Winter Sleep

por Roxane Norris

 

 

 

 

 

Isso fica voltando para mim

Eu lembro desta dor

Se estende pelos meus olhos

Tudo é estúpido

 

 

 

 

Ei, Ren... Você ainda está aí?

Você ainda consegue me ouvir?

Eu demorei tanto para chegar aqui...

Por que você se foi? Por que não me levou com você?

Por que está tudo tão escuro a minha volta?

Não há luz, só o frio insistente batendo contra meu rosto.

Gelando meus ossos...

Roubando minha vida.

Eu estou no parque, pisando na neve em meio às cerejeiras secas, me perguntando:

Será que elas vão florescer de novo?

Algum dia?

Quando você vai voltar para tocar para mim?

Eu preciso das suas canções.

Não tenho vontade de cantar... Nem abrir os olhos.

Sabe Ren, acho que invejo o fato da Nana te ter dessa forma...

Meus olhos no céu, e eu vejo seu rosto entre as estrelas e me sento no banco do parque sozinha... Eu queria tanto ter te salvado, e a mim também. Mas não há mais nada que eu possa fazer. Eu agora vejo imagens borradas, será que estou sonhando? Eu vejo seu sorriso, seu olhar sobre mim, e a única coisa que me aquece nesse frio avassalador. Por que está frio... Por que desde que você se foi só há frio?

Os flocos se chocam contra a minha pele e eu não os impeço. Você segura minha mão na luva... Eu estou sonhando de novo, mas é tão quente. Tão quente. Minhas mãos enterradas entre meus cabelos, meu corpo inclinado sobre minhas pernas.

Ren...

É natal, o que devo fazer?

Hoje você se sentou do meu lado no banco do parque.

Você está tão quieto, por que não fala comigo?

 

Por que não toca alguma coisa e eu canto?

Por que não joga esse Seven Stars fora e para de olhar o horizonte?

Eu ainda sinto frio, mesmo que você esteja aqui.

Ei, Ren... Me abraça.

Eu fechei meus olhos e seus braços enlaçaram meus ombros. É tão bom te sentir de novo. Sabe aquela música que você compôs em meio à neve de Londres? Está tocando enquanto eu sinto seu cheiro e você se inclina sobre mim. Não há mais nenhum frio, é bom estar de volta, é bom estar contigo.

Ren, eu ainda não te dei seu presente,

Mas eu não queria te contar assim...

Então eu pego sua mão e coloco dentro do meu sobretudo e olho teu rosto... E teus olhos se derramam nos meus.

Você sente, não é?

Sente como está redonda?

Vê como estou feliz?

Eu não estou sozinha, Ren. Você está comigo.

Aqui.

Comprimo sua mão na minha barriga e vejo seu sorriso banhar meus olhos.

Sabe, Ren, eu quero chorar...

Eu posso chorar aqui, com você?

 

 

Todos estão sorrindo, eles estão sorrindo

Isso me empurra para muito, muito longe

Eu não posso entender

Tudo está triste

Você pode me ouvir aí?

 

 

Eu encosto no teu peito e sinto teu calor passar pelo meu corpo. Eu quero ficar aqui para sempre. Então eu durmo com você cantarolando para mim.

…

 

…

 

Ei...

Ei, Ren...

Eu vim te dizer que é um menino.

E seu sorriso está lá por mim e por ele, naquele parque de sempre sob as cerejeiras em flor.

Você vai ensinar ele a tocar, não é?

Como você.

Sabe, Ren, eu quero cantar com ele, como eu cantava com você.

Eu queria ter vontade de falar, mas você me entende, né?

Você também não fala comigo.

Mas fica aqui, e olha o nosso filho...

Ele é lindo não é?

Eu sei que estou naquele banco sozinha, embalando o carrinho entre os raios de sol cálidos. Eu sei que você não está ali, assim como sei que não enxergo nada porque meus olhos estão cobertos de lágrimas... Eu sinto sua falta, eu sonho com você. E eu quero que meus sonhos sejam reais... Por isso eu prefiro estar aqui.

Ren, eu vou contar nossa história para ele...

E vou dizer o que você significou para mim...

E vou amá-lo por nós dois...

Mas, sabe, Ren, eu tenho medo que ele não me ame.

E o choro vem, a noite cai e eu me sinto fraca sem você aqui.

…

 

…

 

Ren!

Eu gritei mesmo, gritei para ele não tropeçar e cair.

Gritei para alertá-lo do perigo.

Gritei para o nosso filho.

Naquele mesmo parque, enquanto ele corria entre as cerejeiras.

O Takumi trouxe ele para me ver, e estou sorrindo para o nosso filho.

Isso não é bom?

Ren...

Ren...

Hoje me contaram que você morreu...

Sabe, eu desconfiei quando você não veio me ver mais...

Já fazem dois anos.

Mas sabe, Ren...

Não importa onde você está, você está comigo.

Segurando minha mão.

No sorriso do Ren.

Nas músicas que eu ouço.

No meu pranto sufocado.

Ei, Ren

Eu ainda te amo.

 

 

 

Você me abraçará agora?

Me abrace agora, meu coração congelado

Beije meus lábios

e talvez você possa me levar ao seu mundo por enquanto

( Winter Sleep – Olivia Lufkin)