Acordei com a minha mãe berrando meu nome, mesmo assim estava de bom humor. Tomei um banho rápido, me arrumei e fui tomar meu café da manhã. Assim que me sentei à mesa, minha mãe iniciou o interrogatório.

– Desde quando você e o Gustavo são amigos? – perguntou me sondando.

– Tem pouco tempo, eu o ajudo em matemática. – disse tentando demonstrar desinteresse.

– Tem algo a mais? Você esta vermelha que nem maça. – ela disse rindo de mim. Nosso relacionamento sempre foi aberto, então decidi contar a ela o que aconteceu ontem.

– Ele me beijou ontem à noite. – disse olhando para o meu prato.

– Uau, sempre soube que todas aquelas briguinhas tinham uma funda paixão escondida. – ela disse sorrindo.

– Nada haver, naquela época não o suportava. – digo convicta.

– Eu e seu pai também só brigávamos na época em que o conheci. – disse absorta em seus pensamentos. Quando estava prestes a responder seu comentário, a campainha tocou. Nós duas estranhamos. Era muito cedo ainda 06h30min, quem poderia ser?

Minha mãe se levantou e foi atender. Eu continuei tomando meu chocolate quente e esperei. Poucos minutos depois Gustavo surgiu vindo pelo corredor, minha mãe estava atrás dele e com um sorriso enorme no rosto.

– Bom dia Ana. – Ele disse se aproximando de mim e dando um selinho. Quase morri. Como ele pode fazer isso na frente da minha mãe? Olhei para ela de canto e vi que estava sorrindo.

– Quer tomar café conosco Gustavo? – perguntou minha mãe educadamente.

– Não senhora, obrigado! Eu vim acompanhar a Ana para escola. – disse com um sorriso convencido.

– Bom, eu posso dar carona pra vocês. – ela disse meio em duvida olhando para mim.

– Não precisa mãe, vamos andando mesmo. – eu disse e sai puxando Gustavo para a porta.

– Está bem, tenham um bom dia. – ela disse quando saímos pela porta.

Começamos a caminhar em direção ao colégio, não era longe, mas íamos caminhar quase 20 minutos.

– O que deu em você? Dando-me um beijo na frente da minha mãe? –perguntei corando ao olhar em seus olhos.

– Bom, acho que sua família vai ter que se acostumar comigo. – ele disse como se fosse uma coisa obvia.

– Por quê? – perguntei sem entender.

– Não quer que eles se acostumem com seu namorado? – perguntou, me olhando de lado.

– Não me lembro de ter recebido uma proposta oficial de namoro. – digo divertida.

– Bom você teria recebido, mas se agarrou no meu pescoço e ficou me beijando quase meia hora, então não tive tempo. Sempre soube que você era meio tarada! – disse rindo da careta que fiz pra ele.

– Eu neh.

– Então? Acho que é a melhor forma de esquecer o Gabriel de vez.

– Pra falar a verdade nem penso tanto nele, desde que o peguei com há Bárbara aquele dia no shopping.

– Então isso é um sim ou um não? – perguntou impaciente. Parei na frente dele e dei um beijo suave.

– Sim! – digo com um sorriso enorme. Ele sorriu de volta, pegou minha mão e entramos na rua do colégio juntos. Todo mundo ficou nos olhando, e quando chegamos à sala juntos, minhas amigas quase caíram de suas carteiras.

Sentamos juntos e ficamos trocando bilhetes durante a aula.

Nós dois não acreditávamos que o pai da Bárbara tivesse feito aquilo, e o fato dela ficar contra ele tão facilmente era algo muito estranho. Decidimos que íamos pensar ate sexta feira. No sábado tínhamos que encontrar com Gabriel já com a resposta.

A semana foi maravilhosa, eu e o Gustavo estávamos nos dando muito bem. Todos do colégio adoraram a novidade do nosso namoro. Eu estava feliz, ate cantava no chuveiro! Sentir-me tão bem assim era novidade, me sentia completa.

A única coisa que me incomodava era a vingança de Joel, a sexta feira chegou e nos decidimos fingir aceitar a proposta de ajuda-los ate podermos ver se ele realmente tinha provas contra o Tom (pai da Bárbara).

Gustavo e eu estávamos na casa dele, fazendo um trabalho de química. Decidimos fazer na sexta porque no fim de semana tínhamos compromissos. Depois que você começa a namorar, sua agenda fica lotada.

Meu celular vibrou, recebi uma mensagem de Bárbara , quando abri, fiquei em choque, era uma foto dela, só que estava toda machucada, como se tivesse levado uma surra. Gustavo percebeu minha reação e parou de trabalhar na maquete que estávamos fazendo. Puxou o celular da minha mão e viu a foto.

– Quem fez isso? – me perguntou irritado.

– Não sei, ela acabou de mandar. – ele devolveu meu celular e pegou o dele. Estava ligando para alguém. Eu mandei uma mensagem para ela e perguntei que fez isso.

Gustavo foi para dentro da casa e estava bravo falando ao telefone, quase berrava. Meu celular vibrou novamente, a resposta de Bárbara me fez tremer: “Gabriel“.

Nunca imaginei que ele fosse capaz disso, fiquei tremendo e senti meus olhos se encherem de lágrimas. Gustavo voltou, estava irritado, mas quando olhou em meu rosto viu que minha cabeça estava a mil. Abraçou-me forte e ficamos um tempinho em silêncio.

– Com quem estava falando? – perguntei o encarando.

– Gabriel... Foi ele que fez isso com ela. –disse irritado.

– Ele confessou assim, fácil? – não conseguia acreditar.

– Ana, esse lado dele eu já conhecia, não foi à primeira vez que ele bateu em uma garota. – Disse olhando meu rosto para ver as emoções ali.

– Sério? – perguntei. Gustavo me puxou em direção à sala, sentou-se no sofá e me colocou em seu colo.

Ele me contou as histórias de ex-namoradas de Gabriel e de como às vezes ele perdia a cabeça. Sinceramente, eu sempre pensei que Gustavo tivesse mais cara de fazer isso, fiquei impressionada. Apesar de estar triste pela Bárbara, fiquei feliz por não ter realizado meu sonho de ficar com Gabriel. Meu celular vibrou mais uma vez

–Onde você está? – Bárbara enviou.

– Na casa do Gustavo-respondi.

– Por quê? Kkkkk – respondeu ela.

– Longa história. Onde você está? – perguntei, Gustavo acompanhava a conversa por cima do meu ombro.

– No portão da sua casa, posso ir ai ficar com vocês? –ela me perguntou. Olhei para Gustavo e ele concordou.

– Tudo bem, sabe onde fica? – perguntei, mas não tinha como ela saber, os dois se detestavam.

– Sim. Estou indo. – fiquei surpresa com essa resposta. Decidi não perguntar na hora, não queria bancar a louca ciumenta em nossa primeira semana juntos. Mas não ia esquecer isso.

Uns 20 minutos depois, Bárbara chegou, estava com um olho roxo e cheia de hematomas pelo corpo. Ela e Gustavo se comportavam estranho quando estavam juntos, evitavam se olhar por muito tempo, pareciam constrangidos.

Ela disse que Gabriel a agrediu depois que ela disse querer conversar com o pai primeiro, ao invés de humilha-lo em público.

– Ele ficou irritado, e disse que o único motivo para ter ficado comigo era pra tentar se aproximar do meu pai. Não deu certo obvio. A mãe dele me odiou só por ser filha dele. –disse triste.

Não conseguia sentir pena dela, o clima entre nos três ali estava muito estranho. Decidi ir embora. Juntei minhas coisas, me despedi dos dois e fui pra casa. Andei rápido, pois estava vindo chuva. Quando cheguei ao portão vi que tinha deixado minha chave para trás.

“Droga” pensei. Tive que voltar, começou uma chuva forte e eu me molhei toda. A garagem da casa do Gustavo estava aberta, o pai dele estava chegando.

– Oi, desculpe, meu nome é Ana, esqueci a chave da minha casa aqui. – eu disse meio sem graça.

– Oi, você é a namorada do meu filho? – estendeu a mão para me cumprimentar.

– Sou sim. – respondi segurando sua mão.

– Meu nome é Adam. Vamos entrar você se molhou toda. – comentou.

Subimos em silêncio as escadas. A bolsa da Bárbara estava em cima do sofá ainda, achei estranho. Aproximei-me da varanda junto com pai do Gustavo, ele fez um gesto gentil para que eu entrasse na frente.

Quando entrei, vi a pior cena que podia imaginar. Sabia que tinha um clima estranho. Virei-me para sair correndo dali, mas dei de cara com o pai do Gustavo, ele me abraçou com força e ficou olhando a cena por cima do meu ombro.

Como ele pode fazer isso comigo? – pensei enquanto as lágrimas caiam pelo meu rosto.