A Fonte escrita por Regina Massae


Capítulo 4
Capitulo 4-Ken, Kim e Kon




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Ken foi direto para o sofá e ligou a TV. Kon precisava de uma troca de fraldas e subi com ele. Kim passou a me seguir aonde ia.

Depois de limpo, vi que Kon tinha muitas assaduras, achei melhor dar um banho e passar pomadas. Eu achava que ele choramingava de manha, mas era da dor causada pelos machucados. Assim que se sentiu confortável, ele adormeceu. Já tinha visto os bebês das minhas primas e cheguei a ajudar a trocar, mas nunca tinha visto algo assim. Minha mãe era rigorosa e me dava sermões sobre o que fazer e não fazer quando eu fosse mãe.

Kim me mostrou quatro dedos quando perguntei a idade. Tinha os cabelos mais avermelhados do que o Ken e eram bem lisos que caíam na frente da sua cara, tampando os olhos. Kon tinha cabelos mais escuros e cheio de cachos, devia ter menos de dois anos.

Percebi que Kim usava roupas muito maiores que o seu tamanho, deviam ser as roupas do Ken que não serviam mais e passavam para o menor. Kim também ficava segurando um travesseirinho de bebê bem sujinho que ele ninava como se fosse uma boneca.

Já era quase hora do almoço e não daria tempo de preparar o macarrão. O jeito foi almoçar pão e leite.

Achei que eles precisavam de mais uma ajuda, me doía vê-los assim. As crianças pareciam conformadas com a situação. Do jeito que a Anne falou, achei que eram hiper ativas, choronas e briguentas. Fui para o quintal dos fundos enfrentar o tanque de roupas. Kim veio comigo e ficou sentadinho num caixote me observando.

Quando se tem máquina de lavar e secadora, aquilo era um terror. Nem sabia como começar. As roupas tinham sido colocadas em água quente com sabão, então a maior parte da sujeira havia saído. Algumas manchas não iriam sair mesmo e se Carl voltasse, ele não iria ficar esfregando a roupa durante a noite, iria? Fiz o melhor que pude e estendi no varal.

Chegou a hora de fazer o macarrão. Lembrava de ter visto num programa de TV, não pareceu difícil.

– O que vai fazer? – Kim perguntou.

– Macarrão com polpetas.

– O que é polpetas?

– Ah, você vai ver. Enquanto o macarrão seca, vou preparar as polpetas que levam ingredientes secretos.

– Qual?

– Pão e leite!

Fazer o que? Era o jeito de fazer render cem gramas de carne moída. Misturei a carne com o pão umedecido com leite, mais os ovos, os temperos e comecei a moldar as polpetas.

Kim estava encantado. Até Ken deixou a televisão e veio ver:

– O que estão fazendo?

– Polpetas! – disse Kim.

– Ah... almondegas.

– Não, polpetas!

Fritei as polpetas, coloquei o molho no macarrão com queijo ralado e levei ao forno para gratinar. Preparei uma limonada e acho que era o melhor que podia fazer.

Arrumamos a mesa com toalha, os pratos e talheres e esperamos o pai delas chegar.

Carl ficou boquiaberto ao ver todos nós sentados á mesa e esperando por ele:

– Oh... que cheiro bom! O que vocês fizeram?

– POLPETAS!!! – gritaram as crianças.

– Bom, então me esperem, vo...vou só tomar um banho rápido.

– Olha pai, o Ken tá chupando o macarrão!

– Chu...ru...ru...up ... Ahhhh...

– Mãe, a cara dele tá toda suja de molho…

– Há...há...há...

– Quero mais polpetas.

– Desculpa, mas só deu para fazer alguns...

– Pai, compra mais carne moída para mamãe fazer mais polpetas?

– Sim, eu compro.

Carl olhou para mim e sorriu apenas com o canto dos lábios, e eu pensava: Quem diria que algumas almôndegas improvisadas trariam tantas alegrias? Eu estava acostumada a freqüentar restaurantes e a ter a mesa farta e variada. Pagava caro por muitas coisas, mas aquela pequena felicidade quanto havia custado, quase nada, alguns trocados apenas.

Eu estava fazendo o Kon comer no prato ao invés de só dar mamadeira. Ele deveria já estar comendo sozinho e a usar fraldas cada vez menos. Será que Anne faria isso?

Depois do jantar, Carl disse que lavaria a roupa e depois a louça, mas Ken falou primeiro:

– A mamãe já lavou a roupa.

– Ela o que? Você... não precisava.

– Tudo bem, eu não estava fazendo nada.

– Bom, eu..eu... então vou dar ba..banho nas crianças e lavo a lo...louça depois.

– Eu tomo sozinho! – gritou Ken.

– Eu quero que a mamãe me de banho – disse Kim.

– E...e...vo..vo...ce se importa?

– Não, vem Kim.

Ao ajudá-lo no banho tive uma surpresa:

– Você é uma menina!

Então é por isso que ela segurava o travesseirinho como se fosse uma boneca. Era uma menininha tentando ser uma garota, num mundo de irmãos, usando roupas do irmão mais velho, vendo um pai tentando cuidar deles, da casa, trabalhando fora, ajudando a comunidade e uma mãe totalmente ausente e negligente. Aquilo doeu, doeu muito, não conseguia segurar as lágrimas. Amanhã quando acordasse, não os veria mais.


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