Eu e Francesca voltamos pra casa e encontramos Angie lá, conversando com Camila.

– Oi Vilu! – Angie disse.

– Eu disse que a ideia daria certo. – Camila disse.

– Oi, tudo bem? Eu sou a Francesca. – Ela disse cumprimentando a Angie.

– Oi Francesca, eu sou a Angie.

– Nossa! Como a sua tia é novinha! – Francesca disse.

– Vilu, suas amigas são muito legais. – Angie falou com um grande sorriso no rosto

– Mas você tinha que ver a cara de susto dela quando me viu. – Camila disse rindo.

– Eu me assustei né! Eu ia te ver no quarto e ao invés disso, tem uma menina ruiva lá!

– Depois eu expliquei tudinho pra ela.- Camila disse.

– Bom pessoal, temos que ir. Tá meio tarde e nossas mães podem ficar preocupadas. – Francesca disse.

– É, tem razão. – Camila disse se levantando.

– Espero poder vê-las mais vezes. – Angie disse se despedindo delas.

– Nós também.

Me despedi das duas e quando foram embora Angie queria, obviamente falar comigo.

– Quer dizer que suas novas amigas vieram de visitar!

– Pois é, elas são muito bacanas.

– E você foi na casa do León também.

– Fui.

– Então tá bom. – Ela disse com um sorrisinho suspeito na cara.

– Angie...

– O que eu fiz?

– Conheço essa sua carinha.

– Ai Vilu, deixa de ser chata! Eu não fiz carinha nenhuma. – Ela disse rindo.

– Tá bom, né. – Eu disse subindo para o meu quarto e indo tomar um banho.

Aquele negócio do León era estranho. Ele ficou tão bravo e preocupado ao mesmo tempo quando viu a gente conversando no telefone dele. Nunca o vi daquele jeito! Bom, melhor deixar cada um com seus problemas e cada um com os seus segredos, porque eu também tenho os meus.

....

Na escola, o dia foi meio chato. As aulas pareciam demorar muito pra passar e o clima não estava dos melhores, não sei porque. Na hora do intervalo todos nos juntamos debaixo da mesma árvore, como sempre. León estava muito quieto me olhando esquisito. Será que isso tem a ver com o que aconteceu ontem? Francesca e eu nos olhávamos as vezes, talvez ela estivesse pensando o mesmo que eu. Eu também não falei muito. O sinal tocou e antes de voltar pra sala olhei pro céu, que estava cheio de nuvens, com certeza chuva vinha por aí.

Na saída não falei com ninguém, eu tinha que correr pra casa antes que o dilúvio começasse. No almoço com a Angie, não conversamos muito, quase nada.

– O que você tem Vilu? – Ela perguntou.

– Tô meio mal, só isso.

– Quer ir no médico?

– Não! Não precisa. Só tô muito cansada, a aula foi bem chata hoje. Tudo o que eu quero e terminar as lições da casa e descansar um pouco.

– Tá bom então. Se quiser alguma coisa me fala hein.

Depois fui para o meu quarto e fiz todas as tarefas que eu tinha. Mas eu estava meio fora de foco, muitas vezes me peguei olhando pro nada. Quando terminei tudo, me deitei na cama e comecei a pensar.

Eu notei que o León estava esquisito comigo e nem trocamos uma palavra sequer hoje. Francesca me disse que também não falou com ele e que também achava ele muito estranho. Ele sempre foi tão alegre, será que aquilo era tão sério assim? E então comecei a entender ele. Entendia por que ele queria tanto saber o que me fazia tão mal. Ele se perguntava porque eu era assim da mesma maneira que eu me pergunto o que significava o telefonema do dia anterior. Aquilo tirou um pouco da minha culpa e, de alguma maneira, me senti mais aliviada. Mas eu queria muito ter conversado com ele hoje, ele sempre é tão legal comigo. Não queria que ele ficasse tão fechado. Mas eu também era fechada com ele. A culpa voltou. Eu não entendia porque o fato dele não conversar comigo me incomodava tanto.

Acabei dormindo sem querer e só acordei com a Angie me chamando.

– Vilu!

– Oi Angie.

– Nossa! Você tá cansada mesmo hein. Dormiu a tarde inteira! Agora não vai dormir de noite!

– Que horas são?

– Seis da tarde!

– Você já foi trabalhar?

– Eu acabei de voltar! – Ela disse.

– Sério?

– Sério. – Ela disse rindo. – Acho melhor você ir tomar um banho viu! Daqui a pouco vamos jantar.

Fiz o que ela pediu e logo depois desci. A pizza tinha acabado de chegar e então já me sentei na mesa.

– E então Vilu, com que sonhou? – Ela perguntou rindo.

– Não lembro.

– Aposto que foi com o León.

A olhei brava. Ela tinha prometido que não falaria mais bobagens!

– Desculpa Vilu, é mais forte que eu ás vezes. – Ela disse colocando um pedaço de pizza no prato dela. Nem respondi.

– Vilu, tem alguma coisa errada com você hoje. Por que não me diz?

– Angie, eu tô bem.

– Não tá não. A mim você não engana. Você estava tão bem ultimamente, não estou entendendo.

– Já falei que eu tô bem!

– Vilu, eu só não quero te ver assim. Tava gostando tanto de te ver alegre e sorridente!

– Mas eu não tô triste!

– Parece!

– Angie o que foi? Para de encher tudo bem?

– Violetta Castillo, o que aconteceu com você? Por que de uma hora pra outra tá desse jeito?!

– Desse jeito como?

– Falando que eu tô te enchendo.

– Eu só falo a verdade.

– Violetta, não fale assim comigo! – Ela disse se levantando.

– Tá vendo! Tá vendo como é chato quando as pessoas ficam te perturbando, falando coisas que você não quer ouvir. – Eu falei me levantando também.

– Eu só estava brincando!

– Nem vem com essa agora. Você sempre fala a mesma coisa!

– Por que o fato de eu falar que você e o León são lindos juntos te deixa tão brava?

– Porque não tem isso! Isso não existe e nunca vai existir entendeu?

– Não entendendo porque você fala essas coisas. Vou repetir: Você tem dezesseis anos Violetta! Por que se apaixonar por alguém é tão assustador?

– Porque o Germán se dizia apaixonado pela mamãe! – Eu disse tentando não deixar as lágrimas caírem.

– Seu pai...

– Ele nunca vai ser meu pai! – Eu disse cortando ela.

– Violetta o que aconteceu com a Maria foi muito inesperado! Ele era sim apaixonado pela sua mãe, não entendemos o que se passou na cabeça dele naquele dia, mas sua mãe não teve culpa! - Ela disse começando a chorar. Angi era muito sensível.

– Ela morreu mesmo! O que importa se ela teve culpa ou não agora? – Dito isso eu fui até a porta, ignorando os gritos de Angie para que eu voltasse.

Saí de casa e a chuva não estava tão forte, mas continuava muito fria. Eu saí andando sem saber direito pra onde, me permiti chorar, talvez os pingos daquela garoa fina fizesse as minhas lágrimas sumirem. Sem tirar os olhos do chão, senti meu corpo se chocar com alguma coisa. Levantei os olhos e vi o León. Justo o León.

– Violetta?

Eu fiquei olhando ele sem falar nada e limpei minhas lágrimas.

– O que foi? – Ele perguntou parecendo preocupado. O abracei forte e voltei a chorar. Ele me abraçou também provavelmente sem entender nada. Tudo bem, nem eu entendia.