando a voz dela vacilou por um momento.

- Eu e o Yukine nos importamos muito com você, Yato. P-por favor, não faça isso de novo.

Yato sentiu uma pontada em seu peito, um sentimento quente e sufocante ao ouvir as palavras dela naquele momento, o tom de desespero permeando sua voz. Para alguém que vivera muitos e muitos anos, aquela era uma das primeiras vezes que ele se sentira necessário para alguém. Hiyori falara aquilo como se sua vida perderia o sentido sem ele; e mesmo que aquela frase soasse irônica para um deus que pudesse ser tão facilmente esquecido, ainda assim sentiu-se tentado a acreditar nela.

Mais do que tudo, Yato só queria trazê-la para seus braços e nunca mais a deixar ir. Ao invés disso, no entanto, ele apenas afastou as mãos dela de perto de seu ombro, e segurou-as junto das suas.

- ...Eu não posso prometer isso, Hiyori. - Ele admitiu, encarando suas mãos unidas, cientes que os olhos dela agora estavam voltados para o mesmo. Pelo modo como os dedos dela apertaram os seus, Yato soube que a garota também sabia. - Mas...

Mas ele queria que ela parasse de encará-lo como se ele pudesse escapar por entre seus dedos a qualquer momento. Que ela voltasse a sorrir, a o repreender por seu descuido na luta como sempre fazia, qualquer coisa além daquele tom de voz, daqueles olhos.

- Eu quero continuar vivendo como um Deus que possa trazer felicidade para os outros. Então não vou abrir mão da minha vida tão fácil. - Ele falou, por fim, direcionando seus olhos para os dela.

-...H-hm. - Hiyori assentiu levemente, mãos apertando mais as suas e olhos ainda marejados, e o deus inclinou-se sem pensar.

Yato pressionou os lábios por cima da lágrima que ousava cair, como uma promessa. Ele não se importava que pudesse estar ultrapassando um limite invisível entre os dois, que ele não pudesse garantir o futuro por mais verdadeiras que fossem suas palavras.

Ele continuaria se segurando à sua vida com todas as suas forças, não importa o que acontecesse. E, sobretudo, Yato faria de tudo para nunca ver aquela expressão no rosto dela de novo.

5. um beijo para mudar.

Hiyori não podia acreditar no que estava acontecendo.

- Hiyori, por favor! Só me deixa-

- N-não, Yato! - Ela exclamou, rosto quase explodindo em vermelho, de pé e tendo acabado de escapar de um ataque súbito do Deus. Yato a encarou com o rosto choroso, mãos ainda estendidas na direção em que ela estava agora, e a garota não sabia se se sentia feliz por ele estar tão insistente naquilo ou com vontade de dar um chute na cara dele.

Quando Yato tinha descoberto sobre o beijo dela com Fujisaki, Hiyori pensou que aquele assunto havia sido encerrado após a discussão de ambos em seu quarto, quarto esse que ele invadiu enquanto ela estava de toalha. O impasse em que ambos haviam chegado - Yato reclamando sobre o beijo com Fujisaki, ela retrucando com o beijo com Bishamon - tinha posto fim àquela discussão e, depois que ambos foram distraídos por outras coisas, supostamente esquecido.

Só que não. Porque Yato, de repente, depois de um comentário de Kofuku que ele poderia simplesmente compensar a Hiyorin pela perda, oras, lá estavam eles de novo.

E, por mais que ela estivesse mentindo se dissesse que não queria, Hiyori achara a situação repentina demais para deixar o deus de azuis claros simplesmente a beijar do nada.

- P-por que você tá tão insistente, hein? Eu achei que tínhamos deixado isso de lado. - A garota cruzou os braços, bochechas ainda tingidas de vermelho, observando de cima enquanto ele fazia uma expressão contrariada de onde estava sentado.

- Não é que eu tivesse esquecido, antes. - Yato resmungou, desviando os olhos e imitando sua pose irritada. -... Eu só não queria ficar pensando nisso.

Aquela fala fez a garota suspirar. Decidindo que talvez a situação estivesse mais segura agora, ela sentou-se novamente perto dele, seus olhos rosados fitando seu rosto.

- Eu já te disse, Yato, aquele beijo não quis dizer nada pra mim.

- Mas foi o seu primeiro. - Ele retrucou, retornando o olhar, a raiva presente em seus olhos a surpreendendo. - Ele não merecia roubar de você algo tão importante, não quando...

Não quando é algo que você não vai esquecer tão fácil, ele quis dizer. A expressão da garota amoleceu.

- Yato, é só um beijo. Não quer dizer nada pra mim.

- Então por que você não me deixa fazer isso? - Os olhos dela voltaram para ela, insistentes.

Hiyori queria perguntar por que ele queria tanto fazer isso. Queria saber se aquilo era só fruto de uma missão pessoal de retornar o que Fujisaki havia lhe tomado, ou se tinha outro motivo.

Ao invés disso, seus lábios se encontraram admitindo a verdade guardada para si mesma.

- Porque com você é diferente.

Ela pôde ver os orbes azuis dele se arregalarem enquanto a frase se instalava em sua cabeça, sua boca abrir-se por instinto para dizer palavras que não estavam lá. Claro que ele reagiria assim, olha o que ela acabara de admitir!

Hiyori não queria que beijar Yato fosse só uma compensação por um primeiro beijo que ela não quisera; porque só um beijo roubado não merecia ser o motivo de um acontecimento tão especial assim. Porque Yato era mais especial do que qualquer outro.

Uma mão pousou-se sobre a sua no chão do quarto, e a garota levantou o rosto para encontrá-lo a poucos centímetros de distância, uma expressão tão intensa no rosto que ela sentiu todo o ar que tinha escapar de seus pulmões.

-... Eu não sei qual era sua intenção, Hiyori, mas isso só me deixou com mais vontade de fazer isso. - Ele tinha as maçãs do rosto pinceladas de um vermelho forte, assim como o rosto dela provavelmente estava, e a garota pôde enxergar então seu nervosismo por trás do brilho desejoso dos olhos dele.

Talvez ele não estivesse fazendo aquilo por obrigação para compensar as ações de seu pai. Talvez fosse tão especial para ele quanto era para ela.

Hiyori queria desesperadamente acreditar nisso, porque não saberia se poderia se afastar mais dos olhos dele, da mão que tinha de repente se encontrado em sua bochecha. Yato estava a fitando como se ela fosse tudo o que ele pudesse ver naquele momento, mas não fazia menção de se mover os últimos milímetros de distância. Estava apenas esperando, pedindo.

Ela não pôde levar a si mesma a dizer não.

A garota não havia sequer terminado de falar que ‘tudo bem ‘quando os lábios dele pressionaram sobre os dela, suaves. A mão do deus acariciou sua bochecha e ela se encontrou inclinando-se na direção do toque, retornando o beijo.

Mas ele se afastou cedo demais, olhos voltando-se para um ponto na parede e indecisão colorindo suas feições. Yato estava resolvendo pensar nas consequências daquilo agora, logo depois de beijá-la? Não, isso não estava certo.

Ela soltou da mão dele no chão para virar seu rosto com as duas, suprimindo a vontade de sorrir para a expressão honestamente confusa do mesmo.

- Yato... S-se você quer me fazer esquecer, vai ter que tentar melhor que isso.

A frase pareceu acordá-lo de seu estupor; pois ele piscou, o vermelho intensificando em seu rosto, olhos buscando algo na expressão dela.

- M-mas não era só um beijo?

A garota engoliu o nervosismo que teimava em congelar seus movimentos, decidindo que não, aquilo definitivamente não era o suficiente. Ela enlaçou seus braços pelo pescoço dele, o puxando pelos últimos centímetros, e viu-se sendo trazida mais para perto quando uma mão a puxou pela cintura.

Yato parecia mais insistente agora, seus lábios firmes sobre os dela como se buscassem algo que só ela poderia lhe responder, e a garota viu-se devolvendo todas as incertezas que ele um dia tivera em seu rosto, nas palavras murmuradas para si mesmo que achou que ela não estivesse ouvindo.

Beijo. Os olhos dele, incertos, quando ela o disse pela primeira vez que não o esqueceria. Uma mão em seu cabelo negro, passeando. As palavras que murmurara dentro da lixeira. Uma boca puxando seu lábio inferior. Suas mãos segurando as dela, questionando a verdade em suas palavras. Suas mãos no tecido da roupa dele, puxando, puxando, até que suas costas estavam sobre o chão e seu mundo se resumia ao Deus de olhos claros por cima dela, que a irritava e a preocupava e a fazia sentir mais em alguns minutos do que ela sentira em todos os anos de sua vida.

Os olhos de Yato estavam nebulosos quando se abriram, a respiração dele batendo em seu rosto e seu cheiro inebriante impregnado demais à sua volta para Hiyori conseguir se concentrar em alguma coisa. O pensamento de que eles talvez fossem pegos se continuassem ali se beijando no sótão falhou em permanecer em sua mente; não quando os olhos dele estavam brilhando daquele jeito enquanto fitavam os dela.

Hiyori sorriu, trazendo suas mãos para o rosto dele, e riu quando Yato subitamente a abraçou forte e enterrou o rosto dele na dobra de seu pescoço.

Poderia não ser seu primeiro, mas aquele sim era um beijo que ela nunca iria esquecer.


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Notas finais do capítulo

....Eu não me arrependo de nada :v Caso eu fique com vontade de escrever mais yatori com os episódios futuros, voltarei até aqui. Até lá, vejo vocês depois! ♥

Estou pensando ainda em aceitar sugestões de temas, btw. Quem sabe algum deles me dê inspiração? owo Se quiserem sugerir algo, fiquem à vontade!

Enfim, até mais~