O Poema Dos Surdos escrita por Nena Lorac


Capítulo 7
Estrofe II (Parte 3)


Notas iniciais do capítulo

"Sabes sorrir
Sabes chorar
Sabes...É claro,
Te expressar!"

(Parte 3)



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Depois de um mês treinando com Matthew, eu já conseguia formar pequenas frases, e minha agilidade com os sinais estava melhorando. Mal acreditei que conseguia pedir comida ou informar e perguntar as horas em língua de sinais. Podiam parecer coisas simples, mais eu treinei todo santo dia até conseguir aprender. E ainda me lembro quando aquela pequena criatura das mechas douradas ficou extremamente feliz quando eu acordei e perguntei se o café estava pronto utilizando os sinais.

Naquele momento, eu me senti como se aqueles sinais fossem tão corriqueiros que nem parecia que eu os tinha aprendido a tão pouco tempo. Mas só percebi isso quando me deparei com Matthew abraçando minha cintura naquela manhã nublada. Me lembro que fiz umas carícias no topo de sua cabeça e falei um “De nada”. Falei porque sabia que não conseguiria dizer em sinais. Não estava emocionalmente preparado para isso.

Atualmente, não sou um perito em todos os sinais, pois ainda me falta muito para aprender a falar fluente. Mas fazendo essas pequenas coisas, e deixando ele feliz, é que estavam me motivando. Entretanto, a parte que eu não quero que ele conheça está se aproximando. Sinto que vou sofrer uma recaída cedo ou tarde. Estou tentando driblar o vício maior com outros vícios. Não menos fúteis ou mortais quanto o crack, mas são vícios querendo ou não.

Tento evitar que Matthew me veja fumando ou bebendo. Não quero preocupa-lo, mas quando isso não suprir mais, não sei como reagir. Escondo todos os maços de cigarro e jogo as garrafas de whisky de madrugada. Não foi o melhor jeito de contornar a situação, mas por hora estou resolvendo com isso.

Enquanto a recaída não chega, pretendo aproveitar o máximo que posso estudando a língua de sinais e convivendo com ele. São as únicas coisas, politicamente corretas e boas, que eu tenho feito. E antes que eu me acabe mais uma vez, eu pretendo aproveitar.

xXx

“Já tinham se passado algumas semanas após os gritos na frente da antiga casa de Francis, e ele ainda não tinha esquecido a ideia de recuperar suas pedras. Passou os últimos dias dando seu jeito de conseguir dinheiro para consumir mais drogas e arquitetar um plano para poder recuperar as que estavam na sua caixa.

Durante algumas noites, ele andou pelos becos dos bordeis e pontos de prostituição para conseguir uma grana fácil. Em sua mente, apenas pensava em foder e conseguir alguns trocados, mas percebeu que a vida do pessoal que vendia o corpo era tão cheia de problemas que não sabia se poderia aguentar.

Conseguiu algumas centenas para comprar uma pequena pedra e se manter por um curto período de tempo. Estava cheio de hematomas, que apareceram depois das transas clandestinas que tinha feito. Tinha alguns cortes no rosto e suas roupas estavam rasgadas. Mas foi com essa aparência que ele seguiu para seu antigo lar. Com uma grande barra de ferro enferrujada que encontrou nas ruas, ele começou a espancar a porta para que ela se quebrasse. E após algum tempo, ele abriu um buraco nela. Entrando na casa, ele saiu em disparada para seu antigo quarto pegar sua caixa. E ao abrir a gaveta, levou um susto, pois a caixa tinha sumido.

— Eu disse que aqui você não consegue mais disso! – Arthur apareceu aos berros.

— Onde você a colocou??

— Joguei aquela porcaria no rio! Agora suma dessa casa!

— Seu filho da puta!! – Francis enlouqueceu – Não percebe que eu gastei uma grana para consegui-las? Agora você está me devendo!

— Não devo nada para você, viciado de merda! Agora saia dessa casa... ou eu chamo a polícia!

Francis não pensou naquele momento, apenas gritou, segurou mais forte a barra de ferro que tinha em mãos e correu na direção de Arthur. O primeiro golpe foi desferido na cabeça do outro loiro com a barra, e logo em seguida, Francis a largou para acertá-lo com socos.

O rosto de Arthur estava banhado com vermelho, ele mal conseguia respirar. Mas sua vida foi salva graças a Alfred que apareceu e deu um tiro na lombar de Francis, que o fez cair agonizando de dor no chão. Então Alfred deu passagem para os policiais e foi acudir Arthur.

— Eu disse que não queria mais vê-lo nessa casa... Francis, você não é bem-vindo em nenhum lugar enquanto estiver nessas condições. – Alfred pegava o celular para ligar para um hospital – Vá se tratar e deixe de ser um merda!

Mesmo no chão, gritando de dor, Francis pode ouvir e ver Alfred. Ele queria soca-lo, mas não conseguia se levantar. Os policiais o levaram para um hospital especial, para retirar e bala, e o manter preso. Antes de ser levado, a última coisa que conseguiu ver antes de desmaiar era Alfred chorando e abraçando Arthur, que estava inconsciente.”

xXx

Me revirava na cama, estava suando, e não conseguia dormir depois de um pesadelo. Dei um salto quando as imagens do desagradável sonho sumiram de repente, e comecei a respirar bem mais rápido e forte. Levantei e comecei a perambular pelo quarto, um pouco ansioso. Corri até o armário, e debaixo das toalhas, fui atrás dos maços de cigarro que eu escondia de Matthew. Mal tirei um daquela caixinha e já o acendi. Fumei na janela, para aquela fumaça viajar pela vizinhança nas formas mais etéreas possíveis. O cigarro era horrível, e a noite era quente, nada tinha de agradável naquele momento.

Fechei os olhos para mentalizar alguma coisa que eu quisesse naquele instante para deixar a situação melhor. Inúmeras coisas pousaram na minha mente conturbada, mas nenhuma delas me fazia gritar de alegria e nem me deixava preocupado. As imagens vinham cada vez mais rápidas até que uma delas chegou, desacelerou e ficou em minha mente me fazendo deixar o cigarro cair do segundo andar.

Abri a porta do meu quarto e fui em direção a sala. Percebo que Matthew se encontrava encolhido no sofá, agasalhado com um lençol fino e vagabundo. Olho para seu rosto atentamente, e percebo que ele ficava num tom rosado enquanto dormia. Ofegava pela boca, e as vezes, movimentava os pés. A cena era hilária, para não dizer agradável. Cheguei perto, queria sentir o cheiro dele de novo.

Coloquei uma de minhas mãos em sua cabeça e aproximei meu rosto sobre seu couro cabeludo, Mais uma vez, aquela fragrância enchia minhas narinas. Abri meus olhos para ter absoluta certeza que ele não estava acordando, e olhei atentamente para o seu rosto.

“Por que estou pensando em você?”

Falei baixinho, mas foi o suficiente para que ele abrisse os olhos, me encarasse com um olhar de sono e fazendo uma pequena careta. Ele apontou para mim e fez o sinal de fumar com uma cara de dúvida, e ficou parado esperando uma resposta. Eu não sabia o que fazer, além de ficar parado o encarando. Os olhos violáceos, semicerrados, estavam brilhantes, e sua respiração era quente. O que eu queria fazer naquele momento?

Senti suas pequenas mãos encostando nas minhas bochechas, elas estavam frias, mas eram macias e delicadas. Ele me fez umas carícias antes de me puxar para próximo do seu rosto, e me surpreendendo ao encostar seus lábios com os meus. Mas o beijo não durou muito tempo, e ele logo desencostou, sorriu, e desmaiou de sono.

Eu me levantei e me ajeitei para carrega-lo. Ele parecia uma criança em meus braços, e não acordou mais nenhuma vez naquela noite após eu deitá-lo naquela cama velha. Fiquei sentado no chão, encostado na beirada do coxão, o observando dormi... agora com mais medo da recaída voltar. 


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Notas finais do capítulo

* Tem sinais em Libras que já representam uma frase inteira, como é o caso do sinal de "Que horas são?". Então esses sinais são bem mais fáceis de se aprender. Ou seja, o Francis consegue formar pequenas frases que são três sinais no máximo, ou só um sinal que representa uma frase inteira!
Pode não parecer muita coisa, mas é um grande avanço pra quem não sabe muito!

Sinal de "Que horas são?": https://www.youtube.com/watch?v=TVIHkMMgN8c

Sinal de "Comer": https://www.youtube.com/watch?v=QesDutoHLsk

Sinal de "Café": https://www.youtube.com/watch?v=6A6ZN1f_QyI
Sinal de "Manhã": https://www.youtube.com/watch?v=LNPMRpbd47A

Sinal de "Fumar": https://www.youtube.com/watch?v=3KIt0Z8pAHk

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PERDÃO PELA DEMORA PARA POSTAR!

De certa forma eu estou nas minhas férias... mas inventaram de eu trabalhar durante elas @-@ Se quiserem reclamar, reclamem com a minha mãe!

Eu estou escrevendo e postando esse capítulo de noite, e eu não sou fã de escrever as coisas de noite, então perdoem qualquer erro que venha a estar nele em relação a erros de digitação e gramática, pois eu não funciono bem quando escrevo nesse horário.

Tentarei postar mais durante essas minhas férias, mas espero que esse meu "trabalho não remunerado" facilite para isso...

Também espero que tenham gostado de alguma "ação" nesse capítulo, e do resto da história do Francis (na verdade, eu meio que queria fazer uns capítulos voltados só para a história dele... mas meio que eu já tenho contado quantos capítulos eu vou deixar essa fic, então não vai rolar).

E pra quem não entendeu... o Matthew tava fazendo as coisas meio dormindo, meio acordado... pois é né :'D

E sobre a carta do Matthew... ela já está escrita! Porém não vou postá-la agora (podem me matar, eu deixo)~

Espero que aguentem mais um pouquinho até o próximo capítulo~



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