Acordei sentindo a luz do sol no meu rosto. Deuses,porquê eu sempre esqueço de fechar as cortinas antes de dormir?

Era manhã de sábado em nossa casa. Após uma noite de pizza,mimos e mais pizza. Era assim agora. Após a nossa mais nova descoberta.

Grávida. Pela segunda vez,hun Annabeth?

Isso mesmo.

Bem,vocês sabem como isso aconteceu. Somos jovens,saudáveis,temos uma filha muito compreensível e amorosa e hn...Percy é um rapaz muito voraz.

Voraz...essa definitivamente não é uma palavra que eu usaria para descrevê-lo há alguns anos atrás.

Mas é isso. Três meses já do nosso segundo tesouro.

Tesouro...urgh,esse negócio de ser mãe nos deixa bem mais melosas do que geralmente somos. Pelo menos no meu caso.

Não que eu já não fosse antes desse novo momento. Quando a Nina veio,eu fiquei insuportável por dias. Eu chorei,eu sorri,eu amei cada pequeno momento daquela menina sapeca dentro de mim,e quando ela simplesmente saiu – não como um espirro,vocês sabem – eu fiquei ainda pior. A nossa primeira filha é... tudo. Eu poderia usar 40 dicionários de línguas distintas e mesmo assim não haveriam palavras boas o bastante para descrever a minha filha.

Todos os traços de personalidade e todos os traços físicos não negam que Nina é filha de Percy Jackson e Annabeth Chase. Desde os fios mais escuros do cabelo encaracolado até a forma mais mandona e teimosa do mundo. Os olhos cinzentos tão parecidos com os meus que...eu juro que se eu ficasse por mais de 30 segundos olhando fixamente para ela,eu confundiria com um espelho. E eu amo cada pedacinho dela.

Nina Jackson é só a filha mais perfeita do mundo. Só isso.

E ... bem,temos o Jimmy.Nosso cachorro.

Jimmy é...bem um cachorro bem bagunceiro. Ainda me lembro daquela vez em que ele – ainda filhote – se jogou na piscina do Hotel onde passamos as férias de verão,bem no momento em que estávamos prestes a sair de lá.Ficamos mais duas horas para secá-lo e limpar a piscina.

Eu me lembro bem da expressão raivosa de Percy e o sorriso de Nina.

Percy.... outra coisa que eu não consigo achar palavras para descrever.

Vocês sabem...Percy tem mais habilidade nisso do que eu. No quesito,expressar e descrever os sentimos,vocês sabem. É só abrir o perfil da garota que posta os relatos dele.

Percy Jackson é mais habilidoso nisso do que eu. E eu nunca diria isso em voz alta,então...shiu vocês.

Mas voltando ao foco principal deste momento na narrativa – e da minha vida :

Percy.

É um belo nome. Para um belo rapaz.

Se alguém me disse,há alguns anos atrás que eu namoraria,casaria,teria uma filha e um segundo bebê a caminho com o filho de Poseidon mais teimoso do mundo....eu mandaria que a pessoa se internasse. Depois de dar uma surra nela,obviamente. E aí iria até o hospício dela e daria uma surra nela lá.

Porque , sinceramente, ou Percy seria o que ele é hoje,ou seríamos os piores inimigos do mundo.

Ele costumava falar e falar e acabar as frases com “Vamos,Annabeth”,sempre depois de acordar.

E eu sempre esperava uma resposta idiota,como ; “para as estrelas!” “ para o infinito e além”.

Mas ele nunca me respondia.

Percy ainda era um mistério.

O jeito mandão e superprotetor sempre foi algo irritante do Cabeça de Algas. Sem falar da lerdeza e a forma irritante que ele emanava a metros de distância. A falta de senso em relação à si mesmo e a porcaria da falta de proteção com si mesmo. A maldita-

Vejam só...ele nem está acordado e já está me irritando.

Mas também...o jeito carinhoso de tratar tanto à mim , quanto à Nina e ao Jimmy. O jeito – ainda – tímido de dizer as coisas. Os olhares que diziam mais coisa do que qualquer palavra em qualquer idioma. Até mesmo o jeito de pegar na minha mão. A forma como ele sorria e desviava o olhar para o chão quando estava envergonhado. O olhar de admiração toda vez que ele ia acordar a Nina. E a forma com a qual ele me acordava todos os dias.

O jeito de dizer as coisas. A forma irônica da sobrancelha esquerda.O sorriso cínico que me irritava. O revirar dos olhos quando ele simplesmente não concordava comigo – mas nunca discutia muito.

Mas quando discutia....o jeito como ele defendia o ponto de vista – e aqui é outra coisa que eu jamais direi em voz alta – era admirador. O suspirar irritar e sem paciência. O morder de lábios. E aquele movimento que ele acha “descolado” – mas não é e eu não tenho coragem de dizer isso à ele,porque é simplesmente uma das coisas mais fofas do mundo – a arminha com o dedo indicador e o polegar.

Não que eu duvidasse da palavra amor e do que isso poderia significar...mas experimentar isso de forma tão intensa quanto ao que sinto com Percy.... é assustador e deliciosa ao mesmo tempo.

Eu o amo e nada,nunca poderia mudar isso.

Exceto quando ele deixar a escova de dentes largada em cima da pia do banheiro.

E realizar aquilo que ambos,mas principalmente que Percy queria ....também era assustador e delicosa ao mesmo tempo. Ter outro bebê.

Quem diria? Quem?

Ainda me lembro das semanas seguintes após descobrirmos...

Era sexta-feira. Apesar de ser um dia em que Percy geralmente não trabalhava,ele estava lá no escritório do Aquário.Havia levado Nina com ele,porquê...bem,simplesmente não havíamos contado à ela ainda.

Não que não fosse certeza que eu estivesse grávida.Isso vai soar clichê (novidade!) ,mas eu podia sentir dentro de mim,algo diferente. Um friozinho na barriga que eu só sentia quando estava grávida de Nina. Eu podia quase dizer o sexo do bebê com apenas duas semanas de gravidez.

Irei guardar esse pensamento para mim...por enquanto.

Era uma consulta rápida só para chegar os batimentos cardíacos do meu pequeno bebê.

Saindo do carro,já estacionado devidamente na garagem de casa,me deparei com-

–Sra.Jackson!

Ahn não.. esse é Jordan. Filho da Sra.Jordan.

Não sei se vocês já ouviram falar desse garota,mas...bem. Ele é um rapaz de 18/19 anos. Anda de skate e não corta a grama da casa como deveria.Ele é magricelo e tem a pele bronzeada – como se passasse horas dentro de uma câmara de bronzeamento artificial. Tem olhos azuis e cabelo loiro,como um surfista.

Não que eu tenha reparado muito nele. Mas...a janela do quarto dele é direto na do nosso. E ele tem quadros e mais quadros dele mesmo nas paredes.

–Olá Jordan.

–A Sra. tá bonitona viu? –ele arqueou as sobrancelhas.

–Obrigada – sorri forçadamente. Se Percy visse esse menino sequer trocando palavras comigo....bem,ele não hesitaria em usar sua espada.

É engraçado pensar em um Percy ciumento mesmo depois de tanto tempo.

–A Sra....não quer...tomar um-

–Annabeth? –ouvi na porta de casa.

Virei-me a tempo de ver Percy deixar a coleira de Jimmy na cerca do quinta da frente e vir até mim,com os olhos faiscando e a sobrancelha esquerda arqueada.

Opa,a sobrancelha arqueada..

–Olá Cabeça de Algas – murmurei,dando-lhe um beijo rápido – Estava aqui conversando com o Jordan sobr-

–Eu percebi –ele entrelaçou sua mão com força na minha,sem me olhar.

Ah não.

–Hm...Olá,Sr.Jackson –Jordan coçou a nuca.

Pelos Deuses. Não é como se o garoto tivesse me chamado para ir numa boate ou para ir tomar um café.

As reações de Percy eram ainda mais exageradas perto desse menino.

Percy maneou a cabeça devagar...eu quase podia ouvir suas ameaças na cabeça.

Ficamos por um tempo nos olhando,aquele momento constrangedor. Os três minutos mais longos da minha vida,até a Sra.Jordan gritar por ele , e o mesmo sair sem nem dar tchau ou algo assim.

Vizinhos estranhos. É típico.

Percy puxou minha mão até os lábios e deu um beijo rápido.

–Como vão vocês? – ele sussurrou,olhando-me nos olhos.

Ah...os olhos. Eu – particularmente – nunca fui muito fã da cor verde...mas os olhos de Percy,não é um verde comum.

Eu podia literalmente passar o resto da minha vida sentada numa sala escura e descofonrtável,contanto que os olhos dele estivessem comigo.

–Bem – sorri – Você foi bem rude com o nosso vizinho.

–Ah,por favor – ele revirou os olhos,e me puxou para seus braços encaminhando-nos para a entrada de casa – Essa criança-

–Ele tem 19 anos. – pontuei.

–...adora você –ele me ignorou. – Eu estou começando a perder a paciência.

Ele abriu a porta de casa e assoviou para o cachorro,entrando em casa junto comigo.Deixei meu casaco no gancho atrás da porta e bocejei.

Esse é o efeito que eu mais gosto na gravidez. Sono extra.

–Ele é só uma criança.Não perca a paciência com ele – brinquei.

Percy revirou os olhos e sentou-se ao meu lado no sofá.

–Eu tenho que ir buscar a Nina na casa da minha mãe – ele sussurrou,entrelaçando seus dedos nos meus – E aí.. talvez nós possamos ter aquela conversa com ela.

–Eu não sei se é uma boa ideia – beijei seu rosto.

–Não podemos esconder essa novidade dela – ele riu – Se tem alguém que quer um bebê nesse casa,mais do que eu e você,é a Nina.

E é verdade. Mas como boa filha de Atena,eu sei como isso pode afetar a minha menina. As crianças geralmente reagem bem ao “ter um irmãozinho ou irmãzinha”. Mas isso dura pouco. Logo vem o tal sentimento de não ser mais a única e o ciúme e toda esses sentimentos que são maiores quando criança.

Talvez devêssemos ter esperado um pouco mais até decidirmos ter outro bebê. A minha garotinha pode não estar pronta pra isso ainda.

–Ei – Percy puxou meu dedo – Pare com isso.

–O que?

–Você sabe – ele riu – Você deveria relaxar e confiar um pouco mais na nossa menina.Não é como se ela fosse jogar o bebê pela janela ou algo do tipo.

–Ela é bem nervosinha às vezes. –brinquei.

–De quem será que ela puxou isso? –ele murmurou e suspirou em seguida – Eu acho que é menina.Sabe...você tá daquele jeito. Igual quando a Nina estava aqui –ele colocou a mão emcima da minha barriga – Os olhos brilhando. O cabelo mais luminoso. O sorriso não sai do seu rosto. Definitivamente menina. –ele sussurrou com os olhos fixos no chão e um meio sorriso no rosto,como se estivesse sozinho ali.

Fixei meu olhar no rosto do meu marido. Exepcionalmente bonito hoje.Vestia uma camisa social preta – que surpreendentemente realçava seus olhos.Calça jeans escura e tênis all-star. Ainda com os cabelos bagunçados e,deuses,como um garoto de 17 anos.

–Você tá bonito hoje – sorri, esquecendo-me do que ele tinha dito.

Percy sorriu de lado e abaixou a cabeça envergonhado.

– Você tá bonita sempre – respondeu,levantando-se abruptamente – Vou buscar a Nina. Já venho.

–Você é tão esquisito –reclamei,levantando-me.

–Você é mais – ele riu – Alimente-se.

Virei-me desconfortável na cama...tentada a levantar e ir fechar as cortinas. A perna de Percy se prendeu no meu quadril e ele me puxou delicadamente para mais perto do seu corpo quente.

Ele parecia uma jiboia me prendendo ali. A boca aberta e a baba lá,escorrendo à solta.

Eu tive vontade de rir...ah os hormônios.

Ele dormia tranquilamente,a expressão relaxada e a respiração tranquila,como se nada fosse o acordar hoje.

Ouvi a porta do quarto abrir e fechar,e um tufinho de cabelos bagunçados andar rapidamente até o meu lado da cama.

Ela vestia o pijama azul Tadis,e os cabelinhos estavam presos num coque cheio de lápis e ataquinhas. Ela ficou nas pontinhas dos pés e sorriu ao me ver acordada.

–Mami? – cutucou meu ombro – Oi.

–Oi bebê – beijei seu nariz e sorri.

–Mamãe! Esse título não é mais meu – ela cruzou os bracinhos – Já falamos sobre isso.

–Ok,desculpe senhorita – besliquei sua barriga,a fazendo rir – Shiu,o papai tá dormindo ainda.

–Mas ele dorme muitissississimo –ela reclamou – Ele disse que ia assistir desenho comigo hoje de manhã!

Empurrei Percy e puxei a minha menina para se deitar ali comigo. Ela s virou de frente pra mim e gemeu baixinho por causa da luz que vinha das cortinas.

–Eu fecha – se levantou e correu até lá,fechando-as. Logo voltou para se deitar de frente pra mim,colocou a mãozinha direita no meu rosto e suspirou – Você é tão linda,mamãe.

– Você é mais – sussurrei e beijei sua testa,tirando os lápis de seu cabelo – Não coloque isso no cabelo,amor.

–Eu não tinha xuxinha – reclamou.

–Você pode vir até aqui pegar – sorri. – Está com fome?

–Nau – sussurrou – Queria companhia pra assistir desenho mas o papai tá dormindo ainda.

–E eu não posso assistir desenhos com você? –perguntei,fingindo estar chateada. – Que preferência é essa pelo papai?

–Não mamãe – ela riu passando o bracinho ao redor da minha barriga – É que agora,você que tem que dormir muitão.

–Quem disse isso?

–O papai – ela olhou pra mim,com aqueles olhos curiosos e brilhantes. Era – definitivamente – como olhar num espelho. As bochechinhas rosadas,os lábios vermelhos – Ele disse pra não acordar você cedo.

–O papai disse isso? –eu teria que conversar com Percy sobre isso.Não é como...como se eu não pudesse mais fazer as coisas para a minha filha. Pelos Deuses.

–É – ela riu – Mas não briga com ele. Ele disse que na verdade quem tem que dormir muito é o Jack.

Ahn,outro problema. Percy colocou na cabeça que o nosso novo bebê é um garotinho. Isso é algo que eu já deveria ter cortado e deixado de lado,para que ele não se decepcione caso não seja.Seria fantástico ter outra meninnha também,mas Percy já deixou isso fora dos preparos.

Percy é um rapaz muito convicto de si.

–Amor...não deveríamos nomear o bebê ainda....Ainda mais Jack Jackson? – sorri ao vê-la fazendo uma careta concordando. –E se for uma menina? – seus olhinhos cinzentos olharam para mim,brilhantes e criativos.

–Elsa. – pensou – Ariel. Merida.Cinderela.Bob Esponja.

–Nina –eu ri baixinho,bagunçando seus cabelos. – Você é tão impossível quando seu pai.

–E o papai é tão impossivru quanto o vovô Poseidon – ela fez careta ao ouvir a própria pronúncia.

–E o vovô é tão impossível quanto o mar – eu sorri.

–Será que o Jack vai ser assim,mamãe?

–Será que o Jack vai ser Jack? –brinquei. Nina ficou com as bochechinhas vermelhas e arregalou os olhinhos. – O que foi,amor?

–As espiãs demais vai começar – ela se levantou e pulou da cama – Fica aqui mamãe,eu vou lá rapidinho e já volta.

–Volto – tossi,corrigindo-a discretamente. Ela semicerrou os olhinhos e fingiu não ouvir,fazendo-me rir.

– Passar bem você mamãe – ela beijou minha testa,estando nas pontinhas dos pés – E você menino Jack – beijou minha barriga,e inclinou a cabeça para a esquerda pensativa – Ou menina Elsa.

E saiu correndo silenciosa pela porta.

Nina era uma garotinha especial.Não sabemos bem porquê mas aquela garotinha tinha um cérebro extremamente capacitado de pensar e fazer coisas que crianças na idade dela,não deveriam. Era prodígio.

Sendo filha minha,obviamente que é.

Mas filha de Percy...bem.

Brincadeira. Não deixem que ele saiba disso.

Deitei-me com a barriga pra cima. Isso não é algo que eu senti falta quando estava grávida. As posições para dormir são horríveis. Para quem costumava dormir de bruços então... deve ser por isso que ganhamos sonos extra.Não conseguimos suprir o sono normal na posição habitual,então eles nos dão o sono extra para que possamos dormir em posições extras.

É uma viagem, mas faz sentido. Analise.

Observei o rosto de Percy descansado. O braço em cima dos olhos e o lençol puxado até um pouco acima da barriga. Tinha um hematoma roxo ali do lado esquerdo,bem pequeno....que eu havia feito.

Ér...bem...

–Você precisa entender de que eu estou grávida,não incapacitada de fazer as coisas! –gritei com raiva.

Era uma manhã corrida.Nina tinha acabado de sair com Jimmy na companhia do vizinho Jordan – sem a ciência de Percy,porque ele mesmo estava no vigésimo sono– e estava tudo numa boa até Percy começar a agir como um idiota e isso tudo porquê ele leu a expressão “gravidez diligente” nos exames da ultima semana.

Mas caramba,toda gravidez é diligente!

Minha vontade é de cortar Percy em pedaços e dar à ele um tratamento passando um trator por cima dele.

Não,as nossas manhãs costumavam ser diferentes.

–Você não pode ficar carregando peso por aí –ele disse simplesmente – Não é saudável.

–Você sabe que eu tenho só três semanas de gravidez,certo? Isso aqui –apontei para a minha barriga – É só um feto.

Percy olhou por cima do ombro...as costas definidas a mostra,a cueca CK marcando tudo que havia de bom ali embaixo. Esse rapaz ainda vai me levar à falência,meninas.Eu etsou tentando aqui ficar brava e tudo,mas quando se tem um negocio assim na frente,fica difícil.

Ahn..onde eu estava?

...

Certo,ombros.

Na verdade era mais embaixo,mas...

Ele me olhou por cima do ombro,ofendido.Depois balançou a cabeça negativamente e suspirou. Continuava preparando as torradas,sem se importar com os meus protestos.

–Nunca mais chame nosso bebê de “feto”.

–Feto,feto,feto,feto – cantrolei irritada.E talvez já fossem os meus hormônios à flor da pele,mas eu estava em combustão. Eu sentia como se pudesse empurrar um caminhão usando apenas as minhas mãos. – Feto,fetinho,feto,feto,fetinho pequeno,pequeno feto,feto,bolinha de feto-

–Annabeth-

–..feto,pequeno feto,feto amadinho,mas é um feto! –gritei por fim. –Acho que nem isso,ele ... ela deve ser um embrião ainda!

Percy largou as torradas em cima do balcão da cozinha e virou pra mim,secando as mãos num pano de prato,olhando-me de forma irrita e cínica. O peito desnudo tirando minha atenção por um segundo.

Muito másculo. Másculo mesmo.

Olha rapaz...nota 10.

– É muito bom saber que a sua importância quanto à isso é bem menor do que eu esperava –ele bateu palmas,irônico –Muito maturo da sua parte.

–Percy-

–Olha,você pode carregar quinhentos quilos de tijolos agora,eu não tô nem aí mais! –ele disse virando-se de costas pra mim.

–Ahn claro,pra quê? Pra você vir até mim igual você fez quando eu esteva descendo as escadas só,só carregando dois travesseiros Percy! – reclamei. – Olha mim!

–Me deixa em paz. – reclamou – Que porcaria. Por quê Afrodite? Porque a filha mais teimosa e negligente de Atena? Eu não podia simplesmente...me apaixonar por um coala? Ou...um bicho preguiça? – reclamava e reclamava andando de um lado pro outro – Mas não! Tinha que ser a filha mais impossível de Atena!

–Percy! – puxei seu braço,mas ele o puxou de volta. – Mas que droga! Você está sendo exagerado e o pior de tudo,é que você sabe disso!

–Você não entende – ele balançou a cabeça ,tirando a margarina da geladeira – Você.Não.Entende. Diligente!

–Percy..

–Olha,é muito fácil pra você,ok? – ele jogou a margarina na mesa e colocou as mãos na cintura,irritado – Você acha que eu gosto de ficar assim? Eu sei que...sei que é difícil aguentar à mim assim,mas eu..preciso ter certeza de que tá tudo bem,entendeu?

–Por que? – perguntei,suspirando.Paciência,jovem Padawan. – Você sabe,você me fez prometer que diria se alguma coisa estivesse errada.

–Diligente –ele disse baixinho,olhando para o chão – É diligente.

...

–Percy?

–O que? – suspirou irritado. Já sabia que eu havia sacado as coisas.

–Você não tem ideia do que “Diligente” quer dizer,não é?

Coloquei a mão na boca abafando a risada. Aquele dia havia sido engraçado.

Eu o fiz prometer que diria as coisas por mais que ele achasse “vergonhoso”. Se tem algo que não podemos enfrentar , é a falta de comunicação. Nunca tivemos isso,porquê teríamos agora?

Ele reclamou baixinho e tirou o braço dos olhos,arrastando-se até deitar a cabeça em cima do meu peito.Suspirou e escondeu o rosto no meu pescoço,suspirando ainda mais.

Percy nem sempre foi só suspiros..

–Você é tão teimosa! Já pensou se você cai desse negócio? –ele gritava baixinho. É um novo tipo de grito,grito do tipo : baixo para não acordar a menininha do cômodo ao lado.

Eu havia acabado de dizer à ele que tinha ido até o sótão hoje ver se os enfeites de natal estavam em bom estado,ou se teríamos que comprar outros. Aqui vai uma dica pra você : não deveria ter dito.Isso trouxe de volta aquela antiga discussão sobre os cuidados exagerados.

–Você é exagerado.Volta aqui e me abraça ! To tentando dormir – reclamei no mesmo tom que dele.

–Você enlouqueceu? –ele gritou (naquele sussurrou irritado).

As definições aqui nesse relato estão uma coisa à lá Percy Jackson viu.

–Não consigo dormir sem você,volta logo –reclamei.

–Você ... você não tente me distrair! – ele reclamou – Quantas vezes eu vou ter que dizer pra não subir em escadas quando estiver sozinha,Annabeth Chase?Você quer me deixar com cabelos brancos antes da hora ou...? –ele perguntou puxando o lençol do final da cama.

–Percy! Eu subi,desci e olha so... –levantei os braços – Tá tudo bem,que coisa.Eu sei que me cuidar.

–Eu que cuido de você!

–Para com isso. Tá agindo feito um neandertal. – irritei-me.

Mas que coisa. Mesmo depois de eu ter explicado o significado da palavra “diligente” para ele,o filho de Poseidon continuava com aquilo.

Ele colocou uma mão no peito,os olhos arregalados e a boca escancarada em surpresa.

–Não acredito que você me chamou disso aí!

–Você nem sabe o que é.

–Por isso mesmo! – ele puxou seu travesseiro – Eu vou dormir com a minha filha!

–Percy! – levantei rapidamente,quase caindo no chão. –Volta aqui!

–Não!

–Para de ser tão...tão idiota! –puxei o lençol dele pela ponta,fazendo-o cair no chão,e automaticamente caindo por cima dele.

Fechei os olhos pelo susto,mas senti o seu peito macio embaixo de mim.

Graças aos Deuses.

O que? Minha gravidez era diligente!

–Você só vai se aquietar quando acontecer alguma coisa? –perguntou retóricamnete. Senti meu rosto esquentar e um friozinho na barriga,fazendo-me levara aos mãos até lá. Percy alterou a expressão e olhou-me preocupado – Tudo bem? Tá doendo? Machucou? Foi o meu joelho?

–Ei – puxei sua mãos para a minha barriga ainda lisa – Tá tudo bem.

Ele olhou pra mim com os olhos verdes mais lindos do mundo cheios de preocupação. Eu odiava deixa-lo assim,que droga.

–Eu só quero cuidar de vocês – ele sussurrou – Só isso. – ele beijou minha testa e suspirou. – Eu sei que você sabe se cuidar,mas assim como na época da Nina,não...não é só mais você

–E eu estou tentando dormir,vocês dois- Nina abriu a porta murmurando irritadiça – Hn,tá tudo bem aí ? –ela semicerrou os olhos e colocou as mãozinhas na cintura,desconfiada – Quê que vocês tão fazendo ai jogadões no chão?

E essa é a lembrança que nos leva diretamente à garotinha que está assistindo desenhos lá embaixo.

Nina e como ela descobriu que eu estava grávida.

Isso mesmo. Ninguém nessa casa precisou contar à nossa garotinha. Ela mesma – e aquele cérebro extremamente inteligente – ligaram os pontos.

Percy sussurrou alguma coisa e puxou minha coxa direita para cima do seu quadril,fazendo-me deitar de lado e suspirar,sentindo sua mão quente na minha pele.

Parece que tudo nesse rapaz – hn,pelos menos por esse meu..período – faz o meu corpo entrar em combustão.Talvez inconscientemente,ele apertou minha coxa e murmurou mais alguma coisa.Coloquei minha mão no seu peito e beijei sua bochecha.

Olha...rapaz continua nota 10.

Estávamos sentados no sofá,era fim de tarde de sexta. Assistiamos a um filme bobo de comédia que arranca altas gargalhadas de Percy. Mas basicamente tudo arranca gargalhadas de Percy.

–Ok,mamãe papai –Nina surgiu nas escadas com as mãozinhas na cintura,parecia irritada e muito curiosa. – A gente,nós,família Jackson,preciamos conversar. –ela pegou o controle na mesa de centro e desligou a televisão.

–Ei – Percy reclamou – Devolve isso mocinha.

–Pai –ela reclamou – Atenção. Eu acho que a mamãe tá escondendo algo da gente – ela disse,cruzando so bracinhos.

Ela vestia uma camiseta branca,cheia de riscos de giz e a sua calça azul do pijama.

–Ora eu? –brinquei – Eu não escondo nada de ninguém.

–Mamãe – ela reclamou,e sentou na mesinha de centro,com as perninhas cruzadas em forma de índio – Eu unei os fatos-

–Uni –Percy corrigiu.

–Shiu você – ela colocou o indicador na boca e fez careta para Percy –Não me distrai,papai.

–Opa,desculpa – ele levantou as mãos em rendição e riu .

–Agora – ela virou o rosto para mim. As bochechinhas pálidas,ela estava se recuperando de um resfriado. – VocÊ,Sra. Jackson..

–Sim senhora.

–Você –ela apontou o indicadorzinho pra mim.Minha vontade era de morder aquela menina e fazer cósegas nela,até dizer chega. – Você mentiu pra mim.

–Eu? – perguntei incrédula.

–É! E o Barney diz que mentir é feio! – ela fez careta.

–Nina-

–O Garibaldo diz que mentir é feio! – ela acusou – Você,querido papi –ela fez careta pra ele também. – Você foi cumprisse!

–Cumplice, baby bird – ele riu.

–Então você admite! – ela reclamou – Ah! Bem que o Dr.House disse que todo mundo mente!

–Ei – Percy chamou-lhe a atenção – Isso não é programa pra você.

Eles se encararam fazendo careta um pro outro. Eu podia sentar,e passar uma tarde inteira desenhando os dois. Contanto que estivéssemos apenas os três.

Quer dizer..quatro agora.

Opa,cinco. Não queremos esquecer o Jimmy.

–O que importa aqui –ela arqueou as sobrancelhas – Mentiras!

–Nina – revirei os olhos – Anda logo com isso!

–Mentiras mamãe – ela semicerrou os olhos novamente – Mentiras – ela sussurrou – mentiras! – ela gritou.

Drama Queen.

–Drama Queen – murmuramos,eu e Percy.

Ela deu uma risadinha e pulou no meu colo.

Epa

–Nina! – Percy gritou com ela

–Percy – repreendi-o

– Não...hn...não pule assim na mamãe.

Ela olhou para ele assustada e franziu as sobrancelhas de forma chorosa.

–Por que você tá gritando comigo,papi? – ela murmurou.

Percy franziu as sobrancelhas e entrelaçou os dedos das mãos.Virou a cabeça para o lado direito e deu um sorriso maroto.

–Ela sabe. – ele riu.

Nina sorriu e piscou com um olho só para o pai. Ele riu e pegou na mão dela.

Eu adorava não estar a par das situações.

Ironia,ok?

–Sabe do que? –perguntei.

–Lerda- ambos sussurraram.

É a convivência.

–Então... –revirei os olhos.

–Vamos aos fatos –ela levantou-se,passando as mãos pelos móveis. Drama Queen . – Primeiro,o papai fica muitíssimo protetor coma mamãe – ela piscou para o papai,virando-se de lado – Depois,a mamãe recebe milhares de ligações de todos os parente e nenhum deles pede pra falar comigo.Eu me senti muito esquecida nesse tempo,mas eu aceito isso – ela colocou a mãozinha no queixo e sorriu – Depois....a mamãe fica gorda.

–Ei!

–É verdade – Percy riu.

–Ei você também!

–Tá,shiu vocês dois – ela colocou as mãozinhas em frente ao corpo – E depois,a mamãe fica ainda mais bonita...

–Nhaw – sorri para a minha garotinha.

Percy ficou em silêncio,fingindo mexer nas unhas.

Taquei o travesseiro nele,irritada.

–Com isso você não concordada?

–Hun?

Taquei de novo.

–Ei mamis – ela se intrometeu – Sem agressões. – ela se aproximou devagar,passou as mãos pelo meu rosto sorrindo,e descendo-as pela minha barriga – Você tá gravidinha.

Olhei impressionada para Percy que praticamente babava olhando para a nossa menininha. Os olhos verdes de ambos brilhando. Os cabelos bagunçados. As expressões impressionadas.

Percy impressionado com Nina.Nia aimpressionada comigo. E eu ali,idiota,impressionada com os dois.E os três impressionados com o bebê.

Isso seria divertido dali pra frente.

–Você é a criatura mais bonita do universo – sussurrei,olhando pra minha menina.

Ela sorriu,um sorrisinho cheio de janelinhas e autentico.

–Você é mais – ela sussurrou – Você vai me dar um irmãozinho.

Eu juro que eu poderia deitar em posição fetal e chorar até morrer de desitratação.Mas isso geraria uma outra discussão com Percy.

–Ei,eu também tive participação nisso! – Percy se intrometeu,passando o braço pelo corpinho dela,e puxando-a para seu colo.

Ela se virou para ele,agora completamente interessada no que ele dizia.

–É mesmo? Como,papai?

E Percy conseguiu estragar as coisas dizendo besteiras.

Ele olhou pra mim pedindo socorro,mas eu não conseguia parar de rir.

Se tinha uma coisa que eu tinha certeza que tanto Nina quanto o nosso novo bebê sempre amariam....era ao o pai bobão deles.

...

...

–Você poderia rir mais baixo por você? Tá me acordando – ele sussurrou com a cabeça escondida no meu pescoço.

–Essa não era a minha intenção ,você sabe – eu ri baixinho,puxando sua mão para cima,e entrelaçando-a na minha e beijando seus dedos – Bom dia,pessoinha.

Ele abriu seus olhos verdes ( e agora considerada minha cor favorita) e sorriu pra mim do jeito tímido dele.

–Eu não achei que fosse me acostumar com isso –sussurrou,dando-me selinhos em meio as minhas risadas.

– Com que?

–Você.

–É mesmo?

–Na minha cama...

–Hn,conte-me mais..

–Grávida...

–Hhn – beijei seus lábios com calma. Sua língua se enroscando com a minha de forma calma,como se estivesse tomando o melhor sorvete (FLOCOS!) do mundo.

–Eu amo você – ele sussurrou e sorriu – E você – ele colocou a mão na minha barriga e sorriu um pouco mais. – E a coisinha que tá lá embaixo assistindo As espiãs Demais.

...

...

–Você tava acordado esse tempo todo? – reclamei.

...

...

–É claro. –ele riu e beijou-me mais uma vez – É adorável quando você olha pro nada e se perde aqui dentro – ele tocou minha testa com os dedos e sorriu. – Agora vamos...

–Pra onde? – reclamei de novo.

–Deixa de ser reclamona e vamos – ele me puxou.

–Pra onde, Percy?

Ele parou,os cabelos mais bagunçados,a calça do pijama ciando pelos quadris,o sorriso tímido e adorável no rosto.

–Pra onde você quiser.