A vida em três tempos escrita por Kaline Bogard


Capítulo 2
Parte 02 de 03 - Futuro


Notas iniciais do capítulo

Essa história não segue uma linha cronológica clara. É apenas três momentos da vida do Hayato que eu trouxe para vocês.

Boa leitura!



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A vida em três tempos

Kaline Bogard

Parte 02 de 03

Futuro

Prefácio

Tenho a honra de apresentar esse livro, fruto de anos de trabalho e dedicação, como uma fonte valiosa a traduzir a experiência humana no campo estigmatizado do que conhecemos como a Acquired Immunodeficiency Syndrome ou, simplesmente, AIDS.

Por muitos anos, desde o seu surgimento, essa patologia aflige pacientes não apenas com suas consequências biológicas: a fragilidade de todo um complexo sistema imunológico; mas também em suas consequências psicológicas, sociais e históricas. Realidade que está longe de mudar.

Quando Aomine Hayato me concedeu a honra de escrever o prefácio para o seu livro, não poderia ficar mais exultante. Porque cada uma de suas páginas tem o poder transformador que a humanidade precisa.

O material aqui apresentado não é apenas mais uma biografia. Não é apenas mais uma história para lermos e guardarmos na prateleira. Temos aqui a experiência de uma vida que foi sistematicamente relatada no decorrer de duas intensas décadas.

O projeto foi ousado. E, como o leitor virá a descobrir, nasceu de uma ideia infantil despretensiosa a qual me abstenho de aprofundamento para não privá-lo das descobertas de ler por si só.

Acompanhamos, através dos olhos de um adolescente, as derrotas e vitórias de crescer portando uma doença exprobrada por todos. Uma narrativa que derruba o véu da ignorância e obriga nossa mente a compreender o maior erro no convívio com uma pessoa soropositivo: nós enxergamos apenas isso. Reduzimos alguém, com seus sonhos, medos, angustias, esperanças e desejos à uma única condição pejorativa: a condição de portador do vírus HIV. Fato comum a outras patologias. De repente, a pessoa se tornar apenas o ‘câncer’ que carrega, ou apenas a ‘hipertensão’ que ameaça sua vida. Mas a diferença com que tratamos os pacientes de câncer dos pacientes aidéticos beira qualquer limite da coerência. Ao primeiro, ofertamos dádivas de empatia, indulgência e misericórdia. Aos infelizes do segundo grupo, não hesitamos em julgar e condenar, atacar e hostilizar.

A maior lição que pude tirar desse livro: por baixo de qualquer rótulo que nosso preconceito possa impor ao portador de um estigma social, permanece a verdade imutável e absoluta. A verdade que deveria prevalecer: existe apenas um ser humano como eu. E como você.

Termino esse prefácio e convido-lhe a mergulhar em profundas e tocantes palavras. E que sua experiência de leitura seja tão rica quanto a minha foi.

TKS”

Agradecimentos

Quero dedicar esse livro a todos que acreditaram que seria possível. A todos que me ajudaram a chegar tão longe e nunca me permitiram desanimar.

À minha família, maior responsável pelo que me tornei. À minha esposa, forte âncora que me manteve firme no lugar mesmo quando as atribulações pareciam insuperáveis. Aos meus filhos, que fizeram tudo valer a pena.

E a você, leitor. A você, leitora.

Pois foi por vocês que aceitei publicar o meu trabalho.

A todos aqui citados ou não, minha eterna gratidão.

Aomine Hayato”

–--

— Hayacchan! Num é possível que você seja tão viado! — Hikaru riu alto enquanto ajeitava a gravata borboleta que seu marido levava ao pescoço — Olha a estampa disso aqui! Vai ficar óbvio que eu sou o macho dessa relação.

O homem apenas girou os olhos. Fazia um bom tempo, naqueles vinte anos em que se conheciam, que as frases exageradas de Hikaru não tinham mais o poder de encabulá-lo. A convivência tornara certas coisas bem mais aceitáveis.

— Eu não escolhi essa estampa — revelou, indulgente.

— Não me diga que foi a sua mãe?! — Hikaru não se surpreenderia com uma resposta positiva.

— Não, não foi. Yume quem escolheu.

— Ah... — ela acabou desistindo de tentar arrumar a gravata que insistia em permanecer torta, com todos aqueles minúsculos Pokémon sorrindo para si — Estou muito orgulhosa de você.

A mulher segurou-lhe o rosto com as duas mãos e o puxou, obrigando-o a inclinar-se para beijar-lhe os lábios.

Aquela noite seria especial para todos. O lançamento do livro que Hayato escrevera durante anos, relatando praticamente em tempo real como era viver com HIV. Ali estava mais do que a história dele, mas a história de ambos. E dos três filhos.

Toda a evolução desde o término do Colegial ao inicio da Faculdade. O momento em que começaram a se relacionar, depois de muita relutância por parte de Hayato. Ele era soropositivo, afinal de contas.

Uma das maiores batalhas de Hikaru fora convencê-lo de que poderiam sim ter uma união saudável apesar de tudo. Haviam meios de se proteger e eram bem eficazes. Então apresentou-lhe a expressão “Casais sorodiscordantes”. Não seriam o primeiro casal formado por um soropositivo e um soronegativo. Foi dureza, mas o forte sentimento venceu e os adolescentes se envolveram.

Claro que, sendo Hayato tão preocupado, pesquisas e estatísticas a respeito do assunto tornaram-se ainda mais corriqueiros em sua vida. Ele a amava tanto que jamais se perdoaria caso a contagiasse. Sua precaução o tornava quase obcecado.

E ali estavam eles, quinze anos após a consumação, vivendo muito bem, obrigado.

Juntos fundaram a ONG “Laços Para a Vida”, uma instituição sem fins lucrativos que oferecia apoio e acolhimento tanto para mães portadoras do vírus HIV, quanto para seus filhos. Uma atuação sem precedentes no cenário Japonês, ainda um dos países mais conservadores e relutantes em aceitar os seus doentes. Principalmente as crianças eram hostilizadas, afinal, o aborto fazia parte do cotidiano nipônico. A sociedade não compreendia por que levar a término a gestação de um feto que poderia nascer adoentado.

E Hayato mostrava com sua própria existência qual o valor de dar uma chance para a criança.

A ONG projetou-se rápido. Haviam muitas e muitas mães que carregavam o fardo sozinhas e viram na “Laços Para a Vida” uma chance de partilhar o sofrimento com pessoas que passavam pela mesma situação. Oportunidade que trazia um alívio imensurável para cada uma delas.

Logo a rede de apoio se ampliava, inúmeros profissionais agregaram seus conhecimentos, às vezes de forma voluntária. Em pouco tempo, Hayato se viu recebendo inúmeros convites para ministrar palestras ao longo de todo o arquipélago. E já fora aos Estados Unidos por duas ocasiões, a convite de Harvard e Oxford.

Aumentar a família tornou-se o próximo passo natural. A “Laços Para a Vida” serviu como o elo que os ajudou a consolidar o sonho. Família estava além de vínculos sanguíneos, obviamente.

Foi quando adotaram a primeira criança. Seu nome era Hikomaru, um menino mirrado, muito abaixo do peso e da altura esperados para seus doze anos. Desconfiado e agressivo, sempre na defensiva, parecia um animalzinho. Foi um desafio e tanto. Agora olhavam para o jovem de quase dezoito anos, presidente do Conselho Estudantil e um exemplo para os outros alunos do terceiro ano e mal se recordavam do menininho frágil que viera enriquecer a família.

Então chegou Chiyori. Com nove anos na época, agora com treze. A mais magoada de todas, pois além da dura discriminação, do sofrimento com a doença, ainda precisara enfrentar a triste morte da irmã gêmea, frágil demais para lutar contra toda a situação. Não foi tão difícil de acalmar as dores de seu coração quanto acabou sendo com Hikomaru, mas a convivência também tivera seus entraves. Não era fácil para essas crianças confiarem outra vez.

Por fim, praticamente recém-chegada, estava a pequenina Yume. Uma criança de quatro anos, que ainda não passara pelo pior que a sociedade tinha a oferecer. Ela perdera a mãe no ano anterior, e após seis meses dos tramites legais, tornara-se a mais nova integrante da família Aomine.

Hikomaru, Chiyori e Yume eram três pessoas incríveis. Batalhadoras e fortes, cada uma a sua maneira. Cada um deles encontrando meios de se superar e superar a doença. Saga que Hayato conhecia muito bem, afinal, os jovenzinhos também eram soropositivos.

— Pronto? — Hikaru perguntou. Observou o marido e o elegante terno que vestia e que, de um jeito bem engraçado, não combinava em nada com ele. Estava tão acostumada a vê-lo sempre em trajes informais! Hayato cortara os cabelos ruivos em um estilo bem rente. Uma tentativa de parecer mais maduro, pois as sardas em seu rosto atraiam um ar de descontração e jovialidade que o incomodavam certa parte do tempo.

Mas, em contrapartida, podia dizer algo semelhante ao próprio respeito. Trajava um longo e elegante vestido de noite em um tom de vinho. Já próxima dos quarenta, resolvera diminuir um pouco as longas madeixas que ganhavam o tom prateado dos fios precocemente grisalhos. Hikaru costumava rir e se vangloriar: o branco em seu cabelo era o troféu por todas as dificuldades que passara em sua vida. A infância dolorosa deixara marcas em si, mesmo após o divórcio dos pais, quando seu pai se afundara de vez no álcool e a mãe já estava arruinada demais para conseguir se reerguer. Mas, quem chega tão longe e não tem sua cota de cicatrizes?

— Na verdade, não exatamente pronto... — ele coçou a nuca — O meu discurso, você lembra onde eu coloquei o discurso?

— Hum... tenho a impressão que Yume usou o verso dele para pintar aquele desenho novo que está na geladeira!

— OQUE?! — Hayato engasgou. O discurso que dera o maior trabalho para escrever estava perdido? Precisaria de tempo para passar a limpo, se possível!

— Relaxa, Hayacchan. Aquilo estava longo e enfadonho. Você sempre se sai melhor quando fala espontaneamente. Já devia saber disso a essa altura.

— Mas...

— Seja mais confiante em si mesmo — e acertou-lhe um tapa no traseiro. Era algo que adorava — Ouça o conselho do seu macho! — e riu alto da brincadeira.

Hayato respirou fundo e deu-se por vencido. Primeiro, porque não poderia brigar com a filha, ainda mais porque ela caprichara tanto no desenho multicolorido e indecifrável que lhe dera alguns dias atrás! Um gesto que o tocara a ponto de nem perceber que no verso da imagem estava o seu discurso... E, segundo, porque a esposa tinha razão. Ficava nervoso e intimidado na frente de multidões, mas quando a primeira palavra vinha, era inspirador! Seu discurso saia inacreditavelmente mais fácil.

— Vamos então?

— Vamos! — ele concordou e a tomou pela mão.

Assim que entraram na sala, ouviram a voz de Daiki basan contando algo para os netos. Uma história que já narrara milhares de vezes, mas que sempre prendia a atenção das três crianças.

— ... no primeiro ano do Intercolegial. Eu era a Az do meu time de Basquete. Somente eu podia me vencer! — a senhora ia dizendo cheia de si, sentada na poltrona em uma pose que demonstrava seu orgulho.

— Até que conheceu Taiga bachan — Hikaru se meteu na história contando o final — Taiga bachan esfregou a cara de Daiki basan na quadra de um lado para o outro até dar brilho!!

— Hunf — Daiki resmungou deixando o som escapar pelo nariz e fazendo as crianças rirem — Eu ia chegar aí, intrometida.

— Claro, claro.

— Você está muito bem, Hayato — Daiki ignorou a nora e elogiou o filho — Pena que não posso dizer o mesmo dessa delinqüente despeitada.

— Mãe... — ele ia protestar, mas foi interrompido.

— Deixa, Hayacchan. Não me incomodo com as piadas de uma vovó senil.

— Melhor ser senil do que uma tábua — a direta acertou direto em Hikaru, que arrepiou-se.

— OE!

— Chega, chega! — Hayato cortou. Se deixasse o barco correr solto, aquilo ia durar horas. Era a diversão pessoal delas, por mais estranho e agressivo que pudesse soar para quem olhasse de fora. Duas mulheres com temperamentos muito parecidos, infantis e ciumentas. Ele entendia agora, desde o primeiro instante em que conhecera Hikaru, Daiki intuíra que aquela garota lhe roubaria o precioso filho. E não lhe facilitara a vida em nada. Mas, por baixo da falsa animosidade, ambas se respeitavam e se gostavam. Um jeito muito peculiar de demonstrar afeto — Todo mundo pro carro.

— Hai, hai!! — gritaram as crianças antes de sair correndo. Festa, os três estavam doidos pela festa!

— Calma aí bando de pirralhos! Cadê a educação? — ia dizendo Hikaru em um modo de tentar pôr ordem. Até Hikomaru parecia uma criança de tão empolgado.

Hayato observou enquanto parte da família saia da sala. A algazarra era total. Então se aproximou da mãe e estendeu o braço para ajudá-la a se levantar. Não que ela precisasse, a bem da verdade. Daiki era uma mulher forte e saudável de pouco mais de cinqüenta anos. O gesto era algo cortês e gentil que sempre oferecia a uma das mulheres que o ajudara a crescer tão bem e tornar-se um verdadeiro homem.

— Esse vestido caiu muito bem em você, Kaasan.

— Claro. Eu fico muito bem em trajes formais, ao contrário da sua esposa... — alfinetou com um sorriso sacana.

— Kaasan!! — Hayato protestou arrancando uma risadinha da mãe.

Ela segurou-lhe o braço e, juntos, começaram a sair da sala. Mas antes, Daiki parou em frente ao pequeno altar que tinham sobre a antiga cristaleira e ajeitou um dos porta-retratos.

— Tenho certeza de que ela está orgulhosa de você. Tanto quanto eu — Daiki afirmou simplista.

Hayato aceitou o elogio em silêncio, emocionado. Sequer tentou conter as lágrimas. Taiga kaachan partira e deixara um vazio imenso em sua vida. Seu maior desejo era que ela estivesse alí, naquele momento.

No fundo sentia que, de um jeito ou de outro, ela estava. Afina, graças àquela incrível mulher é que pudera chegar tão longe.

–--

O grande salão de festas estava lotado. O evento patrocinado pela editora do livro estava sendo um sucesso total, como o esperado.

Logo que chegaram, seu editor veio ao encontro da família e ajudou as crianças e as mulheres a se acomodarem na mesa principal e logo puxou Hayato para circular entre os convidados e conhecê-los.

Era uma excelente oportunidade de espalhar seu cartão, fazer novas pontes, conseguir contatos para a ONG. Nem durante a festa de lançamento Hayato deixaria de lutar em prol da “Laços Para a Vida”.

— Fiquei sabendo do incidente da semana passava — um representante do governo disse ao cumprimentá-lo com uma mínima vênia — Espero que os danos não tenham sido graves, Aomine kun.

Referia-se ao ataque que uma das filiais da Instituição sofrera. Intolerância nunca deixaria de fazer parte do cenário. As coisas melhoram? Muito. Nem toda hostilidade se revelava assim fisicamente: um grupo usando mascaras acertara o prédio com pedras durante a noite. Fugiram antes que a policia chegasse ao local, mas felizmente ninguém se ferira.

— O incidente está sendo investigado — Hayato respondeu após inclinar-se numa reverência mais acentuada — A sociedade aprende aos poucos a lidar com o que a assusta. Até lá, pessoas inocentes pagam o preço da intolerância.

— Por sorte temos pessoas como o senhor — o homem ponderou antes de se afastar. Hayato sabia que alguém da família dele contraíra AIDS, um caso abafado para não prejudicar sua imagem política. Mas, ainda assim, ele contribuía ativamente com a causa, usando-se de terceiros para que seu nome não aparecesse nas doações.

O momento de interação social se estendeu por um tempo. Hayato trocou cumprimentos com pessoas já conhecidas, estabeleceu novos laços. Conheceu figuras que não esperava encontrar por ali, incluindo uma famosa atriz de televisão e um jovem cantor em ascensão. Não podia se sentir mais satisfeito com os frutos que estava colhendo.

Conseguiu passar umas duas vezes pela mesa em que sua família estava. Hikomaru e Chiyori já haviam se dispersado, como era de se esperar. Apenas Yume permanecia no colo de Daiki. O clima entre as duas mulheres era de paz. Embora Hayato acreditasse firmemente que farpas já tinham voado de um lado para o outro. Seria aquela a sensação de viver em Zonas de conflito como aquelas do Extremo Oriente? Claro que não, sabia bem. Estava exagerando.

Pôde sentar-se por quase cinco minutos com elas. Sorriu ao ver a face de sua caçula manchada com molho shoyo, enquanto ela cabeceava de sono, relutante em adormecer e perder a festa.

— Estão a vontade? — indagou.

— Tirando a companhia — Daiki não perdeu a chance. Ela era terrível — O resto está perfeito.

— Não se preocupe Hayacchan — Hikaru deu um gole na taça de vinho — Sabe que eu tenho muita paciência com crianças e pessoas idosas.

O pobre homem apenas girou os olhos. Certas coisas não têm conserto. Pensou em como seria perfeito ter Taiga kaachan alí também. Compartilhando a conquista tão arduamente conquistada. Não apenas por ter lhe incentivado e acreditado o tempo todo. Mas a mulher poderia dar seu próprio testemunho de vida. Poderia falar sobre a imprudência (sobretudo juvenil, de adolescentes que acreditam que nunca vai acontecer com eles).

Taiga kaachan conseguia colocar Daiki kaasan nos eixos. Ou melhor, com ela por perto, sua esposa acabava tomando-a como alvo das brincadeiras. Afinal, Taiga perdia a cabeça muito fácil! Era uma esquentada. E Daiki não tinha medo de tirá-la dos eixos, apenas para ver a companheira toda nervosinha. Um casal que se completava tão bem...

Talvez por isso ainda insistisse em provocar a nora: uma forma pálida de manter a velha chama acesa e sua língua ferina sempre afiada. Um tímido e parco resgate ao passado.

Mas Hayato não teve tempo para se afundar em nostalgia. Seu editor voltou a mesa e o raptou para cumprimentar novas autoridades e convidados que chegavam. Pelo jeito eram os últimos esperados antes de dar inicio ao jantar formal e, por fim, os autógrafos aos exemplares de seu livro. Tudo isso após o discurso, claro. Lembrança que o fez estremecer e pôr-se nervoso. Só de imaginar todas aquelas pessoas olhando para ele, aguardando suas palavras inspiradoras, sentia vontade de sair correndo! Mal se recordava do que escrevera no papel usado por Yume. Teria que ser como Hikaru orientara: na base do improviso!

E o temido momento chegou.

Os convidados foram se acomodando em seus lugares, enquanto o editor tomava a palavra para agradecer a presença de todos, explanar brevemente sobre o sucesso não apenas da noite, mas do livro que estava sendo lançado e já tinha muitas encomendas em pre-order.

Pouco a pouco o silêncio tomou conta do lugar, para ceder quando o nome de Aomine Hayato foi citado e ele se adiantou até o pequeno palco improvisado. E posicionou-se a frente do microfone.

Teve um principio de pânico ao notar que sua mente ficou em branco.

Isso acontecia quando se via em situações assim. Nunca pensara que iria tão longe na vida.

Nascera portador de HIV e não acreditara que teria um futuro.

Olhou para todas aquelas pessoas que o miravam de volta com ansiedade. A sensação de angústia se intensificou até as íris em tom esmeralda encontrarem a mesa principal, onde estava sua família. Sua mãe, Aomine Daiki, a senhora mais dura na queda que conhecia, mas naquele momento mal cabia em si de orgulho e contentamento. Policial aposentada com Honra ao Mérito, que morava sozinha no antigo apartamento, pois haviam lembranças preciosas demais para que ela saísse de lá e fosse viver com a família do filho.

E isso trouxe a imagem de sua outra mãe novamente.

Mas não um sentimento triste e nostálgico. Pelo contrário. Foi um resgate a força que movera seus passos até então.

Quase quarenta anos atrás, Kagami Taiga acreditara no futuro. Uma jovem no segundo ano do Colegial, morando sozinha no Japão, abandonada pelo namorado ao descobrir a gravidez. Diagnosticada com AIDS.

Com todos os contras, Taiga acreditara no futuro de seu filho. E essa crença o impulsionara até o momento atual. Obrigado por acreditar. E me fazer acreditar que era possível.

Agora Hayato também ansiava por todas as coisas maravilhosas que ainda surgiriam em sua vida. Porque, mais do que apenas esperar, lutava para concretizá-las e torná-las realidade.

Localizou o filho mais velho parado em um canto, junto com um grupo de adolescentes que pareciam da sua idade. Não enxergou Chiyori, embora soubesse que a garota também socializava fácil. E, por fim, a caçula Yume no colo da avó, uma criança que mal chegara ao mundo e já vira o seu pior.

É. Hayato compreendia agora.

— Quando comecei a escrever eu não planejava chegar tão longe e editar um livro. Talvez por não acreditar que eu teria um futuro — as palavras vieram fácil, fluentes e claras.

Enquanto partilhava sua visão de mundo com aquelas pessoas, pensava na maior lição da sua existência. Mais do que um futuro, plantara algo no coração de seus três filhos. No coração de cada mãe e de cada criança que a “Laços Para a Vida” acolhia.

Mais do que um futuro, Hayato construíra seu próprio legado.

Continua...


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Notas finais do capítulo

O próximo será o último e trará o passado, ou seja, como a Daiki e a Taiga acabaram juntas. Também será um pouco maior, pra chegar aos 10k mínimos do desafio. Esqueci desse detalhe xD

Esse final de semana estarei no Rio! Se alguém daí quiser marcar um encontro é só falar, será divertido :D

Abraços e até... bem... não sei quando terei tempo de atualizar aqui de novo, então: até qualquer dia (Antes de 24/01/16, claro) xD



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