Narração por Katniss.

Os dias que se seguiram foram extremamente chatos. Eu ficava em casa todos os dias, e não tinha muito o que fazer. Acordava cedo todos os dias, tomava café da manhã, depois lavava a louça e limpava a cozinha. Colocava comida pra buttercup, tomava um banho, voltava pra cozinha e começava a fazer o almoço. Almoçava, lavava a louça, limpava a cozinha, botava comida para Buttercup, tomava um banho, ia para sala para assistir um pouco de TV ou fazer o caderno de recordações. Quando acabava, voltava para a cozinha, fazia o jantar, jantava, depois lavava a louça, limpava a cozinha, subia para tomar banho e ficava no quarto, depois dormia.

Todos os dias, a mesma rotina, exceto quando Peeta e eu decidíamos fazer faxina na casa. Nesses dias, limpávamos a casa toda. Ou quando eu ou Peeta acordávamos num mal dia, e ficávamos o dia todo deitados na cama, chorando ou imóveis, sem comer ou querer levantar. Mas num geral, todos os dias eram do mesmo jeito. E Peeta nunca mais me tocou.

Ele estava sempre tão ocupado em me deixar alimentada, manter a casa limpa, não deixar que nenhum de nós dois surte, e também sair ligando para a Capital todos os dias para saber se estava tudo certo para entregarem tudo antes do dia 5 de março pra poder inaugurar padaria, que pareceu não notar que tudo que eu queria eram as suas mãos em meu corpo novamente, sua língua em mim novamente. E mais do que isso, eu queria poder fazer o mesmo por ele.

No entanto, eu não tinha coragem suficiente para tomar a iniciativa, e ele parecia não ter o menor interesse em continuar aquela noite. Então, para evitar a frustração, eu fiquei na minha, e tentei deixar ele o máximo na dele.

Enquanto a neve diminuía, nós recebemos ligações de diversas pessoas a respeito da padaria. Paylor ligou, informando que iria vim no dia 4 de março, e eu ofereci a minha casa para ela ficar hospedada. Em seguida, Annie também entrou em contato informando que iria vim com o bebê, e mamãe. Ela ligou no último dia de fevereiro, eu atendi.

Quando ouvi a voz dela, meu coração acelerou e a minha respiração ficou suspensa. Eu não tinha percebido que tinha sentido tanta falta dela, não tinha percebido que o ódio tinha passado, e agora tudo que eu queria era ela de volta. Mas ela não ia voltar, e não era justo pedir isso a ela, então eu apenas engoli em seco e respondi que Peeta ficaria muito feliz em recebe-la. Ela agradeceu e eu desliguei.

Peeta ficou me encarando durante vários minutos, enquanto eu fiquei imóvel olhando para o telefone, sem realmente acreditar que minha mãe estava viva. Eu tinha passado tanto tempo sem ouvir a voz dela, que tinha me esquecido.

— Você está bem?- Ele perguntou depois de muito tempo. Eu concordei com a cabeça, mas não tinha certeza da veracidade disso. Engoli em seco novamente e coloquei o telefone no lugar.

— Acho melhor voltar ao caderno.- Eu disse, sentando no chão novamente e fazendo o que estávamos fazendo antes, como se nada tivesse acontecido. Mas tinha.

Na manhã do dia 4 de março, eu acordei sem vontade. Peeta já tinha levantado a muito tempo, foi até a estação buscar as visitas, e eu fiquei em casa, dormindo. Olhei ao redor, o quarto estava impecável, o sol clareava todo o quarto, fazendo a luminosidade doer na vista. Eu queria nunca ter que sair dessa cama.

Recapitulei mentalmente as coisas que precisaria fazer hoje. Teria de ir até a casa de Effie para provar o vestido que ela me fez, e buscar a roupa que Peeta usaria amanhã, pois ele não vai ter tempo hoje. Escolher o penteado e a maquiagem que vou fazer, além dos sapatos. A noite, Greasy Sae virá para me ajudar a fazer um jantar para os convidados, e isso é só.

Engoli em seco e respirei fundo, sentindo o cheiro ainda presente de Peeta no quarto. Balancei o cabeça, fechando os olhos, sentindo toda a fadiga e a falta de vontade consumirem meu corpo. Eu não sei durante quanto tempo fiquei nessa posição, mas deve ter sido muito porque Buttercup invadiu o quarto miando alto, e eu tenho certeza que Peeta deu comida para ele.

Me levantei da cama e tomei um banho, coloquei uma calça jeans e uma blusa de flanela e mangas preta e um sapatenis. Sem pentear o cabelo, prendi-o num rabo de cavalo que provavelmente estava ridículo, e desci as escadas.

Coloquei comida para Buttercup e comi o café da manhã que Peeta tinha deixado para mim, que agora estava bastante frio e duro, mas eu era acostumada a comer qualquer coisa. Tomei meus remédios, lavei a louça e respirei fundo de novo, me sentindo tonta.

Eu sabia que agora teria que sair de casa. Eu passei o ultimo mês todo torcendo para a neve ir embora e eu poder sair de casa, e agora que finalmente posso, não consigo.

Balancei a casa. Não, eu consigo sim! Respirei fundo várias vezes e fui até a torneira. Bebi 2 copos cheios de agua, respirei fundo de novo e sai de casa.

O vento ainda era frio, mas a neve era só uma lembrança. No jardim de casa, as flores que Peeta tinha plantado ainda estavam ali, e surpreendemente, estavam vivas.

Prim. Sinto tanto a sua falta, tem dias em que tudo o que me dói, tem o cheiro e o toque dela. As vezes, se eu me concentrar muito, consigo sentir como se ela ainda estivesse no quarto ao lado, dormindo tranquilamente. Meu coração se apertava e o nó na garganta surgia, só de pensar por 1 segundo nela. Essa saudade nunca iria passar.

Continuei andando até a casa de Effie, bati na porta 3 vezes antes de Haymitch abrir. A casa estava uma verdadeira zona! Como os gansos ficaram dentro de casa por causa da neve, só agora ele e Effie estavam podendo limpar tudo. Mais ele, do que Effie, é claro.

— Effie, Katniss chegou!- Ele gritou quando me viu, e voltou para a sala, pegando um esfregão e passando em uma área, que eu tenho certeza que tinha cocô de ganso. Eu entrei na casa e fechei a porta atrás de mim.

— Bom dia?

— Bom dia. Effie está no escritório, terminando de fazer alguma coisa no seu vestido. Está me dando nos nervos!- Haymitch resmungou, sem olhar para mim. Eu revirei os olhos. Ele e Effie eram oficialmente um casal agora. Não que eles tenham dito isso para alguém, mas moram juntos e se tratam relativamente bem agora.

— Vou lá.- Eu disse, indo na direção do escritório. Effie estava de costas para mim, com vários tecidos nos ombros, parecendo atrapalhada. Ao lado dela, um belíssimo blazer azul marinho estava, provavelmente de Peeta. Quando ouviu meus passos, ela se virou para mim e abriu um enorme sorrindo, batendo palminhas.

— Oh Katniss! Veja! Veja!- Ela disse, saindo da frente e me mostrando o manequim com meu vestido.

Ele era lindo! Branco com desenhos de rosas, a parte da frente da saia era mais curta do que a parte de trás, o busto era composto, mas as costas tinham uma pequena fenda, que provavelmente não ficaria a mostra, pois eu usaria um suéter branco, que também estava ao lado de Effie. Aos pés do banequim, uma sapatinha delicada com um saltinho mínimo, vermelha da cor das rosas.

— Nossa Effie, é lindo!- Elogiei com sinceridade, me aproximando e tocando no tecido do vestido, era bom. Effie deu palminhas quando eu sorri.

— Jura? Você gostou mesmo? Não imagina o trabalhão que deu! Mas valeu a pena, você vai ficar fantástica nele, Katniss!- Ela disse, saltitando.- Vem, vamos provar!- Ela disse, tirando ele do manequim. Me entregou e fechou a porta.

Eu tirei a roupa, não me importando de ficar de roupas intimas na frente dela, afinal de contas. Quando vesti, vi Effie enxugar uma lágrima no canto do olho e revirei meus olhos. Quanto drama! Ela se aproximou e me deu um abraço apertado e eu retribui, não com tanta força.

— Obrigada por me dar essa honra, Katniss. Eu nunca irei esquecer esse momento!- Ela disse, se afastando e me olhando nos olhos. Fiquei vermelha, constrangida por questionar seu drama, sem entender que nesse momento, esse vestido era a coisa mais bonita que Effie já tinha feito.

— Não tem de quê, ele é maravilhoso. Eu amei!- Eu disse, olhando para ele e girando. A saia rodava um pouco quando eu me mexia. Coloquei a sapatilha para ver o conjunto completo, e percebi que ela era muito confortável, o que era um alívio.- Você já viu as maquiagens?

— Sim! Veja, qual dessas você prefere?- Ela me perguntou, pegando um caderno em cima da mesa e me mostrando 3 opções de maquiagem. A primeira era branco com vermelho, mas o branco estava muito forte. A segunda, era o contrário, o vermelho era muito forte. E a terceira, era apenas um delineado vermelho, fino, com um gloss. Sem sombras ou blush, era simples e bonito.

— Essa.- Apontei, ela revirou os olhos e riu.

— Eu sabia que ia escolher isso. Quer pintar suas unhas? O cabelo vai deixar solto ou prender?

— Nós podemos decidir essa parte amanhã?- Perguntei, mordendo o lábio inferior, ela concordou com a cabeça, dando de ombros em seguida. Circulou a maquiagem que eu escolhi e colocou o caderno de volta na mesa. Me ajudou a tirar o sapato e o vestido, e eu vesti a minha roupa.- Você e Haymitch vão jantar lá em casa hoje?

— Mas é claro que sim! Não como uma comida de verdade a séculos! Além disso, estou louca para ver o bebê de Annie!- Effie disse, animada, enquanto colocava meu vestido em um enorme pacote preto, indo para o blazer de Peeta em seguida.

— Bom, eu vou cozinhar, então não pode-se exatamente dizer que é comida de verdade.- Eu disse, dando de ombros. Ela riu pelo nariz, depois se virou e me entregou as roupas.

— Ainda é melhor do que qualquer coisa que eu e Haymitch comemos aqui em casa durante a neve, sério!- Ela disse, arregalando os olhos para demonstrar intensidade, e depois riu.

— Obrigada Effie. O jantar será as seis. Espero vocês.- Eu disse, pegando as roupas e saindo do escritório. Quando passei na sala, Haymitch não estava mais lá, e a sala estava limpa. Olhei para cima e o relógio indicava que eram quase duas horas da tarde, me exasperei e sai da casa.

Quando cheguei na casa de Peeta, Greasy Sae estava sentada no sofá, a sua neta estava assistindo TV com Buttercup dormindo em seu colo. Eu fiz uma careta.

— Desculpa, Sae.- Eu disse, ela balançou a cabeça, dando de ombros e levantando.

— Sem problemas, eu sei que você tem muito o que fazer hoje.- Ela disse, enquanto eu colocava as roupas na poltrona, para ir na direção da cozinha, ela me acompanhou. A netinha dela fez menção a desligar a TV, mas eu disse que ela podia ficar assistindo, ela sorriu e deitou no sofá.- E então, o que vamos fazer?

— Pensei que você soubesse.- Greasy Sae disse, rindo. Eu revirei os olhos e ela riu mais ainda.- Tem sorte de namorar um rapaz que saiba cozinhar, caso contrário, estaria morta de fome agora.

— Não imagina o quanto eu agradeço por isso, é sério.- Eu disse, com sinceridade. Ela riu, depois balançou a cabeça e pegou algumas panelas.

— Vamos fazer macarrão com queijo, recheado com almondegas de frango, creme de camarão e salada de bacalhau. Para a sobremesa, um pudim de chocolate.- Greasy Sae disse, abrindo os armários. Eu fiz uma careta.

— Faz muito tempo que não vamos ao mercado, acho que não temos tudo isso aqui.- Eu disse, ela me olhou com desdém antes de revirar os olhos.

— Peeta trouxe tudo isso hoje de manhã, enquanto você dormia. Ele que escolheu o cardápio.- Ela ria, balançando a cabeça pra mim, enquanto dava tapinhas no meu ombro. Eu estava surpresa com como Peeta conseguia ser tão eficaz em tudo.- Precisa ser mais atenciosa com a sua casa, querida.

— Bom, é a casa dele, e eu não sabia que ele ia até o mercado.- Eu dei de ombros, indo ajudar ela a fazer a comida.

Peeta chegou alguns minutos antes de nós terminarmos tudo. Estava todo sujo, e parecia extremamente cansado, mas sorriu quando nos viu. Deu um beijo na testa da neta de Greasy Sae, que estava dormindo no sofá, com a TV ainda ligada, e veio na nossa direção. Deu um beijo na testa de Greasy Sae também, antes de vim até mim, e me deu um selinho.

— Que cheiro maravilhoso!- Ele disse, colocando o pacote que trazia nas mãos, em cima do balcão.- Com certeza não vem de mim.- Ele brincou.

— Você parece tão cansado, tem certeza que é uma boa ideia dar esse jantar hoje?- Eu perguntei, mordendo a carne da parte de dentro da minha bochecha. Peeta riu com deboche, balançando a cabeça, o que me fez crispar os lábios.

— Não adianta Katniss, você não vai fugir disso. O jantar continua, além disso, está quase tudo pronto. Eu vou só tomar um banho e desço para arrumar a mesa, enquanto vocês três tomam o banho de vocês.- Ele disse, saindo de perto de mim para ir para a sala, pegar nossas roupas na poltrona.

— Treês? Eu e Tessa não vamos ficar para o jantar, querido.- Greasy Sae disse, enquanto tirava a travessa de macarrão do forno, e colocava no balcão.

— Claro que vai! Se vocês não ficarem eu vou ficar muito, mas muito magoado com vocês!- Ele disse, colocando a mão no peito, fingindo ultraje. Eu revirei os olhos, Greasy Sae ficou vermelha. Ela não sabia dizer não a ele. E nem, a propósito.

Peeta subia para tomar banho e eu e Greasy Sae tiramos tudo dos fornos, quando ele desceu, eu e as duas subimos. Greasy Sae e Tessa foram para o quarto de hospedes tomar banho lá, e eu fui para o meu. Quando entrei, um vestido de algodão estava na cama. Ele era azul claro e era soltinho, ia até os joelhos. Eu sorri, ele sempre pensava em tudo.

Tomei banho, lavei o cabelo, sequei na toalha e vesti o vestido. Caiu bem em mim, apesar de eu achar que meus peitos ficaram maiores nele. Dei de ombros, talvez fosse bom, e hoje fosse a noite em que Peeta voltaria a me tocar. Fiquei excitada só de pensar na possibilidade.

Passei um pouco de perfume, calcei uma sandália rasteirinha branca que eu tenho, e desci. Quase caí da escada quando vi quem estava na nossa sala de estar.

Gale, Hazelle e todos os seus irmãos; Paylor, Annie e um bebê; Effie e Haymitch; Greasy Sae, sua neta e minha mãe. Minha mãe. Ela estava realmente aqui.