Além das Estrelas escrita por Ariane Munhoz


Capítulo 1
Capítulo Único




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"E o teu olhar me diz tantas coisas

Tantas coisas loucas que quando chega perto

A minha alma não me deixa mentir

Esse teu olhar é pouco pra mim

É um ponto sem fim

Esse teu olhar, numa boa

É o tudo, dentro de mim"

- Eu juro – Armandinho

X

Vez por outra, quando ficava tarde demais ou quando Alec enrolava demais para não ter que retornar ao instituto quando ia à casa do feiticeiro, acabava ficando por lá. Tinha se tornado rotineiro, quase diário que fizesse isso. E no entanto, nunca se sentia realmente como se estivesse em casa.

Talvez apenas porque Magnus trabalhasse demais ou porque dedicasse todo tempo que podiam ter juntos a olhar as estrelas do terraço do Brooklyn.

Ele descobriu isso certa noite ao despertar e sentir os lençóis frios. Andando pela casa, ouviu o ronronar baixinho do Presidente Miau e sentiu-o dançar em suas pernas.

- Onde está Magnus? Diga-me e lhe darei uma porção extra de atum. – prometeu Alec.

Vendido. Como todos os gatos que ele conhecia. E um certo feiticeiro do Brooklyn também; talvez fossem as características da espécie.

Presidente Miau correu até a porta e arranhou-a naquele dia. Alec a abriu deixando o gato sair e o viu disparar até as escadas que levavam para o terraço. Ele parou ali, lambendo as patas e refez o caminho de volta, mas seu olhar dizia “pague o meu atum!”.

Nunca se sabe o que um gato furioso pode fazer.

Então, Alec abriu a porta sutilmente. Suas botas estavam encantadas com símbolos do silêncio, de forma que nenhum ruído saiu dos pés calçados. E ele o viu ali. Sentado com os pés pendendo para fora como se fosse pular e os olhos fixos no céu.

Teve o ímpeto de gritar seu nome, mas imaginou que isso o assustaria suficientemente para que realmente fosse seu fim. Então aproximou-se calado.

Observador como era, Alec notou sua linguagem corporal. Como Magnus tinha os ombros relaxados enquanto olhava para o alto. Mas o que lhe surpreendeu foi que, quando colocou-se ao seu lado, antes que o feiticeiro percebesse, sorria um dos sorrisos mais bonitos que ele já havia visto. Um sorriso que devia ser só seu e de mais ninguém. E os olhos, que brilhavam como se mil sóis pairassem sobre eles. Seus olhos.

- Alexander?! – a surpresa no rosto de Magnus naquele dia foi evidente. Ele realmente quase caiu de onde estava. – O que está fazendo aqui?

- Não sou eu quem deveria perguntar isso? – retrucou, os olhos azuis se fixando no chão como se olhar para ele fosse doloroso demais naquele momento. – Por que não estava lá dentro comigo? Eu acordei sozinho de novo, Magnus!

O feiticeiro suspirou e se ergueu com as mãos na cintura, mas ao ver o biquinho no rosto de Alec, um sorriso surgiu em seus lábios.

- Vamos, vamos agora para dentro e te farei um chocolate quente e uma massagem. – ele o empurrou pelos ombros.

- Mas—

- Nananinanão. Sem mais, nem meio mas. Vamos logo, Alexander. – vencido pela persistência de Magnus, foram para dentro do apartamento e encerraram o assunto.

Depois daquela noite, sempre que Alec acordava olhando para o lado vazio de sua cama, sabia onde Magnus estava. Mas sempre que ia até ele e o questionava a respeito, o feiticeiro desconversava e o trazia para o apartamento, para massagens, chocolates quentes ou qualquer outra coisa que pudesse distrair seu pensamento de perguntar e descobrir a verdade.

Até aquela noite.

Magnus havia prometido para ele que voltaria para a cama. Alec ficou acordado o quanto pôde antes de pegar no sono; na madrugada, a cama ainda estava vazia e os lençóis completamente esticados no lado que Magnus dormia.

- Isso já é demais, Presidente Miau! Hoje ele vai me ouvir e vai me dizer que inferno de encanto é esse que tem pelas estrelas que não pode ter por mim!

Vestindo nada mais que uma calça de linho negro, Alec subiu naquela direção. O gato apenas miou e deu de ombros, saltando para o lugar quentinho onde Alec antes estava.

“Humanos, sempre tão burros.”

Com um suspiro baixinho, ele adormeceu ali rapidamente enquanto Alec subia os degraus de dois em dois, ficando sem ar ao chegar no topo das escadarias por conta de sua afobação. Assim que abriu a porta para o terraço, o frio o atingiu com força e sentiu todos os pelos de seu corpo eriçarem. Praguejou baixinho, mas voltou o olhar para Magnus novamente.

Ele estava ali, tão compenetrado no que quer que visse naquelas estrelas, que não havia sequer notado sua chegada. Alec olhou para o céu, como se tentasse desvendar aquele mistério, mas nada via além de pontos luminosos. Claro que céus estrelados eram lindos, mas o Brooklyn não tinha exatamente a melhor visão para isso; não sem um telescópio.

- M-Magnus. – ele chamou. Tremia de frio, embora o feiticeiro parecesse muito bem, obrigado. Ele vestia apenas um robe roxo de seda e uma calça de seda de mesma cor por baixo deste.

- Alexander? – novamente a surpresa. Sempre, todas as vezes, e desta vez Alec não deixaria passar. – O que está fazendo aqui vestido desse jeito? Vai se resfriar! – ele se levantou desatando o nó do robe que vestia e colocou-o sobre seus ombros. Agora que ele estava sem camisa, eram os olhos de Alec que não conseguiam se desviar daquela visão.

“Foco, Alexander! Foco!”, pensou.

- N-não estou com frio. – mas batia os dentes enquanto falava isso e desviou o olhar para não ver a diversão nos olhos dourados e felinos de Magnus.

- Tudo bem, mas iremos entrar mesmo assim. Vamos. – Magnus fez menção de tocar seus ombros, mas Alec se afastou alguns passos para trás. O feiticeiro arqueou uma das sobrancelhas de forma interrogativa. – O que foi agora, Alexander?

- Por que fica aqui todas as noites? Qual o problema em dormir comigo? Eu me mexo demais? Eu ronco?! Me diga o que é e tentarei consertar, mas não fique a noite toda ao léu como se minha presença aqui simplesmente não importasse ou atrapalhasse você! – ele disparou de uma vez, típico de todas as vezes que queria dizer algo importante a Magnus. Só com ele era assim, explosivo. Sem controle algum do que dizia. E agora seu coração batia tão alto que temia que o feiticeiro pudesse ouvi-lo ainda que estivesse distante.

Mas ao invés de fazer todas as coisas que pensou que Magnus fosse fazer, ele apenas riu. E aquilo deixou Alec tão frustrado que começou a corar de raiva.

- Por que nunca me leva a sério, Magnus?! Por que sempre ri de mim?! – ele tentava manter a compostura, mas já fazia biquinho. Magnus segurou seu rosto com uma das mãos e sorriu.

- Ah não, Alexander, não estou rindo de você, mas da situação. – ele murmurou olhando-o nos olhos. Era impossível não ficar hipnotizado por aquele olhar felino. Impossível não ser completamente capturado por ele.

- Então o que é? – sua voz já tinha perdido toda a força e ele desviou o olhar.

- Vamos, olhe pra mim. – Magnus ergueu seu queixo com a ponta do indicador e naquele momento, quando o viu sorrir, Alec reconheceu o sorriso que ele dava para as estrelas. – Vê? Não tenho olhos para nada que não seja você, Alexander. Mas quando adormece... não posso ver a cor de seus olhos, esse azul tão nítido e tão belo que só encontro igual no céu estrelado. Então venho para cá todas as noites e observo incansavelmente e é como se estivesse olhando diretamente para você.

Alec não sabia o que dizer. Apenas sentiu as maçãs do rosto esquentarem ainda mais, mas naquele momento não desviou o olhar dele.

- Então eu não ronco ou me mexo demais? – perguntou baixinho.

- Ronca só um pouquinho. – ele fez o sinal diminuto com uma das mãos e piscou enlaçando sua cintura. – Mas jamais o deixaria por isso, meu querido. Nada que um feitiço do silêncio não resolva. – piscou.

- Então gosta mais de mim do que das estrelas? – ele perguntou, abobado pelo que havia escutado há poucos segundos.

- Oras, seu bobinho, é claro que sim! Meu amor por você, Alexander, está além das estrelas. – ele piscou. – Vamos, vamos, o que você precisa é de uma boa massagem e outras coisitas mais. – inclinou-se para beijar-lhe os lábios, sentindo Alec ceder ao seu contato.

- Magnus? – ele o chamou baixinho quando se afastaram. O feiticeiro olhou para ele. – Da próxima vez pode me acordar e olhar direto pra mim.

- Ah, Alexander, as vezes você é encantador. – ele sorriu e lhe roubou outro beijo. – Feito. Da próxima vez irei olhar de perto minha constelação particular.

Com o braço enlaçado em sua cintura, Magnus caminhou para o apartamento com Alec sentindo-se mais leve do que já havia se sentido em muitos anos. Talvez a inocência de Alec fosse tudo o que o feiticeiro precisasse para se sentir bem.


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Notas finais do capítulo

Então, eu pensei em mil coisas, mil temas, mil...você sabe né, amiga, mas aí eu lembrei que de tudo, esse era seu casal favorito e resolvi arriscar uma palhinha com eles. Não é nada muito significativo, só um fluffy mesmo pra eu ir me acostumando e quem sabe no futuro faço algo mais hot. Mas hoje pensei nisso e achei legal, e decidi escrever mesmo assim.

Ainda não é seu aniversário, mas eu já vou te desejar tudo de bom antecipadamente. Você é um anjo de luz na minha vida, uma das pessoas mais especiais que tem feito parte dela nesses últimos anos e não importa que o tempo esteja escasso, a gente sempre dá um jeito de se falar, e é como se tudo continuasse como sempre foi.

Você é uma pessoa maravilhosa, guerreira, batalhadora e eu sempre te admirei por isso. Eu te amo, amiga, 100 palavras pra descrever. Mas espero que goste desse testículo que fiz pra você.

Te amo/sou pra sempre ♥



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