Estou ajustando os últimos detalhes.

Em minutos meu primeiro androide estará pronto, provavelmente será apenas um assistente, mas já é um ótimo começo. Um pouco do rosto dele na parte superior direita está à mostra e faltando um olho. Não tenho mais recursos para uma correção, nada que vá atrapalhar, eu espero. Já o carreguei com todo tipo de informação possível: convivência, ciências, matemática e até funções básicas, como andar.

É agora.

Coloco um pequeno cristal de energia presente em androides, energia quase ilimitada que caiu na ilha como um meteorito no começo do ano, permitindo a fabricação de mais e mais desses robôs. Leva alguns segundos - mais parecem horas - e enfim seu olho esquerdo ganha um tom de azul vibrante, meu coração acelera, ele levanta e fica sentado na cama metálica com um cabo conectado na lateral da cabeça.

- Perfeito! - grito - Perfeito perfeito perfeito! Seja bem-vindo Adam.

Parece realmente um pinguim comum de dezessete anos: cabelos pretos bagunçados incrivelmente realistas, moletom preto, calça jeans e um simples tênis preto. Estou pulando tanto que meus óculos quase saem voando pelo laboratório, minha mãe estaria orgulhosa de mim...

- Venha até aqui Adam! - chamo.

Ele olha, hesitante, o que me preocupa. Não houve reação instantânea. Chamo de novo:

- Adam, venha!

Ele levanta parecendo inseguro, suas nadadeiras finalmente soltam a lateral da cama metálica e ele dá o primeiro passo... na verdade, ele tropeça e da passos desesperados até bater de cara com a geladeira. "Ele não pode ter quebrado assim, pode?", penso.

-Adam, o que há com você? - levo ele para uma cadeira velha com a almofada florida aos farrapos, bem do lado de meu computador. O fio ainda está conectado em sua cabeça, analiso o os dados e de repente, é como se todo meu trabalho tivesse sido em vão. Um imenso e deplorável vão. Todos os seus arquivos, ensinamentos, atitudes... TUDO apagado. Acrescento um arquivo qualquer, e em quinze segundos é apagado, como não chequei isso antes? Agora tenho um androide defeituoso que sequer consegue manter um arquivo por mais de um minuto! Por outro lado, armazena memórias, agora me pergunto: como e por que?

É então que algo me ocorre e percebo que nem tudo está perdido. Ele não aceita nada vindo de fora mas armazena tudo e, como um robô, sua capacidade de aprendizagem é altíssima facilitando tudo. Em uma semana estará praticamente "formado na escola".

Olho no olho dele. Inocente, exatamente como uma criança. Ele não parece assustado, apenas confuso, acho que eu também estaria assim se acordasse sem qualquer noção de viver. Ele tem consciência, um defeito, não deveria ser assim; deveria me servir sem questionar, conviver sem amar, mas não. Ele agora é minha máquina de sentimentos e eu vou ensiná-lo a viver.

- Hey - me inclino e olho para ele com um sorriso leve - Eu sou Gale.

- Ga... le - Ele disse baixinho.