Entrei dentro do banheiro feminino, estava lotado, achei uma cabine vazia e entrei. Chorei muito, como ela pode me trair assim, minha única amiga, eu defendi ela de todo mundo que dizia que ela era vadia e mentirosa. Quase ninguém do colégio conversava comigo por causa dela e é assim que ela retribui. Como pude ser tão cega?!

Depois de um longo tempo, consegui me acalmar um pouco e sair da cabine, me olhei no espelho e minha maquiagem estava acabada. Lavei meu rosto, passei um batom e sai do banheiro.

Para minha surpresa, sentado no chão perto da porta, estava Gustavo. Ele mexia no celular, mas assim que me viu se levantou em um salto e ficou me encarando. Os olhos sérios acho que foi a primeira vez que o vi assim.

– Ficou aqui para rir mais da minha estupidez? – perguntei com amargura. Ele se aproximou de mim e colocou suas mãos em meu ombro.

– Na verdade, queria saber se está bem, nunca te vi chorar assim. – Ele parecia sincero, e como eu não tinha mais ninguém para conversar, optei por ser sincera também.

– Não tem como ficar bem, você viu, ela sabia que eu gostava dele, até você sabe disso. Não consigo entender porque ela agiu assim. – Disse com olhos cheios de lágrimas de novo.

– Bom todo mundo sabe da fama dela, e se eu me lembro bem, ela e a Fernanda deixaram de ser amigas por causa do Paulo. Bárbara ficou com ele mesmo sabendo que ele e a Fê estavam ficando sério. Eu não me surpreendo, ela se aproveita de todo mundo até conseguir o que quer. – Ao dizer isso parecia magoado.

– Só quero ir embora. – disse e comecei a caminhar. Gustavo me seguiu.

– Vai a festa hoje? – me perguntou com interesse.

– Não estou em clima de comemoração.

– Devia ir, agora que não é mais amiga da Bárbara tenho certeza que a galera vai conversar mais com você. Quer ser a excluída, enquanto ela fica com o Gabriel? – ele disse com convicção. Por mais difícil que fosse para eu admitir, ele tinha razão.

– Vou chegar lá sozinha com que cara? – Só de pensar em dar de cara com a Bárbara e o Gabriel juntos me senti péssima.

– Bem, se quiser pode vir comigo, mas vai ficar me devendo esse enorme favor e você sabe que vou cobrar com juros neh. – Disse sorrindo.

– Tipo um encontro? –Perguntei assustada. A última coisa que eu queria era a galera achando que eu sou a namorada desse idiota.

–Claro que não, como amigos, vou te ajudar a se enturmar com a galera novamente, e em troca, sempre que eu precisar de você nas matérias do colégio, você me ajuda. E também faz o meu dever de casa.

– Acho que tudo bem, não tem mais opções mesmo. Só quero que deixe a Bárbara bem longe de mim! – disse desanimada.

– Não se preocupe, quando você saiu correndo, eu tirei uma foto dos dois juntos e postei na página de fofoca do colégio no facebook. Todo mundo sabe que ela te traiu e tenho certeza que vão ficar do seu lado. Nem sei se ela vai poder entrar na festa depois dessa, Rafaela só chamou ela por sua causa.

– Sério? – Sabia que a Bárbara não era a pessoa mais popular do colégio, mas até a Rafaela que era santinha da turma, não gostar dela me deixou surpresa.

– Aham, que horas passo pra te buscar?

– Pode ser lá pelas 21 horas.

– Tá bom. Agora tenho que ir. – Para minha surpresa Gustavo me deu um beijo na bochecha e saiu correndo. Eu fiquei lá parada sem acreditar que ele fez isso.

Fui caminhando de volta para o apartamento do meu pai. Estava um dia nublado e feio, a noite provavelmente iria chover. Quando cheguei já eram quase 19 horas, então resolvi começar a me arrumar de uma vez.

Eram quase nove horas e tinha terminado de me arrumar, coloquei um vestido novo que minha mãe tinha comprado para mim, era vermelho, curto e bem justo. Muito ousado para mim, mas agora que vou ter uma nova imagem decidi ousar.

Sai do meu quarto e fui para sala, meu pai estava vendo TV e quando entrei, ele me encarou espantado.

– O que foi? – perguntei nervosa, devo ter ficado muito horrível para ele me olhar assim.

– Você está linda Ana, me lembrou de sua mãe na época em que a conheci! – disse animado. Antes que eu pudesse responder a campainha tocou.

– Pai, eu vou sair com o Gustavo, vamos naquela festa que te falei. – disse abrindo a porta. Gustavo estava lá parado, muito lindo de jeans preto e camisa azul. Fiquei chocada. Se não fosse um chato, arriscaria dizer que era tão lindo quanto Gabriel.

Meu pai abriu mais a porta e cumprimentou Gustavo. Então perguntou?

– Como vai voltar Ana? Quer carona? Não quero você andando sozinha a noite. – disse preocupado.

– Não se preocupe senhor, eu trago ela de volta. – disse Gustavo com firmeza.

–Tudo bem então. – disse meu pai, enquanto eu saia ele fechou a porta atrás de mim. Eu e o Gustavo caminhamos em silencio por algum tempo, chegamos até um ponto de táxi e nos sentamos. Eu fiquei olhando pra frente, mas pude sentir seu olhar em mim. Depois de um tempo fiquei incomodada.

– Que foi?- perguntei encarando-o.

– Nada de mais, acho que você deveria se vestir assim mais vezes. – disse me encarando de volta.

– Por quê?

– Sem aqueles Jeans horríveis, e aquela sua amiga piranha tenho certeza que o Gabriel teria te notado. – Disse enquanto o taxi parou a nossa frente. Ele se levantou e abriu a porta de trás para mim. Eu me levantei e entrei no carro. Achei que ele iria sentar na frente com o motorista, mas entrou atrás comigo. Falou o endereço com o motorista e seguimos em silêncio no carro.

Não demorou muito e chegamos à rua onde seria a festa. Gustavo fez questão de pagar a corrida e eu prometi que pagaria na volta. Desci do carro e comecei a andar com dificuldade no calçamento irregular, os saltos não ajudavam em nada. Gustavo estendeu o braço para que eu pudesse me apoiar e caminhamos juntos.

Mostramos nossas identidades para o segurança na porta, e entramos para a festa. A música estava alta e a pista de dança lotada. Quando vi a Rafaela do outro lado da pista me lembrei de uma coisa.

– Droga! Esqueci-me do presente. – Disse meio que gritando para o Gustavo por causa do barulho da música.

– Não se preocupe, eu digo que este é de nós dois. – Ele mal tinha acabado de falar e a Rafaela surgiu na minha frente me abraçando.

– Parabéns Rafa! Muitas felicidades! – disse animada ao ver a alegria no rosto dela.

– Obrigada Ana! Que bom que vocês dois puderam vir! – Disse dando um abraço em forte em Gustavo.

– Eu que agradeço o convite, compramos isso para você, espero que goste! – disse entregando o pacote para ela. Rafa abriu o presente, era uma linda caixinha de música. – Foi a Ana que escolheu. - mentiu para ela.

– Muito obrigada! Adorei! Podem ficar a vontade, a maioria do pessoal do colégio está la em cima no buffet.

– Ok, vamos subir então. – Sorri para ela, mas estava apreensiva. Começamos a subir a escada e ouvi uma gritaria, parecia ser uma briga! Era a voz da Bárbara? Não acreditei.