— Acorda! Ei, Katniss! — acordo com meu pai gritando no meu ouvido

— Já acordei. Já acordei — digo levantando as maõs como um refém.

Esfrego os olhos e tudo fica mais claro pra mim. Pulo para fora do carro e quase caio.

O pôr-do-sol está incrível nesta tarde. A forma como o verde das árvores faz um contraste maravilhoso ao laranja do entardecer. Definitivamente as melhores cores.

Saio do meu êxtase com minha mãe me chamando para entrar.

— Você nem percebeu que não viemos direto da escola para casa, não é? — pergunta meu pai

— Como você quer que eu saiba se eu estava dormindo? — replico

— Bom argumento — inicia ele — Passamos na rodoviária

— Ah é? E porque?

— Sobre isso queremos conversar — diz minha mãe — Katniss, não sei como começar a dizer isso porque nunca pensei que isso iria acontecer. Mas acho que você não é muito apegada à esse lugar para sofrer com a notícia

— Fale de uma vez — interrompe-a meu pai. E então recordo-me ao alerta que ele deu-me no carro

— Vamos nos mudar para Chicago — diz minha mãe de maneira direta — Pois é, Katniss, acho eu você tem percebido que as coisas no campo tem estado mais difíceis. Entramos em contato com Gale, e ele nos disse que há uma casa em um terreno grande e que a casa é acolhedora. Ele já viu tudo com a imobiliária, partiremos depois de amanhã

— Hum — murmuro. Paro e penso, eles poderiam ter confiado em mim e me falar isso antes — Isso é sério? Tipo, vocês não me contaram antes, por quê? Eu tenho 16 anos! Por que não confiam em mim? Eu acabei de dizer no carro pra você, pai, que eu me esforço pra suprir os serviços do Gale. Eu tento. Eu penso que é só isso, mas aí, vocês planejam uma mudança, sem mim? Não porque deviam respeitar minha opinião caso eu quisesse ficar, mas porque eu poderia ajudar de alguma forma. Eu quero e eu tento ajudar, mas vocês não deixam eu ajudar, não confiam em mim! Acredito que quando a palavra 'ajuda' vem a mente de vocês, vocês ligam-a completamente à Gale. Eu também posso ajudar, mas parece que sou apenas um estorvo.

Subo as escadas batendo os pés com força nos degraus. Chego no meu quarto e me jogo na cama. Parece que nunca estive mais pesada pela culpa do que nesta tarde.

O sol já se foi. As estrelas surgem aos poucos. Penso em como será a minha nova vida em Chicago, como será esse verão. Recordo-me de meus pais terem me falado que se formaram em medicina, mas devido à, morte de meus avós, tiveram que assumir a fazenda. Não teriam como vender? Teríamos um presente melhor se no passado eles tivessem pensado no futuro. Mas tudo que acontece, acontece por alguma razão. Tento confortar-me com essa ideia, mas ainda há algo que me incomoda, algo que não sei o que é.

— Katniss! — grita meu pai batendo na porta — Se estiver acordada, comece a arrumar suas bagagens. Nós amamos você.

"Nós amamos você."

Isso faz com que a culpa aumente ainda mais.

Sinto-me pesada demais para fazer qualquer coisa, e então faço a coisa que mais faço na minha vida. A coisa que mais fiz ao longo de todos esses anos.

Fecho os olhos e durmo. Sem nem se quer comer algo. Sei que não dormirei por muito tempo.

O sono me leva para longe.