Carta sobre uma garota escrita por


Capítulo 1
Carta sobre uma garota




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Assim como essa carta, aquela garota era única. Afinal, não é todo dia que você encontra uma menina que muda sua vida.

Essa menina não era ruiva. Tampouco loira. Seus cabelos possuíam um intenso tom de chocolate, que se assemelhavam á seus olhos.

Não citarei nomes nessa carta. Não preciso. A garota de quem eu falo sabe, e é isso que importa.

A morena tinha manias. Muitas. Como, por exemplo, colocar o cabelo para trás da orelha. Usar o mesmo All Star preto com a mesma blusa de coração todo dia. Ajeitar os óculos no rosto mesmo que ele não estivesse escorregando.

Ela andava muito de bicicleta. Não era novidade ver sua mão avermelhada e assada por conta do guidão da bicicleta. Ela gostava de ficar em pé nos pedais, e rir para o vento. Pedalava com a maior rapidez que conseguia, e usava apenas a ponta do pé para controlar a velocidade. Sempre achei esquisito usar a ponta do pé, e, quando cheguei a comentar com ela, ela me respondeu com um “é mania!”. Sempre a mesma resposta. Depois, descobri que ela fazia isso por puro impulso. Ela aprendera assim. E faria isso até o fim.

Ela usava aparelho. E sempre usava as borrachas na cor vermelha. Quando perguntei o porquê, ela me respondeu que era outra mania. Ela roía as unhas quando estava ansiosa.

Ela montava. Seu pai tentava convence-la a montar como uma garota deveria, sentada de lado em uma égua mansa. Mas ela montava como um menino, com o cavalo preso pelas suas duas pernas. Ela apelidara seu cavalo de Arion, em homenagem ao da mitologia. Era um lindo cavalo, alto e quase que indomável. Quando cavalgava, eles eram um só. E era quase impossível que se separassem tão cedo.

Ela também tinha mania de andar descalça. Ela adorava. Pisava na grama e sentia cócegas, mas, mesmo assim, ficava sem seus chinelos. Gostava de aprontar. Falo isso por já ter sido alvo de suas pegadinhas. Ela era muito boa em pregá-las.

Tudo bem. Sei que já listei muitas manias dessa menina, e que ela ainda é desconhecida para vocês, mas eu preciso listar mais algumas manias. Ela adorava ler. Sim. Ela lia muito. E adorava entrar em uma livraria. Era seu presente favorito na páscoa, no natal e no eu aniversário.

Ela também adorava flores. E o sol. Ficava irritada toda vez que chovia. E, quando a chuva persistia por dias, ela tornava-se ranzinza e irritada. Quando o sol saia, ela se deitava no gramado de sua casa e fechava os olhos, deixando o sol levar a irritação embora. E então ela ria. Seu riso era como o vento e como as flores. Ela ria com frequência. Mas guardava as gargalhadas para mim. E, quando ela fazia isso, na maioria das vezes quando eu bancava o bobo, o som era dez vezes melhor que o som de seu riso.

Ela me amava. Isso é uma certeza que nunca ninguém poderá negar.

E foi por esse amor, que eu a perdi. Foi na praia. No nosso primeiro passeio ao mar. Ao mar traiçoeiro. Ao mar que a tirou de mim.

Ela já não ria mais. Não gargalhava mais. Não se irritava mais.

Arion ficou comigo. Ás vezes, quando me lembro dela, eu monto no cavalo e cavalgo na velocidade que ela o fazia. E depois eu me apoio sobre o pescoço do animal e choro. Ele me leva para a casa dela, mesmo que eu não o controle.

Eu guardo seus livros. Sorrio quando vejo o sol. Fico irritado com a chuva. Peguei mania de pedalar apenas com a ponta dos pés.

Ela é inesquecível. Ela sempre será adorável. Ela é meu primeiro amor. E eu era seu irmão mais velho.

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Se leram, deixem um review.
Não deixei muito claro quem são. Por que, na realidade, eles não tem nomes. Não tem rosto. São apenas memórias.
Essa carta surgiu na minha cabeçado nada. Escrevi ela em pouco mais de meia hora. E não haverá continuação. É só isso.
E então, o que acharam?